domingo, 2 de outubro de 2011

Educação, Comunicação e Não-Violência


Como nos reeducar para um viver e conviver que nos liberte dos condicionamentos e possibilite estar vivos a cada instante
Por Carolina Lemos Coimbra*
Há alguns anos adquiri um ímã com a seguinte mensagem: “Escrever é um modo de falar sem ser interrompido”, atribuída a Jules Renard. Faz todo o sentido para mim. Quando por diversas razões não consigo me expressar falando, vou logo pegando lápis ou caneta e colocando tudo para fora de mim no papel.
Aí, vez em quando, partilho os escritos, não sem certo relutar. Escrever é colocar o que tenho de mais verdadeiro para fora. Tem um desnudar que é ao mesmo tempo incômodo e necessário.
E a vontade de partilhar vem crescendo. E esta coluna é esse experimento do partilhar.
Minha intenção com este espaço é investigar a Educação, a Comunicação e a Não-Violência, partindo do questionamento: Como podemos nos reeducar para um viver e um conviver que nos liberte dos condicionamentos e nos possibilite estar vivos a cada instante? Olhando para três áreas do nosso viver: a intrapessoal (relação com nós mesmos), a interpessoal (com outras pessoas) e a sistêmica (sistemas e estruturas que criamos para servir a vida e que, às vezes – mais do que eu gostaria – não servem mais e passamos a servi-los).
São investigações e estudos sobre esta questão nessas três áreas que a cada quinze dias pretendo falar sem ser interrompida aqui neste espaço. Digo que é minha intenção, porque não sei se irei de fato fazer isso. Vamos deixar rolar e ver o que vocês, leitores, trazem também para também compor esta música.
E se escrever é falar sem ser interrompida, e quando as pessoas falam e já não aguentamos mais ouvir? Talvez por isso me agrade o escrever. Existe uma liberdade já dada de parar de ler assim que o leitor quiser. Já com a fala…
Semana passada, por exemplo, estava em uma sala de aula. A pessoa que estava no papel de educadora começou a contar a história da metodologia que desenvolveu e que irá nos levar a vivenciar durante suas aulas. A história ia lá longe no passado…e a pessoa no papel de educadora falava e contava suas experiências com diversos detalhes. O meu colega ao lado no papel de educando começou a desenhar no caderno e a suspirar. Conforme o tempo ia andando ele se mexia cada vez mais até que seus pés começaram a bater repetidas vezes no chão.
Imagino que ele não estava mais interessado no que a pessoa no papel de educadora estava falando. Porém, em nenhum momento dos 30 minutos seguintes, meu colega partilhou isso com a turma. Pergunto então: o que está dado em nossa sociedade que faz com que aceitemos ficar 40 minutos ouvindo alguém que não queremos mais ouvir?
Já ouço algumas pessoas falando: “Educação, oras…Não é educado interromper”. Bom, neste caso, interromper me parece que serviria a vida deste sendo humano que estava sentado ao meu lado. E provavelmente a da pessoa no papel de educadora. Gostaria de saber de você que me lê agora: se alguém te escuta e não está mais te acompanhando (seja por que não faz mais sentido para ela, seja porque algo em sua fala chamou a atenção dela e ela está viajando em algo dentro dela que ressoou sobre isso, seja por qualquer outra razão), você gostaria que ela partilhasse isso? Não consigo imaginar alguém que preferiria ficar falando “para paredes” e acreditando que está contribuindo com sua fala quando não mais o está.
Então, porque continuamos a servir esta tal educação que nos diz que não devemos interromper? Interromper me parece ser uma atitude de servir à vida, para que ela continue fluindo onde parou de fluir…
Talvez possamos também nos perguntar: como interromper cuidando de quem está falando? E isso provavelmente nos levará para um outro texto…
Ouvi outra frase esses dias: “Fique em silêncio ou faça com que suas palavras valham mais que o silêncio”. Finalizo na esperança que esta minha partilha tenha mais valia que o silêncio e uma página em branco, que contém em si todas as possibilidades.
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Carolina Lemos Coimbra  está investigando as relações entre Educação, Comunicação e Não-Violência, especialmente em si mesma. Encontra-se pelo e-mail carolinalcoimbra@gmail.com, no blog atovivo.wordpress.com , nas ruas e nesses textos.

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