domingo, 19 de agosto de 2012

"La Educación Prohibida"



"La Educación Prohibida", Estreno Mundial 13 de Agosto del 2012
Sitio Web Oficial: http://www.educacionprohibida.com
Mapa de Proyecciones Independientes:http://proyecciones.educacionprohibida.com/mapa/

Subtítulos de Youtube disponibles en Inglés, Portugués y Español.

Se permite y alienta la copia, modificación, adaptación, traducción y exhibición pública de esta película, siempre que no existan fines de lucro y se mantengan estas mismas condiciones. Copyleft 2012. La cultura se protege compartiéndola.

Licencia: Creative Commons Atribución-NoComercial-CompartirIgual 3.0

Facebook: http://www.facebook.com/laeducacionprohibida
Twitter: @EdProhibida / #YoViLep

Sinopsis:
La escuela ha cumplido ya más de 200 años de existencia y es aun considerada la principal forma de acceso a la educación. Hoy en día, la escuela y la educación son conceptos ampliamente discutidos en foros académicos, políticas públicas, instituciones educativas, medios de comunicación y espacios de la sociedad civil.Desde su origen, la institución escolar ha estado caracterizada por estructuras y prácticas que hoy se consideran mayormente obsoletas y anacrónicas. Decimos que no acompañan las necesidades del Siglo XXI. Su principal falencia se encuentra en un diseño que no considera la naturaleza del aprendizaje, la libertad de elección o la importancia que tienen el amor y los vínculos humanos en el desarrollo individual y colectivo.

A partir de estas reflexiones críticas han surgido, a lo largo de los años, propuestas y prácticas que pensaron y piensan la educación de una forma diferente. "La Educación Prohibida" es una película documental que propone recuperar muchas de ellas, explorar sus ideas y visibilizar aquellas experiencias que se han atrevido a cambiar las estructuras del modelo educativo de la escuela tradicional.

Más de 90 entrevistas a educadores, académicos, profesionales, autores, madres y padres; un recorrido por 8 países de Iberoamérica pasando por 45 experiencias educativas no convencionales; más de 25.000 seguidores en las redes sociales antes de su estreno y un total de 704 coproductores que participaron en su financiación colectiva, convirtieron a "La Educación Prohibida" en un fenómeno único. Un proyecto totalmente independiente de una magnitud inédita, que da cuenta de la necesidad latente del crecimiento y surgimiento de nuevas formas de educación.

Si quieres que la peli esté en tu idioma podes ayudarnos a través de nuestra plataforma de traducción colaborativa, escribenos un mail a: traducciones@educacionprohibida.org

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A potência revolucionária dos pobres e dos índios



Devir índio, devir pobre
Devir índio, devir pobre
Crônica de um seminário realizado durante a Rio+20, em que subitamente entraram em conflito distintas visões de desenvolvimento e projetos para o país
Por Bruno Cava, no Quadrado dos Loucos
Em 15 de junho, aconteceu o seminário Terra, na Casa de Rui Barbosa, no Rio. Inscrito como evento da Cúpula dos Povos, o encontro de grupos militantes e intelectuais tinha por objetivo aprofundar a crítica ao modelo de desenvolvimento. No contexto da crise socioambiental, aterrar a discussão nas lutas, nas alternativas, nas ocupações e formas de resistir e reexistir. Na ocasião, o cadinho de falas, textos e debates resultou em bons e maus encontros. Uma fratura que repercute a própria atividade prática dos grupos que participavam da dinâmica. Foi a “trama da sapucaia”, para pegar emprestado de um texto de Cléber Lambert. Como toda fratura em ambientes de rico pensamento e debate aberto, teve basicamente dois efeitos. Um efeito narcísico, improdutivo, edipiano, neurótico. Quando o desejo volta contra si mesmo como planta venenosa, com piadinhas, pulsões e muito espírito de rebanho, o que acaba por reunir o ressentimento dos súditos em projeto de vingança. Mas também o outro lado, produtivo, prometeico, fabulador. Quando o desejo se liga ao real sem recalques, gera diferenças qualitativas e propicia que se continue pensando e continue lutando. Esses dois efeitos atravessaram as pessoas em várias intensidades e sentidos, nos dois pólos do debate. Eu particularmente prefiro Prometeu a Narciso e não renuncio à agressividade da diferença.
No final do seminário, um dos palestrantes (não lembro exatamente quem), do alto de seu poder de síntese, resumiu as posições. De um lado, aqueles que defendem que “o índio vire pobre”. Do outro, aqueles que defendem que “o pobre vire índio”. Os primeiros representariam o projeto desenvolvimentista. Fazer do índio mais um trabalhador e consumidor do novo Brasil, o país do futuro que chegou. Inclui-lo na sociedade forjada pela modernidade. Uma monocultura inteiramente pautada pelo quantitativo, o extensivo e o pacto diabólico da produção pela produção. Em última instância, aqueles que defendem Dilma (pela via economicista). Os segundos, defensores que “o pobre vire índio”, pensam a cosmologia indígena como alteridade radical à sociedade colonizada. Opõem o intensivo ao extensivo e a qualidade à quantidade. Para eles, a solução está em combater para que o índio não vire pobre, ao mesmo tempo em que os pobres se indianizem, e assim possam vencer a assimetria fundamental de uma antropologia que os assujeita e que se manifesta em todos os lugares e discursos por onde passam. Em vez disso, o pobre é que deve se reconstruir pelo índio. “Todo mundo é índio, menos quem não é” (Eduardo Viveiros de Castro). Disseminar o índio no corpo da população, como na retomada cabocla das terras, ou na campanha indigenista dos zapatistas. Em vez de concretar o Xingu, mostrar que a cidade jamais deixou de ser indígena. Que a floresta como saturação de relações jamais deixou de ser a nossa verdadeira riqueza cultural. Em última instância, aqueles que promovem Marina (por essa via antropológica).
Com o recorte, esse palestrante tentou sintetizar as múltiplas incidências da questão num simples fla-flu. Uma operação legítima do ponto de vista das estratégias político-teóricas envolvidas, mas que terminou por colocar o problema de maneira desfocada e, no fundo, simplória. É que o problema começa no verbo. Nem tanto o pobre virar índio, ou o índio virar pobre, mas pôr em questão o virar mesmo. A questão está no processo de passagem, mais no trânsito que nos pontos de partida e chegada, a imanência da reexistência às transcendências das culturas existentes. O palestrante confundiu o devir com o sujeito. É preciso antes de tudo examinar a travessia, a transformação mesma, que é primeira em relação ao que se transforma. Isto significa assumir uma perspectiva em que as coisas se sustentam instáveis, enquanto cristalizações de processos inacabados e precários; e em que a relação entre as coisas existe como uma relação entre transformações de transformações, relações de relações em ação cruzada. As coisas ficam mais abertas à mudança. E ensejam ser desdobradas em múltiplas perspectivas.
A pobreza, por exemplo, contém um paradoxo. Na mesma medida que é privação, também é potência. Por óbvio, privação e potência não acontecem ao mesmo tempo. Mas o pobre é aquela força que caminha nesse campo instável, onde pode transitar por todo o espectro de grau entre uma e outra. Porque a pobreza tem uma dimensão afirmativa, inventa novos usos, constrói o máximo do mínimo, a favela do lixo, a poesia das expressões doridas e tensionadas das ruas. Gatos nascem livres e pobres e recusam a ser chamados pelo nome. Qualquer prescrição de imobilidade não serve para quem tem de se mover todos os dias para reinventar o mundo, em cuja crise o pobre vive e se relaciona. Devir pobre ativa a potência insofismável dessa classe inscrita como agente de produção do capitalismo.
Por que não se trata tanto de virar isto ou aquilo, mas de devir. Pode ser ridículo eu, homem branco, querer ser negro, mas nada impede aconteça uma negritude em mim. Devir-onça não significa tornar-se uma onça. Nesse sentido, sucedem processos de transformações que podem ser apresados subjetivamente, e o conjunto galgar novos horizontes éticos e políticos. Devir pobre, índio, mulher, criança, planta, mundo. Nos devires, está em jogo a construção de um comum de reexistências e lutas, no interior das culturas e identidades disponíveis. No interior e para além, e mesmo contra. Um comum diferenciante em que as diferentes forças de existir podem se enredar e se maquinar na própria distância entre elas, no dissenso constituinte; sem redução a uma identidade comum,  ao consenso, ao denominador comum, a um “em comum”. É se recompor no amor pelo outro, sem reduzi-lo a si, nem se submeter a ele. Isto é, partilha desmedida de afetos ativos, no bom encontro em que se multiplicam e produzem o real, jamais na subjugação entre seres comensuráveis entre si, na redução ao “consenso mínimo do relacionamento”.
Com essa forma de pôr o problema, é possível se concentrar antes nas estratégias e táticas de ação, nos agenciamentos do desejo, nas formas de criar e se deslocar, — em tudo que isso que favorece uma fuga reexistente das identidades, e assim favorece a diferença por si mesma — do que ficar idealizando e descrevendo outras identidades possíveis, lutando pelas existentes ou combatendo outras que possam vir a existir, como faria um inventariante dos elementos culturais por aí. Posso irromper dentro de mim, — mesmo que eu me constitua de forças majoritárias e dominantes da cultura estabelecida, — irromper o meu avesso, o meu avesso simétrico, o meu índio e o meu subdesenvolvimento, um intensivo pelo qual tudo o que passa resulta diferente. Essa diferença ameaça o poder constituído. Uma força que vem, acontece, e me arrasta pra outro lugar e outro tempo.
O primado da diferença implica que o problema de índio-virar-pobre ou pobre-virar-índio embute uma dicotomia infernal. Já se trata, desde o início, de um falso problema.
Portanto, é preciso recolocar o problema. Preocupar-se em ser pobre ou índio é muito pouco. Faz-se necessário mobilizar os substantivos em verbos, molecularizar os adjetivos em advérbios. O caso não está na transformação de A a B ou de B a A. E sim no diferencial C que faz com que A e B possam coexistir no mesmo plano de composição política. Então é caso do pobre devir índio e o índio devir pobre. E mais. Seguindo a lógica, igualmente sucede um diferencial entre A e A´, e entre B e B´. Ou seja, o pobre devir pobre e o índio devir índio. Se o projeto do novo Brasil consiste em fazer da “Classe C” o modelo de cidadão, trabalhador e consumidor, esta figura antropológica pode devir pobre-potência. O trabalhador recusa o trabalho, o consumidor consome o consumo e o cidadão se revolta. De maneira simétrica, o índio devém índio ao impregnar as forças que o constrangem na maior comunidade de todos os tempos: o mercado capitalista global. Menos para ser reconhecido como indígena do que para indianizar o poder. Institui outras formas de medir, se relacionar e escapar dos aparelhos de captura. Contra Belo Monte, o Xingu em São Paulo.
Muitas vezes, sofisticados esforços de desmontagem da metafísica ocidental perdem de vista o essencial. Todo o esforço por desarranjar a violência e o intolerável, inscritos na estrutura produtiva deste mundo, só é eficaz levado a um sentido material. Isto é, animado pelos processos de transformação e afirmação de diferença já em andamento, pela proliferação de lutas socioambientais que se debatem no dia a dia. A política precede o ser. E política sem transitividade com a crítica do sistema produtivo se torna cega à máquina capitalista, arriscando nivelar-se a uma apologia (embora requintada e elitista) ao que de pior há na modernidade européia: a economia política clássica e neoclássica.
A agressão e destruição dos aparelhos de captura só acontecem quando imediatamente ligadas à montagem de uma máquina revolucionária.
——
Devo parte do conteúdo deste artigo à palestra proferida por Cléber Lambert no seminário de anteontem à Casa de Rui Barbosa, co-organizado pela Universidade Nômade, bem como ao encontro produtivo entre dois pensadores de primeiro time do Brasil contemporâneo, Eduardo Viveiros de Castro e Giuseppe Cocco.

À beira de uma nova crise alimentar?


Alerta: mudança climática, agrocombustíveis e especulação financeira ameaçam elevar preços mundiais dos alimentos e ampliar fantasma da fome
Por Amy Horton | Tradução: Antonio Martins
No início de julho, previa-se para 2012 um recorde mundial na produção de alimentos. Poucas semanas depois, os preços do milho e da soja quebraram os recordes alcançados na crise alimentar de 2007-08, quando revoltas disparadas pela fome espalharam-se por trinta países. Os preços do trico também subiram, mais de 50% só nas últimas seis semanas.
Tudo isso coloca o mundo à beira de uma nova crise alimentar. Quando a ONU lançar seu relatório global sobre a fome, em setembro, é provável que o número de pessoas famintas no planeta – atualmente estimado em 925 milhões – tenha se ampliado.
A culpa principal foi atribuída à seca devastadora nos Estados Unidos, que devastou mais lavouras que qualquer outro fenômeno climático desde 1956. À medida em que a mudança climática evolui, tais extremos estão se tornando norma.
Os biocombustíveis – que no ano passado engoliram quase 40% da colheita norte-americana de milho – também foram apontados como parte do problema. Nos EUA, estão crescendo as prssões para reduzir a adição de biocombustíveis na gasolina. Produtores de carne e leite estão advertindo que não serão capazes de pagar a ração dos animais.
Mas as análises estão esquecendo os especuladores financeiros, que ampliaram sua atuação nos mercados. Quer saber como eles veem uma crise alimentar em gestação? Na semana passada, Peter Sorrentino, um administrador norte-americano de hedge funds respondeu: “É como se uma grande torneira de dinheiro tivesse sido aberta”.
Em junho, os mercados de derivativos agrícolas foram inundados com 89 bilhões de dólares in dinheiro especulativo. O número é cortesia do Barclays Bank, o principal agente em mercados de alimentos do Reino Unido, que apontou, este ano, a especulação como “um motor-chave” para a alta dos preços.
Uma texto de analistas do Instituto de Sistemas Complexos da Nova Inglaterra convida à ação. Pesquisa realizada por eles isolou os biocombustíveis e a especulação como as causas centrais da elevação dos preços de alimentos nos últimos anos. Há meses, têm alertado para a necessidade de enfrentar a ameaça.
Programas predatórios de conversão de alimentos em etanol (biocombustíveis) e especulação crescente nos mercados mundiais decommoditiescriaram uma bolha de preços de alimento, pressionando por um pico inevitável dos preços em 2013. Agora, parece que este “choque de colheitas” virá mais cedo devido à seca, a não ser que medidas para reduzir a produção de etanol e controlar os especuladores sejam adotadas imediatamente.
Os modelos dos pesquisadores do instituto, já validados por previsões e acertos anteriores, sugerem que os nos picos de preço, embora inicialmente causados por choques de produção e demanda, serão exacerbados pela especulação financeira, provocando um salto ainda mais grave dos preços. Os pesquisadores também sustentam que os esforços para reformar os mercados têm sido muito lentos. As tentativas de regulação têm sido contestadas por manobras jurídicas nos Estados Unidos e estão atrasadas na Europa. Por isso, medidas que poderiam refrear a especulação não foram implementadas.
A crise no horizonte destaca a vulnerabilidade de um sistema agrícola que depende cada vez mais de negociações voláteis de um punhado de cereais-chave. Enquanto os países em desenvolvimento enfrentam encruzilhadas dramáticas sobre o futuro de seus sistemas da abastecimento, os movimentos por segurança alimentar reivindicam um projeto mais voltado para a diversidade de cultivos, resilente às mudanças climáticas e controlado localmente. Passos rumo a estes objetivos poderiam incluir a construção de comércio regional e o plantio de sementes nativas, que frequentemente resistem mais a estiagens que cereais como o milho.
Mas a força política para executar muitas das medidas necessárias – inclusive a reforma do sistema global de comércio – está nas mãos dos países mais ricos. Sem uma mudança radical de nosso sistema agrícola, que inclua mecanismos de regulação para evitar que especuladores fixem os preços dos alimentos, as populações mais pobres do mundo continuarão a pagar o preço mais alto.

Amy Horton 
é ativista e produtora de conteúdo no  World Development Movement,baseado em Londres

Uma revolução começou — e será digitalizada



O que ocorrer com o direito à informação definirá a democracia no próximo século. Por isso o Wikileaks é importante
Por Heether Brooke*do The Guardian
A diplomacia sempre incluiu jantares com as elites dominantes, acertos de bastidores e encontros clandestinos. Agora, na era digital, os relatos de todas estas festas e diálogos aristocráticos pode ser reunido numa enorme base de dados. Uma vez recolhidos em formato digital, é muito fácil compartilhá-los.
Na verdade, é para isso que a base de dados Siprnet, de onde os segredos diplomáticos norte- americanos são vazados, foi criada. A comissão governamental criada nos EUA para avaliar a segurança nacional após o 11 de Setembro fez uma descoberta notável: não era o compartilhamento de informações que ameaçava os EUA, mas o não-compartilhamento. A falta de cooperação entre agências governamentais e a retenção de informações por burocratas desperdiçaram muitas oportunidade para bloquear os ataques contra as Torres Gêmeas. Em resposta, a comissão ordenou uma restruturação dos serviços do governo e da inteligência, para que se adaptassem à própria web. A nova prática era de colaboração e compartilhamento de informações. Mas, ao contrário de milhões de membros do governo e empresas terceirizadas, o público não tinha acesso à Siprnet.
Porém, os dados têm o hábito de se espalhar. Eles escorregam entre a segurança militar e também podem vazar pelo Wikileaks, o meio pelo qual eu obtive as informações. Eles violaram até os prazos de fechamento do Guardian e de outros jornais envolvidos na divulgação da história, quando um cópia clandestina do semanário alemão Der Spiegel acidentalmente chegou às bancas em Basle, na Suíça, domingo passado. Alguém a comprou, entendeu o que ela continha e começou a escanear as páginas, traduzindo-as do alemão para o inglês e postando no Twitter. Parece que os dados digitalizados não respeitam autoridade alguma, esteja ela no Pentágono, no Wikilieaks ou num editor de jornais.
Cada um de nós já viveu, pessoalmente, as enormes mudanças que vêm com a digitalização. Fatos ou informação que considerávamos efêmeros e privados agora são permanetes, públicos e agregáveis. Se o volume dos atuais vazamentos parece grande, pense nos 500 milhões de usuários do Facebook, ou nos milhões de registros mantidos pelo Google. Os governos mantêm nossos dados pessoais em enormes bases. Era caro obter e distribuir informação. Agora, é caro retê-la.
Mas quando os devassa de dados atinge o público, os governantes parecem não se importar muito. Nossa privacidade é disponível. Não surpreende que a reação aos novos vazamentos seja, agora, diferente. O que transformou, num sentido revolucionário, a dinâmica do poder não é a escala das revelações – mas o fato de que indivíduos podem tornar pública uma cópia de documentos do Estado. Em papel, estes vazamentos equivalem, segundo estimativas do Guardian, a 213.969 paginas A4, que teriam, empilhadas, a altura de 43 quilômetros. Algo impossível de vazar com segurança, na era do papel.
Para alguns, a novidade significa uma crise. Para outros, uma oportunidade. A tecnologia está rompendo as barreiras tradicionais de classe, poder, riqueza e geografia – e substituindo-as por um ethos de colaboração e transparência.
Um ex-embaixador dos Estados Unidos na Rússia, James Collins, disse à CNN que a revelação dos registros pelo Wikileaks “impedirá que as coisas seja feitas de forma normal e civilizada”. Muito frequentemente, “normal” e “civilizado” significa, na linguagem diplomática, fazer vistas grossas para injustiças sociais flagrantes, corrupção e abuso de poder. Depois de ler centenas de documentos, constato que muito dos “danos” que eles provocam é revelação embaraçosa e constrangedora de verdades inconvenientes. Em nome da segurança de uma base militar num dado país, nossos líderes aceitam um ditador brutal que oprime seu povo. Isso pode ser conveniente a curto prazo para os políticos, mas as consequências a longo prazo para os cidadãos do planeta podem ser catastróficas.
Os vazamentos não são o problema, apenas o sintoma. Revelam a desconexão entre aquilo que as pessoas desejam e precisam e o que realmente fazem. Quanto maior o segredo, mais prováveis os vazamentos. O caminho para superá-los é assegurar um mecanismos robustos para acesso público a informação relevante.
Graças à internet, esperamos um nível muito maior de conhecimento e participação, em muitos aspectos de nossas vidas. Mas os políticos resistem resolutamente aos novos tempos. Vêem-se como tutores de um público infantil – que não merece nem a verdade, nem o poder real que o conhecimento oferece.
Muito da revolta governamental sobre os vazamentos não tem a ver com o conteúdo do que é revelado, mas com a audácia de quem rompe o que eram fortalezas invioláveis da autoridade. No passado, confiávamos nas autoridades. Se um governante nos dissesse que algo poderia prejudicar a segurança nacional, tomávamos a afirmação como verdade. Agora,os dados crus por trás desta crença estão se tornando públicos. O que percebemos de vazamentos sobre as despesas de parlamentares, ou a cumplicidade de governos com a tortura, é que quando os políticos falam sobre uma ameaça à “segurança nacional”, referem-se frequentemente à defesa de sua própria posição ameaçada.
Estamos num momento crucial, em que alguns visionários, na vanguarda de uma era digital, enfrentam quem tenta, desesperadamente, controlar o que sabemos. O Wikileaks é o front de guerrilha, num movimento global por maior transparência e participação. Projetos como o Ushahidi usam redes sociais para criar mapas onde os cidadãos podem relatar violências e desafiar a versão oficial dos fatos. Há ativistas empenhados em liberar dados oficiais, para que as pessoas possam ver, por exemplo, os orçamentos públicos em detalhe.
Por ironia, o Departamento de Estado dos EUA foi um dos grandes incentivadores da inovação técnica, como meio para levar a democracia a países como o Irã e a China. O presidente Obama exortou regimes repressores a deixar de censurar a internet. No entanto, uma lei que tramita no Congresso permite ao Procurador-Geral em Washington criar uma “lista suja” de websites. É possível acreditar numa democracia forte apenas para assuntos externos?
Os governantes costumavam controlar os cidadãos por meio do fluxo restrito de informações. Agora, está se tornando impossível vigiar o que a sociedade lê, vê e ouve. A tecnologia permite desafiar coletivamente a autoridade. Os poderosos vigiaram por muito tempo as sociedades, para controlá-las. Agora, os cidadãos estão lançando um olhar coletivo sobre o poder.
É uma revolução, e todas as revoluções geram medos e incertezas. Caminhamos para um Novo Iluminismo da Informação? Ou a revanche daqueles quer querem manter controle a qualquer custo nos levará a um novo totalitarismo? O que ocorrer nos próximos cinco anos definirá o futuro da democracia no próximo século. Por isso, seria ótimo que os nossos líderes respondessem aos desafios de hoje com um olhar sobre o futuro.

*Heether Brooke é jornalista, escritora e ativista pelo Direito à Informação. Nascida nos Estados Unidos, vive em Londres e colabora com o The Guardian.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

flecheira.libertária.261


inspire a generation
Final de Olímpiada. Em alguns cantos, como no aro da cesta de basquete, lia-se inspire a generation, palavra de ordem da Wildfowl & Wetlands Trust (WWT). As transmissões televisivas e os seus anunciantes não cansaram de divulgar a importância da família tradicional, adicionada de sempre honestos agradecimentos religiosos pelos atletas brasileiros. Ficaram as esperanças para o Rio de Janeiro. Ficaram as surpresas de sempre: desta vez foi o boxe, com seus lutadores proletários, reforçadores da família e das religiões. Sem surpresa! A novidade mesmo veio com as recomendações para o futuro que queremos do desenvolvimento sustentável, que se modula pelos refinamentos e restaurações de instituições tradicionais e do patriotismo antes de tudo. Como a WWT, milhares de agências esforçam-se para educar as crianças e ajustá-las ao meio ambiente, como fórmula moral para a green economy. 
vida como jogo
Na vida como nos jogos enfatizam que devem existir somente adversários. Estes sempre serão a fonte dos jogos, como sublinhou, desde o início das Olimpíadas modernas, o barão de Coubertin. Na vida, ao contrário, há inimigos, por mais que se tente com sustentabilidades, ou não, fazer crer que eles deixaram de existir. Tratar a vida como jogo de adversários é revestir de equilíbrio e dignidade as assimetrias.
os mascates da miséria, mais uma vez...
A última edição de “pesquisa-survey” aplicada regularmente há cerca de uma década junto a adultos e acrescida dos resultados relativos ao ano de 2010 conclui: “quem é vítima de punições quando criança tem maior chance de se tornar uma vítima na idade adulta”. Balizados pelo velho discurso da vitimologia, repaginada pelo rentável conceito de vulnerabilidade, e vinculados a núcleo de pesquisa, estes pesquisadores deliberadamente omitem e pretendem destorcer, o óbvio. É preciso eleger a vítima sem arranhar a continuidade do consenso sobre o uso da força contra crianças e o domínio do corpo mais forte fisicamente justificado pela moral para o êxito circunstancial da reforma das mesmas instituições. O conceito de vítima e de vitimização não se confunde com a noção de violentados. Pequena e abissal diferença que, destemida e sem concessões afronta o insuportável: a continuidade do regime dos castigos da qual também se nutrem os mascates da miséria e dos direitos. 
pureza
Pesquisa realizada pela polícia paulista constatou que mais da metade dos comprimidos de ecstasy confiscados no estado tem de tudo, menos ecstasy.  O MDMA, princípio ativo dessa droga, aparece pouco, ladeado por outras tantas substâncias como anfetaminas, metanfetaminas, cafeína e até anestésico de cavalo: a maioria delas com venda legal no país. Para os policiais, a identificação desses componentes pode aumentar a capacidade de rastrear e prender fornecedores e traficantes. Para os profissionais da saúde pública, a descoberta evidencia o perigo do consumo do pseudo-ecstasy nas baladas noite afora. Para uns, mais oportunidades de apreensões; para outros, maiores preocupações com a saúde de ‘jovens desavisados’.
mal à saúde!
A constatação dessa ‘pesquisa’ é uma velha novidade. Cocaína, LSD, heroína e até maconha são cotidianamente adulterados para render mais para quem vende. Na ilegalidade, quem dá as cartas é o traficante; e quem consome não tem ideia do que compra e usa. Por isso, muito das overdoses e demais problemas derivados do uso de drogas acontece por conta das misturas de outras drogas ou da irregularidade nas concentrações reais da  substância desejada. Há cem anos, a proibição das drogas se justifica como medida para salvar a saúde das pessoas; mas não há nada mais prejudicial à saúde de quem consome do que a proibição.
lote de legalização
No atual reformismo que virou moda entre especialistas em drogas, tornou-se usual recriminar a proibição pelos males à saúde dos consumidores. Então, a recomendação geral é legalizar, transferindo o controle da produção e venda de drogas para o Estado ou para o mercado. A legalização estatizante ou liberal operaria, no entanto, um deslocamento: o consumidor deixaria de ser achacado por traficantes e polícias e passaria a ser controlado, dependente e monitorado pelo Estado e por empresas. Essas propostas angariam partidários porque fazem antever a potencialização do controle e governo sobre os usuários ou porque anunciam ótimos negócios futuros. Por isso, a legalização entra nos papos moderninhos e socialmente responsáveis de acadêmicos e da mídia.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

sobre um simples bilhete!

hoje postarei algo que habitualmente não o faria... é um bilhete emitido por um participante do I SEMINÁRIO DE DIREITOS HUMANOS PARA A DIVERSIDADE EM UMA SOCIEDADE PLURAL - CRUZ ALTA... esse senhor que anotou o bilhete aqui estampado, teve a grandeza e a decência de assiná-lo, mas preservarei o seu nome, pois tenho um imenso respeito pelas pessoas que, mesmo através de um bilhete, conseguem expressar a imensa e tangente contratura que lhes corrói as entranhas... faço isso porque já cansei de guardar os bilhetes, as ameaças, os desaforos, as desditas, os mal-desentendidos e tantos outros quetais que aparecem/emergem/surgem/refluem/regurgitam do ventre contrafeito daqueles que têm dificuldade para lidar com outras (trans)versões da vida e do existenciar a vida, que não seja aquela que tão bem formatada esteja em suas cabeças... sempre guardei esses escritos por entender que as pessoas tenham o direito de expressar seus incômodos, sem serem expostos em tal... mas agora, depois de nossa roda de conversa sobre DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE SEXUAL, acontecida ontem (14.08.2012), tendo por âncora a costura tecida por GUILHERME CARLOS CORRÊA sobre o assunto -com a qual fiz alinhavos de interseção-, vendo o bilhete-escrito, pensei que seria cretino da minha parte, continuar guardando esses escritos, portanto, aí vai a candura desse momento!

sábado, 11 de agosto de 2012

a arte de gostar do mesmo sexo


por luiz pereira de lima júnior* (Professor do Centro de Educação e do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal da Paraíba).
A sociedade ocidental e os diferentes visores1 que a constituem estão impregnados de princípios universais, judaico-cristãos e moralistas. Concebem o exercício livre do sexo como algo condenável que reflete a procriação, presa ao casamento, pelo menos, formalmente, monogâmico. Tudo isso vincula-se a essa noção de matrimônio, que é universal. O matrimônio é tido como a grande plataforma da sexualidade2 e o caminho mais adequado para a prática sexual. Logo, tornou-se condição universal e habitual a instituição matrimonial.
Ajustando comportamentos
As relações entre pessoas do mesmo sexo3 opõem-se às formas tradicionais das práticas sexuais.4 São práticas diferentes que instauram resistências, abalando o arsenal dos comportamentos tidos normais, referentes à vivência do sexo. Essas pessoas são os anormais, pois desconhecem os limites impostos pela sociedade. É o monstro sexual, pois, segundo Foucault,5 não se trata de contranatureza, mas do monstro, ou seja, “...não uma noção médica, mas uma noção jurídica.”6
As ações para tentar conter as práticas anormais referendam a instituição matrimonial e a temática da prevenção geral; acontecimentos marcantes no cotidiano. Considerando-se sua aliança com a família, e com os valores morais e cristãos.

SEMANA ACADEMICA DO CURSO DE PSICOLOGIA UNIJUI – CAMPUS IJUI


 “A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NA CONTEMPORANEIDADE”
DE 27 a 31 DE AGOSTO DE 2012
Salão Azul – Biblioteca Mário Osório Marques – Campus Ijuí/RS

“O profissional que não estiver sintonizado com as questões do seu tempo deve renunciar à sua prática” (disse Lacan aos psicanalistas)

Para o evento deste ano procuramos uma ideia que pudesse traduzir o compromisso da psicologia hoje, as suas diversas práticas e atuações como experiências do campo de trabalho. Traduzimos em pequenas palavras, as quais nos convocam a dizer sobre nossas intervenções frente à diversidade de questões, sejam elas, Clínicas, Sociais, Educacionais ou Organizacionais. A Psicologia debruça-se em um olhar peculiar para com o sujeito, para a singularidade, a subjetividade e para a sociedade, capaz de provocar pequenos pontos de rompimento com certos discursos preponderantes. Não transformamos o mundo, mas somos capazes de abrir novos espaços de discussão e contribuir com a construção de uma sociedade onde caibam todos os grupos, um mundo onde caibam todos os mundos.

Objetivos do evento:

Promover o intercâmbio entre pesquisadores, estudantes de psicologia e áreas afins.
Favorecer a troca de experiências entre os participantes do evento.
Ampliar a formação acadêmica dos estudantes de psicologia, extrapolando as fronteiras da sala de aula.
Discutir temas relacionados as várias linhas de pesquisa em psicologia na atualidade.
Abrir espaços para a discussão sobre as perspectivas da pesquisa e do ensino de psicologia no presente e para o futuro próximo.

Público Alvo:

Estudantes, professores, pesquisadores e profissionais de psicologia e áreas afins.



PROGRAMAÇÃO:


SEGUNDA 27/08 (Noite)
19h30 Abertura
Apresentação: Karla Cailava Krapf e Vinícios Ribas

Prof. Ana Maria de Souza Dias
Chefe Adjunta do Departamento de Humanidades e Educação

Prof. Elisiane Schonardie
Coordenadora do Curso de Psicologia

Acadêmica Luciana Valquíria Kremin Mai
Presidente do Centro Acadêmico de Psicologia
Apresentação Cultural: Coletivo MusicalMente Plural

20h Conferência: “A prostituição, o feminino e a ficção.”
Convidada: Maíra Brum Rieck
(Psicóloga, Psicanalista associada da APPOA, mestre em Educação pela UFRGS, especialista em atendimento clínico pela UFRGS, membro da ONG ALICE – Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação.)
Debatedora: Cristian Giles
Coordenação: Luciana V. K. Mai

TERÇA 28/08 (Noite)
19h30 Mesa Redonda: “Trabalhos e controvérsias de práticas da psicologia do Trabalho e nas Organizações”.
Convidada: Janete de Aquino Goulart
(Psicóloga, Profª do DHE / UNIJUI, mestre em Psicologia pela Unijuí, atua na Secretaria de Educação Município de Ijuí.)

Trabalhadores de saúde do serviço de oncologia: prazer, sofrimento e estratégias defensivas.”
Convidada: Estefânia Cazarolli
(Psicóloga, mestre em Psicologia da Saúde pela UFSM, especialista em psicologia da saúde pela UPF, Coordenadora de Recursos Humanos Treinamento e Desenvolvimento Rede de Farmácias São João.  Atuou por 5 anos no Centro de Alta Complexidade em Oncologia do Hospital de Caridade de Ijuí.)
Debatedor: Nilson Heidmann
Coordenação: Nairana Marczewski de Melo

TERÇA 28/08 (Tarde)
14h Vivências e Ressonâncias: “O VER-SUS/Brasil na formação do psicólogo, qual o sentido?”
Convidado: Coletivo VER-SUS
(Projeto desenvolvido pelo Ministério da Saúde em conjunto com as entidades estudantis dos cursos da área da saúde e as secretarias municipais de saúde, com o objetivo de oferecer a estudantes universitários vivências e estágios no Sistema Único de Saúde.)
Debatedora: Angela Schneider Drügg
Coordenação: Renan Zanon Bock



QUARTA 29/08 (Noite)
19h30 Mesa Redonda: “Lendo um sintoma social: Suicídio.”
Convidada: Tania Maria de Souza
(Profª do DHE / UNIJUI, mestre em Psicologia pela Unijuí, Psicanalista - Membro da AEP e da APPOA.)

“Saindo das amarras de sua história: o novo olhar da psicologia sobre o Sistema Prisional.”
Convidada: Daiane Steiernagel
(Mestre em Letras: Estudos Literários pela UFSM. Atuou por 3 anos em Caps ad. Atualmente é psicóloga da Susepe com Lotação na Penitenciária Modulada Estadual de Ijuí/RS.)
Debatedora: Kenia Spolti Freire
Coordenador: Pablo Pitágoras Stein dos Santos

QUINTA 30/08 (Noite)
19h30 Mesa Redonda: "Saúde Mental e Psicanálise: é possível?"
Convidada: Carolina Baldissera Gross
(Psicóloga, graduada pela UNIJUÍ, especializando em "Clínica psicanalítica" pela Ulbra. Atua no Hospital Bom Pastor Ijuí  e CAPS I.)

“Singulares pensares, múltiplos fazeres: intercessores para a psicologia no contemporâneo.”
Convidada: Maria Luiza Diello
(Psicóloga, mestre em Filosofia pela UFSM. Atua no ambulatório de saúde mental Cruz Alta/RS.)
Debatedor: Ubirajara Cardoso de Cardoso
Coordenação: Flávia Gai Soares

QUINTA 30/08 (Tarde)
14h CinePsi – “Sexualidade mise en scène: que lugar tem a Psicanálise nos movimentos LGBT?”
Filme: “Stonewall” (1995)
Convidado: Mateus Augusto Pellens Baldissera
Psicólogo, graduado pela UNIJUÍ, associado da APPOA, participa atualmente do Percurso de Escola da APPOA.

“O Jogo de Engodo do Amor.”
Filme: “La storia vera delle Camelie”, inspirado na obra “A Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas, do diretor Mauro Bolognini.
Convidada: Ana Paula Paz
(Graduanda do Curso de Psicologia Unijuí – Campus Santa Rosa)
Debatedora: Elisiane Schonardie
Coordenação: Luciana Guimarães Pimenta

SEXTA 31/08 (Noite) – Local: Restaurante e Pizzaria Glasnost
19h30 Café Psicanalítico: “Potencialidades da cultura de jogo digital para apresentações políticas de gênero e sexualidade.”
Convidado: Lucas Goulart
(Psicólogo pela UNISINOS, mestre em Psicologia Social pela UFRGS, terapeuta de família. Atuou no Grupo G8-Generalizando (Direitos da Mulher e de Gênero) do SAJU/UFRGS. Trabalha atualmente na organização Aldeia da Fraternidade junto aos projetos do Sase (Serviço de Apoio Socioeducativo /Prefeitura de Porto Alegre). Pesquisador nos temas de gênero, diversidade sexual, teoria queer e novas tecnologias.)

“A Ilha das Flores pode ser considerada parte de um sistema?”
(Psicólogo, atua na assistência social, CRAS Ilhas, no bairro Arquipélago, em Porto Alegre. Referência da Ilha das Flores, pelo serviço de Proteção e Atendimento Integral à Famílias – PAIF.) 
Debatedora: Flávia Flach
Coordenação: Gian Agustini

ENCERRAMENTO: Coletivo MusicalMente Plural


*DURANTE TODO EVENTO:
Apresentações culturais com o Coletivo MusicalMente Plural; exposições de pôster, painéis impressos inscritos por participantes.


INSCRIÇÕES

Até 24/08/2012 (Antecipados) com o CAP. – (Integrantes do Centro Acadêmico de Psicologia)
Estudantes: R$ 40,00 (com coquetel de encerramento na Glasnost)
Profissionais: R$ 60,00

Após ou no local:
Estudantes: R$ 50,00
Profissionais: R$ 70,00


REALIZAÇÃO:
Centro Acadêmico de Psicologia Unijuí – CAP “das Trieb” – Gestão 2012

APOIO:
Departamento de Humanidades e Educação – Curso de Psicologia UNIJUÍ

PATROCINADORES:
Agroveterinária La Pampa;
Bazar Paraty;
DCE – UNIJUÍ REAÇÃO;
Fonte da Ilha;
Hotel Vera Cruz;
Libera Marin
Net Copy;
Planeta Livros;
Restaurante e Pizzaria Glasnost


Contatos: (55) 3332 – 0200 – Unijuí/Depart. Humanidades e Educação
(55) 8139-7796 – Comissão Organizadora CAP

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Educação e Controle


artigo publicado na Revista Sinpro Cultura - caderno de cultura do Sindicato dos Professores de Campinas e Região, ano XII, nº 23, julho/95, caderno especial "Para Debater".
http://insurgentes.vila.bol.com.br/passos.htm#pontos
Lembro-me de uma passagem de um texto de Félix Guattari na qual ele comenta um fato curioso para o exercício cotidiano de nossa função de educadores. Toma a situação hipotética de um aluno que esteja na sala de aula e, em lugar de prestar atenção à nossa maviosa explicação, começa a cutucar o colega do lado, a jogar pelotas de papel nas meninas e tudo aquilo que conhecemos bem. Qual é normalmente a reação do professor? Guattari diz que pode ser de variados tipos: um professor autoritário coloca o aluno de castigo, ou manda-o para fora da sala - rompendo, assim, com qualquer relação pedagógica possível -; já um professor mais progressista vai preocupar-se com a reação do aluno e tentará compreendê-la, para ajudá-lo: o encaminhará ao psicólogo da escola etc. Entretanto, muito dificilmente nosso professor em questão terá o estalo de imaginar que o que aquele aluno "relapso" está fazendo é, nada mais, nada menos, do que aquilo toda a classe faria, se tivesse coragem para tanto! Em outras palavras, professor algum pensará que o problema é seu, e não do aluno, que é sua aula que não está agradando a ninguém, que seu trabalho precisa ser repensado se pretende ser uma atividade realmente educativa.
Fiz este preâmbulo para entrar numa questão que sei ser polêmica, mas que penso que devemos encarar por outros pontos de vista. O governador do Estado de São Paulo, logo após sua posse, anunciou que pretende acabar com a reprovação entre as séries, como forma de diminuir a evasão escolar e os baixos índices de escolaridade e aproveitamento. Do mesmo modo, em seu segundo pronunciamento à Nação, em sete de fevereiro, o presidente Fernando Henrique Cardoso abordou a questão da repetência e da evasão escolar, tentando demonstrar que, pelos investimentos feitos na área, estes índices precisariam ser sensivelmente diminuídos.
Sem dúvida alguma, os discursos dos políticos sobre a educação, assim como suas promessas, precisam ser discutidos, esclarecidos, suas lacunas precisam ser denunciadas, assim como seus erros devem ser apontados. Haveria muito o que discutir acerca do pronunciamento de Fernando Henrique, como as falácias de sua argumentação sobre o investimento e sua fiel defesa dos princípios do Plano Decenal de Educação para Todos, que a UNESCO e o Banco Mundial estão fazendo com que desça goela abaixo de todos os países latino-americanos - o caso do Chile é paradigmático, e deveríamos estudá-lo a fundo - mas este não é meu objetivo neste momento. Limito-me, por ora, à questão da repetência e da evasão.
Pareço ouvir nitidamente o choramingo dos colegas professores de primeiro e segundo graus! Lembro-me de quando professor no ensino médio e fundamental, tanto no sistema público quanto no privado, as posições eram indistintamente as mesmas. Qualidade de ensino é sinônimo de reprovação. O professor que aprova a todos, ou a grande maioria de seus alunos, não é exigente, é negligente, não avalia corretamente etc. O fato de o aluno poder entrar com um recurso contra a sua reprovação é um democratismo demagógico e um duro golpe num ensino sério etc. Todos vocês, que por ventura estejam me lendo, conhecem muito bem essas afirmações, se é que não concordam absolutamente com elas. É por isso que proponho que as discutamos mais a fundo, muito mais a fundo.
Por detrás da questão da qualidade do ensino, está uma muito mais complexa, a da relação de poder no ato pedagógico. Esta foi a razão que me fez abrir estas reflexões com aquele exemplo levantado por Guattari. Quando um aluno é indisciplinado em sala de aula, vamos tentar entender o que se passa com ele, quando simplesmente não o isolamos por completo mas, apenas muito raramente, vamos tentar entender o que se passa conosco, rever nossa metodologia, rever os conteúdos que estamos ensinando, buscando uma ação pedagógica verdadeiramente significativa, tanto para nós, educadores, como para os alunos. Do mesmo modo, quando um aluno repete de ano, quando abandona a escola e este problema nos toca de forma direta, vamos nos debruçar para tentar encontrar e entender o problema do aluno, mas nunca pensamos que o problema possa ser nosso! Ou, como disse o Fernando Henrique em seu pronunciamento, quando alcançamos o índice de repetência e de evasão que temos hoje, não pode ser aquele imenso contingente de alunos que está errado, mas é a escola que deve estar errada.
Mas afirmei que por trás disto está a relação de poder. A equação saber é poder é bastante conhecida, embora Michel Foucault tenha tido a ousadia de afirmar que o poder produz saber, assim como o inverso também é verdadeiro, o que, no final das contas, não invalida a equação, apenas a amplia ainda mais. Ora, na sala de aula o professor é aquele que sabe; é, portanto, a autoridade, o local do poder. Devemos nos lembrar de que, nas antigas salas de aula, o mestre ocupava o púlpito; mesmo hoje, ainda temos algumas salas de aula em que o espaço do professor é um tablado, mais elevado do que o espaço dos alunos. Embora explicações didático-pedagógicas sejam sempre possíveis, é inegável e incontestável seu caráter ideológico e político - no sentido do exercício do poder. Algumas cenas do filme The Wall, dirigido por Allan Parker e baseado num álbum da banda inglesa Pink Floyd são mais do que emblemáticas a esse respeito.
As ditas pedagogias novas - escola nova e construtivismo, por exemplo - tentaram e vêm tentando esvaziar esse poder do professor, colocando o aluno como centro do processo e o professor como um auxiliar (ou facilitador etc. - os termos variam de autor para autor) do processo de ensino-aprendizagem, o que Régis de Morais chamou de "revolução copernicana no ensino". Nossa prática quotidiana nas escolas mostra, porém, que tal revolução não vingou. Pode ter diminuído a prepotência de alguns mestres e certamente diminuiu a ação de todos, mas não esvaziou de poder o professor, devido, sem dúvida alguma, à surda e calada resistência dele, que agarrou-se a essa autoridade conferida pelo saber como os ditadores perseguidos agarram-se às suas fortunas depositadas em bancos suíços.
A questão ganha, hoje, contornos ainda mais complicados. A aguda crise da educação fez com que os professores fossem gradualmente perdendo seus salários e seu status social. Ser professor hoje é ser um pária; vivemos uma situação quase pior do que a do pedagogo grego, que não passava de um escravo. O professor hoje quer e precisa, portanto, assegurar o mínimo que lhe resta de dignidade, e acontece que o que sobra de tal dignidade é o fato de ele ser, pretensamente, aquele que sabe. Faço questão de frisar o pretensamente, dado que todos sabemos qual é o nível da formação acadêmica de muitos dos que, por uma razão ou por outra, pretendem ser professores.
É por isso que dificilmente se aceita discutir, nas salas de professores, a questão da repetência e da evasão. Parece que estão querendo, uma vez mais, jogar a culpa do fracasso sobre nós, tirando-nos o último traço de dignidade que nos resta. Só que, para que sejamos realmente dignos, devemos assumir, sim, a nossa parcela nessa culpa. E temo que ela não seja pequena...
A educação tem sempre se valido dos mecanismos de controle. Se existe uma função manifesta do ensino - a formação/informação do aluno, abrir-lhe acesso ao mundo da cultura sistematizada e formal - há também funções latentes, como a ideológica - a inserção do aluno no mundo da produção, adaptando-se ao seu lugar na máquina. A educação assume, desta maneira, sua atividade de controle social. E tal controle acontece nas ações mais insuspeitas.
Foucault denunciou os mecanismos mais explícitos da escola, quando traçou em Vigiar e Punir os paralelos desta instituição social com a prisão. Mostrou que a estrutura física e arquitetônica da escola está voltada, assim como na prisão, para a vigilância/controle de seus alunos/prisioneiros. São muitos os olhos que sentimos sobre nós, o que introjeta o controle e faz com que nós próprios nos vigiemos. Mas o filósofo francês também apontou outros mecanismos da escola muito menos explícitos, como a disciplinarização. Há dúzias de argumentos pedagógicos para explicar a razão de o conhecimento estar dividido em disciplinas: facilita o acesso/compreensão do aluno etc. etc. Mas, por detrás disso, paira o controle: compartimentalizando, fragmentando, é muito mais fácil de controlar o acesso, o domínio que os alunos terão e também de controlar o que eles sabem. Lembremos do sábio conselho do general romano: "dividir para governar".
Outro aspecto deste termo ambíguo não por acaso, a disciplinarização, diz respeito mais diretamente à questão do poder. A escola é o lugar da disciplina, de seu aprendizado e de seu exercício. Não vai longe o tempo em que os alunos faziam, nos pátios das escolas públicas, antes de entrar em aula, exercícios de ordem unida, como recrutas num quartel, e acredito que em alguns lugares isso ainda seja prática comum. A disposição de carteiras numa sala de aula, por outro lado, visa também à disciplinarização dos alunos e uma melhor possibilidade de controle por parte do professor, que domina geopoliticamente a classe, percebendo seu mapa geográfico e podendo armar uma estratégia/tática de aula. Mesmo no caso das pedagogias novas, que rompem com o tradicional enfileiramento das carteiras, permanece uma forma implícita de o general dispor seu exército no campo de batalha da sala de aula. Em outras palavras, a sala nunca é um caos, com os alunos ocupando o espaço desordenadamente, mas há sempre uma ordem implícita que, se visa a possibilitar a ação pedagógica, traz também consigo a marca do exercício do poder, que deve ser sofrido e introjetado pelos alunos.
Um terceiro e último aspecto é o que nos interessa mais de perto. Para disciplinarizar e controlar a escola faz uso do mecanismo da avaliação, também recoberto de mil argumentos didático-pedagógicos, mas outra marca indelével do poder e do controle. Ora, dirão alguns, como educar se não tivermos um feedback dos alunos, só possível através dos mais diversos mecanismos de avaliação, para reorganizarmos continuamente o processo pedagógico? E terão toda a razão. Mas, por outro lado, também não podemos deixar de reconhecer que a única forma que a burocracia escolar encontrou ao longo dos séculos para materializar os resultados de tais avaliações foi a sua quantificação em termos de notas e, modernamente, de conceitos que, no fundo, nada mudam, mas continuam classificando e quantificando. Se deixarmos de lado o caráter desprezível desta quantificação em nome de sua absoluta necessidade, não podemos negar que ela acaba servindo como instrumento de poder. O professor é aquele que tem o poder de dar a nota e, assim, aprovar ou reprovar o aluno.
Já no início deste século os pedagogos anarquistas rejeitavam a realização de provas, exames e a atribuição de notas aos alunos, denunciando o caráter eminentemente político e dominador desta empreitada. É exatamente esta questão que está por trás da resistência dos professores em aceitar abdicar de seu poder de avaliar. Avaliar é decidir. Decidir é dominar. Dominar é ter poder. Não temos um salário digno, perdemos nosso status e, o que nos resta e ao que nos agarramos com firmeza é o nosso poder de decidirmos sobre a vida dos alunos e, assim, dominá-los. Não importa se minha aula é chatíssima, se o conteúdo que "ensino" não é nem um pouco significativo. Como vou dar uma nota ao aluno, aprovando-o ou reprovando-o, ele é obrigado a assistir a aula. Como se assistir a toda e qualquer aula fosse o critério absoluto para uma educação de qualidade...
Reafirmo que a questão é polêmica. Num artigo pequeno e brilhante, Gilles Deleuze afirma que estamos transitando das sociedades disciplinares analisadas por Foucault - que deram origem à prisão e à escola como conhecemos hoje - para as sociedades de controle, que certamente engendrarão novas instituições, assim como provocarão agudas transformações nas que conhecemos. Demonstra o filósofo que a característica básica destas sociedade é dar a ilusão de uma maior autonomia mas, mesmo por isso, serem muito mais totalitárias que as anteriores. Por exemplo, hoje não preciso ir à agência bancária, pois controlo minha conta por telefone, fax ou microcomputador; pareço, por isso, ter uma autonomia muito maior. Porém, a facilidade do acesso informatizado permite aos governos que eu seja vigiado muito mais de perto, e o que é pior, na maioria das vezes sem nem ao menos suspeitar disso!
É claro que a escola não fica de fora nessa nova onda social. Nesse artigo publicado em 1990 Deleuze aponta rapidamente algumas transformações pelas quais ela deve passar:
"No regime das escolas: as formas de controle contínuo, avaliação contínua, e a ação da formação permanente sobre a escola, o abandono correspondente de qualquer pesquisa na Universidade, a introdução da ‘empresa’ em todos os níveis da escolaridade."
Notaram algo parecido com o discurso de Fernando Henrique citado no início? Não, não é mera coincidência. As reformas propostas pelos governos estadual e federal não são movidas apenas por um desejo e uma necessidade de uma educação de qualidade; ou, dito de outra maneira, o paradigma de qualidade assumido por eles é o da qualidade total, este totem do neo-liberalismo que insiste em instaurar uma nova ordem mundial, sob seu absoluto e transparente controle. É assim que se propõe a avaliação contínua, a formação permanente, a parceria com as empresas e estes mecanismos para melhorar a qualificação do operariado brasileiro, a diminuição dos índices de reprovação e evasão escolar. É preciso que se mostre ao mundo que o Brasil é um país capacitado, apto a andar de mãos dadas com a modernidade! Mesmo que a modernidade signifique mais controle, e uma subserviência ainda maior...
Sim, este discurso precisa ser denunciado e criticado. Mas simplesmente não podemos fazê-lo com as armas velhas! Não podemos apontar uma adaga para combater um míssil com ogiva nuclear! Se quisermos fazer uma oposição séria e conseqüente ao discurso oficial, continuando na luta por um sistema de ensino sério, competente e verdadeiramente de qualidade, devemos buscar uma nova tática, que implica em que assumamos nossos erros.
Devemos começar por abdicar ao discurso do poder. Não podemos defender a rigidez do sistema de notas/avaliação que culmina na reprovação, pois subjaz a ele nosso sádico desejo de poder despótico, que é o mesmo que move as ações oficiais. Se a tônica do momento é a avaliação contínua, o acompanhamento do aluno sem sua reprovação por entre as séries, podemos fazer dessa ação pedagógica uma ação verdadeiramente educativa, contribuindo de fato para com a formação dos seres humanos que encontram-se quotidianamente conosco em nossas salas de aula.
Negar o passado não é a melhor forma de encarar o futuro, mas agarrar-se a ele tampouco possibilita um presente satisfatório. As maiores batalhas foram vencidas pelos exércitos que souberam aproveitar-se das armas do inimigo, voltando-as contra ele próprio. Penso que essa deva ser nosso caminho. Assumindo com humildade nossos erros históricos e a disposição de superá-los, podermos construir, de fato, a escola que queremos.
Sílvio Gallo


Viva a Anarquia!!
http://insurgentes.vila.bol.com.br/passos.htm#pontos
buscado em: cooperação.sem.mando

flecheira.libertária.260


a internacional dos trabalhadores 
Em 1864 foi fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), sob forte influência do mutualismo de Proudhon, em especial das ideias expressas em seu livro Da capacidade política da classe operária. Criadas as sessões que a compunham, as tensões e disputas se prolongaram nos congressos de Londres (1865), Genebra (1866) e Lausanne (1867) entre o centralismo marxista, o nacionalismo blanquista e o antiestatismo federalista e mutualista dos proudhonianos, majoritários nas sessões francesa, italiana, espanhola, belga e estadunidense. Essas tensões marcaram a reviravolta no congresso de Bruxelas (1868) e confirmaram a polarização entre Marx e Bakunin no Congresso da Basiléia (1869). O ano de 1870 acirrou os ódios e violências, inclusive nacionais, em torno da guerra franco-prussiana, bem recebida pelos centralistas e autoritários, pelo “serviço” político de centralização prestado por Bismarck, segundo a leitura de Marx e Engels, e pelo efeito de unidade nacional francesa, segundo a leitura dos blanquistas. O resultado foi o total abandono dos communards pelo movimento operário internacional, perdido em  suas disputas intestinas e cegas, diante do acontecimento, a Comuna de Paris, em 1871. Após o massacre dos  communards, comandado por Thiers e com apoio do exército de Bismarck, em 1872, uma manobra de Marx no Congresso de Haia, excluiu a ala antiautoritária ao expulsar Bakunin e James Guillaume. 
st. imier 1872-2012: 140 anos de anarquia! 
A manobra, que tomou a forma de expulsão levada adiante por uma maioria fictícia em torno de Marx e Engels, se traduziu em uma debandada da sessão antiautoritária que, no mesmo ano, fundou a Internacional Antiautoritária em St. Imier, no Jura suíço. Em meio às perseguições, prisões e assassinatos, a Internacional Antiautoritária se manteve atuante e dela procedem os sindicalistas revolucionários, os anarcosindicalistas e os anarquistas que espalhariam o libertarismo e a ação direta pelo planeta. Lutas e combates levaram, mais adiante, à emergência do anarco-terrorismo. Hoje, um congresso comemora os 140 anos daquela reunião, lembrando que as questões e combates iniciados pelos guerreiros daquele tempo ainda se colocam no presente: contra a propriedade privada e estatal; contra o Estado e os governos; contra o dogmatismo e o doutrinarismo. O socialismo autoritário e o nacionalismo mostraram, durante o século XX, como se repõem ditaduras e representações. Anarquistas estão vivos e encontram-se em St. Imier, entre os dias 8 a 12 de agosto, para rememorar suas lutas e afirmar suas invenções no presente. Dão continuidade à cultura libertária em encontros e trocas generosas  de experimentações que nunca necessitaram de qualquer conjuntura, favorável ou não, para existir. Viva o Encontro Internacional Anarquista de St. Imier em 2012! Saúde! E viva a vida anarquista! 

hypomnemata 146 - nu-sol


Boletim eletrônico mensal do Nu-Sol
Núcleo de Sociabilidade Libertária
do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP
no. 146, julho de 2012.
R i o + 2 0 e m p a r a l e l a s:
s u s t e n t a b i l i d a d e
de p i l a r e s e c ú p u l a s
duplos complementares de futuro em pilares e cúpulas
Rio+20 foi o futuro da Rio-92 que foi o futuro de Estocolmo 72, momento em que o dispositivo meio-ambiente planetário entrou nos debates e resoluções de governos conectando capitalismo e democracia.
Rio+20 foi o novo redimensionamento do “nosso futuro comum”, título do relatório da ONU de 1987, que definiu que o futuro das gerações vindouras dependeria do desenvolvimento sustentável assentado no crescimento social e econômico que não esgotasse os recursos ambientais.

Dois grandes encontros compuseram o conjunto da Rio+20: a Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental, com os movimentos da sociedade civil, realizada no Aterro do Flamengo, e a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (UNCSD), com os representantes dos países membros e das organizações da sociedade civil cadastradas no sistema da ONU, as quais também contaram com espaço para mesas-redondas e palestras em eventos paralelos ligados à Conferência, realizados no Riocentro.
Os mais importantes documentos discutidos em 2012 mantiveram a referência ao futuro: O Futuro que queremos, “Um Futuro digno de escolha” (subtítulo do documento Planeta Resiliente, Povos Resilientes, elaborado pelo Painel de Alto Nivel sobre Sustentabilidade Global da ONU) e O Futuro que não queremos, manifesto-protesto das organizações presentes na Cúpula dos Povos.
Para os três documentos, o futuro resulta de escolhas, no caso, escolhas subsidiadas pelas discussões programadas pelo conjunto dos eventos da Rio+20.
São escolhas complementares em torno da resiliência, termo que também designa voltar atrás, em suas projeções e metas para a restauração do governo do vivo em suas variações contínuas, com o apoio político das verdades científicas e implantadas com a força da chamada “vontade política”, dos Estados e da sociedade civil organizada.
O relatório Povos Resilientes, Planeta Resiliente: um futuro digno de escolha foi uma contribuição para o debate da Conferência em que primeiramente se avaliou a situação presente como resultado de escolhas ao longo de 25 anos, tendo como marco temporal o relatório Nosso Futuro Comum (1987).
São então propostas 56 medidas concretas para “levarmos o paradigma de desenvolvimento sustentável das margens para o centro do debate econômico global.” Desse modo projeta-se um futuro pelo qual vale o esforço de “governos, mercados e pessoas;” em que se realiza “a visão da sustentabilidade global, produzindo tanto um povo resiliente quanto um planeta resiliente.”
Trata-se de modulações programáticas na construção da verdade resiliente para os povos e o planeta, para o desenvolvimento sustentável assentado nos pilares econômico, social e ambiental.
Exigem articulações de minorias redimensionadas em major groups, pacificações de confrontos mediados por stakeholders, como nova estratégia de fazer convergir a participação e reproduzir seletividades voltadas à gestão planetária de governos compartilhados, interessados na administração da miséria alheia e na sua mesma, na segurança da proteção da propriedade e na salvaguarda da existência do Estado.
Consolidou-se, desta forma, as conexões esperadas para a continuidade da programação do desenvolvimento sustentável.
O futuro que queremos foi o documento final aprovado pela Conferência da ONU que resultou de um consenso diplomático para apresentar um texto baseado em um “mínimo denominador comum”, sem que se ensejassem conflitos e discussões pontuais.
Os 283 parágrafos aparecem todos na 1ª pessoa do plural: reconhecemos, reafirmamos, resolvemos, decidimos, comprometemo-nos, apoiamos, convidamos, destacamos.
“Nós,” quem?
Chefes de Estado e representantes de alto escalão dos governos, com “plena participação da sociedade civil” nas negociações dos itens do documento por meio de organizações dos nove grupos majoritários, os major groups: mulheres, crianças e jovens, sindicalistas e trabalhadores, organizações não governamentais; industriais e empresários, agricultores, comunidade cientifica, povos indígenas, governantes locais.
A definição de nove grupos surgiu na ECO-92, devido à adesão de organizações da sociedade civil no Fórum Social Global, evento paralelo à Conferência oficial.
Hoje, muitas organizações desses segmentos são consultoras do Conselho Econômico Social (ECOSOC) da ONU e participaram dos encontros prévios da Rio+20 e de atividades ligadas à Conferência.
“Qual futuro?“
Nos termos do documento, um futuro sustentável para o planeta e para as gerações presentes e futuras, cujas condições para ser alcançado consistem na erradicação da pobreza e na constituição de um marco institucional eficaz e democrático.
O documento abre com essa “nossa visão comum”, prossegue reiterando declarações e decisões de conferências e encontros anteriores, afirmando duas proposições ainda inéditas: a necessidade de uma nova governança internacional para a sustentabilidade mediante um novo arranjo institucional do Sistema das Nações Unidas e a realização da economia verde como instrumento para o crescimento sustentável.
No entanto, a “plena participação” não garantiu a incorporação de propostas que não fossem consensuais no texto final, ou seja, valorizou o comum e deixou em aberto o caminho para que outras venham a ser incorporadas no andar da carruagem.
Por conseguinte, no decorrer da Rio+20, surgiu o manifesto “O futuro que não queremos. Sem nosso consentimento. Removam ‘com a plena participação da Sociedade’ presente no parágrafo 1 do texto oficial”.
“Nós", quem?
São “organizações da sociedade civil e movimentos sociais e de justiça que responderam aos apelos da Assembleia das Nações Unidas para participar da Rio+20”.
Elas exigem um futuro “moldado pela maioria”, uma maioria que soma 99% do mundo, segundo o manifesto.
E ainda de acordo com o documento, caberia às Nações Unidas e aos governos dos Estados membros “acordar urgentemente em ações de transição para o progresso sustentável e global.”
Acrescenta que predomina no texto oficial uma agenda imediatista, que implica escolha de um futuro pouco sustentável a longo prazo.
E enfatiza: “infelizmente o tempo está se esgotando. Um acordo apressado e ineficiente não será aceitável para nós, nem representará o futuro que todos queremos”.
Enfim, cumpriu o esperado: dar outros encaminhamentos possíveis e negociáveis no marco de uma institucionalização inquestionável à continuidade capitalista e democrática.
Na Cúpula dos Povos, as organizações sociais reuniram-se em diversos eventos, e lançaram uma Declaração Final: Em defesa dos bens comuns, contra mercantilização da vida.
O “futuro da humanidade” é citado como o alvo de uma “irresponsabilidade” por parte da conferência oficial, pois esta somente reiterou “os interesses das corporações e instituições financeiras”.
Por sua vez, a Cúpula dos Povos anunciou “um novo ciclo” nas lutas contra a injustiça, resultante das “convergências” construídas durante os acampamentos, as mobilizações, os debates.
Convergência para um “mínimo múltiplo comum”: de um lado, a identificação da causa estrutural da crise: o “capitalismo racista, machista e homofóbico” e de outro a certeza de que novos paradigmas emergem de alternativas em curso baseadas em “nossos povos, nossa história, nossos costumes, conhecimento”, em “uma economia cooperativa e solidária” que contrariam as corporações e o sistema financeiro.
O que urge no espaço presente, que jamais voltará, é o curso livre da vida.
É nele que habita o surpreendente, irredutível e inegociável.
Agora.
Incontrolável.
Indomável.
E nele não há cúpula que o recubra nem pilar que o sustente.
O resto é expressão de variações das condutas de governo, retraduzidas hoje em práticas resilientes em cada um e para o planeta.
duplo paralelo na democracia sem sustos
A Rio+20 foi considerada uma decepção por muitos dos ambientalistas e militantes que chegaram aos fóruns oficiais e paralelos do evento da ONU plenos de muitas expectativas.
Esperavam discursos mais propositivos dos governantes e menos circunlóquios de diplomatas; aguardavam mais do que as previsíveis cenas de concórdia, fingindo não saber que as conferências da ONU são burlescas encenações de negociações supostamente públicas, mas que são concluídas a portas fechadas, antes das fotos e dos brindes de champanhe, respondendo aos interesses diplomático-militares e do capitalismo transterritorial.
Ainda assim, tinham esperança de que fossem definidas metas mais ambiciosas de preservação ambiental, acompanhadas da ampliação e fortalecimento das normas e das organizações internacionais.
Mas ocorreu o esperado: no espaço de convenções do Riocentro, reservado para os encontros oficiais, foram muitos os discursos protocolares, as fotos, os sorrisos, o vaivém de gente engravatada, alguns encantados com o mise-en-scène, outros simplesmente cumprindo tabela.
E o documento publicado – já definido, como praxe, antes do primeiro estrangeiro aportar no Rio – foi uma sutil maquiada nos acordos já em vigor.
Dentre as demandas que não se concretizaram, esteve a que pleiteava a transformação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) numa agência internacional nos moldes da Organização Mundial do Comércio (OMC), com legislação e tribunal próprios aptos a monitorar e julgar os casos de degradação ambiental e de descumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados.
Entre governantes e diplomatas, essa proposta não mobilizou sequer discursos vazios.
Os países ricos não querem ser réus, os pobres também; os primeiros, por já terem devastado muito; os demais, por terem devastado e ainda pretenderemcrescer economicamente.
Ao invés disso, a solução articulada prometeu maiores fundos e peso político para os programas do próprio PNUMA sem que houvesse uma alteração do seu status institucional na estrutura da ONU.
Essa saída satisfez governantes, diplomatas, burocratas da ONU, ambientalistas profissionais e empresários responsáveis que a consideraram pragmática e, portanto, capaz de gerar frutos sem uma excessiva institucionalização que pudesse tornar lentas e ineficazes as ações de um super-PNUMA.
Assim, reunidos no Riocentro, os pragmáticos intergovernamentais ou da sociedade civil organizada (em ONGs e empresas) reconheceram a valorização do PNUMA como uma forma de avançar na regulamentação e controle multilaterais das questões ambientais mundiais sem engessar demais países e empresas que visam os fluxos mundiais de capital e consumo, de olho nos emergentes.
A Rio+20, no entanto, não foi só o Riocentro.
Do outro lado da cidade, na Cúpula dos Povos, fórum global das ONGs armado no Aterro do Flamengo, muitos dos mais entusiasmados defensores das causas ambientais protestavam contra o que engravatados coadunavam em Jacarepaguá.
Organizaram protestos e marchas nas ruas do centro da cidade para denunciar o acanhamento das decisões dos governos e reclamaram da falta de institucionalização, de leis e de instrumentos de controle e punição para as transgressões mundiais às normas ambientais.
Num pragmatismo à sua moda, argumentaram que de nada adiantaria a existência de tratados internacionais sem os instrumentos institucionais para sua execução.
E pelas tendas do Aterro, uma profusão de agrupamentos legitimava, à sua moda, a Rio+20, procurando confirmá-la como evento democrático e plural.
A distância entre o Aterro e Jacarepaguá e o suposto antagonismo entre os prudentes diplomatas e os mais radicais ambientalistas, fizeram deste trajeto o verdadeiro itinerário.
Se, de um lado, defendeu-se o comedimento, e de outro lado, o ativismo ambiental, ambos se alinharam na aceitação geral dos discursos da sustentabilidade e na necessidade de construir normas internacionais e fortalecer as instituições internacionais de modo a criar uma governança global ambiental.
O pragmatismo e a moderação – atravessados pela vontade de maiores controles e, no limite, na produção de instrumentos de controle e punição – estiveram presentes com cores mais ou menos brilhantes tanto num canto quanto noutro da cidade.
Riocentro e o centro do Rio formaram um duplo, complementando-se.
Se a Rio+20 pode ser analisada como mais uma celebração da verdade ambientalista e da sustentabilidade, que a todos mobiliza (sociedade civil, políticos, governos, empresas e organizações internacionais), a distinção do “passo marcado” lá e cá é embalada pelo chiado volátil e contornável de uma mesma frequência.
E como é próprio da diplomacia, cautela e protelação conjugam-se.
No entanto, há uma base comum na partilha do discurso de verdade sobre o meio ambiente planetário, que não prescinde de novas normas, instituições, controles, tribunais e punições.
O meio ambiente como sujeito de direito internacional, passível de proteção pela comunidade de Estados é uma verdade construída nas últimas décadas e que se reforçou com a Rio+20.
Esse caminho não descontentou nem a quem estava no Riocentro, nem os que flanaram pelo Aterro.
A vontade de norma e punição transitou entre engravatados e alternativos, festejando a diferença uniforme, o pluralismo, e o que se tem chamado de democracia.
Habitar o inegociável no presente, precário, provisório, diante de tanta vontade de segurança, é capaz de instaurar bem mais do que um susto.