sábado, 12 de maio de 2012

Por que me abandonaste? O preço do não afeto


"De nada adiantam todas essas regras, princípios e normas se a postura omissiva ou discriminatória dos genitores não gerar consequência alguma. Reconhecer - como historicamente sempre aconteceu - que a única obrigação do pai é de natureza alimentar, transforma filhos em objeto, ou melhor, em um estorvo do qual é possível se livrar mediante pagamento de alimentos", escreve Maria Berenice Dias, advogada, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito da Família - IBDFAM, em artigo publicada no jornal O Estado de S. Paulo, 06-05-2012.
"Daí o enorme significado da recente decisão do Superior Tribunal de Justiça - constata a advogada - que, pela vez primeira, reconheceu que a ausência de afeto gera dano que cabe ser indenizado. Não se trata de dano moral, mas dano afetivo que pode ser mensurado economicamente".
Eis o artigo.

Tempos e ritmos de ver: cegueira e visibilidade no mundo contemporâneo


Publicamos a seguir um ensaio de autoria de Adriana Melo e Maria Teresa Franco Ribeiro. No texto, elas questionam: “um novo homem, um homem do 3º milênio, cooperativo, feliz consigo mesmo, poderia se construir a partir de cursos livres em novos ambientes de redes sociais, nas empresas, em espaços como o Facebook?

Por: Adriana Melo e Maria Teresa F. Ribeiro

Embora o papel das redes sociais em movimentos como a Primavera Árabe tenha sido determinante (...), o caminho entre o desejo de desconstruir as bases dos regimes ditatoriais nas telas iluminadas do SMS e a construção de uma verdadeira liberdade democrática é bem mais longo. Exige uma nova sociedade que não pode prescindir do sujeito como ser de linguagem, aquele que dialoga com o mundo a partir das suas capacidades internas, da sua sensibilidade, afetividade e amorosidade. Dessa nova sociedade, emergiria um novo humanismo capaz de aportar esperança e olhares mais atentos e cuidadosos para a vida em todos os seus sentidos e para a singularidade de todo ser humano”.

Adriana Melo é poeta, contista, graduada em Letras, com mestrado e doutorado em Geografia, todos pela Universidade Federal de Minas Gerais. Desenvolve estudos sobre o sertão no contato com as representações da literatura, abordando as escritas das paisagens, dos lugares, dos territórios.

Maria Teresa Franco Ribeiro é doutora em Economia pela UFRJ, com pós-doutorado no IHEAL, Paris III, sobre a temática do desenvolvimento e territorialidade na economia e na geografia. É professora e pesquisadora da Universidade Federal da Bahia – UFBA. Pesquisa e ensina na área do desenvolvimento e processo de internacionalização do capital, economia da inovação e política industrial e tecnológica.

Confira o artigo.

Desinstitucionalizar a loucura: uma mudança de foco


Para o psicólogo André Luís Leite de F. Sales, as formas de violência institucional devem ser abandonadas, apoiando-se na figura do agente comunitário na construção de uma “ponte” entre o saber técnico e o especializado

Por: Márcia Junges

Movimento criado para “desmontar a estrutura institucional de saberes e práticas que sustentam a identificação da loucura com a doença mental”, a desinstitucionalização da loucura é uma mudança de foco, analisa o psicólogo André Luís Leite de F. Sales, em entrevista concedia por e-mail à IHU On-Line. Segundo ele, a desrazão foi apropriada pelo saber médico psiquiátrico, e a nova modalidade de tratamento repudia “as formas de violência institucional exercidas em nome de uma suposta terapêutica”. Além disso, há o claro objetivo de se construir uma sociedade sem manicômios. Nesse contexto, o papel do agente comunitário é fundamental, uma vez que ele promove uma “ponte entre o saber popular e o saber técnico especializado”. André comenta, também, sobre a influência do psiquiatra italiano Franco Basaglia sobre a reforma psiquiátrica brasileira. Para Basaglia, o manicômio era um lugar de segregação, violência e morte a ser “combatido, negado, superado e questionado em suas finalidades, num contexto mais geral das instituições sociais”. Sua concepção é de que a doença mental existe, mas deve ser retirada de um primeiro plano, dando preponderância a outras instâncias de vida do sujeito, que não é tão somente um doente.

André Luís Leite de F. Sales possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN e mestrado em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. No momento é residente no Programa de Residência Integrada em Saúde do Grupo Hospitalar Conceição (2011-2012).

Confira a entrevista.

Nietzsche, Foucault e a loucura como experiência originária


“Nietzsche é fundamental para se compreender não só a crítica que Foucault fez aos saberes sobre o homem na modernidade, ao que ele chamou, parodiando Kant, de "sono antropológico", como também sua valorização da literatura como contestação do humanismo das ciências do homem e das filosofias modernas”, mencionou o filósofo Roberto Machado em entrevista exclusiva que concedeu por e-mail à IHU On-Line.

Por: IHU Online

Roberto Machado completa que, para Foucault, a loucura, “além de figura histórica, é também e fundamentalmente uma experiência originária, essencial, que a razão, ao invés de descobrir, encobriu, mascarou, dominou, embora não a tenha destruído totalmente, por ela ter-se mostrado perigosa. Essa tese, a meu ver, aproxima Foucault da filosofia de Nietzsche, sobretudo do modo como é formulada em O nascimento da tragédia. Dito em poucas palavras, o objetivo final do primeiro livro de Nietzsche é exatamente denunciar a modernidade como civilização socrática, racional, por seu espírito científico ilimitado, e saudar o renascimento de uma experiência trágica do mundo em algumas das realizações filosóficas e artísticas da própria modernidade que retomam a experiência trágica existente na tragédia grega, mas foi reprimida, sufocada, pelo "socratismo estético", que subordinara a criação artística à compreensão teórica, racional”.

Machado é graduado em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), mestre e doutor pela Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, com a tese Science et savoir. La trajectoire de l'archéologie de Foucault. Cursou pós-doutorado na Universidade de Paris VIII, na França. É autor de Nietzsche e a verdade. 2. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1984; Deleuze e a filosofia. Rio de Janeiro: Graal, 1990; Zaratustra, Tragédia Nietzschiana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997; Foucault, a filosofia e a literatura. Rio de Janeiro: Graal, 2000 e O nascimento do trágico: de Schiller a Nietzsche. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. Organizou a obra Nietzsche e a polêmica sobre O nascimento da tragédia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005 e é um dos autores de Danação da Norma. Medicina Social e A Constituição da Psiquiatria No Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1978. Em 01-04-2004, Machado abriu o evento Ciclo de Estudos sobre Michael Foucault, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos (IHU) com a palestra Foucault, a filosofia e a literatura.

Uma era pós-manicomial?


Luta antimanicomial tem tradição libertária, observa Osvaldo Saidon. Opor razão e loucura é uma falsa injunção, pois ninguém é racional ou louco 24 horas por dia

Por: Márcia Junges | Tradução Benno Dischinger

“Parece importante renovar o debate teórico em relação aos conceitos que suscitam uma proposta antimanicomial para não deixá-la limitada à questão de fechamento, ou não, de manicômios e para que enfrente os desafios de uma época que já poderíamos chamar de pós-manicomial”. A afirmação é do psicanalista argentino Osvaldo Saidon, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. Em seu ponto de vista, a “luta antimanicomial se inscreve numa tradição de luta libertária que aporta aos direitos humanos a potencialidade para poderem superar uma prática que, às vezes, só tende a repetir o politicamente correto, como sustentam muitas das chamadas ONGs dos direitos humanos”. E provoca: “A questão é detectar em cada época e em cada lugar onde está o manicômio. A exclusão, a reclusão, ou o crime que a luta antimanicomial denuncia estão hoje, mais do que em loucura, no gatilho fácil, na brutalidade e na marginalidade que condena milhares de jovens, os crackeiros, os sem-trabalho, os milhões de desocupados jovens que em países colonizados e colonizadores já parecem condenados a não terem nenhum futuro”.
Osvaldo Saidon é médico, psicanalista e professor universitário, natural da Argentina. Tem desenvolvido trabalhos de análise institucional no Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia e Nicarágua. Viveu no Brasil entre 1976 e 1988. De sua produção bibliográfica, destacamos Practicas grupais: La escena institucional e clinica y sociedad. Esquizoanalisis. 
Confira a entrevista.

O caso Damião Ximenes e a condenação do Brasil por violação dos direitos humanos


Carta-denúncia escrita pela irmã do paciente gerou a condenação emblemática na área de saúde mental

Por: Márcia Junges

Após ter sido internado numa noite de sexta-feira, no ano de 1999, na Casa de Repouso Guararapes, hoje desativada, o brasileiro de nome Damião Ximenes faleceu na segunda-feira subsequente. O laudo médico apontava como causa mortis uma parada cardiorrespiratória, mas os hematomas e sangue espalhados pelo corpo desmentiam o que a oficialidade afirmava. A irmã de Damião não se conformou e redigiu uma “carta-denúncia para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos – entre muitos outros órgãos, nacionais e internacionais, de saúde, justiça e direitos humanos, dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário – ainda em 1999, denúncia esta que foi acolhida por este órgão do Sistema Interamericano de Direitos Humanos”, comenta o psicólogo Martinho Braga Batista e Silva. “A ausência de resposta alimentou a suspeita de que o país tinha responsabilidade por violação de direitos humanos na morte de Damião Ximenes. Em 2005, aconteceu o julgamento na Corte Interamericana de Direitos Humanos e este mesmo tribunal internacional condenou o Brasil por violação de direitos humanos em 2006”. 
As afirmações podem ser conferidas na entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.
Martinho Braga Batista e Silva é graduado em Psicologia pela Universidade de Brasília – UnB e especialista em Saúde Mental pela Fundação Oswaldo Cruz. É mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ e doutor em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ com a tese Entre o “desmame” e os “galinha d’água”: a vida fora dos hospícios no contexto da primeira condenação do Brasil por violação de direitos humanos. Docente na UERJ, organizou a obra Legislação em saúde no sistema penitenciário (Brasília: Ministério da Saúde, 2010).
Confira a entrevista.

A psiquiatria e o exercício da humildade


Em condições históricas que podem tornar tudo um “manicômio”, é preciso repensar o poder do psiquiatra e da psiquiatria sobre a equipe e o cliente, pondera José Jackson Sampaio Coelho. Atualmente saúde e doença são constitutivos de um processo histórico-social, observa

Por: Márcia Junges

“A psiquiatria é uma especialidade médica (clínica e epidemiologia), uma consultoria para as demais especialidades médicas (interconsulta) e uma medicina especial (psiquiatria social, na fronteira do direito e da religião), dada a transcendência de seu objeto (a mente, diferente do cérebro, objeto do neurologista; do psiquismo, objeto do psicólogo; e do inconsciente, objeto do psicanalista). Qual, portanto, a contribuição positiva da psiquiatria à dimensão saúde mental do campo da saúde coletiva? Essa é a grande pergunta que nos desafia à humildade”. A reflexão é do médico psiquiatra José Jackson Coelho Sampaio, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. E adverte: “O poder individual do psiquiatra e da psiquiatria, sobre a equipe e o cliente, pode tornar-se poder da equipe e do campo da saúde mental sobre o cliente. Como já dissemos (...), nas nossas condições históricas, tudo pode tornar-se manicômio”. O médico aborda também a questão da reforma psiquiátrica, ponderando que ela é uma “dimensão do movimento antimanicomial, operativo de uma linha de intervenção”. E resgata as origens da psiquiatria: “o psiquiatra nasce como alienista, depois do grande asilamento da loucura, realizada por meio das grandes instituições de segregação. A imprecisão conceitual de loucura, hoje categoria do senso comum, foi entendida como obstáculo à codificação científica da disciplina, daí a criação do neologismo alienista/alienismo”.

José Jackson Coelho Sampaio
 é médico psiquiatra graduado pela ABP/AMB, mestre em Medicina Social pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ e doutor em Medicina Preventiva pela Universidade de São Paulo – USP. É professor titular em Saúde Pública, líder do Grupo de Pesquisa Vida e Trabalho, docente efetivo do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Estadual do Ceará – UECE.

Confira a entrevista.

Uma psiquiatria a serviço do Estado contra os “indivíduos desviantes”


Os “novos desviantes sociais” poderão ocupar o lugar discursivo antes reservado aos loucos, adverte Bernardo Salles Malamut. “Limpezas urbanas” como aquelas promovidas no Rio de Janeiro e São Paulo, contra os usuários de crack, são exemplo dessa lógica manicomial

Por: Márcia Junges

O hospital psiquiátrico voltou a ser o “o destino de todas as mazelas sociais que ‘não poderiam’ frequentar a rua e a vida na cidade. Todos aqueles indivíduos que não se encontram incluídos no sistema de produção do capital parecem destinados a serem internados. O movimento que vemos no Rio de Janeiro e em São Paulo a respeito da internação compulsória dos usuários de crack é um exemplo importante dessa lógica manicomial. Uma verdadeira ‘limpeza urbana’ tem sido feita, não mais ‘em nome da razão’, mas agora ‘em nome da saúde’. Os entrevistados já em 2010 mostravam isso: a psiquiatria a serviço do Estado e de sua intolerância com os indivíduos desviantes”. A afirmação é do psicólogo Bernardo Salles Malamut, em entrevista concedida com exclusividade por e-mail à IHU On-Line. Essas conclusões foram obtidas através da pesquisa acadêmica realizada por Malamut em 2010 com nove médicos psiquiatras (cf. MALAMUT, Bernardo Salles; MODENA, Celina Maria; PASSOS, Izabel C. Friche. A rede de atenção à saúde mental na visão de médicos psiquiatras: A Stultifera Navis contemporânea. In: Cadernos Brasileiros de Saúde Mental: Cinquenta anos de História da Loucura. v. 3, n. 6, 2011). Segundo esses profissionais, o hospital psiquiátrico fica no lugar de “sustentação do discurso da reforma”, porém ainda é imprescindível. “O hospital psiquiátrico ainda é complementar à rede dos serviços substitutivos, segundo os entrevistados”, acentua Bernardo.
Bernardo Salles Malamut é graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC Minas, e especialista em Psicanálise: teoria e prática pela Universidade Fumec. É mestre em Ciências da Saúde pela Fiocruz com a dissertação O poder e o dispositivo: hospital psiquiátrico na contemporaneidade.
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O empoderamento dos usuários de saúde mental


Valorizar a fala, o conhecimento e a trajetória das pessoas é imprescindível para um outro tipo de saúde mental, frisa Rosana Onocko Campos. Pressão da indústria farmacêutica e demanda de felicidade e sucesso ajuda a compreender a “receitação” de psicofármacos, pontua

Por: Márcia Junges

Não se trata de mera utopia. Ela pode “ser alcançada quando nas cidades se investe em saúde”. A ponderação é da médica Rosana Onocko Campos na entrevista que concedeu, via e-mail, à IHU On-Line, tecendo considerações sobre a reforma psiquiátrica no Brasil. De acordo com a pesquisadora, essa reforma “é de um grande valor técnico-político, sobretudo em épocas em que a psiquiatria clássica, entregue a interesses comerciais, pretende apresentar-nos (a todos os reformistas) como burros, mal informados ou, na melhor das hipóteses, como ingênuos ignorantes bem-intencionados”. Rosana explica, também, o projeto Saúde mental e cidadania, financiado pelo International Development Research Center – IDRC, do Canadá, e do qual ela é coordenadora. Suas estratégicas e temáticas de investigações buscam revelar um conhecimento diferente do acadêmico, reapropriado pelos usuários. Junto de outras variáveis, essa seria uma forma importante de empowerment, empoderamento, em português claro. “Tenho gostado muito dessa forma de pesquisa que nos permite dar voz aos usuários, trazer à tona como eles enxergam os serviços e as relações que ali conseguem cultivar”, menciona. 
Rosana Onocko Campos é graduada em Ciências Médicas pela Universidade Nacional de Rosário, na Argentina. É mestre e doutora em saúde coletiva pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp com a tese O planejamento no labirinto (São Paulo: Hucitec, 2003). É uma das organizadoras da obra Desafios da avaliação de programas e serviços em saúde (Campinas: Editora da Unicamp, 2011). Leciona no Departamento de Medicina Preventiva e Social da Unicamp.
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O nascimento do capitalismo e da internação dos excluídos


Nossa sociedade é baseada na exploração humana, e a violência é intrínseca a esse modo de produção, observa Osvaldo Gradella Júnior, e instituições como as psiquiátricas refletem tal característica. Classificação de normal ou anormal é “imposição ideológica do modelo de racionalidade burguesa”

Por: Márcia Junges

“Nas sociedades pré-capitalistas, aptidão ou inaptidão para o trabalho não era um critério importante na determinação do normal e anormal. Serão as transformações iniciadas com o advento do modo de produção capitalista” que irão definir os critérios daqueles que deveriam ser internados, explica o psicólogo Osvaldo Gradella Júnior, na entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line. “Nesse momento, saúde-doença passa a ser identificada como ordem-desordem, e a loucura começa a ser vista como um problema social, resolvido pela Justiça”, complementa. Segundo ele, “as instituições, em geral, reproduzem as formas de relações sociais predominantes na sociedade e, em uma sociedade que tem como base a exploração do homem pelo homem, a violência é inerente a esse modo de produção”. De acordo com Gradella, sob a égide do capitalismo não há outra forma de lidar com os excluídos que ele mesmo se encarrega de produzir, a não ser internando-os e isolando-os. Outra temática da entrevista é o Movimento Nacional de Luta Antimanicomial, que se constrói a partir de meados dos anos 1970.

Osvaldo Gradella Júnior é graduado em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense – UFF, mestre em Psicologia pela Fundação Getúlio Vargas e doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp com a tese Sofrimento psíquico e trabalho intelectual do docente universitário. Professor na Unesp, tem uma vasta experiência e trabalhos na temática de saúde mental.

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A luta antimanicomial como uma luta cultural


Para Massimo Canevacci, ninguém é totalmente normal, e a questão da doença mental não pode ser compreendida como somente um problema médico. É algo legitimado culturalmente, assegura. E é preciso examinar a questão através de “indisciplinas”, e não mais por uma disciplina isolada

Por: Márcia Junges

“O que se entende por ‘loucura’ não se pode definir objetivamente. Quem é normal? E quem é anormal?”, questiona o filósofo e antropólogo italiano Massimo Canevacci. E completa: “É impossível dizer que uma pessoa é sempre totalmente normal. A expansão da comunicação digital é um exemplo. A identidade nunca mais é unitária, compacta, sempre idêntica a si mesma”. Sobre a questão da medicalização da doença mental e de técnicas violentas como o eletrochoque, constata: “o problema não é, e nunca foi, só médico. Sempre foi também legitimado por uma cultura popular que aceitava este tipo de tecnologia como a única apta para resolver problemas intrafamiliares que causavam vergonha, medo etc. E a luta antimanicomial sempre foi e sempre será também uma luta cultural”. Segundo Canevacci, “uma disciplina isolada não pode mais penetrar e resolver esta tensão entre loucura e sanidade. Precisamos de ‘indisciplinas’. Uma ‘indisciplina’ focalizada sobre esta questão da ‘normalidade anormal’ é fundamental”. Em seu ponto de vista, o poder simbólico e coercitivo exercido nos hospitais psiquiátricos transcende as fronteiras da instituição, abarcando estruturas políticas, econômicas e religiosas, “muito frequentemente incorporado como valor na visão de muitas pessoas ‘normais’”. Em última instância, a luta antimanicomial precisa ser compreendida num contexto expandido da criação de “uma visão da democracia progressiva”. As declarações fazem parte da entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.
Massimo Canevacci é doutor em Letras e Filosofia pela Universidade Degli Studi di Roma La Sapienza – URS, na Itália, de onde é natural. Leciona antropologia cultural, arte e culturas digitais nessa mesma instituição e é professor visitante na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Publicou vários trabalhos sobre a realidade brasileira. É autor de livros como Antropologia da comunicação visual (Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2001), Fetichismos visuais (São Paulo: Atelier Editorial, 2008) e Antropologia do cinema (São Paulo: Editora Brasiliense. 1990), Fake in China (Maceió: Edufal, 2011).
Confira a entrevista.

O estigma da loucura ainda não foi superado


Práticas manicomiais excludentes também ocorrem fora dos hospícios, pondera Sandra Fagundes. A loucura é humana e não deve ser “depositada” em instituições, mas contar com a “terapia” da liberdade

Por: Márcia Junges

Pessoas como sujeitos de direitos e desejos, que necessitam de autonomia e autoria. Assim são os usuários de saúde mental, define a diretora do Departamento de Ações em Saúde – DAS da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, Sandra Fagundes, na entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line. Contudo, seus direitos são, muitas vezes, desrespeitados, e outros ainda nem foram conquistados. O estigma da loucura, por exemplo, ainda não foi completamente superado, aponta. A psicanalista afirma que a prática da psiquiatria sem o lugar e o estigma do hospício se dá nos territórios: “ruas, casas, instituições de saúde, de educação, de cultura. Há continuamente produção de práticas manicomiais – excludentes – na sociedade, nos diversos territórios, fora dos hospícios, que precisam ser reconhecidas, analisadas, superadas e substituídas. Este é um exercício cotidiano”. Ela ressalta a importância da aprovação da lei da reforma psiquiátrica, que mudou o estatuto do “louco” para cidadão de direitos e desejos. E complementa dizendo que a liberdade tem caráter terapêutico, enquanto a loucura é algo próprio do humano e não pode ser “depositada” em alguns seres, isolados em instituições. “Os serviços devem se adaptar às necessidades dos usuários, e não o contrário. O cuidado é produzido no encontro, na implicação, na afecção entre pessoas”.

Sandra Fagundes é graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS e mestre em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS com a dissertação Águas da pedagogia da implicação: intercessões da educação para políticas públicas de saúde. Dirige o Departamento de Ações em Saúde – DAS e tem uma longa história de militância na luta antimanicomial e reforma psiquiátrica no Rio Grande do Sul. É uma das organizadoras da obra Acolhimento em Porto Alegre: um SUS de todos para todos (Porto Alegre: Prefeitura de Porto Alegre, 2004).

Confira a entrevista.

A psiquiatria não pode ser reformada. Ela tem que ser abolida, assim como a escravidão


Psiquiatria e Estado precisam ser separados. Além disso, o sujeito deve decidir, ou não, se deve tomar medicamentos psiquiátricos, afirma Thomas Szasz

Por: Márcia Junges | Tradução Luís Marcos Sander 

A “loucura” não é silenciada pela “razão”, rebate Thomas Szasz. “Ela é silenciada por pessoas chamadas de ‘psiquiatras’”. Para o professor emérito da Universidade do Estado de Nova Iorque em Siracusa, “a psiquiatria, intrinsecamente ligada à lei e à execução da lei, não pode ser reformada. Como a escravidão, ela precisa ser abolida”. As declarações foram dadas por Szasz à IHU On-Line na entrevista que concedeu por e-mail. Crítico ferrenho da psiquiatria desde os anos 1950, ele discorda peremptoriamente da legitimidade intelectual-médica dessa área da medicina, assim como da Associação Psiquiátrica Americana e do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, na sigla em inglês). “Qual é a validade do DSM? É zero, digo eu”. Em seu ponto de vista, a psiquiatria cumpre a função excludente antes ocupada pela religião, e o “controle-confinamento forçado-involuntário de pessoas identificadas como mentalmente doentes é análogo ao controle-confinamento forçado-involuntário de pessoas identificadas como escravas”. Ele tece duras críticas à luta antimanicomial: “Em vez de enfocar a abolição da ‘escravidão psiquiátrica’, os indivíduos identificados com a ‘luta antimanicomial’ enfocaram – equivocadamente, penso eu – a natureza da doença justificando ostensivamente o uso de força psiquiátrica”.
Defensor da separação entre psiquiatria e Estado, Szasz é conhecido mundialmente por ser adversário da psiquiatria coercitiva. Escreveu livros como O mito da doença mental (Rio De Janeiro: Zahar, 1979), originalmente publicado em 1960, e A fabricação da loucura: um estudo comparativo da Inquisição e do Movimento de Saúde Mental (Rio de Janeiro: Zahar, 1976), cuja primeira edição veio a público em 1970. Nasceu em Budapeste em 1920 e continua em franca atividade intelectual. Para conhecer seus textos e ideias, acesse www.szasz.com.
Confira a entrevista.

A silenciosa expansão do movimento 15-M


Primeiro eles se indignaram e agora buscam soluções. O movimento 15-M não afrouxa. Muitas de suas ações acontecem longe dos holofotes. Milhares de iniciativas das assembleias cidadãs brotam nos bairros e povoados, tornando-se uma rede de apoio, em tempos de desmantelamento do Estado de bem-estar.

A reportagem é de Joseba Elola, publicada no jornal El País, 05-05-2012. A tradução é do Cepat.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Humanização é realidade no Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte


                 Um detalhe chama a atenção de quem circula por qualquer um dos dois Centros de Parto Normal do Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte: os quartos foram batizados com nomes de personalidades femininas importantes da história mineira e nacional, como Dona Beija, Chica da Silva e Adélia Prado. A homenagem é coerente com a filosofia de atendimento humanizado dessa maternidade de grande porte, em que se incentiva o protagonismo da mulher no parto.

domingo, 6 de maio de 2012

para meu-amado e meu-amigo ivo(nei) freitas da silva

"retalhos de sol, caminhos de seda"
Diálogo Filosófico - por Carlos Drummond de Andrade
As coisas não são o que são, mas também não são o que não são - disse o professor suíço ao estudante brasileiro.
Então, que são as coisas? - inquiriu o estudante.
As coisas simplesmente não.
Sem verbo?
Claro que sem verbo. O verbo não é coisa.
E que quer dizer coisas não?
Quer dizer o não das coisas, se você for suficientemente atilado para percebê-lo.
Então as coisas não têm um sim?
O sim das coisas é o não. E o não é sem coisa. Portanto, coisa e não são a mesma coisa, ou o mesmo não.
O professor tirou do bolso uma não-barra de chocolate e comeu um pedacinho, sem oferecer outro ao aluno, porque o chocolate era não.
(Contos Plausíveis, in Andrade, C. D. (1992): Poesia e Prosa, Rio de Janeiro: Aguilar, pg. 1261)
PS: este é um escrito que me foi enviado pelo ivo, por email, em 18.06.2010)

vou falar/escrever um pouco, porque preciso fazer uma literatura que me ajude a elaborar alguns dos acontecimentos ocorridos em minha e em muitas vidas nos últimos dias... porque a vida sempre é uma literatura... são acontecimentos nada fácil de se lidar, pois dizem de um amigo que é um dos mais importantes da minha vida toda e, em muitos aspectos, é o mais importante e até mais importante do que todos os demais juntos... minha vida tem uma acontecedura até a chegada dele e outra, a partir disso... e minha história com ivo foi sempre tramada em ideações literárias... tínhamos essa coisa de inventar, de inventar sempre... criamos códigos próprios de comunicação... modulamos nossos afetos de forma a respeitar o tempo, o espaço e a memória de um na vida do outro... criamos a sintonia fina de nossos sentimentos... ampliamos à máxima potência a intensidade dos afetos que nos compunham subjetivamente!
hoje estou tendo um fulgor de posse em meio aos meus afetos... estou indicando como meu, algo que é nosso e ao mesmo tempo de ninguém... mas, na verdade, falo desse "meu", exatamente para compor com os afetos que me dizem respeito! e, além do mais, estou quieta e continuarei quieta durante o tempo que for necessário... o que também não sei quanto durará... talvez logo queira algum barulhinho-bom pra me ajudar no compasso de meu tranco... não sei! a elaboração do luto pede silêncio, pede quietude, pede um andar cadenciado com a vida que muda de marcha e de modulação... o luto por alguém que se retirou de si e, por assim fazer, se retirou também de nossa vida física, é algo que se faz quieto, em silêncio, porque não tem a ver com morte e sim com vida... é a vida dos viventes que deve tecer novas modulações depois que alguém se retira... temos que recompor o que antes fora composto de outra forma... temos que tesser (com dois s) novas composições... temos que cadenciar em outros ritmos, aquilo que antes contava também com a presença física da pessoa... esse é um trabalho que deve ser feito com muito cuidado e delicadeza.
conheci ivo no curso de mestrado em filosofia... era lá pelas metades de 2007 - um ano que começou a compor o antes e o depois de minha existência... ele foi o que fez o primeiro lugar na seleção de mestrado, então o olhávamos com caras e olhos de últimos lugares (quando não, de desclassificados)... na verdade, com esse nome (IVONEI), pensávamos que fosse uma genuína mulher... e, logo de cara, fomos descadeirados, todos, por sua figura linda, por sua alegria, por seu carinho, por sua presença intensa, por sua generosidade, por sua vivacidade, por sua festividade, por sua inteligência e por seu imenso senso de humanidade!
com seus genes felinos, ele estava sempre ronronando por perto, roçando meus passos, provocando-me em meu recolhimento antissocial e esquizo... pra tripudiar com seu atrevimento, passei a lhe provocar com meu dito preferido: "e aí, gatinho, você vem sempre aqui?"... e rapidamente nossos codinomes se tornaram gatinho e gatinha (coisas nossas)... quando um sumia por muito tempo, logo vinha o outro com um berro carinhoso (por torpedo, por msn, por email): "e aííííí, gatinhaaaaaaaaaa"... "e aííííí, gatinhooooooooo"?!... depois ele se tornou o gatucho, pra parecer mais intenso!
ele chegou de mansinho, atrevido, amoroso, conectando seus quereres com os meus... logo formamos dupla de dois-em-um... avoávamos em sentimentos que nos levavam das tecituras filosóficas de nossas aulas, aos estardalhaços literários de nossas inventivas imaginações... bastava-nos ver ao mesmo tempo os acontecimentos e nossos pensamentos, sincronizados, disparavam a rir o mesmo riso... tecíamos, por qualquer bobagem, trovas as mais engraçadas, sem ensaio prévio e sem textos escritos antes... logologo, inventamos paródias sobre o amor-posse e nos tornamos, um para o outro, "meu-macho, meu-fêmeo"/ "minha-fêmea"... sempre escrito e dito de forma composta, para sublinhar a paródia... transformamos a casa em que moro, numa entidade literária chamada "casinha", homenageando a singeleza, a acolhedura e a poesia do lugar em que moro (e em que moram todas as figuras afetivas que compõem minha existência)!
hoje só posso falar de algumas das coisas que o ivo significou para mim... não tenho como dizer do que eu tenha significado para ele (muito menos do que ele tenha significado para os outros ou do que os outros tenham significado para ele)... sei dizer que sempre respeitamos nossos tempos e nossos espaços, nossos quereres e nossos fazeres! ele vinha chegando pelas beiradas e eu fazia de conta que não via... ele tomava minha mão e andava pelo mundo com a serenidade que compunha nossos passos... ele nunca atropelou minhas dificuldades com a vida e eu nunca atropelei as dele... fazíamos rimas imperfeitas para nossas existências-ventanias... sei dizer, também, que ele nunca deixou de marcar a minha presença em sua vida, nos seus compassos e em suas poetagens... sempre que podíamos, nossas interseções e nossos encontros (de uma ou de outra forma) eram diários, o que se arrefeceu em seus tempos de adoecimento, por conta das limitações impostas.
acontecedor de coisas e de afetos, por onde passasse, provocava os gostares e os quereres... generoso com aqueles de quem gostava, era agenciador de encontros... onde via possibilidade de encontramento entre as gentes, dava um jeito de fazer um vento soprar para polinizar tais aconteceres!
agora estou transitando nessa toada difícil de ter que lidar com a intensidade da presença afetiva de ivo em minha vida, ao mesmo tempo em que elaboro sua ausência física... é estranho ver e sentir as coisas que sempre compartilhava com ele e, agora, não poder mais enviar um torpedo ou ligar para dizer e conversar coisas... suas últimas intervenções feitas na "casinha", quando de sua última estada aqui, ainda marcam a força da sua presença... hoje está difícil fazer coisas que ele pediu pra aguardar sua próxima vinda para fazermos a quatro mãos (e sempre contei com sua participação em coisas domésticas que não tinha como fazer sozinha)... essas coisas todas, no meio de partidas intempestivas, ficam pelas metades, assim como, pelas metades ficam todas as coisas de nossa existência... e é do meio desse descampado que temos que ir recompondo a vida e a existência.
isso tudo está provocando reencontros com nossas amizades e com nossos amigos... é como se estivéssemos re-olhando para a vida, para a existência, para nossas relações, para nossos quereres e para nossos fazeres... ivo viveu tão intensamente, fazendo-o de forma tão bonita e corajosa, que a condição de MORTE simplesmente não cabe em sua existência (e nem em seu corpo coube)... para os que o viram esvaído de si, deitado em seu leito florido para nossa despedida física, ficou muito claro que não se tratava de um estado de morte... não houve morte... não vimos morte... não sentimos morte... a imagem do ivo desfalecido não encaixava com a vitalidade do ivo que nunca deixará de estar presente na vida de todos nós... logo depois do ocorrido, as pessoas que não sabiam o que estava se passando, viam nossos facebook, email e torpedos, mas não entendiam de que se tratava nosso anúncio e nosso lamento... ninguém falou e ninguém fala de morte... não foi morte o que se assucedeu com ivo...ninguém sentiu ou sente isso como morte... sua presença no mundo físico sempre foi tão bonita, tão intensa, tão alegre, tão ativa, tão vitalizada, tão potente, que isso sempre se fez de forma a atravessar e compor a existência de todas as pessoas com quem cruzava ou compartilhava seus múltiplos existires... ele não era um só... ivo era muitos... e é claro que estamos tendo que lidar com sua ausência física, mas ivo está vivo, presente e pulsando em todos nós... sua existência está presente e pulsando na existência de todos nós e ainda, na existência daqueles com quem nos relacionamos... hoje experiencio novos sentimentos em minhas relações afetivas e consigo tomar em alta conta aqueles que realmente são importantes em minha e também, aqueles para quem eu seja efetivamente importante... não sou pessoa de muitos amigos e nem sou dada a muita socialização... tenho poucos e grandes amigos... são pessoas que efetivamente aprecio, gosto, quero bem, me preocupo, quero por perto, gosto de conversar e compartilhar a vida, que me atravessam, que me habitam, que contam comigo e com quem conto incondicionalmente... enfim, são pessoas que estão efetivamente presentes em minha vida e em cujas vidas eu também estou presente... são gentes cuja grandeza e cujos afetos fazem rima com as suas e com a minha existência!
hoje quero lidar com tudo isso bem devagar... é muito difícil tocar de uma nova forma, nas coisas em que sempre se tocou tão bem... a saudade é um descampado que nos agonia, que nos faz inventar miragens, buscar intensidades, de coisas que já não serão como antes, mas também é um sentimento que nos faz produzir novas e inventivas modulações... não é de morte que estou falando... não é com a morte que é difícil lidar, pois essa é a questão mais certa e mais exata com que temos que lidar em nossa existência e não é de morte que se trata o caso... estou falando da vida, do quão difícil seja lidar com a vida e com as coisas próprias aos viventes... do quanto de vida o ivo deixou plantada no terreno da minha e de muitas outras vidas... sua presença não para de acontecer em nossas vidas, fazendo ritornelos de afetamentos e acontecimentos, do mesmo jeito que sempre fez!
dou laço neste escrito, com uma poetagem que ivo me enviou no 30.05.11:
O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam.

(poeminha sentimental - m. quintana)

beijos saudosos e cansados
teu gatinho
-- 
"retalhos de sol, caminhos de seda"

sábado, 5 de maio de 2012

Luta antimanicomial, uma luta ético-política


Entrevista especial com Fábio Alexandre Moraes

Para quem milita na luta antimanicomial, o pensamento e a ação no mundo são inseparáveis, pondera o especialista em saúde mental. É preciso perceber a conexão que existe entre o modelo de trabalho capitalista e o surgimento da doença mental

“A sociedade capitalista e seu modelo de trabalho criam as condições para a doença mental”. A análise é do psicólogo Fábio Alexandre Moraes, na entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line. Segundo ele, há vários nexos que unem doença mental e trabalho, sobretudo “se considerarmos como a loucura foi se constituindo como doença mental após a Idade Média e os primeiros movimentos do capitalismo moderno. O trabalho, da maneira como foi concebido por essa configuração econômica, política, mas também cultural e subjetiva, foi um divisor de águas”, explica.
E complementa: “É na separação de quem trabalha e não trabalha que vamos encontrar as primeiras instituições de sequestro da vida: para os órfãos, os velhos, os ociosos de todos os matizes e para os loucos que perambulavam pelo mundo pré-capitalista”. Fábio conclui que a “sociedade capitalista desenvolveu ‘seu modelo de trabalho’ tanto quanto desenvolveu as formas de adoecimento e as possibilidades de reconhecimento através da psicopatologia”.
Assim, as formas de adoecimento “nasceram junto com as formas de trabalho capitalista”. Ele menciona que a saúde mental é um exemplo de transdisciplinaridade, emergindo como um novo campo “capaz de lidar com a fragmentação e o reducionismo psiquiátrico”.
A seu ver, militar na luta antimanicomial é tornar inseparáveis o pensamento da ação do mundo, algo que reflete uma dimensão política. “Afinal, como nos ensina Peter Pal Pelbart, os manicômios, agora, são mentais, e são esses os muros mais difíceis de serem transpostos para se criar outros territórios, capazes de abrigar as diferenças. Assim, a luta antimanicomial é ético-política”.