mais que anunciada
Mataram Gadaffi: a morte mais anunciada da temporada. As discussões na mídia giraram, então, sobre se ele foi executado pelos ditos “rebeldes” ou se foi ferido em fogo cruzado após sua captura. O fato é que o homem está morto. Que outro destino o esperava? A chamada “guerra ao terror” explicita que o extermínio é o que resta para terroristas e ditadores cujo prazo de validade — no apoio à grana capitalista e à ultrapassada geopolítica ocidental — acabou. Com Saddam Hussein ainda fez-se uma encenação de “justiça” que terminou na forca. Já com Osama Bin Laden deixou-se de lado o teatro humanista do tribunal. Gadaffi não era nada fora de sua farda de ditador.
efeito democrático
Aos tiranos não resta mais um asilo político em outro país. Isso passou a ser inaceitável depois que as práticas democráticas dos movimentos de contestação encurralaram os tiranos num buraco. Saddam Hussein se enfiou embaixo da terra; Gadaffi se refugiou em um duto. A imagem do poder dessa nova prática democrática é surpreendente: ela leva o tirano ao limite da fuga, que é refugiar-se numa cloaca, e expõe a imagem desses militantes democráticos... todos crêem no Estado.
comida fria
Num canal estadunidense de notícias, o apresentador entrevistava um parente de alguém que morreu no atentado ao avião da Pan-Am, em 1986, patrocinado por Gadaffi. O repórter perguntou se o fato de Gadaffi ter sido morto sem julgamento o incomodava. A pessoa, então, gaguejando ligeiramente, fez um breve discurso sobre a nova liberdade que chegava aos líbios e, com um sorriso discreto no canto da boca, silenciou.mãos limpas, mãos sujas.
Foi noticiado que Gadaffi, ao notar que o cerco se fechava, tentou escapar num comboio. Teria sido impedido por um bombardeio feito por drones (aviões não tripulados da OTAN). A ajuda vinda do céu permitiu que os “rebeldes” o alcançassem. Desfecho exitoso para um dos novos modos de se guerrear: os ocidentais, com mísseis, satélites, aviões não tripulados, grana e apoio diplomático; os nativos, botando a mão na massa. Assim, fica tudo bem: não morre nenhum branco e um “novo” regime político — “batalhado” pelo próprio povo — substitui o que caducou, redimensionando o jogo para que os negócios continuem rolando.
all right!
As refinarias de petróleo e gás natural funcionam a todo vapor. O novo governo já deu todas as garantias de que os suprimentos para a Europa serão normalizados e os contratos respeitados. Enquanto o povo buzina nas ruas, tremulando a nova (que, de fato, é a antiga) bandeira da Líbia, o fluxo de negócios se normaliza. E os europeus ficam tranquilos porque, para o frio inverno que vem por aí, o calorzinho já está garantido. Para os líbios, a Sharia.
preservacionismo banguela
A coisa volta, de forma diversa. Agora é a vez dos cariocas protestarem contra a expansão do metrô e também contra os fluxos que o acompanham. Em defesa da tradição e da “natureza”, o Projeto de Segurança de Ipanema não quer a construção de uma estação do metrô na praça Nossa Senhora da Paz. Argumentam que a obra descaracterizará o local, tombado pela lei, além de trazer aspectos desfavoráveis como a derrubada de árvores centenárias e a retirada da área de lazer de idosos. Se em São Paulo o problema são as pessoas diferenciadas vindas no pacote do metrô, no Rio a bandeira é o preservacionismo do cartão postal. Que coisa, boca banguela!
segredo nosso
Há 6 anos, o site PostSecret publica cartões postais anônimos com segredos. Mais de 500 mil já enviaram suas confissões, que se tornaram públicas na internet. A partir de setembro, graças a um aplicativo, o confessionário tornou-se totalmente digital. O criador do PostSecret se empolga com a possibilidade que o aplicativo oferece para trabalhar estes dados, de fazer buscas neles e saber exatamente no que se diferem os segredos de gregos e troianos.
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