sexta-feira, 22 de abril de 2016

hypomnemata 185

Boletim eletrônico mensaldo Nu-Sol - Núcleo de Sociabilidade Libertáriado Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SPno185, março de 2016.


brasyl...brasil
Então tá: cada um deve decidir de que lado está. São dois: governo e oposição.
Onde está quem não estiver em nenhum desses lados e quiser atravessar essa dicotomia, dissolvê-la, escancarar o limite que o discurso democrático faz questão de concretizar?
A vida não é isso ou aquilo, mesmo segundo as circunstâncias possíveis diante do chamado conflito.
A vida é muito mais e menos do que isso, porque pode acontecer sem a submissão às hierarquias.
Vida não se qualifica. Entretanto, não faltam aqueles que pretendem programá-la.
Chamam isso de qualidade de vida.
Então tá: os fascistas podem se agregar a qualquer lado; de preferência, imediatamente ou por osmose, estão junto à direita conservadora; são considerados legítimos no amplo espectro do pluralismo partidário.
Eles se movem, segundo as ocasiões, para forçar golpes de Estado e se imiscuem no discurso democrático.
São capazes de aglutinar os partidários e nutrem-se tanto dos apartidários quanto dos suprapartidários.
Ao chegarem a ser governo são os primeiros a suprimir os chamados debates democráticos.
São um fragmento de massa imantado no sistema partidário ou dele se desvencilhando ocasionalmente.
São capazes de formar partidos e disputar espaços institucionais, dando certa coloração ao conservadorismo racista, xenófobo, nacionalista, e que atrai grandes segmentos de trabalhadores desempregados, e de setores amedrontados da classe média preocupada com a perda de seu poder de consumo e de seus miseráveis privilégios.
Então tá: de vez em quando, eles devem ser domados pelas forças oposicionistas ou governamentais para o bem da democracia e de suas instituições.
Eles vão do louvor ao interesse nacional às práticas de imunização do aparelho de Estado.
Eles são os puros, bons, asseados, ordeiros e policiais à paisana.
Não hesitam pegar em armas para enfrentar manifestações contrárias, sejam elas pacíficas ou não.
São o outro braço da polícia e funcionam como agentes gratuitos para manter a ordem.
Não falam, zurram.
Não conversam, ditam.
Não ouvem, são seletivamente surdos.
Para eles não há adversários, apenas inimigos.
São antidemocráticos.
Servem à ordem para um golpe de Estado.
Ajustam-se novamente à ordem democrático-burguesa restaurada, transvestidos de movimento social legítimo, ou legalmente como partido.
A finalidade fascista é a de calar os outros e assim que possível dar cabo deles.
Os partidos da ordem (sendo maioria ou minoria) contam com estas milícias para domar os adversários políticos e raras vezes declaram estabelecer aliança com eles.
No limite, os fascistas são a minoria que pretende ser maioria governante privilegiada.
Então tá: eles são uma força importante no Estado para o governo e para a oposição; dependendo da situação podem estar de um lado ou de outro.
Quem são, quem os seguem?
Há variados estudos pormenorizados sobre a composição social do fascismo.
Todavia, poucos dão atenção para o fato de que o fascismo como movimento ou governo de Estado é resultante da frágil politização que a democracia representativa e mesmo a participativa não dão conta.
A participação clientelista no governo do Estado promove acesso a bens de consumo, eleva os níveis de escolaridade, estende serviços básicos de saúde e preparam o futuro capital humano.
Esse apinhado populacional está disponível a ser ocupado.
Porém, na medida em que os programas sociais diminuem e o desemprego aumenta, eles recorrem à força política à espera de uma palavra de alento.
Enfadonhos, esses homens e mulheres, jovens, adultos e velhos, de imediato perfilam ao lado das forças fascistas.
Eles vivem em meio a pequenos fascismos nos costumes, nas relações amorosas, na política. Tá?
Mas há o outro apinhado que foi politizado neste itinerário, que melhorou sua condição de vida e reconhece o esforço governamental na sua formação como capital humano.
Relacionados geralmente à cultura dos chamados excluídos, eles querem ser felizes onde nasceram.
Acreditam no outro mundo transcendental e querem viver tranquilos no mundinho que lhes destinaram as forças econômicas e sociais.
Manifestam-se politicamente em defesa do que obtiveram e do direito de ostentar seu mísero ou emergente patrimônio móvel ou imóvel.
São os agentes defensores das políticas compensatórias e pouco se sabe de sua propensão ao fascismo ou das demais variantes autoritárias que as democracias contêm.
Fundamentam sua conduta no agradecimento e na concórdia. Tá?
Dentro desse apinhado estão também aqueles com politização oscilante.
São os ocupados e empregados como capital humano inovadores distribuídos entre os favoráveis e contrários ao governo.
Eles defendem seus postos, seus benefícios, seus direitos de maioria ou minorias qualificadas.
Exigem, como todos os demais, punição para quem ferir a ordem.
Desejam polícias e políticos (mesmo quando estes estão em baixa).
Cuidam, ocupam-se da conduta alheia com prestimoso monitoramento e são decisivos na imposição do “de que lado você está?”.
Esse ubuesco cidadão-polícia governa a vida social nas empresas, na comunidade, na família em conformidade com os ditames democráticos.
Trata-se de um sujeito responsável cuja conduta deixa intocada a divisão social do trabalho.
Então tá: todos devemos ser democratas e defensores dos interesses capitalistas?
Então tá: eles nos dão acesso à internet, celulares, facebook e derivados para termos comunidades de amizades e seguidores, expormos nossas intimidades, registrar jornalisticamente reportagens alternativas sobre violências, catar ocupações, sermos felizes...
Enfim, fazer circular a comunicação contínua e democrática... sempre monitorada legalmente.
Então tá: a justiça é justa, a justiça não é justa; a polícia é violenta, a polícia realiza ações que não lhes são cabíveis; os políticos são corruptos, ainda há políticos sérios; os nossos líderes são sen-sa-cio-nais, são inconfiáveis; tudo, enfim, deve girar em torno da dicotomia e deve pender para o lado positivo a ser restaurado ou conservado.
Então tá: é Brazyl, Brasyl, Brazil, Brasil; é o tal de viva o Estado e os governos: afinal, ruim com eles, pior sem eles.
E viva o desenvolvimento sustentável, viva o capital e viva a qualidade de vida.
E você não quer que com isso persistam os pequenos fascismos?
Não há melhoria que os estanquem, senão que os incrementem em crises.
Os fascistas valem mais para o Estado do que os melhorados para um governo.
Essa é a democracia burguesa, sua finalidade, seus usos, sua existência.

militar polícia militar
Os militares também estão nos quartéis.
Quase todo dia, algum coronel ou general, com cargo e na ativa, declara ser fiel à Constituição, eximindo-se das disputas políticas.
Querem se desvencilhar dos pedidos de “intervenção” ou de “volta da ditadura” que pululam nas redes sociais e nas manifestações país adentro.
Justificam seu “profissionalismo” evitando comparações com o ambiente que antecedeu o golpe de 1964.
Naquela época, dizem, o Brasil estava ideologicamente fragmentado e à beira do caos. Agora, não.
Estava antes?
Não está agora?
Os discursos de militares oscilam na ambiguidade daqueles que continuam a ocupar o mesmíssimo lugar de sempre: o pedestal da defesa da cotidianidade e da sua excepcionalidade indissociáveis.
Desde os militares positivistas que foram escudo e governante no primeiro golpe – o que criou a República em 1889 – até os defensores dos valores da civilização cristã, capitalista, autoritária e ordeira, o golpismo político brasileiro, em parceria com os militares, sempre conectou o ideal de que as forças armadas pairam sobre a vida corruptível na política.
Consideram-se excepcionais, pois se veem diretamente vinculados à Pátria, à Nação, à Soberania, enfim, ao bem-comum.
São os guardiões da “ordem” e do “progresso”.
Em 1964, o golpe foi chamado de “revolução”, “movimento”, “salvação nacional”.
Em nome da “democracia”, em defesa dos “valores e da ética”, contra a “corrupção”.
Hoje, quem é contra o governo brande as mesmas bandeiras.
Quem é a favor do governo agita as mesmas faixas.
Sempre em nome da “democracia” e dos “valores éticos”.
Quando as mesmas muitas bandeiras tremulam elas podem instigar as narinas golpistas.
Os militares estão também nos quartéis, enquanto as polícias militares permanecem nas ruas, com tanques de última geração, armas letais e as ditas não-letais, drones, helicópteros, localizadores eletrônicos, armaduras “inteligentes”.
As PMs de agora são treinadas, capacitadas e equipadas como forças militares de elite.
Olhando de longe ou de perto, são militares, como qualquer outra polícia.
As PMs de hoje são forças auxiliares do Exército, como ordena a Constituição democrática de 1988, preservando, em linhas gerais, a mesma estrutura de comando e subordinação definida na Lei de Segurança Nacional de 1969.
Elas podem ser convocadas para manter “a lei e a ordem” junto com as forças armadas e as demais polícias, todas imantadas no sistema de inteligência.
Tudo legal, tudo constitucional.
Mas os policiais militares, ou não, também são fotogênicos robocops prontos para selfies com manifestantes enrolados em bandeiras brasileiras.
Recebem aplausos e retribuem batendo continência.
São amados por uma heterogênea maioria como garantidores da paz, ou melhor, das pacificações.
De vez em quando, alguns reclamam de seus excessos, do que não lhe é cabível, de seus “abusos diante da lei”.
A ditadura de ontem e a democracia de hoje encontram-se nas PMs e em todas as polícias, nas pacificações de favela e na possibilidade legal de que o dispositivo constitucional de “garantia da lei e da ordem” seja acionado colocando todas essas forças em movimento simultâneo.
Mas, por ora, não precisa.
Militares podem ficar legalistas no quartel porque a PM e todas as polícias, uniformizadas ou não, legalmente estão na rua.

política é pacificação
Há o esforço, alimentado pelos fluxos informacionais, em alocar todos e cada um no contra ou a favor, no dentro ou fora, no eles ou nós, no centro ou na periferia.
Há a insistência de comentaristas, especialistas universitários e formadores de opinião em prognosticar uma crise (econômica e política), mas, também, em afirmar a solidez das instituições, um Estado imunizado em sua arquitetura institucional liberal democrática, com seus freios e contrapesos: o governo deve ser preservado.
Há clamores por bom senso, razoabilidade, senso comum.
Política é moderação.
Os mais inflamados por essa razão moderada e constituinte clamam por novas eleições gerais.
Como disse certa vez um destemido e explosivo anarquista (Unabomber), “somos capazes de imaginar o fim do mundo, mas não o fim do capitalismo”, e do Estado.
A crise é a forma mesma do governo na racionalidade neoliberal: as dicotomias dissolvem-se no fluxo, misturam-se, mas continuam operando como formas de mover os interesses, de governar as desigualdades e assimetrias.
Na política institucional valem os empresários, os políticos, os partidos e futuros remendos ou novos projetos de salvação econômica.
O problema é resolver a crise política, com ou sem impeachment, ou seja, a deles. Estão se marimbando para o resto da sociedade!
No fluxo, pululam as ilegalidades e as violências, captadas pelos monitoramentos e seletivamente capturadas para vazamentos.
Na crise, novas forças se postam, abre-se caminho para os espertos, a expertise e os oportunistas, que se apressam em investir em rendimentos futuros.
A velocidade do fluxo de informação sobre os fatos é importante para que não se produza um acontecimento capaz de alterar radicalmente o estado das coisas.
Fala-se em disputa de narrativas, mas como sustentar tal intepretação diante do fato de que todos compõem e circulam no fluxo do mesmo enredo?
É evidente que a produção de heróis, vilões, grande pai, grande irmão, grande mãe, super justo, mega articulador, mega projetos é contínua e, precisamente por ser contínua, o romance moderno fica interrompido, pois as histórias são intermitentes e inacabadas.
Tudo se dirige ao centro: o Estado.
Política é pacificação que produz docilidades, acondiciona violências e perseguições, organiza a ocupação de territórios e garante a continuidade da produção.
A disputa também é um produto; participar dela também é um investimento.
Os antigos viajantes diziam que os habitantes dessa terra, chamada depois de Brasil, que eles imaginavam sem mal, eram apolíticos, não possuíam Estado; coube a um estrangeiro notar que se tratava de povos contra o Estado.
Hoje, essa terra colonizada, ainda dependente de seus recursos naturais, enviados para além-mar como forma de ostentar a opulência de suas elites oligárquicas e financiar o clientelismo dos miseráveis governados por elites secundárias, se debate em torno do governo do Estado, a forma política predileta de colonizados e colonizadores de terno, farda e/ou diploma, que um dia sonharam em ser franceses, e hoje, sonham com Miami, Nova Iorque, Dubai e Pequim ou se considerarem cosmopolitas.
A bandeira nacional, encharcada com sangue de negros, indígenas e lutadores subversivos, recobre a todos, à esquerda e à direita; afinal, eles temem a ruína, mas na disputa, preocupam-se com o espólio a ser dividido entre os seus.
Eliminação da miséria extrema; ascensão da chamada “nova classe média” (três salários mínimos, segundo o DIEESE); políticas compensatórias, ações afirmativas; aumento do consumo, expansão do crédito; expansão (e sucateamento) do ensino universitário, o recente e já extinto ciência sem fronteiras (mas Made in USA); judiciário forte e ativo, polícia federal equipada e qualificada; consolidação institucional da disputa democrática pelos cargos públicos, combate à corrupção, estabilização da economia, controle da inflação; minha casa, minha vida, luz para todos, aceleração do crescimento — cadê o Amarildo? —; Belo Monte; Rafael Braga Vieira, não vai ter Copa, Copa (e 7x1); não vai ter Golpe, Olimpíadas, Vila Autódromo; mais amor, por favor, muda mais, mas fica como está; pátria educadora, assassinato contínuo e sistemático de jovens e negros, o Brasil que queremos, a Rota na rua, crianças de farda, crianças que cantam hino e batem continência para homens armados com escopetas militares; 3,80 Não; bombas de gás lacrimogênio, bombas de consecução, blindados de Israel, Condor: Tecnologias Não-Letais — Condor? Sangra nuestra America —, desmilitarização da polícia, polícia, lei antiterrorismo, lama de rejeito tóxico... fluxo contínuo.
Esse é o pacote a ser zelado, melhorado e monitorado pelo cidadão-polícia em nome do bem comum.
Em junho de 2013, a revolta ingovernável ativou a potência antipolítica, expandiu o interesse pelos anarquismos, mas já continha os verde-amarelinhos fascistas e os que buscavam ver naquele acontecimento um passe adiante no progresso e no desenvolvimento da multidão.
Direita e esquerda, entre delegados e monumentos da intelectualidade afrancesada e americanizada nacional, apontaram seu inimigo em comum: os black blocs, agentes desestabilizadores, irresponsáveis promotores do caos, inimigos da sociedade.
A eleição de 2014 disparou a violenta e destemperada disputa política pelo governo do Estado; os perdedores, democratas juramentados, buscaram questionar a regra de todas as formas, queriam alterá-la utilizando a força da lei, abriram espaço para perdedores radicais que já agridem padres em missas, pessoas em bicicletas, cachorros de vermelho; talvez o sonho colonizado de virar Made in USA comece a se concretizar.
Ah!, e claro, delatores e listas vazadas já mostraram que por parte de empreiteiras e empresários tem dinheiro para todas as partes que fazem a política do interesse nacional, deles.
A revolta é a força estranha que entrecorta os fluxos, contém as velocidades, desorienta os monitoramentos, faz cada paralelepípedo da velha cidade se arrepiar e voar perfurando o vagabundo asfalto que os recobre.
A política é a tecnologia que opera pela violência, pela astúcia e pela captura das forças para conter a potência da revolta.
A política é a principal herança dos colonizadores modernos.

uma nota sobre a mídia golpista
As passeatas e a luta pela democracia no final da ditadura civil-militar alastraram-se pelo Brasil nos anos de 1980.
Setores da direita e a mídia televisiva — principalmente a Rede Globo de Televisão — eram os alvos pelo apoio recíproco ao regime militar e suas arbitrariedades.
Em São Paulo, as passeatas pelas Diretas Já, levaram milhares de pessoas às ruas.
Na Praça Marechal Deodoro, encontrava-se a sede da Rede Globo de Televisão. Ali se ouvia em uníssono: “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”
A Rede Globo de Televisão, grupo empresarial da família Marinho, desde a apresentação do seu primeiro telejornal em 1965, o Tele Globo, sustentou o discurso dos militares em troca de concessões e permissões para operarem inúmeros canais em território nacional.
A colaboração mútua entre militares e a emissora se fortaleceu em 1969 com a implantação do Jornal Nacional transmitido do Rio de Janeiro para todo o país, apoiando a integração nacional.
Com a redemocratização, ao longo dos anos de 1990, as críticas à manipulação da Rede Globo persistiram por grupos de esquerda e meios acadêmicos, que manifestavam seu descontentamento, afirmando o quanto a emissora, com maior audiência, era parcial, autoritária e antidemocrática.
Contudo, a Rede Globo incorporou o discurso democrático e da imparcialidade em nome da transparência e neutralidade.
Fez mea culpa, reformulou programas e noticiários.
Em outubro de 1996, estreou seu o canal fechado Globo News com uma programação jornalística durante 24 horas.
De uns anos para cá, democratas juramentados de esquerda e direita disputaram espaço televisivo para ter voz e visibilidade na Rede Globo e na chamada grande mídia empresarial.
Não é de hoje que candidatos eleitos preferem conceder suas primeiras entrevistas “ao vivo” para a emissora emblemática por seu apoio aos militares e fascistas [no passado.].
Durante um tempo, as passeatas e manifestações arrefeceram.
Mas, as passeatas democráticas autorizadas e protegidas pela polícia ganharam ares de desfile midiático, com coberturas, entrevistas e análises de especialistas.
De 2013 para cá, a Rede Globo voltou a ser o alvo por sua pretensa imparcialidade diante daqueles que clamaram pelo Estado em nome de mudanças.
Os que anseiam pelo controle da mídia, ativistas institucionalizados, ongueiros, oportunistas, militantes e contestadores de plantão chamam a emissora de “mídia golpista”, a favor do impeachment.
Em suas passeatas e manifestações empunharam faixas e cartazes, foram para a porta das suas sedes regionais retomando o velho slogan: “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.
Os que vestem verde e amarelo em defesa da verdade e da justiça sentem-se contemplados e felizes com o discurso da emissora, com seus âncoras e apresentadores, condutores de consciência “indignados” com a política vigente.
Não existe imparcialidade, muito menos neutralidade e transparência.
A Rede Globo deixa claro diariamente o investimento no governo de condutas.
Sua “prestação de serviço” trabalha um acreditar em suas histórias e análises revestidas em imagens e sons, recortadas, editadas, produzidas para o cidadão, para quem quiser ver, assistir, seguir, participar, compartilhar, concordar ou discordar e ter uma opinião.
Passou e passa na televisão em todos os equipamentos eletrônicos.
É só ela?
São todas democráticasneutras e transparentes que respondem com seriedade ao regime de concessões de meios de comunicação de massa monopolizado pelo Estado.
Não se iluda: o jovem Étienne de La Boétie já dizia no século XVI, concomitante à emergência histórico-política do Estado moderno, é o próprio povo que se deixa degolar.

é preciso não esquecer
É sempre bom lembrar.
No final dos anos 1970, anarquistas resistiam renhidamente à ditadura civil-militar.
O jornal O Inimigo do Rei (1977-1988) não dava sossego ao governo.
Entre as históricas avacalhações realizadas pelos jornalistas-jornaleiros que produziam O Inimigo do Rei, houve a capa “Prática sexual ampla, geral e irrestrita”, esculhambando a negociação de abertura proposta por Ernesto Geisel e a reivindicação de derrubada da LSN (Lei de Segurança Nacional) pela distribuição de LSD.
Entretanto, o alvo do humor mordaz dos libertários não ficou restrito ao governo militar e a seus seguidores cordatos, ufanistas lambe-botas.
Frente à anistia, reivindicaram sua ampliação aos presos considerados “comuns” publicando a capa: “Eu também quero sair”.
E pouco tempo depois, às vésperas da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), alertaram que a criação da organização servia para tirar partido de homens e mulheres operários.
Por fim, concluíram, há quase quatro décadas, que nenhuma transformação radical era possível pela via parlamentar.
Hoje, mais do que nunca é bom lembrar.
O Inimigo do Rei enfrentou com coragem a violência perpetrada pelos abomináveis militares e pela corja conivente.
Todavia, não deixou de provocar a conduta de parte dos militantes.
Você pode fumar baseado! Desde que não seja do PDS ou trotskista”, declararam ainda nos anos 1980.
Assim, liberados da dicotomia os anarquistas não respeitaram muro algum e, diante da política, seguiram adiante...

a sangria da legalidade democrática ou não
Não há lei que tão somente reprima.
Caso contrário ela não seria obedecida.
Aí está sua positividade na produção de sujeições e assujeitamentos.
Não há legalismos apartados dos ilegalismos.
Eles se sustentam reciprocamente.
Aí está um dos baixos começos do Estado e do capitalismo.
Não há lei que, no limite, não se refira ao gládio.
Partam em busca de sua origem gloriosa e não encontrarão nada mais do que um conto de fadas.
Peguem a lei em suas palavras reluzentes e em seus expedientes de funcionamento.
Agora a torçam histórica e politicamente.
Sai sangue!
E não há lei, nem norma nem direito ou torto que o estanque.