quarta-feira, 31 de março de 2010

Poetagens Alheias

Dumas letras de Fernando Bonassi: "Escrever - Você acorda e toma o café que puder. Você nem precisa sentar. Você pega um papel, uma caneta (que não precisa apontar) e então escreve. Primeiro você escreve contra Deus. Depois escreve contra a família. E, desse mesmo jeito, escreve contra os homens. Você pode escrever com um copo de veneno ou com uma injeção de ânimo, não importa, mas você escreve. Você também escreve porque você escreve e não há maior razão que essa. Você escreve amassando o pão do diabo, vendo as notas sumirem da carteira e levando pé no rabo. Ainda assim, você escreve. Escreve quando vale a pena e quando vale nada. Quando faltam as palavras, você escreve. Você escreve uma do lado da outra. Com muita verdade. Especialmente quando escreve o inventado".

terça-feira, 30 de março de 2010

DIVULGAÇÃO: Revista Fórum

Estou destacando a matéria da Revista Fórum "A democracia que muitos não querem" e veja nesse endereço, as demais matérias : http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/EdicaoSumario.asp
A julgar por alguns editoriais dos jornais O Globo e O Estado de São Paulo, um estrangeiro desavisado pode achar que o Brasil está à beira de um novo regime autoritário. Isso se ele tiver lido as edições feitas após a divulgação do texto que servirá de base para a realização da 2ª Conferência Nacional de Cultura, quando os periódicos falaram em uma “nova investida contra a democracia”, sendo que o documento faria parte de um “museu de teratologia política”. A Conferência de Cultura será uma das dez que acontecem somente neste ano. Nos últimos sete, foram realizadas 68 conferências nacionais e internacionais – 20 somente no ano passado, que envolveram mais de 4,5 milhões de brasileiros.
A Conferência de Cultura, que acontece entre 11 e 14 de março, não foi a única a ser entendida por grande parte da imprensa como uma “ofensa” à democracia. O relatório do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), resultado da 11ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, realizada em dezembro de 2008, também foi outra acusada de criar mecanismos de restrição às liberdades democráticas, o que, inclusive, fez o governo federal rever o texto inicial e retirar algumas expressões que incomodaram setores mais conservadores.
Tais planos, porém, não são produtos de um projeto de um partido ou de um governo, mas resultado de um processo longo de reuniões municipais, regionais, estaduais e nacionais, abertas à participação popular, onde são debatidas e elaboradas propostas de políticas públicas. Apesar de realizadas já com certa constância, as conferências e outros mecanismos de participação direta da população na vida política do país ainda não são temas correntes na mídia.
A chamada democracia participativa há tempos faz parte do cotidiano acadêmico, mas passaram a ser mais discutidas como alternativas principalmente durante o período de redemocratização das repúblicas da América Latina no século passado, ao se pensar em como recriar o Estado na região. No entanto, foi somente na última década que tais mecanismos passaram a ser incorporados às instituições de alguns países. Exemplos disso podem ser vistos na Venezuela, onde foram instalados os Conselhos Comunais no governo de Hugo Chávez; na Bolívia, que introduziu o mecanismo de referendo para alterações constitucionais e no Equador, onde há o Conselho Nacional de Planejamento. No Brasil, o mais tradicional destes mecanismos é o Orçamento Participativo (OP), que consiste na decisão, tomada por parte da população organizada em fóruns de debates, sobre como será feita a divisão orçamentária do município. Outros mecanismos cada vez mais comuns são os conselhos participativos, regionais ou temáticos, e as conferências nacionais.
Estas iniciativas, de certa forma, questionam as limitações do modelo representativo, que mantém uma relativa distância entre as instituições e a sociedade, a ponto de 54,7% da população latino-americana preferir um regime autoritário caso este resolva a situação econômica de seus países e atenda a suas demandas sociais, segundo o relatório Democracia na América Latina, realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em 2007. Nesse cenário, a criação de mecanismos de participação direta é apontada como uma forma de auxiliar na superação dessa crise de representação e de buscar, dentro da democracia, meios para resolver as questões econômicas e sociais. “O futuro da democracia é o casamento entre as democracias representativa e a participativa”, acredita Olívio Dutra, ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-prefeito de Porto Alegre, na gestão em que foi introduzido o OP na capital gaúcha.
Diversas propostas debatidas em conferências já resultaram em projetos de lei, decretos ou até planos nacionais que traçam diretrizes para políticas setoriais. As conferências de saúde, mais tradicionais em termos de mecanismo de participação popular, [hiperlink: A 1ª Conferência Nacional de Saúde, apesar de contar com pouca participação popular, foi a primeira iniciativa no sentido de criar um espaço formal para o diálogo entre a população e o Estado, mesmo tendo ocorrido durante o Estado Novo de Vargas, em 1941. Quem esteve à frente da criação da Conferência foi o então ministro da Educação, Gustavo Capanema, pois até a segunda conferência não havia um ministério para a área.] já tiveram como resultado a criação do Ministério da Saúde, a Reforma Sanitária e a criação do SUS, a municipalização dos serviços de saúde e a emenda 29/2000 à Constituição Federal, que dispõe sobre o financiamento da saúde pública. Também saíram de conferências nacionais o Plano Nacional de Promoção de Igualdade Racial (Planapir), que indica metas para a superação do racismo, o Plano Nacional de Habitação e a criação do Conselho de Cidades, que facilitou a aplicação do Estatuto das Cidades nos municípios, entre outros (ver box).
Construção democrática
A realização das conferências nacionais é precedida de etapas municipais e estaduais, abertas à participação de qualquer cidadão. A partir de debates, são tiradas resoluções, que são encaminhadas para a organização da etapa nacional. Também podem ser feitas conferências regionais ou autogestionadas – as chamadas conferências livres –, que podem ou não ter suas propostas encaminhadas diretamente para a etapa nacional.
No caso da 2ª Conferência Nacional de Cultura, cujas etapas municipais e estaduais foram responsáveis pela produção do documento que gerou polêmica na imprensa comercial, os municípios reivindicaram etapas municipais, e não regionais, como na conferência anterior. Segundo Silvana Lumachi Meireles, secretária de Articulação Institucional do Ministério da Cultura, é importante que os municípios discutam internamente políticas municipais setoriais, pois as próprias reuniões municipais podem resultar em avanços imediatos. “São momentos para consolidar as propostas de planos municipais ou estaduais. Em São Luis, instaurou-se e elegeu-se um conselho de cultura na conferência da cidade”, exemplifica.
Os conselhos, por sua vez, constituem um mecanismo constante de participação popular na proposição de políticas públicas que podem ser de caráter regional ou setorial. Muitos conselhos foram conquistados após discussões de conferências nacionais e pressão popular para que a diretriz fosse institucionalizada. Um dos mais tradicionais são os conselhos tutelares, instituídos em 1990 e previstos para funcionarem com conselheiros eleitos nas comunidades e para ser responsáveis pela garantia dos direitos da criança e do adolescente nos municípios. Atualmente há 26 conselhos em nível nacional, que tratam desde a previdência social até políticas culturais.
Hoje, está em discussão na Secretaria Geral da Presidência da República a elaboração da Consolidação das Leis Sociais (CLS), que teriam, entre suas diretrizes, uma regulamentação para o funcionamento de conferências e conselhos e sua utilização para a elaboração de políticas sociais. A ideia, para além de tornar perenes as conquistas e lembrar o exemplo da CLT de Getúlio Vargas, é de, como afirmou o ministro Patrus Ananias à imprensa, "colocar a questão social no campo dos direitos do cidadão e deveres do Estado brasileiro". A proposta foi anunciada em setembro de 2009 pelo presidente Lula e está prevista para ser debatida no Congresso Nacional neste mês de março. Porém, a previsão é que a aprovação da CLS aconteça somente no próximo governo.
Entraves à participação
A introdução de mecanismos de participação popular, porém, não depende somente de uma reforma no arcabouço jurídico-político, mas fundamentalmente de uma mudança na cultura política da população, dos atores políticos eleitos e dos meios de comunicação. Para Silvana, a participação só será possível “quando a sociedade estiver madura para entender seu papel”, o que demanda uma mudança da cultura política. E, como lembra Olívio Dutra, “não se muda uma cultura por decreto”.
Porém, há especialistas que apontam reformas institucionais que ainda são necessárias para aprimorar a participação direta. Apesar de haver um aumento na quantidade de cidadãos participando das conferências, conselhos e do Orçamento Participativo nos locais em que ele existe, ainda há distorções no que diz respeito à participação de determinados segmentos nos espaços de discussão política. No OP de Porto Alegre, por exemplo, o número de mulheres só é igual ao de homens se consideradas aquelas sem laço matrimonial. Segundo estudo do pesquisador Luciano Feddozi, realizado em 2005, que analisou o perfil dos participantes do Orçamento Participativo nos últimos anos, 62% das mulheres que participam como conselheiras eleitas são solteiras, enquanto 74% dos homens eleitos conselheiros são casados. Isso se deve, segundo ele, à falta de tempo por conta da dupla jornada de trabalho ou à tradição patriarcal de predomínio dos espaços públicos pelos homens. Também as faixas da população mais jovens, entre 16 e 25 anos e 26 a 33 anos, estão sub-representadas nas instâncias de participação de delegados [hiperlink: Enquanto maiores de 50 anos compõem 43,96% dos conselheiros eleitos, a juventude de 16 a 25 anos corresponde a 19%.] do Orçamento Participativo.
"Não é que esses grupos não tenham vontade de participar. A questão é como institucionalizar essa participação. Na eleição de delegados ou conselheiros, esses grupos não são contemplados", diz Enid Rocha Andrade Silva, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Para ela, a saída para superar essa distorção não é difícil. "Ações afirmativas. Da mesma forma que você coloca cotas no âmbito do legislativo para ter candidatas mulheres, você teria que levar em consideração, dentro do critério populacional, uma medida de proporção de gênero, por exemplo".
Porém, a própria eleição de delegados e a criação de sub-representações nos mecanismo de participação é, para alguns críticos, uma distorção do princípio do orçamento participativo. Olívio Dutra teme que o processo de eleições de delegados esteja dando ao processo um caráter mais representativo do que direto. "A ideia da complementaridade entre a democracia representativa e a participativa, que possibilita ela ser exercida no cotidiano, foi se diluindo, alegando-se questões de administração, agilidade, governabilidade, de exigências da lei e de relação com outros poderes".
A proposta de organização do orçamento pela população sempre incomodou setores mais refratários à ideia da participação popular, que alegam que qualquer proposta de lei deve ser aprovada pelo Legislativo, sob o risco de se infringir a independência do legislativo. Mas a secretária municipal de Coordenação Política e Governança Local de Porto Alegre, Clênia Maranhão, garante que o processo de decisão popular não entra em conflito com o princípio de divisão dos três poderes de Montesquieu. "O governo respeita as decisões da comissão de orçamento participativo, mas as próprias lideranças não querem regularizar o mecanismo". Dutra defende ainda que os próprios parlamentares participem das assembleias populares para subsidiar as discussões da câmara.
Hoje, o orçamento participativo faz parte da realidade de mais de 100 municípios brasileiros, incluindo cinco capitais com mais de 100 mil habitantes – São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e Belém. Mas a capital gaúcha é uma das poucas a ter todo o seu orçamento aberto para o debate democrático. Em Belo Horizonte, apenas metade das verbas orçamentárias tomam os rumos decididos pelos fóruns populares e, em Recife, cuja experiência durou somente até 2000, a fração que era aberta para a consulta popular era bem menor: 10% do orçamento.
Mas, para além das distorções e da polêmica em torno da validade das decisões tiradas nas conferências e nas reuniões do OP, a grande imprensa ainda questiona o governo por supostamente criar, com estes mecanismos, um mis-en-scène para implantar seus projetos via conferência. Segundo o editorial de O Globo, apenas a militância é ouvida – como se a organização popular fosse algo ruim. Mas mesmo essa tese não se sustenta: de acordo com o estudo da pesquisadora Enid sobre o perfil da participação social nas conferências, 15% dos participantes não pertencem a nenhuma organização, 62% militam em algum movimento social ou sindical, e o restante integra ONGs ou entidades profissionais. No Orçamento Participativo de Porto Alegre, a participação da militância é ainda menor: dados de 2005 mostram que 57% dos participantes estavam associados a alguma entidade ou movimento, tendo ocorrido uma queda de 19% em 10 anos. A pesquisa ainda mostra que 53,74% dos participantes do OP não têm preferência partidária, ou seja, apesar de haver uma quantidade significativa de militantes, existe uma participação cada vez maior de cidadãos não comprometidos com partidos ou movimentos sociais.
A imprensa, segundo Silvana, precisa se debruçar mais sobre os processos de participação popular, mas diz que não vê má-fé na depreciação pública de iniciativas como a Conferência de Cultura. "Acho que é mais falta de interesse do que má-fé". Mas acrescenta: "A imprensa não é imparcial e estamos em ano eleitoral. Isso certamente rebate em todas essas questões, seja de um lado ou de outro".
O que já mudou na prática
Um dos fatores que Enid Rocha Andrade Silva, pesquisadora do IPEA, considera como uma das causas da relativa baixa participação popular nas conferências é a falta de percepção e de comunicação dos resultados que elas já geraram. Falta do que comunicar não é: no período entre 2003 e 2006, quando foram realizadas 34 conferências, somente quatro delas não resultaram em nenhuma deliberação. Abaixo seguem algumas medidas que resultaram de conferências nacionais ao longo da história.
2ª Conferência Nacional de Saúde – Realizada em 1950, seus debates foram responsáveis pela criação do Ministério da Saúde seis anos depois.
8ª Conferência Nacional de Saúde – Movimentos sociais de saúde debateram mudanças no setor, o que depois se concretizaria na Reforma Sanitária e na criação do Sistema Único de Saúde (SUS), um dos únicos do mundo a ter caráter universal e público. Foi também a primeira conferência da área com ampla participação popular.
9ª Conferência Nacional de Saúde – Responsável por pressionar o Executivo a municipalizar os serviços de saúde.
10ª Conferência Nacional de Saúde – Discutiu financiamento da área de saúde e resultou na Emenda 29 à Constituição Federal, aprovada em 2000, cuja regulamentação foi aprovada apenas em 2007.

1ª Conferência Nacional de Cidades – Resultou na criação de outro mecanismo participativo, o Conselho das Cidades, que facilitou a aplicação do Estatuto das Cidades em cada município.
4ª Conferência Nacional de Assistência Social – Responsável por pressionar o Executivo a criar o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que organiza políticas e programas de seguridade social.
1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial – Levou à criação do decreto 6872/09, o Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Planapir), que indica ao Estado metas para superar as desigualdades raciais existentes no Brasil, por meio de adoção de ações afirmativas associadas às políticas universais.
1ª Conferência Nacional de Segurança Pública – Definiu princípios e diretrizes para o Plano Nacional de Segurança Pública, ainda em fase de elaboração.
1ª Conferência Nacional de Comunicação – Debates pautaram para o governo a necessidade de criação de um Plano Nacional de Banda Larga, em fase de elaboração.
2ª Conferência Nacional do Esporte – Levou à aprovação da Lei de Incentivo ao Esporte e ao aperfeiçoamento dos programas Segundo Tempo, Esporte e Lazer da Cidade e o Bolsa-Atleta.
Próximas conferências
2ª Conferência Nacional de Cultura - de 11 a 14 de março
1ª Conferência Nacional de Educação - de 23 de março a 27 de abril
4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação - de 26 a 28 de maio
3ª Conferência Nacional do Esporte - de 3 a 6 de junho
4ª Conferência Nacional de Cidades - de 25 a 28 de maio
4ª Conferência Nacional de Saúde Mental - de 27 a 30 de junho
1ª Conferência Nacional de Defesa Civil - de 25 a 27 de março
2ª Conferência Nacional de Economia Solidária - junho de 2010
1ª Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento de Sistemas Universais de Seguridade Social - 1 a 5 de dezembro
1ª Conferência Internacional Infanto-Juvenil, "Vamos cuidar do Planeta" - de 5 a 10 de junho
Por Camila Souza Ramos

segunda-feira, 29 de março de 2010

Palavras De Um Futuro Bom

Há tempos que ouço Palavras De Um Futuro Bom... e  sempre espero ouví-las, como se fosse sempre a primeira vez! Para a companheira amada: "Anda. Enquanto o dia acorda a gente ama/ Tô pronto prá te ouvir aqui na cama/ Te espero vamos rir de todo mundo/ Nesse quarto tão profundo/ Pára. Repara, tente ver a tua cara/ Contemple esse momento é coisa rara/ Uma emoção assim só se compara/ À tudo que nós já passamos juntos/ Preciso tanto aproveitar você/ Olhar teus olhos, beijar tua boca/ Ouvir palavras de um futuro bom/ Preciso tanto aproveitar você/ Olhar teus olhos, beijar tua boca/ Ouvir palavras de um futuro bom/ Anda. Enquanto o dia acorda a gente ama/ Tô pronto prá te ouvir aqui na cama/ Te espero vamo rir de todo mundo/ Nesse quarto tão profundo/ Pára. Repara, tente ver a sua cara/ Contemple esse momento é coisa rara/ Uma emoção assim só se compara/ À tudo que nós já passamos juntos/ Preciso tanto aproveitar você/ Beijar teus olhos, olhar tua boca/ Ouvir palavras de um futuro bom/ Preciso tanto aproveitar você/ Beijar teus olhos, olhar tua boca/ Dizer palavras de um futuro bom/ Anda. Enquanto o dia acorda a gente ama/ Tô pronto prá te ouvir aqui na cama/ Te espero vamo rir de todo mundo/ Nesse quarto tão profundo/ Pára. Repara, tente ver a sua cara/ Contemple esse momento é coisa rara/ Uma emoção assim só se compara/ À tudo que nós já passamos juntos/ Nesse quarto tão seguro/ Preciso tanto aproveitar você/ Beijar teus olhos, olhar tua boca/ Dizer palavras palavras de um futuro bom/ Preciso tanto aproveitar você/ Beijar teus olhos, olhar tua boca/ Ouvir palavras palavras de um futuro bom/ Palavras... Palavras... De um futuro bom.../ Palavras..../ Preciso tanto aproveitar você/ Beijar teus olhos, olhar tua boca/ Ouvir palavras... palavras de um futuro bom" (Jota Quest). Para ouvir: http://letras.terra.com.br/jota-quest/298535/
E, das poetagens de Clarice Lispector: EM BUSCA DO OUTRO - "Não é à toa que entendo os que buscam caminho. Como busquei arduamente o meu! E como hoje busco com sofreguidão a aspereza o meu melhor modo de ser, o meu atalho, já que não ouso mais falar em caminho. Eu que tinha querido. O Caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei. Mas sei de uma coisa: meu caminho não sou eu, é outro, é os outros. Quando eu puder sentir plenamente o outro estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada”.

domingo, 28 de março de 2010

DIVULGAÇÃO: Curso "Deleuze,uma introdução"

Convite: "Deleuze, uma introdução" - por Peter Pál Pelbart.



DIVULGAÇÃO: II Seminário Conexões

II Seminário Conexões: "Deleuze e Vida e Fabulação e..."

Brevíssimos Contos

Uma Joaninha
Todo dia, à mesma hora e no mesmo lugar, a joaninha pousava em seu braço. Começou a pensar que elas –as joaninhas- estivessem proliferando em demasia. Mas logo percebeu que era sempre a mesma joaninha. Pensou em presságios. Talvez fosse o anúncio de que aconteceria algo de bom - sempre com aquela mania de acreditar que as determinâncias de sua vida estivessem fora de si... gostava dessas fantasias-. Acabou acostumando com a joaninha, até que um dia, chegou em casa e encontrou numa carta, o anúncio daquilo que tanto esperou. A joaninha voltou ainda somente uma vez, no dia seguinte, mas não pousou em seu braço. Fez revoada em seu rosto olhou bem em seus olhos e não mais voltou. A carta selou o seu rumo.

sábado, 27 de março de 2010

Contos Desbotados

APENAS UM SONHO*
Preferiu falar de um sonho que tivera há algum tempo, apesar do fato de que preferisse não fazer revelações muito íntimas, ou que mostrassem muito daquilo que talvez fosse melhor manter bem escondido, mas não poderia deixar de falar daquele sonho que tivera e que produziu-lhe profundas impressões.
No sonho, ela chegava na carona de um caminhão muito velho, em uma cidade muito estranha, na qual havia uma fonte d'água que brotava bem no centro, bem no coração da cidade. Ficou horas e horas olhando para aquela água que borbulhava, e depois de passar muito tempo a contemplá-la, percebeu que apesar daquilo ser um olho d'água, a água não aumentava, parecendo-lhe que era sempre a mesma água que saía, voltava e depois tornava a sair. Quis beber daquela água mas ficou com medo de que a mesma portasse algum elemento que lhe fosse atingir para sempre.
Quando deu meia volta para ir procurar algum lugar para se hospedar, deparou-se com um velho senhor que a observava, em pé, escorado numa velha bengala; ela fez menção de cumprimentá-lo, mas percebeu que a sua aparência, que o seu aspecto acinzentado, que o seu olhar rancoroso e carregado de intencional maldade, o faziam recolhido para sempre em si próprio e que sua capacidade de comunicação era nula. Percebeu que ele murmurou alguns desvarios e que disse que contava mais de 50 anos cuidando para que aquela fonte não fizesse brotar água nova, tendo que reutilizar sempre a mesma água, por mais envelhecida que estivesse.
Num repente começou a ventar e teve a impressão de que aquele ancião se decompunha como se morto estivesse, como se fosse composto de cinzas. Ele quis avançar sobre ela. Tentou, mas não pôde, pois a cada rajada de vento voava-lhe uma camada de suas cinzas, que iam, aos poucos, emplastrando a superfície da água da fonte. Depois veio a chuva e o velho senhor parecia agonizar procurando um lugar que lhe desse abrigo. Procurava apenas com o olhar, porque não conseguia mais sair do lugar, e os pingos da chuva foram molhando aquele corpo que aparentava estar morto há muito tempo; foram molhando e encharcando, e fazendo escorrer uma lama fétida, para ser mais exata, era uma lama fedorenta, com cheiro de enxofre. Ficou ali, estática, a se molhar naquela chuva calma e tranqüila, e a ver aquele velho senhor a decompor-se devagarinho.
Pôs-se a pensar se dali por diante, não havendo mais aquele ancião que cuidava de não deixar se renovar a água da antiga fonte, se haveria, então, a possibilidade de que água nova viesse a brotar ali.
Acordou naquele domingo de manhã com sol radiante e percebeu que chovera durante a noite. Era inverno. Fazia frio. Banhou-se um banho quente, agasalhou-se e foi para a rua caminhar um pouco. Quando já havia andado muito, percebeu que havia chegado numa fonte de água límpida que borbulhava e escorria fonte afora. Formou uma concha com as mãos e bebeu um pouco daquela água. Procurou um lugar para sentar. Acomodou-se sobre uma pedra e ali manteve-se por muito tempo, sentindo-se como que familiarizada com aquele lugar. De repente percebeu, próximo de onde estava sentada, uma bengala escorada nas pedras e com a ponta enterrada em meio a um pequeno monte de cinzas. Pensou que já havia visto aquilo em algum lugar.
Retornou para casa lentamente, pensando naquelas imagens todas que vira, foi quando lembrou do sonho que tivera naquela noite. Voltou à fonte, bebeu um pouco mais de água e percebeu que o vento já havia levado embora as cinzas, e a bengala já havia caído, talvez alguém ainda a usasse para se escorar e evitar alguma queda.
* Escrito publicado no Jornal Estilo/RS, em tempos idos.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Meio meu, meio alheio

A VIDA BATE
Hoje, na ausência de mim mesma, deixo apenas um poema de Ferreira Gullar e, quando voltar, vinda do exílio na terra imaginária de Manoel de Barros, que também lembra a terra de Thiago de Mello extraviado em suas florestas de idéias e de palavras, trago mais poesia e alegria, no compasso daqueles que pouco sabem de onde é que vem a palavra/ a palavra dada e a palavra calada... trago na mala a saudade da estrada que nos leva a muitos caminhos.
Quando voltar, olharei uma vez mais nos olhos da beleza e tocarei seus lábios como quem os tivesse tocado pela primeira vez e, feito cristã arrependida, pedirei perdão por todos os pecados que não cometi e seguirei em frente beijando sua face que me pede, desesperada, que não lhe roube os motivos de seu sorriso... ainda surpresa com sua tristeza, enxugarei suas lágrimas e fingirei supor que sua tristura venha da minha abrupta ausência, mesmo sabendo que vem dos motivos que me levaram a ausência.
Enfim, A VIDA BATE
Não se trata do poema do homem
E sua vida
- a mentida, a ferida, a consentida
vida já ganha e já perdida e ganha
outra vez.
Não se trata do poema e sim da fome
de vida,
o sôfrego pulsar entre constelações
e embrulhos, entre engulhos.
Alguns viajam, vão
a Nova York, a Santiago
do Chile. Outros ficam
mesmo na Rua da Alfândega, detrás
de balcões e de guichês.
Todos te buscam, facho
de vida, escuro e claro,
que é mais que a água na grama
que o banho no mar, que o beijo
na boca, mais
que a paixão na cama.
Todos te buscam e só alguns te acham. Alguns
te acham e te perdem.
Outros te acham e não te reconhecem
E há os que se perdem por te achar,
ó desatino,
ó verdade, ó fome
de vida!
O amor é difícil
mas pode luzir em qualquer ponto da cidade.
E estamos na cidade
sob as nuvens e entre as águas azuis.
A cidade. Vista do alto
ela é fabril e imaginária, se entrega inteira
como se estivesse pronta.
Vista do alto,
com seus bairros e ruas e avenidas, a cidade
é o refúgio do homem, pertence a todos e a ninguém.
Mas, vista
de perto,
revela o seu túrbido presente, sua
carnadura de pânico: as
pessoas que vão e vêm
que entram e saem, que passam
sem rir, sem falar, entre apitos e gases. Ah, o escuro
sangue urbano
movido a juros.
São pessoas que passam sem falar
e estão cheias de vozes
e ruínas. És Antônio?
És Francisco? És Mariana?
Onde escondeste o verde
clarão dos dias? Onde
escondeste a vida
que em teu olhar se apaga mal se acende?
E passamos
carregados de flores sufocadas.
Mas, dentro, do coração,
eu sei,
a vida bate. Subterraneamente,
a vida bate.
Em Caracas, no Harlem, em Nova Dehli,
sob as penas da lei.
Em teu pulso,
a vida bate.
E é essa clandestina esperança
misturada ao sal do mar
que me sustenta
esta tarde
debruçada à janela de meu quarto em Ipanema
na América Latina.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Homenagem a alguns velhos da minha vida

No final de semana passado, visitei minha família em função do aniversário do meu pai. Completou 79 anos (dia 21) e me parece ainda um guri. Demoro a acreditar que esteja envelhecendo... talvez, assim, esteja evitando ver que eu também estou a envelhecer. Fico olhando incrédula para ele, quando diz que não pode ir pescar sozinho, as carpas que dão pinotes no açude, porque não consegue mais retirá-las da água... tenho a impressão de que ele esteja me contando uma de suas histórias!
Nessas andanças, aproveitei para visitar o compadre Homero e a comadre Maria (nem lembro o motivo do compadrio deles com meus pais, mas é de um tempo em que o termo se tornava adendo ao nome próprio), ele com 88 anos e ela com 84... foram duas figuras que desenharam muitas coisas em meu imaginário literário e infantil, e que estão quase se despedindo da existência física. Era na casa deles que eu ficava quando meu pai e minha mãe iam a alguma atividade em que eu não poderia acompanhá-los.
Foi o compadre Homero que me contou histórias de lobisomem e as contou tão bem que ainda hoje não sei se esse ser meio-homem meio-lobo, existe ou não, principalmente porque havia um vizinho que se transformava em lobisomem... quando ele ia ao bolicho lá de casa, eu ficava no balcão, fascinada, imaginando suas transformações. Foi ele, também, que me mostrou como “farquejar” a madeira... fazia banquinhos e gamelas... a vida toda andou de bombachas e camisa (a guaiaca ele já abandonou)... nunca o vi com outra roupa. Era um homem alto e forte, que agora me surpreendeu estando bem mais baixo do que eu, pois está definhando por uma doença “nas juntas dos joelhos”. Zoei muito com ele, dizendo que a comadre Maria estaria lhe deixando de pernas tortas e ele retrucou: “essa aí não serve mais nem pra se pendurar no pescoço” e ela emendou: “ele é que virou um vadio que não quer fazer mais nada... ta surdo e quer ficar só sentado”!
Moravam numa casa de madeira que ficava em meio ao “arvoredo”. Os cepos de sustentação da casa (os pilares) eram altos e assim podíamos brincar embaixo. Por ter muita sombra, a terra retinha bastante umidade e assim proliferavam os “pés” de beijo... me entretinha estourando aqueles casulos com sementes, que se formam depois de caída a flor do beijo... semeava as sementes por todos os lugares e quando lá voltava, ia conferir se já tinham nascido... ainda não tinha noção do tempo de plantar e do tempo de germinar. Lá havia muitos “pés” de butiá, onde aprendi a apreciar essa fruta.
A comadre Maria também me mostrou muitas coisas, entre elas, que o “pé” de butiá demora sete anos para dar frutos (até já escrevi um conto sobre isso)... eu sempre achei tempo demais pra esperar... quando soube disso, tinha 7 anos, então pensei que se plantasse um “pé” naquele ano, só veria os frutos aos 14... deixei a planta de lado, nos 14 posterguei novamente e nos 21 achei que já era um pouco tarde, mas nos 28, enfim, desisti... fui plantar outras coisas que trariam frutos mais rapidamente!
Foi com ela, também, que desenhei o encanto por cozinhar no fogão à lenha... quando cheguei em sua casa, no sábado, o almoço estava sendo feito nele... sua comida tem um cheiro que levarei em minha memória por toda a minha vida! É o cheiro da comida que reúne as gentes!
Sobre o fogão, além da comida e da chaleira, estava o ferro de passar roupas, daqueles de aquecer colocando as brasas dentro... deixou-me em herança! É sua animação que mais impressiona... quase cega, gosta de ir aos encontros de idosos... sofre de bronquite asmática que lhe tira o fôlego, mas não deixa de dançar e quando lhe falta o ar, corre ao banheiro e aplica a bombinha... diz que volta pro salão “novinha em folha” e segue o baile!
Encontrei, ainda, meu tio Joaquim (irmão de meu pai). Foi ele que ajudou a formar o fosso da pedreira em que hoje pesco... essa do retrato no início do blog. Conversamos bastante e contou-me que tem encontrado dificuldades para reter algumas informações na memória. Algumas vezes, lê as coisas e depois que contar, mas não as lembra. Fará 83 ou 84 anos neste abril... é idade pouca, também ainda parece o guri que pescava no Rio Toropi!
Saí desse final de semana, pensando nesses velhos e nas crianças da minha vida e nas coisas bonitas que deixarei plantadas no imaginário delas... outro dia falo disso!
Compadre Homero

Meu pai e Tio Joaquim
Comadre Maria

terça-feira, 23 de março de 2010

Escritos à Toa

CRASE PARA TOA
Algumas pessoas me perguntaram se o dito: Escritos à Toa leva mesmo crase. Respondi, em todas as vezes, que mal sei, visto que pouco sei da língua portuguesa. Como Manoel de Barros, gosto de desavergonhar as palavras, porque delas nada sei. E para explicar o dito, devo dizer quem é TOA.
Toa é uma baiana que me habita e que me balança em seu gingado quando as canoas d’O Velho e o Mar dobram o cabo da existência. Ela me faz dançar a dança rara de quem mistura o azeite de dendê no caldeirão de palavras e pontuações mal ponteadas, remexidas pelas sábias bruxas das constelações literárias. Baiana é o apelido que me foi dado por uma índia que me saiu lá do fundo duma aldeia do pantanal sulmatogrossense, para me habitar a existência. À toa, é o jeito como eu andava, quando ela me encontrou vagando numa trilha aberta pelas onças. Me salvou pra sempre daquela trilha e hoje vivo em sua aldeia.

DIVULGAÇÃO: Ouverture du nouveau portail: www.portail-michel-foucault.org

(De)corrente da divulgação por Silvio Gallo, aí vai: "Olá pessoal. Repasso mensagem que anuncia o lançamento do "Portal Michel Foucault", com uma série de materiais disponíveis. A língua original do site é o francês, mas há versões em varias outras línguas; infelizmente não em português, mas há a possibilidade de acessá-lo em espanhol.
Destaco que nos arquivos digitais estão disponíveis os arquivos sonoros do último curso dado pelo filósofo no Collège de France, em 1984: "A Coragem da Verdade". É no mínimo curioso poder ouvir as aulas dadas por Foucault meses antes de sua morte. Aos que quiserem, divirtam-se!"

Ouverture du nouveau portail: http://www.portail-michel-foucault.org/
L’Association pour le Centre Michel Foucault, le TGE Adonis du CNRS, l’Institut Interdisciplinaire d’Anthropologie du Contemporain (IIAC) de l’Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales et l’Institut Mémoires de l'Edition Contemporaine ont uni leurs efforts pour créer un nouveau portail web dévolu au philosophe français mort en 1984.
Multilingue (Français, anglais, arabe, mandarin, italien, espagnol), ce portail offre aux chercheurs et aux lecteurs de l’œuvre de Foucault des données et des ressources inédites.
Le portail se compose aujourd'hui de deux volets :
Sur le premier, «archives numériques», (http://www.michel-foucault-archives.org/), on trouvera un ensemble important d’archives inédites de M. Foucault (sonores, photographiques, manuscrites et tapuscrites) ainsi que les inventaires des principaux fonds disponibles, des données bibliographiques et une indexation générale des ouvrages publiés.
Sur le second volet, « bibliographie » (http://www.michel-foucault-biblio.org/), est mise à disposition la première banque de données des articles et livres consacrés à la pensée de Michel Foucault. Interrogeable par le titre de l’ouvrage de Foucault mobilisé, le pays, la date ou encore la discipline, cette base qui compte pour le moment les références en langue française permettra a terme de prendre la mesure de la diversité de la réception foucaldienne.
Ce portail Michel Foucault compte enfin un annuaire des chercheurs travaillant sur, avec et à partir de ses recherches, outil indispensable de cette communauté scientifique internationale.
Contact et information :
Jean-François Bert et Philippe Artières : centremichelfoucault@gmail.com
merci de diffuser largement.....

DIVULGAÇÃO de atividades do Programa de Pós-Graduação em Educação - UFSM

DIVULGAÇÃO de três atividades do Programa de Pós-Graduação em Educação, da UFSM, que acontecerão no dia 30.03.2010:
1. Política hoje: vida sub-versiva
O encontro tem por objetivo a apresentação de uma problemática sobre as possibilidades de se fazer política hoje. Tendo em consideração a configuração do capitalismo financeiro-empresarial-microtecnológico em que vivemos, sob a perspectiva da análise conceitual de Gilles Deleuze e Félix Guattari, a professora propõe a discussão do que poderia ser participação política e resistência nos dias atuais.
Palestrante: Profa. Renata Lima Aspis – Doutoranda em Educação/UNICAMP
Debatedor: Prof. Albertinho Luiz Gallina – Depto. Filosofia/UFSM
Dia: 30 de março de 2010
Local: Auditório do LINCE – Centro de Educação, Prédio 16/Sala 3353
Horário: 9h

2. Aula inaugural: SUBJETIVIDADE, IDEOLOGIA E EDUCAÇÃO
Do Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE/UFSM
Com Prof. Dr. Silvio Gallo, do PPGE/UNICAMP
Na terça-feira, dia 30 de março de 2010, às 14h
No Audimax – Centro de Educação/Prédio 16

3. LANÇAMENTO E DEBATE DO LIVRO ENSINAR FILOSOFIA - um livro para professores
Com a presença dos autores: Renata Lima Aspis e Silvio Gallo
Terça-feira, 30 de março de 2010
17 horas
Prédio 74 (CCSH), Sala 2323

segunda-feira, 22 de março de 2010

DIVULGAÇÃO da palestra de Luiz Orlandi: Ética em Deleuze

Divulgada por Mauricio Rocha, do www.guaikuru.blogger.com.br, do [gtfilosofar:734], a  palestra de Luiz Orlandi: Ética em Deleuze.
Caros
Segue elo para a palestra de Luiz Orlandi: Ética em Deleuze [15 de outubro de 2009]
Resumo: O pensamento deleuzeano tende a promover uma proliferação intensiva de bons encontros ao mesmo tempo em que assume o ponto de vista de saídas para a vida, mesmo porque, segundo ele, “não há obra que não indique uma saída para a vida, que não trace um caminho entre as pedras”. Trata-se de ver como Deleuze, em seus encontros com Nietzsche e Espinosa, pensa a favor de uma singular ética vitalista. Como ele distingue vontade de poder e vontade de potência, como isto atua como critério de seleção dos encontros. Com Espinosa, ele pensa distinguir bons e maus encontros em função de duas dimensões: a da composição das relações constitutivas dos seres e a da variação do poder de afetar e de ser afetado.
elo disponível nos endereços abaixo

DIVULGAÇÃO DO XI SIMPÓSIO INTERNACIONAL IHU: O (des)governo biopolítico da vida humana

DIVULGAÇÃO DO XI SIMPÓSIO INTERNACIONAL IHU: O (des)governo biopolítico da vida humana - A Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, sob a coordenação do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, promove o XI Simpósio Internacional IHU: O (des)governo biopolítico da vida humana (http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_eventos&Itemid=19&task=detalhe&id=181) a ser realizado de 13 a 16 de setembro de 2010, em São Leopoldo/RS.
Nesta oportunidade, queremos convidá-lo(a) a apresentar comunicação ou pôster em uma das linhas temáticas propostas pelo Simpósio.
Também gostaríamos de poder contar com sua parceria na divulgação desse evento junto aos integrantes de sua rede e/ou grupos de pesquisa, pelo qual desde já agradecemos. Acesse o site do IHU (www.ihu.unisinos.br) para maiores informações. A programação completa deste evento você confere aqui: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_eventos&Itemid=19&task=detalhe&id=181
CONVOCATÓRIA: A Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, sob a coordenação do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, e apoio dos PPGs de Ciências Sociais, Direito, Filosofia, Saúde Coletiva, promove o XI Simpósio Internacional IHU: O (des)governo biopolítico da vida humana, a ser realizado entre os dias 13 e 16 de setembro de 2010, em São Leopoldo/RS. Este Simpósio tem como principal objetivo promover um debate transdisciplinar sobre a vida humana como objeto do poder e recurso útil nas estratégias biopolíticas das sociedades contemporâneas.
Com a proposta de aprofundar reflexões sobre o tema, além das conferências plenárias, conferências e minicursos simultâneos, que serão ministrados por especialistas nacionais e estrangeiros, será oportunizada a apresentação de comunicações científicas e pôsteres.
Portanto, a Comissão Organizadora convida a comunidade científica, em especial os pesquisadores nas áreas de Filosofia, Direito, Ciências Sociais e Políticas, Teologia, Antropologia, Bioética, Educação, Psicologia, e áreas afins, para participarem no Simpósio com seus trabalhos.
1. Comunicações
1. 1 Normas
As comunicações devem ser inscritas de acordo com os eixos temáticos do Simpósio.
Cada comunicação deverá ter um autor principal e, no máximo, quatro coautores.
Autores e coautores deverão ter sua inscrição individual efetivada.
Os textos para as comunicações devem atender os seguintes critérios:
- comunicações resultantes de pesquisas concluídas ou em andamento;
- relatos de experiências com reflexão teoricamente fundamentada;
- texto devidamente revisado (sob responsabilidade dos autores), enviado no prazo previsto e estruturado conforme instruções constantes neste comunicado.
1. 2 Instruções
Apresentação: segundo as normas da ABNT, para artigos científicos.
Formatação dos arquivos (incluindo texto na íntegra e resumo em português e inglês, em, no máximo, 20 linhas): Formato Word; Papel tamanho A4; Margem esquerda e superior com 3 cm;
Margem direita e inferior com 2 cm; Fonte: Times New Roman, tamanho 12pc; Espaçamento entre linhas: 1,5; Alinhamento: justificado; Numeração das páginas: no alto e à direita. O texto deverá conter título, autor(es), instituição, fonte de financiamento (se for o caso) e e-mail.
É permitido incluir informações adicionais ao texto na íntegra (nome do programa, titulação do autor, nome do orientador etc.) como nota de rodapé, logo após o nome do autor ou coautor.
O texto na íntegra deverá conter entre 15 a 20 páginas. A contagem incluirá: referências e quadros ou tabelas.
2. Pôsteres
2. 1 Normas
Os pôsteres devem ser inscritos de acordo com os eixos temáticos do Simpósio.
Cada pôster deverá ter um autor principal e, no máximo, quatro coautores.
Autores e coautores deverão ter sua inscrição individual efetivada.
Os pôsteres devem atender os seguintes critérios:
- o texto explicativo do pôster, para fins de avaliação, deverá conter até 3 páginas, incluindo referências e quadros ou tabelas, e seguir as instruções de formatação do item 1.2;
- deverá ser enviado um layout do pôster em tamanho médio de 1m de altura por 80 cm de largura.
3. Eixos Temáticos (Comunicações e Pôsteres)
1 – Os modos biopolíticos da vida humana e os impactos no trabalho e na (re)produção da vida;
2 – O (des)governo biopolítico da vida humana a partir de um olhar filosófico;
3 – O controle social da vida humana, os processos de normalização dos sujeitos e formas de exceção jurídica;
4 – Implicações biopolíticas relacionadas à bioética;
5 – A sujeição dos indivíduos nos processos educativos;
6 – A secularização do governo divino do mundo nos dispositivos de governo dos homens;
7 – Possibilidades de controle ou autonomia da psique na constituição da subjetividade.
4. Cronograma
Envio de comunicações e pôsteres até: 30 de junho de 2010.
Divulgação da lista dos trabalhos aceitos: 31 de julho de 2010.
Obs.: Conforme os participantes forem mandando os trabalhos, e estes sendo avaliados, irão receber retorno no prazo de até quinze dias. Assim, caso alguém queira encaminhar o pedido para algum órgão de fomento, terá o retorno para solicitar, em tempo hábil, o auxílio que desejar.
A programação do Simpósio, bem como outras informações pertinentes, inclusive lista completa das comunicações selecionadas e o horário das apresentações, será divulgada no site www.ihu.unisinos.br. As inscrições deverão ser feitas nos moldes do evento, ou seja, mediante o preenchimento da ficha de inscrição e pagamento.
A Comissão de Avaliação está assim constituída: Prof. Dr. Castor Bartolomé Ruiz– Unisinos/ Prof. Dr. José Carlos Moreira da Silva Filho – Unisinos/ Prof. Dr. José Rogério Lopes – Unisinos/ Prof. Dr. José Roque Junges – Unisinos/ Profª. Dra. Paula Sandrine Machado – UFRGS/ Prof. Dr. Wilson Engelmann - Unisinos
Secretária da Comissão de Avaliação: Rejane Bastos – E-mail: rejanes@unisinos.br
São Leopoldo, 08 de março de 2010.
Coordenação do XI Simpósio Internacional do IHU: O (des)governo biopolítico da vida humana

domingo, 21 de março de 2010

Escritos à Toa

Este também é um escrito de tempos idos, mas agora revisado, que foi publicado no Jornal Estilo (Cruz Alta/RS).
AS PEDRAS SEMPRE ESTARÃO PELO CAMINHO!
Dia desses caminhava com minha mais freqüente parceria de caminhadas e, enquanto eu discursava relatando a ocorrência de três acidentes consecutivos envolvendo ambulâncias, ela tropeçou numa titica de pedrinha e foi-se ao chão, justificando a queda pela forma como pisa o chão, apoiando primeiro a ponta do pé e não o calcanhar... tropeçou numa pedra dum caminho pelo qual sempre passamos... perdi a parceria por duas semanas, sendo que renovada a tentativa de caminhada, essa minha amiga que já não é tão jovem, sentiu ainda os efeitos do tombo... o interessante é que depois de reerguida acusou-me: "e você não foi capaz de me segurar!", bueno, se eu tivesse tentado lhe segurar teria ido junto ao chão, mas de qualquer forma passei vários dias me sentindo culpada pela queda esparramada de minha amiga que, duas semanas depois, quase virou sereia, desabando num barranco do rio lá no Rincão do Ivaí.
Vivemos por aí de batucar palavras e compor idéias, de dedilhar sentimentos e cantarolar alegrias, de disfarçar dores e superar tristezas; sofremos do mal e do bem de fugas em fantasias inconseqüentes; ficamos a construir projetos que nunca realizaremos, mas que alimentarão os projetos que nunca deixaremos de desenvolver; no inverno sonhamos sonhos para os tempos frios e no verão sonhamos sonhos para os tempos de calor; labutamos mais tempo em vida de formiga e muito menos em vida de cigarra; vivemos o tempo todo a mastigar as injustiças que nos abalam e que abalam o mundo; idealizamos, diante de todas as curvas e de todas as pedras do caminho, múltiplas formas de ultrapassá-las; sintonizamos, em todas as ondas sonoras que nos transmitam os mais inusitados sons do mundo, as melodias que nos embalam o ouvido e a existência... quando olhamos o mundo escutamos o som ímpar de agulhas caindo ao chão e vemos até o movimento da flor que se abre na escuridão e que se fecha no amanhecer!
Ando querendo escrever contos para poder fazer mais ficção e assim dissimular umas idéias muito malucas que venho tendo desde os meus tempos de adolescência, porque essa coisa de fazer crônicas dá muito trabalho porque é uma coisa muito séria... e tem essa coisa das pessoas virem dizendo "você que escreve, poderia escrever sobre tal coisa" e eu acabo, com apenas uma crônica semanal, virando muito mais promessa do que abordagem efetiva dos assuntos que as pessoas gostariam de ver publicamente abordados e, também, às vezes, quero falar das bruxas que rondam meu mundo, dos amores que tive e do que tenho, das coisas que infernizam o mundo, dos sentimentos que não ousamos confessar, das brigas que temos com as coisas tradicionalmente convencionadas, das crenças que nos sustentam, das teias de aranha que deixamos serem tecidas na campainha de nossa porta para que as pessoas que ali tocarem pensem nos votos de respeito que temos para com o trabalho das aranhas, dos problemas inúmeros da pólis efervescente, das indignações das pessoas várias que nos cruzam na vida, das coisas que podemos falar somente por metáforas e das coisas que podemos dizer de cara limpa!
Olho no infindo dos limites do horizonte e vejo a lua cheia surgir imponente entre nuvens que insistem em contê-la... vem cheia para minguar logo depois... e essa lua imponente, essa lua insinuante e desviante me faz pensar num amor que tenho, e faço ensaios pensando e falando, neste instante, sozinha, que depois de todo esse tempo de convívio com o inusitado -ainda lembro o dia em que conversava e usei com propriedade, pela primeira vez, esta palavra: INUSITADO- dos encontros e desencontros com as dores e alegrias do amor... esses sentimentos e essa lua cheia me fazem pensar em Belchior e naquilo que dizia Como Nossos Pais, "Não quero lhe falar meu grande amor, das coisas que aprendi nos discos, quero lhe contar como eu vivi e tudo o que aconteceu comigo, viver é melhor que sonhar e eu sei que o amor é uma coisa boa, mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa, por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina, eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens, para abraçar meu irmão e beijar minha menina na rua, é que se faz o meu lábio o meu braço e a minha voz; você me pergunta pela minha paixão e eu digo que estou encantado por uma nova invenção, vou ficar nesta cidade e não vou voltar pro sertão, pois vejo vir vindo no vento o cheiro da nova estação e eu sinto tudo na ferida viva do meu coração, já faz tempo eu vi você na rua cabelo ao vento e gente jovem reunida, no quadro vivo da minha memória esse é o quadro que me dói mais, minha dor é percebe que apesar de termos feito tudo o que fizemos ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais, nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não, você diz que depois deles não apareceu mais ninguém você até diz que eu estou por fora ou então que estou enganando, mas é você que ama o passado e não vê que o novo sempre vence; e hoje eu sei que quem me deu a idéia de uma nova consciência e juventude está em casa guardado por deus contando seus metais, minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais!"
Afora as ficções, os amores e as dores, os ideais e os sonhos, sabemos que as pedras -não importa como pisamos o chão- sempre estarão nos caminhos pelos quais andamos e isso talvez nos faça viver, com ou sem tropeços, mas sempre com novos movimentos que mexem conosco e com as coisas do mundo... um dia poderemos não ser como nossos pais, porque sonhar nos alimenta, mas viver é melhor que sonhar!

sábado, 20 de março de 2010

Contos Desbotados

Alguns amigos me fizeram relembrar os escritos de outrora e aventaram que eu poderia colocá-los aqui, para além daqueles que já publiquei, então aí vai um dos Contos que foram publicados no Jornal Estilo (Cruz Alta/RS), em tempos idos.
SETE PALMOS
Andava, devagarinho, vagando entre um paralelepípedo e outro. De dia pisava somente nas lajotas escuras e de noite somente nas claras. Jamais errava um passo. Jamais errava a cor. Era imprescindível para a sua existência, manter aquela rigorosa ordem.
Começou a preparar cedo os rituais da própria morte, do próprio velório e do próprio enterro, assim como da missa de corpo presente, da missa de sétimo dia, das missas de todos os meses até completar um ano de sua morte e das missas de todos os anos até completar sete anos da morte.
Era um crente convicto, por isso acreditava que não tinha que se preocupar com a situação da morte, pois entregara a sua vida à Deus, que tudo sabia e que certamente saberia o momento e o lugar certo em que deveria morrer. Mas se pudesse escolher, queria morrer deitado em sua cama. Fria cama de alguém que nunca fora feliz. A companheira era feito pedra, e ele também. Mas acreditara a vida inteira, que deveriam viver juntos porque o pai dele e o pai dela morreram da mesma causa (colapso cardíaco) e no mesmo dia, souberam disso na missa de sétimo dia dos dois, apesar de os terem velado no mesmo conjunto de capelas funerárias e enterrado no mesmo cemitério, à mesma hora e na mesma fileira de sepulturas, um numa ponta e outro na outra ponta.
Viveram juntos desde aquela missa de sétimo dia. Namoraram três meses. Ficaram noivos quatro meses. E no final do sétimo mês casaram, era um sete de julho, nunca esquecera aquela data. Tiveram sete filhos, sete netos, dezessete bisnetos e trinta e sete tataranetos. Não pôde saber das outra gerações, por razões óbvias.
Comprou o caixão numa funerária antiga e que certamente ainda duraria gerações, até que fossem consolidados métodos mais radicais de viagem para a última morada, portanto, havia a garantia de que, se pagasse o caixão e os serviços todos que a casa funerária teria que prestar, os receberia tal e qual havia contratado e pago.
Escolheu um caixão claro, que era para aparentar maior tranqüilidade, apesar de a vida ter sido cinzenta. Queira muitas flores, que era para aparentar alegria. Queria música, muita música. Deixou os discos e as músicas selecionadas, que era para pensarem que sua vida teria sido muito animada. Queria a leitura de alguns salmos da bíblia, de algumas citações de romances clássicos e de algumas poesias, tudo devidamente escolhido, que era para pensarem que teria sido muito crente e culto.
Deixou a descrição de todos os rituais que deveriam ser seguidos pela família e pelos amigos. Quem deveria falar. Quem deveria fazer os discursos. Queria que os sete filhos falassem, primeiro o mais jovem e por último o mais velho, que era para as pessoas terem a impressão de que os discursos foram ficando mais intensos e de que fora um pai muito amado, forte e presente. E depois a esposa deveria falar e dizer o quanto foram felizes. E ainda um amigo que falaria por todos os outros e que deveria dizer do grande ser humano que fora e da imensurabilidade de sua amizade.
Deveriam aguardar pelo menos trinta e quatro horas depois da confirmação de sua morte, para fazer o enterro. O enterro deveria acontecer durante o dia, de preferência ao meio-dia, que era para as pessoas terem o tempo de pesar e de lembranças dele até que a noite caísse e com a noite viesse também o esquecimento.
A missa de corpo presente deveria durar setenta minutos, que era para dar tempo de seguir todos os passos que deixara escrito e registrado na secretaria da igreja. Deixara todas as outras missas encomendadas e pagas, junto com a lista de pessoas a serem convidadas, que era para garantir que tudo aconteceria conforme o seu desejo. Depois que completasse sete anos de sua morte, os familiares e os amigos estariam liberados para lembrá-lo da forma como quisessem.
Quando, em vida, avisava a família que havia um segredo que deveria ser revelado no dia de sua morte antes de serem tomadas as providências para os seus funerais, todos pensavam que fosse brincadeira ou exagero dele, mas mesmo assim os orientava dizendo que assim que morresse, imediatamente pegassem no pequeno cofre no canto de seu quarto os documentos que lá estavam.
Na semana em que completaria setenta anos foi participar de uma pescaria junto com alguns vizinhos. Estava contente, talvez até feliz. Gostava de se afastar e pescar sozinho. Retornariam no dia de seu aniversário, pois mesmo sendo avesso a festas, naquele ano faria uma para a família, os amigos e os vizinhos. Pescaram bastante, organizaram os peixes e os equipamentos. Antes de partir pediu aos companheiros que esperassem um instante, pois gostaria de nadar uma vez ainda antes de partir. Jogou-se ao rio e largou-se a dar braçadas. Mergulhou e voltou à superfície. O coração estava bem. Mergulhou mais uma vez e nunca mais voltou. Os companheiros, mesmo sabendo que ele não era dessas coisa, num primeiro momento pensaram que fosse uma brincadeira.
Primeiro vieram os moradores da vizinhança contando histórias de jacaré, de uma cobra devoradora, de piranhas (mesmo que aquele rio não desse para essas coisas) e de uma antiga bruxa que ali morrera e cujo corpo nunca fora encontrado. Depois vieram os bombeiros e passaram sete dias procurando e vasculhando o rio, sem nada encontrar. Desistiram.
A família registrou o seu desaparecimento e o delegado, o seu óbito. A vida da família seguiu, agora tranqüila. O jardim ficou mais florido. A viúva começou a sorrir e se divertir. Os filhos passaram a se encontrar mais e se afastar menos. Mas a vida de todos mudou radicalmente no exato dia em que completou sete anos de seu desaparecimento, quando o filho mais jovem resolveu dar um jeito de estourar a fechadura do cofre e lá encontrou o testamento dos desejos do pai para a celebração de sua morte, junto com todos os documentos e recibos que deixara. Por sorte estava tudo pago, porque já era tarde demais para revelar um segredo tão bem guardado e para atender desejos de um morto que nunca voltou para ser atendido. Bem no cantinho do cofre ficara um papelzinho com a anotação da senha para abrir o cofre. Era tarde.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Poetagens Alheias

Das poetagens dos contos de Manoel de Barros, trago um dos que mais aprecio: BOCÓ
“Quando o moço estava a catar caracóis e pedrinhas na beira do rio até duas horas da tarde, ali também Nhá Velina Cuê estava. A velha paraguaia de ver aquele moço a catar caracóis na beira do rio até duas horas da tarde, balançou a cabeça de um lado para o outro ao gesto de quem estivesse com pena do moço, e disse a palavra bocó. O moço ouviu a palavra bocó e foi para casa correndo a ver nos seus trinta e dois dicionários que coisa era ser bocó. Achou cerca de nove expressões que sugeriam símiles a tonto. E se riu de gostar. E separou para ele os nove símiles. Tais: Bocó é sempre alguém acrescentado de criança. Bocó é uma exceção de árvore. Bocó é um que gosta de conversar bobagens profundas com as águas. Bocó é aquele que fala sempre com sotaque das suas origens. É sempre alguém obscuro de mosca. É alguém que constrói sua casa com pouco cisco. É um que descobriu que as tardes fazem parte de haver beleza nos pássaros. Bocó é aquele que olhando para o chão enxerga um verme sendo-o. Bocó é uma espécie de sânie com alvoradas. Foi o que o moço colheu em seus trinta e dois dicionários. E ele se estimou”.

quinta-feira, 18 de março de 2010

DIVULGAÇÃO: FSEA 2010 - Fórum Social, Econômico e Ambiental - Dias 14 e 15 de maio de 2010 - Panambi - RS - Brasil

Divulgo, a seguir, o FSEA 2010 - Fórum Social, Econômico e Ambiental - Dias 14 e 15 de maio de 2010 - Panambi - RS - Brasil - http://www.fsea.com.br/ e a Declaração da I Reunião da Gaia para América Latina e Caribe, publicada pelo Instituto Pólis e, assim, trazendo aqui, a questão do lixo, que muito me interessa no que se refera à sustentabilidade humana e ambiental.
O Fórum Social, Econômico e Ambiental visa o debate e a intercooperação dos agentes de governo, entidades sociais, ambientalistas, empresários, escolas e a sociedade em geral com o objetivo de criar um documento de sugestões de politicas públicas, com o tema: DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL SUSTENTÁVEL, que será elaborado durante o Fórum nos dia 14 e 15 de maio de 2010 na cidade de Panambi – RS.
O documento de sugestões de políticas públicas com sua devida legitimidade será elaborado com a ampla participação de toda a sociedade e enviado a todas as esferas governamentais do país, imprensa e comunidade em geral para assim gerar ações práticas para a Sustentabilidade Global.
E para isso é de fundamental importância a participação de toda a sociedade através de sugestões nas áreas sociais, econômicas e ambientais para assim atingir a legitimidade proposta, por isso convidamos vossa pessoa a participar.
Todas as sugestões podem ser remetidas para o e-mail: e as mesmas serão encaminhadas para a composição do referido documento.
Assim esperamos a sua contribuição para juntos construirmos um futuro mais justo e solidário para todos, pois o futuro pertence aos nossos filhos, e temos o dever moral de fazer o nosso papel como pais, para termos a certeza de que haverá um amanhã para todos.
Obrigado - Vilmar Cleveston - Coordenador FSEA

12/02/2010 - http://www.polis.org.br/noticias_interna.asp?codigo=951


Cuidar do lixo, cuidar do planeta
A luta por um mundo sem poluição ambiental passa pelo cuidado com os resíduos. Reduzir drasticamente o uso de materiais químicos e tóxicos e reciclar toda a produção são apenas duas das muitas propostas concretas discutidas na primeira reunião da Gaia para a América Latina e Caribe, cuja declaração reproduzimos aqui:
Declaração da I Reunião da Gaia para América Latina e Caribe
Nós, representantes das organizações abaixo assinadas, integrantes da Aliança Global Anti-Incineração / Aliança Global para Alternativas à Incineração (Gaia), após termos encerrado nossa reunião de análise, debate e intercâmbio sobre a crescente problemática do lixo na América Latina e no Caribe, celebrada na cidade de Cuernavaca, Morelos, México, entre 22 e 24 de agosto de 2008, declaramos:
• O lixo é o sintoma de um problema: o sistema de produção e consumo predatório e desenfreado que devasta o meio ambiente e as comunidades pela super exploração dos recursos naturais, pelos processos de produção de poluentes, pelo consumo excessivo e pelas práticas poluentes de manejo e tratamento de resíduos. A outra face desse sistema é a injustiça social, o retrocesso dos direitos adquiridos, a crescente violência e pobreza, e o fomento do individualismo e do desenvolvimento ilimitado e imposto.
• O grave problema da mudança climática está diretamente vinculado ao consumo excessivo e à geração e manejo dos resíduos. Os aterros sanitários são uma fonte importante de emissão de gases de efeito estufa. Preocupa-nos que a captação de gases dos aterros existentes seja utilizada para justificar a instalação de novos mega-aterros como fonte de geração de energia e como solução para o problema dos resíduos.
• A incineração dos resíduos também contribui para o aquecimento global, ao consumir recursos que poderiam ser reciclados, mas, que por serem destruídos, têm que ser substituídos a partir de matéria- prima. A chamada “valorização energética”, ou incineração com “recuperação” de energia constitui, na realidade, um comprovado desperdício de energia, além de uma fonte de emissão de poluentes altamente tóxicos e gases de efeito estufa, assim como os incineradores convencionais.
• A estratégia da indústria do cimento de se apresentar como um sistema de tratamento de resíduos é extremamente alarmante. Cada vez mais esta indústria utiliza resíduos, muitos deles perigosos, como combustível em seus fornos para reduzir custos, sem levar em consideração os efeitos poluentes dessa prática. Isso não apenas perpetua a geração de resíduos, como freia a busca por soluções energéticas. A queima de resíduos em fornos de cimento nada mais é que incineração.
• Estas práticas são possíveis devido à falta de transparência na tomada de decisões da maioria dos governos, à redução da participação cidadã e ao esvaziamento dos processos democráticos. Tudo isso permite que sejam empregadas tecnologias altamente poluentes, que são danosas para a saúde das comunidades e também comprometem a saúde e a qualidade de vida das gerações futuras, já que emitem compostos tóxicos que são transmitidos de uma geração à outra.
• Por outro lado, perpetuam o sistema atual de produção e consumo, e não é possível manter um sistema de crescimento perpétuo em um planeta finito. É imperativo modificar este sistema. Uma das formas de mudança se dá através da aplicação de planos de Lixo Zero: reduzindo o consumo e a geração de resíduos, reutilizando e recuperando os materiais eliminados, apontando para o redesenho ou a interrupção da fabricação de produtos ineficientes, modificando os processos de fabricação através da Produção Limpa, utilizando a matéria orgânica para produzir biogás e incorporando a participação cidadã como um aspeto central. Todas estas ações contribuem para assentar as bases para a construção de um modelo diferente, com justiça social e ambiental, garantindo a soberania dos povos.
Pela vida e pela saúde de nossos povos, pela proteção de nosso planeta: NÃO à incineração! Lixo Zero agora!
Assinam essa declaração: Eco Sitio, Coalición Ciudadana Anti-Incineración – Argentina, BIOS, Gaia – Argentina, CEIISA – Bolivia, ODESC – Brasil, Acción Ecológica – Chile, Acción Ecológica – Ecuador, Acción Ecológica – México, CESTA - El Salvador, Haiti Survie – Haiti, CAATA – México, Equipo Pueblo – México, Fronteras Comunes – México, DAME – México, CESUES – México, APETAC – México, Greenpeace – México, Sistema de Agua Potable de Tecámac – México, Frente Mexicano Pro Derechos Humano – México, Acción Ponceña Comunitaria por un Ambiente Sano – Puerto Rico, Misión Industrial – Puerto Rico, Instituto POLIS – Brasil, Consultoría Técnica Comunitaria – México, CASIFOP – México, representantes de Atotonilco de Tula – México.

quarta-feira, 17 de março de 2010

DIVULGAÇÃO: Pichon-Rivière

DIVULGAÇÃO: Instituto de Psicologia Social de Porto Alegre Pichon-Rivière
http://www.pichonpoa.com.br/cursos.asp
Cursos: Anuais, Seminários Semestrais, Cursos e Oficinas de Curta Duração, Grupos Temáticos, Cursos Anuais
Coordenação de Grupos: Experiência Teórico-vivencial
Instrumentalizar os participantes para operar com grupos nas áreas de saúde, educação e trabalho, através de ferramentas teóricas e vivências grupais.
Coordenadores
Nelma Campos Aragon - Leocilda Maria Pacheco Garcia

Fundamentos Teórico-práticos de coordenação de grupos (Mensal - Grupo de Porto Alegre)
Proporcionar fundamentos teóricos de coordenação de grupos para subsidiar as práticas grupais através de exercícios, vivências e compreensão do processo grupal.
Coordenadores: Nelma Campos Aragon

Grupos: problematização, desindividualização e experimentação (semanal)
Propiciar estudos avançados na perspectiva esquizoanalítica dos grupos enquanto criação-experimentação-diferenciação.
Coordenadores: Nelma Campos Aragon - Leocilda Maria Pacheco Garcia - Branca Regina Chedid

Cursos Seminários Semestrais
Análise Institucional: principais conceitos e intervenção (Mensal)
Estudar os principais conceitos da análise institucional e oferecer elementos para a realização de intervenções que desencadeiem processos de construção coletiva nas organizações.
Coordenadores: Nelma Campos Aragon

Análise Institucional: Principais Conceitos e Intervenção (Semanal)
Estudar os principais conceitos da análise institucional e oferecer elementos para a realização de intervenções que desencadeiem processos de construção coletiva nas organizações.
Coordenadores: Nelma Campos Aragon

Esquizoanálise e práticas sociais e institucionais (Mensal)
Estudar os modos de subjetividade contemporânea e construir meios de transformar as práticas cotidianas no trabalho, educação e saúde, com base na esquizoanálise.
Coordenadores: Branca Regina Chedid

Esquizoanálise e Práticas Sociais e Institucionais (Semanal)
Estudar os modos de subjetividade contemporânea e construir meios de transformar as práticas cotidianas no trabalho, educação e saúde, com base na esquizoanálise.
Coordenadores: Branca Regina Chedid

Famílias: Práticas analíticas e sociais (Módulo I)
Oferecer instrumentos teórico-práticos de intervenção nas famílias, considerando suas relações com os contextos sociais, culturais, econômicos e políticos.
Coordenadores: Leocilda Maria Pacheco Garcia - Nelma Campos Aragon

Fundamentos teórico-práticos de coordenação de grupos (Mensal - Grupo de Caxias do Sul)
Proporcionar fundamentos teóricos de coordenação de grupos para subsidiar as práticas grupais através de exercícios, vivências e compreensão do processo grupal.
Coordenadores: Leocilda Maria Pacheco Garcia

Fundamentos teórico-práticos de coordenação de grupos (Semanal)
Proporcionar fundamentos teóricos de coordenação de grupos para subsidiar as práticas grupais através de exercícios, vivências e compreensão do processo grupal.
Coordenadores: Nelma Campos Aragon - Leocilda Maria Pacheco Garcia

Grupo de estudos: Edgar Morin - Reforma do pensamento, desassossego dos paradigmas e complexidade
Estudar e vivenciar a experimentação da noção de complexidade numa atmosfera grupal de aprendizagem teórico-prática.
Coordenadores: César Ricardo Koefender

Grupos: problematização, desindividualização e experimentação (mensal)
Propiciar estudos avançados na perspectiva esquizoanalítica dos grupos enquanto criação-experimentação-diferenciação.
Coordenadores: Nelma Campos Aragon

Cursos e Oficinas de Curta Duração
Capacitação Básica para Coordenar Grupos (Grupo Janeiro - Caxias do Sul)
Oferecer capacitação básica para constituir e coordenar grupos e trabalhar em equipe, através de conhecimentos teórico-práticos, vivências e compreensão do processo grupal.
Coordenadores: Leocilda Maria Pacheco Garcia

Capacitação Básica para Coordenar Grupos (Grupo Janeiro - Porto Alegre)
Oferecer capacitação básica para constituir e coordenar grupos e trabalhar em equipe, através de conhecimentos teórico-práticos, vivências e compreensão do processo grupal.
Coordenadores: Leocilda Maria Pacheco Garcia - Nelma Campos Aragon

Oficina: Ciranda da Mudança
Transformar o olhar da vida abrindo para a experimentação da tragicomédia da existência, aprendendo a rir de si mesmo e a ultrapassar seus próprios limites.
Coordenadores: Maria Pompéia Muscato

Grupos Temáticos
Amor, amores e paixões: vislumbres, aspirações e paisagens... nas artes, na vida e no coração
Estimular a possibilidade de construção de novos territórios existenciais nas relações amorosas.
Coordenadores: César Ricardo Koefender

D. Q. se trata
Espaço que discute situações de uso, abuso ou dependência de substâncias psicoativas.
Coordenadores: Fernando Monteiro da Rocha - Branca Regina Chedid

Troféu Ana Terra

Uma Outra Canção Para Elizabeth

Li em algum lugar (o qual não anotei), o dito de uma moça que se explicou dizendo ter uma imaginação galopante, quase beirando à loucura. Li isso e gostei, pra poder ser mais literária do que se pode ser.
Há um negro, pobre, preto-velho e sábio que me habita. De tempos em tempos ele faz ponteios de prosa em meu pensamento e conversa com um índio guarani que me transita; os dois, agenciando o que lhes cabe e interessa, produzem coisas que nem a cachaça poderia me mostrar. Surge devagarzito, quando meus olhos de ver vêem um solo ressequido e rachado (não tem que ser visão real, pode ser só de retrato), ou quando um banco de madeira se me apresenta a esses mesmos olhos. Tem dias em que puxo do meu cachimbo e faço voltas de fumaça entorpecente. Na preguiça de amainar o cachimbo, enrolo meu palheiro, trago a fumaça e fixo no horizonte os meus olhos que pensam por mim. Esse preto-velho mexe em minhas entranhas quando ouve um ponto de umbanda ou uma moda de viola. É ele que tem tentado me convencer a largar desse mundo cada vez mais feroz e montar meu casebre lá no meio do mato, à beira do rio. Noite dessas, ele me provocou uma sonharada estranha. Me fez experimentar vários chapéus grandes demais para minha pouca cabeça. Espero que volte em outros sonhos e me faça sonhar coisas mais calmas, mas aproximadas de meu entendimento pouco.
Digo essas coisas, pra falar um pouco de Ana Terra, personagem de Érico, que mora no Continente, d’O Tempo e o Vento. Foi um dos primeiros escritos de Érico que li (outro dia falarei do orgasmo de Ana Terra). Ganha forma já no começo da história, quando o poeta desce na pena de Érico: “’Sempre que me acontece alguma coisa importante, está ventando’, costumava dizer Ana Terra. Mas, entre todos os dias ventosos de sua vida, um havia que lhe ficara para sempre na memória, pois o que sucedera nele tivera a força de mudar-lhe a sorte por completo. Mas em que dia da semana tinha aquilo acontecido? Em que mês? Em que ano? Bom, devia ter sido em 1777: ela se lembrava bem porque esse fora o ano da expulsão dos castelhanos do território do Continente. Mas, na estância onde Ana vivia com os pais e os dois irmãos, ninguém sabia ler, e mesmo naquele fim de mundo não existia calendário e nem relógio. Eles guardavam na memória os dias da semana; viam as horas pela posição do sol; calculavam a passagem dos meses pelas fases da lua; e era o cheiro do ar, o aspecto das árvores e a temperatura que lhes diziam as estações do ano”. É o retrato das gentes que viviam das coisas poucas de que necessitavam e das leituras que liam nos escritos da natureza. Viviam em desalinho com isso e querendo voltar para Sorocaba.
Ana encontrou em Pedro Missioneiro o aconchego para sua existência e na própria existência, o traçado para lidar com as adversidades que se lhe foram apresentando. A família vivia da produção plantada e colhida nas terras em que viviam.
Ana fica situada entre a ficção e o retrato explícito da mulher que viu nascer uma fronteira territorial nas beiradas do Rio Grande do Sul, vendo nascer também, uma fronteira subjetiva em seu próprio ser, que lhe permitiu não se submeter às convenções que lhe mandavam enterrar suas vontades e seus quereres. É por ela representar essas coisas, que acoiero aqui, o Troféu Ana Terra – do qual pouco sei – e que Elizabeth Fontoura Dorneles estará recebendo hoje, dia 17 de Março de 2010, em Porto Alegre, estando “entre as 28 mulheres com destacada atuação na sociedade gaúcha em ações sociais e humanitárias (...). As vencedoras foram indicadas pelos Conselhos Municipais de Desenvolvimento- Comudes e depois definidas pelos Conselhos Regionais de Desenvolvimento- Coredes”.
Faço esse floreio porque não sou afeita e nem partidária de prêmios e troféus por destaques de gentes em qualquer coisa que seja. Acredito e penso que todas as gentes são feitas de possibilidades de lutas e de resistências. Mas somos frutos de uma cultura e de uma educação que, sabe-se lá com que propósitos, nos ensina a separar as gentes em andaimes diversos, em que alguns são reconhecidos como distintos e a maioria como patuléia. O sistema nos devora e muitas vezes acomoda ou deixa as gentes acossadas, sem ferramentas para formular a resistência e criar novas lutas. É por reconhecer em Elizabeth uma gente que nunca entregou as ferramentas e nem as deixou de lado, transitando com outras gentes os mais duros territórios e mostrando-lhes as ferramentas para resistir e lutar, que rendo-lhe esta homenagem aqui, porque sei também, que esse Troféu simboliza para ela o desenho de suas andanças e o traçado que Ana Terra lhe encarna em suas crenças e em suas ações.
Elizabeth não é feita de simulacros e nem de lutas vãs. Quando vê que está ventando, desencilha o cavalo para poder se abrigar dos rebordeios dos temporais e aguardar as coisas que podem se apresentar. Reconhece o canteiro em que se pode plantar e aquele que se esterilizou pelo pisoteio sem fim dos que por ali antes passaram. Crê que “Cá por estas bandas, quando passamos por períodos/ quando passamos por tempos em que não podemos fazer mais que plantar sementinhas, então plantamos sementinhas, porque sabemos que, mesmo que queimarem a terra, dali a algum tempo, quando a revolvermos, teremos sementes queimadas, mas também teremos muitas sementes por germinar. Às vezes, não sabemos se é um tempo de plantar sementinhas ou de revolver a terra... mas sabemos que sempre haverá alguém a queimar a terra, então sempre estaremos a plantar sementinhas e a revolver a terra... é assim que o mundo continua vivo e a pulsar!” (Sementinhas, Diello).
E para terminar a anotação que aqui faço, retomo as palavras de Pedro Tierra (que é só o pseudônimo de um autor de que não lembro o nome e não o filho de Ana Terra com Pedro Missioneiro), na Carta do Sul, no 2º FSM e que é uma poetagem de que muito gosto e que tenho utilizado para reafirmar sempre o caminho que perseguimos: "Regressamos como os pássaros migradores. (...) A palavra tecendo sonhos, como agulhas urdindo um tapete sem desenho prévio./ Somos filhos da vertigem. Desse impulso de extrair do impossível mundo das cifras e da ferocidade capitalista, um outro mundo possível... As mãos que trazemos tatearam noites e labirintos. Não moldaram no ar o frágil desenho da cidade futura. Sabem da terra proibida pelo arame; do trabalho escasso; do pão escasso; da fome. Recolhem das ruas do mundo destroços da alegria, da paixão, da dor, da exploração, da violência, do êxodo de tantos, dos sonhos arquivados na multidão, soterrados pela demolição dos direitos, da resistência, e, novamente, da alegria e da paixão e propõem um novo mosaico. Um novo mosaico é possível.../ Morremos em Eldorado dos Carajás; a caminho de uma escola em Ramallah; no sonho que anoitece sob a burka de uma mulher em Mazar-i-Sharif; numa clareira na selva colombiana; em Gênova, no corpo de Carlo Giuliani; ao pé das torres gêmeas, em Nova Iorque; numa mesquita de Kandahar. E renascemos nas ruas rebeladas de Buenos Aires e de Santo André. Para renascer nascemos... Somos centelhas de acender outras possibilidades./ Deixamos de parte as cifras, as taxas de juros, o comportamento da bolsa de valores: esse mundo estéril e homicida. Fixamos os olhos e o coração indignado sobre os dramas que nos afligem: a fome, as guerras, a exclusão social, a limpeza étnica, o desemprego, a AIDS, a morte dos rios, a cinza das florestas, a concentração galopante da riqueza, a destruição das conquistas dos trabalhadores, o controle da informação, a lógica única do pensamento único. Despidos de toda humanidade, em duas gerações testemunhamos a espantosa morte de um continente: a África. Viemos nos despedir da indiferença./ Trazemos a vocação do diverso. Do libertário. A vocação do humano. (...) Somos a desencontrada polifonia das vozes do Sul e do Norte que rejeita a marcha fúnebre do mercado. A solidariedade é o ar que nos sustenta as esperanças. O mesmo alento que prolonga o vôo dos pássaros migradores. Somos herdeiros da vertigem criadora de cada um de nossos povos: pretos, brancos, amarelos, vermelhos, verdes, azuis... A frágil possibilidade de que um outro mundo é possível...".
A esperança alimenta nosso acordar no amanhecer das manhãs e acalenta nosso sono no anoitecer das noites... o sonho é a plantação que nos permite colher! É por acreditar nessas coisas, que Elizabeth busca o Troféu Ana Terra para todas as mulheres que resistem e lutam... e também para aquelas que foram acossadas, mas que ainda podem resistir e lutar!