terça-feira, 31 de agosto de 2010

Orquídea

As primeiras flores da mais recente orquídea que veio morar aqui em casa!
(Localização: Fundos)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

DIVULGAÇÃO: I ENCONTRO REDE DE OFICINANDOS Intervenções em saúde mental com o uso de Tecnologias da Informação e Comunicação

PROGRAMA DE EXTENSÃO REDE DE OFICINANDOS:
Coletivo de Rádio Potência Mental
Oficina de Imagens do CAPS Cais Mental Centro
Oficinando em Rede

Convidam para
I ENCONTRO REDE DE OFICINANDOS
Intervenções em saúde mental com o uso de Tecnologias da Informação e Comunicação
23 e 24 de setembro de 2010
LOCAL:Auditório da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação -FABICORua Ramiro Barcelos, 2705 -Bairro Santana Porto Alegre –RS

Quinta-feira(23/09) 14:30 –18:00: Oficinar: uma discussão sobre o fazer em oficinas. Convidada: Andréa Guerra (UFMG).
Quinta-feira(23/09) 18:30 –21:00: Mesa: TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) NA SAÚDE MENTAL: PESQUISA E INTERVENÇÃO. Convidados: Virgínia Kastrup(UFRJ), Eduardo Passos (UFF), Andréa Guerra (UFMG).

Sexta-feira(24/09) 9:00 –12:00: Oficina em ação: exercícios de cidadania, autoria e protagonismo.
Sexta-feira(24/09) 14:00 às 17:00: Convergindo mídias e redes no campo da Reforma Psiquiátrica. Convidados: Virgínia Kastrup(UFRJ) e Eduardo Passos (UFF).

COORDENAÇÃO: Profªs. Analicede Lima Palombini, CleciMaraschine Simone MoschenRickes.
INSCRIÇÕES: Envie ficha de inscrição preenchida (anexo) para rededeoficinandos@gmail.com

domingo, 29 de agosto de 2010

DIVULGAÇÃO: XI Simpósio Internacional IHU: O (des)governo biopolítico da vida humana

XI Simpósio Internacional IHU: O (des)governo biopolítico da vida humana, que pretende debater o biopoder e a biopolítica e seus impactos em diferentes dimensões, buscando encontrar possibilidades de subverter este poder, muitas vezes invisível, sobre a vida.
13 A 16 DE SETEMBRO DE 2010
Clique e informe-se:
(51) 3591 1122
Siga o perfil do no Twitter e concorra a ingressos para os simpósios: http://twitter.com/_ihu

Confira também o XII Simpósio Internacional IHU: A EXPERIÊNCIA MISSIONEIRA: TERRITÓRIO, CULTURA E IDENTIDADE - 25 a 28/10/2010

sábado, 28 de agosto de 2010

DIVULGAÇÃO: I Encontro “Ouvindo coisas: instituindo outras formas de estar juntos”

I Encontro “Ouvindo coisas: instituindo outras formas de estar juntos”
23 e 24 de Setembro de 2010, UFSM - Santa Maria
Ouvindo coisas: instituindo outras formas de estar juntos é o tema central escolhido para o evento promovido pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Imaginário Social – GEPEIS – da Universidade Federal de Santa Maria para o ano de 2010. No desejo de transmutar o formato clássico dos eventos na contemporaneidade, quer-se oferecer aos participantes experimentações sensíveis a partir do vivido, nas questões ligadas ao imaginário e a dimensão do coletivo nos diferentes espaços e formações sociais. Assim, pelo imaginário tornamos possível abordar sociedade, cultura, educação e saúde.
Partindo do pressuposto que o evento pode ser um dispositivo para se pensar o imaginário em diferentes dimensões do viver humano, estruturam-se dinâmicas ativas de trabalho em grupo, a fim de promover espaços de construção reflexiva, ativa e (auto)formativa aos participantes. São propostas para isso, rodas de discussões, socialização criativa das construções elaboradas nos eixos, além de problematizações instigadas por convidados.
Com isso, o evento irá possibilitar uma aproximação dos sentidos e representações dos atuais modos/modelos de (auto) formação, bem como, a construção de outros possíveis modos singulares de formação no espaço da universidade – instituindo outras formas de estar juntos.
Fonte: http://w3.ufsm.br/ouvindocoisas/

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Brevíssimo Conto

Mal dos olhos - Nunca leu nada nem ninguém. Só ficava olhando as letras, esperando que elas lhe dissessem alguma coisa. Ou algo. Elas nunca disseram. Já crescido, foi ao olhista que perguntou: “o que consegue ver aqui?”. Respondeu, com ar de sábio: “tudo embaralhado”. Voltou pra casa com as lentes por sobre o nariz. E as letras continuaram sem dizer nada, mas ele pode ver melhor o embaralhado delas.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

UMA CONVERSA

Dia desses, fui visitar o compadre Mário, um preto velho que conheci na infância, pra trocar um dedo de prosa com ele. Cheguei devagarzinho, pra não atrapalhar a sua sesteada na rede pendurada nas bergamoteiras. Puxei o banco de três pernas e sentei, olhando pra bem longe, no horizonte, pra ver se eu conseguia enxergar as mesmas coisas que ele vê quando mira lá no infinito o seu olho quase cego.
Enquanto meus olhos me levaram pra longe, chegou o seu Pedro, um benzedor que me benzia pra cobreiro (mijo de aranha). Seu Pedro é branco, miúdo e fala pouco.
Fui picando o fumo pra acordar o velho já com o palheiro aceso, mas antes busquei a cachaça que ele guarda na pipa de carvalho. Seu Pedro, que só bebe os elixires que ele próprio prepara com as ervas que busca no mato, foi aquecer a água na chaleira de ferro e preparar o chimarrão que é a outra bebida que usa.
Aqueles dois nunca se entenderam. Só se reúnem quando apareço para visitá-los. O primeiro que me vê passando com os caniços nas costas, vai para a casa do outro, pois sabe que naquele dia a visita será na outra casa. Enquanto um fala, o outro fica mudo. Cada um tem o seu próprio assunto comigo. Às vezes deixo para chegar na volta da pesca e enquanto fumamos, bebemos e conversamos, asso os peixes na grelha sobre o braseiro. Quando é inverno, o fogo é feito no galpão de chão batido e quando é calor, é feito no pátio, embaixo das árvores, pra ajudar a espantar os borrachudos.
Seu Pedro tentou me convencer que não deveria beber a cachaça e nem fumar o palheiro. Nisso o compadre Mario começou a falar como se estivesse acordado o tempo todo. Me falou: não dá ouvidos pro Pedro, Maria, porque foi ele que quase lhe matou com aquele xarope que lhe provocou aquela alergia que a levou em coma pro hospital. Seu Pedro ficou quieto e pensativo. E logo tascou: mas foi o meu chá que a salvou naquele dia em que ela se empanturrou com a rapadura de melado que você fez. Os dois ficaram um tempão se desaforando, até que comecei a rir deles e puxei outro assunto. O assunto era o que me levou a visitar os velhos pra conversar: as drogas e o álcool.
O seu Pedro começou a explicar quais eram as plantas e os alimentos que poderiam “fazer mal”. Lembrou das situações em que seus xaropes e elixires “fizeram mal” pra quem usou, porque nem todo mundo pode usar todas as coisas, pois cada organismo é de um jeito e reage do seu jeito quando se usa alguma coisa. Também falou muito sobre as plantas que são usadas como “drogas”, ou seja, que dão algum barato.
O compadre Mario emendou, dizendo que qualquer coisa que “faz mal” pro corpo ou pra cabeça, ou que for usado em exagero, vai produzir um estrago na pessoa.
E seguiu falando: o que falta pra essa gurizada que se empanturra de drogas ou de álcool, é aprender a olhar no longe, lá no horizonte, e enxergar a boniteza da vida. A boniteza da vida é uma coisa que eles não nascem sabendo ver. Alguém tem que mostrar pra eles. Alguém tem que mostrar também que podem usar e fazer as coisas que dão prazer, mas que não podem se empanturrar disso. Não podem exagerar. Eles tem que aprender até onde podem ir e o que lhes causa prazer.
Olhem pra nós aqui. Um dia a Maria aparece e nós fazemos as coisas que gostamos, que é conversar, comer, beber, fumar e, vez ou outra, também vem mais alguém que tem outros gostos. Noutros dias, aparecem outras pessoas ou vamos em outros lugares, e também fazemos coisas de que gostamos, mas sabemos que sempre que exagerarmos, o corpo vai reclamar. E se passarmos o tempo todo exagerando em tudo, nosso corpo vai agüentar pouco ou nem vai agüentar.
Drogas e álcool sempre existiram na humanidade e vão continuar existindo. Uns acham que tem que proibir e outros acham que tem que liberar. E enquanto uns ficam fazendo campanha de terror, pra tentar jogar no usuário a responsabilidade pelo uso das drogas, esquecem que muitas outras drogas que acabam com a vida das pessoas todos os dias. No meio disso tudo, esquecem de mostrar pra gurizada e pra todas as gentes, a vida e o prazer da vida.
Naquele dia eu não tinha ido pescar porque estava frio. Levei um pedaço de charque pra fazer um arroz de carreteiro e um pote de ambrosia pra sobremesa. Bebemos demais, fumamos demais, conversamos bastante e comemos demais... terminou que tivemos que beber o chá do Seu Pedro pra baixar aquele exagero todo.

O SABOR DA VIDA

Filhos saídos da minha própria barriga ainda não os tenho... talvez nunca os terei... talvez os tenha por adoção... mas quando falo de filhos, não é só disso que falo, porém, de tudo aquilo que depende de nossa ações para existir e viver!
Nós, pais de muitas crias, também apanhamos de nossos pais, que por sua vez apanharam de seus pais e, assim por diante, sucessivamente. Nós também fumamos. Nós também bebemos. Nós também sabemos que fazemos parte desse mundo cheio de drogas. Mas também fazemos parte de um mundo cheio de alegrias e de vida.
Aprendemos que seja a família que dá o rumo das vidas das gentes. Hoje já não é basicamente a família que dá esses rumos. Nossas crias aprendem de tudo, o tempo todo, com todos e com o mundo.
Do meu tempo de criança, lembro que banhava na pipa em que passava a serpentina que destilava a cachaça produzida no alambique de meu avô italiano. O meu avô alemão, não conheci, visto que morreu “cozido da cachaça”, antes do meu nascimento.
Enquanto uns fazem as cachaças e as drogas, outros as consomem (os que fazem também consomem)... há os que fazem, os que vendem e os que usam as cachaças (todas as bebidas alcoolicas), as cocaínas, as maconhas, as merlas, os cracks, etc, assim como se usa e consome todas as outras coisas. E, ainda, para que todo mundo fique sabendo das cachaças, de drogas e de outras coisas, há os que fazem a propaganda enganosa, e há os que vendem na televisão, no rádio, no jornal, na revista e em outros lugares, essa propaganda que nos leva a querer usar as cachaças e outras drogas, sem avaliarmos o que, como e quando pode nos dar prazer ou, também, prejudicar. Por exemplo: nos dizem que o álcool e o cigarro matam, mas também nos incentivam, em propagandas, a beber a cerveja que o Zeca Pagodinho, o Ronaldinho e outros bebem.
Do meu tempo de infância trago boas lembranças, mas também profundas e doloridas marcas. Trabalhei duramente desde os seis anos de idade, porque isso é uma prática comum no campo (como se as crianças do campo não tivessem o direito de só brincar e estudar). Minha mãe, que vem de uma família absolutamente pobre, teve que trabalhar em casas de outras famílias desde os seus sete anos. Ela só conheceu isso em sua infância e adolescência: o alcoolismo de seu pai, a luta incessante de sua mãe pela sobrevivência e a violência física e psicológica. E ela reproduziu isso!
Eu experimentei muitas cachaças, mas não me tornei dependente de nenhuma delas. Em outros tempos fui conhecedora delas. Sabia, num só gole, dizer a madeira da pipa em que a cachaça fora armazenada. Gostava de produzir licores... nem sempre os bebia... licores de pitanga, de butiá, de guabiroba, de uva, de jabuticaba, de cereja, de abacaxi, de menta, etc. Experimentei maconha, mas não fez minha cabeça... a maconha me deixa mais lerda do que já sou... nunca experimentei drogas mais potentes, pois meu corpo não agüenta muita coisa... às vezes fumo um cachimbo ou um palheiro preparado com fumo para cachimbo... outras drogas, nunca usei ou experimentei... mas conheço muitas pessoas que usam... e trabalho com pessoas e famílias que as usam! Hoje, a cachaça é, para mim, quase somente literatura.
Demorei em me tornar gente. Gente solidária, humana, generosa, séria, comprometida com as questões de todos e não só com as minhas. Há muitas coisas que ainda devo aprender. Há outras coisas que talvez nunca consiga aprender.
Quero dizer que nossas escolhas são atravessadas pelas coisas que vivenciamos em nossa relação com a família, com os que nos são mais caros e próximos, e com o mundo; mas podemos, cada um, escolher o rumo e os passos de nossa existência... falo essas coisas, também, para tentar dizer que podemos mostrar e ensinar aos nossos filhos, outros sabores que não o dos medicamentos, do individualismo, da ganância, do consumo, da exploração, do desrespeito, da prepotência, da enganação... para tentar dizer que podemos mostrar e ensinar aos nossos filhos o SABOR DA VIDA, acima de tudo! A vida como nosso bem maior... não só a nossa curta existência física... isso é muito pouco... penso na vida que temos agora, assim como, nas possibilidades de vida que garantimos para o planeta e para as próximas gerações... é esse o sabor que tento garantir para a minha vida e que quero para a vida dos meus filhos e dos filhos de todas as gentes... luto, sempre, para que possamos aprender a sentir e a experimentar muitos sabores para a vida... para que possamos mostrar isso aos nossos filhos e ajudá-los a ter um sabor especial na vida e que saibam colocar a vida acima de tudo!

domingo, 22 de agosto de 2010

Para Luciano Bedin!

Ouvi algumas palavras de Luciano Bedin e li alguns de seus escritos. Se o encontrasse na rua, apesar do grisalho cabelo, o tomaria por um gurizote. Mas como o encontrei antes nas tramas de suas palavras e de suas idéias, meu olhar o tomou desenhado em sua generosidade e sensibilidade que o fazem remar em água mansa e mergulhar em águas profundas, trazendo à superfície o som estridente da vida.
Nesta terça, dia 24.08, Luciano defende sua Tese de Doutorado, na Faculdade de Educação da UFRGS, Av.Paulo Gama, 110, no Campus da Reitoria, sala 703 (sétimo andar), no bater das 9h30min. Hora de alvoroço para quem preza a produção do conhecimento! 
E para ele, dedico as palavras de Manoel de Barros: “POÉTICA- Uma palavra há de ser poética/ desde que você a coloque em lugar/ imprevisto, desde que ela dê alarme,/ desde que ela quebre o muro da/ velha ordem. É preciso sempre/ escrever a primeira vez de uma/ frase. Se possível botar roupa/ rasgada nas idéias. Toda frase/ que se faz é preciso gozar nela./ E é preciso fazer o serviço com/ paciência para que o gozo dê/ frutos”, e ainda, suas próprias palavras, no fecho de um de seus escritos: "Biografamos lá onde não paramos nunca de estar".

sábado, 21 de agosto de 2010

Solidária

No ônibus, cedi o lugar à velhinha que queria viajar ao lado do seu velhinho. Pensei: já passaram a vida juntos, então que não esqueçam o instante desta viagem. Saltei para um lugar vago, que logo recebeu seu dono. Fui para o ex-lugar da velhinha, ao lado de uma mãe com seu menino. Ônibus cheio, quando vagou outro lugar, saltei novamente, para deixar o menino mais à vontade em seu sono brando. Logo depois, ouvi o som do vôtimo se espalhando e o cheiro se consolidando. A velhinha cedeu sua coca-cola gelada, para aplacar a ira do pequeno estômago. E o menino vomitado, junto com sua mãe também vomitada, tornaram a sentar ao meu lado. Ele dormiu tranquilo até o fim da viagem. Seu vômito ficou para trás, nas poltronas que nos olhavam queixosas.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Presenciando

Dia de feriado, quando o município faz anos. E eu aproveito para ler com o pensamento solto. Antes cortei o fumo devagarzinho, enrolei meu palheiro, preparei o chimarrão, sentei e entre uma baforada e um gole quente, presenciei a natureza acontecendo.
Presenciar é o termo certo... pra mim, presenciar, significa como que estar dentro da coisa que acontece... só assim podemos perceber seus acontecimentos.
A laranjeira, ainda ocupada com as crias que produziu no outono passado, já gesta seus novos frutos... o cheiro de laranjeira em flor é, para mim, como um bálsamo para qualquer inquietação... me faz me sentir prenhe de vida!
Olho de canto para o limoeiro e tenho que reconhecer que suas flores que se anunciam sejam mais bonitas, mas não produzem o mesmo efeito que as da laranjeira... até as abelhas pensam isso... quase todas estão nas flores da laranjeira!
O pessegueiro sobre minha cabeça é simplesmente poesia... os botões que se anunciam... as flores que já se abriram... as folhas que virão mais tarde... tudo muito compassado, como que pra não assustar os passantes!
Os pássaros, animados, ciscam a quirera, escolhendo não sei exatamente o quê, visto que haverão de comer toda a farelama.
E um dos beija-flores que habitam o território, chega apressado e bebe água doce até cansar... dá uma revoada e pousa no galho que balança sobre mim... fiquei imóvel, olhando de revesgueio e seu cocô veio quente em meus cabelos... pensei: deve ser uma bosta gostosa, essa feita só de beijo em flores e de água doce... e tomei a merdinha quente como um prenúncio bom!

DIVULGAÇÃO: I Encontro de Psicólogos Psicoterapeutas

18/08/2010 - Psicoterapia: I Encontro de Psicólogos Psicoterapeutas
O Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul promove nos dias 20 e 21 de agosto o I Encontro de Psicólogos Psicoterapeutas. O objetivo do evento é congregar os psicólogos que trabalham com a clínica para a discussão de estratégias de enfrentamento de conflitos e compartilhamento de experiências nesta prática, independente de abordagem e linha teórica.
A Comissão de Psicoterapia do CRPRS idealizou este Encontro a partir dos temas levantados nos fóruns do Ano da Psicoterapia em 2009, visando a fomentar a aproximação e o diálogo entre os profissionais da área. Temas como a realização de atendimento mediado por computador, a inclusão do serviço nos planos de saúde e a possível privatização de práticas serão debatidos nas mesas do evento. As inscrições deverão ser enviadas para o e-mail eventos@crprs.org.br com o nome e o número de inscrição.
Transporte e hospedagem – Psicólogos do interior terão à disposição transporte por van, com vagas limitadas, nas subsedes de Caxias do Sul e Pelotas. As inscrições para o transporte deverão ser enviadas com antecedência para os e-mails caxias@crprs.org.br ou pelotas@crprs.org.br. Os profissionais que desejarem se hospedar no hotel onde será sediado o evento terão direito a preço especial. As reservas deverão ser feitas diretamente com o Coral Tower pelo telefone (51) 3014.3550.
Confira abaixo a programação do evento:
20 de agosto – Sexta-feira
19h Conferência: Quem é o dono da Psicoterapia? Reflexões sobre a Complexidade, a Psicologia e a Interdisciplinaridade
Convidado: Maurício S. Neubern - Psicólogo, Doutor em Psicologia, Professor Adjunto do Departamento de Psicologia Clínica (PCL), do Instituto de Psicologia (IP), Universidade de Brasília (UnB). Psicoterapeuta, trabalha com hipnose e terapia ericksoniana, formador de terapeutas.
Coordenação da mesa: Clarice Moreira da Silva - Psicóloga, Psicanalista, Membro Efetivo da Sigmund Freud Associação Psicanalítica, Conselheira vice-presidente do CRPRS Gestão 2007/2010, Presidente da Comissão de Ética e da Comissão da Psicoterapia do CRPRS.
20h Debate
21h Encerramento e coquetel de confraternização
21 de agosto – Sábado
9h às 10h30 Conferência A sociedade mudou. E a psicoterapia?
Discutindo sobre: Psicoterapia pela Internet - Novas demandas sociais
Convidados: Rosa Maria Farah - Psicóloga, Psicoterapeuta, Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, Professora e supervisora clínica do curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da PUC-SP, coordena o Serviço de Informática da Clínica Escola da PUC-SP – Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática (NPPI) – http://www.pucsp.br/nppi – e o núcleo O Corpo na Psicologia, disciplina que integra – na formação de terapeutas – o Trabalho Corporal e a Psicologia Analítica de C. G. Jung.
Maurício Neubern - Psicólogo, Doutor em Psicologia, Professor Adjunto do Departamento de Psicologia Clínica (PCL), do Instituto de Psicologia (IP), Universidade de Brasília (UnB), Psicoterapeuta, trabalha com hipnose e terapia ericksoniana, formador de terapeutas.
Coordenação da mesa: Eduarda Coelho Torres - Psicóloga. Especialista em Psicossomática; integrante da equipe técnica do Departamento de Proteção Social Especial de Alta Complexidade da Secretaria do Desenvolvimento Social de NH; Membro da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática; Conselheira Secretária do CRPRS, integrante da Comissão da Psicoterapia.
10h30 às 11h Intervalo
11 às 12h Debate e registro da produção do grupo
12 às 13h30 Almoço
13h30 às 15h - Da babel terminológica a diálogos possíveis: o que é comum entre os psicólogos psicoterapeutas
Discutindo sobre: Privatização de práticas (Ato Médico)/ Regulamentação da psicoterapia/ Psicoterapia nos planos de saúde/ Psicoterapia nas Políticas Públicas
Convidados: Bárbara de Souza Conte - Psicóloga, Psicanalista, Doutora em Psicologia pela Universidade Autônoma de Madri (UAM), Membro Pleno e Presidente da Sigmund Freud Associação Psicanalítica, Conselheira do CRPRS gestão 2004/2007.
Clarice Moreira da Silva - Psicóloga, Psicanalista. Membro Efetivo da Sigmund Freud Associação Psicanalítica, Conselheira vice-presidente do CRPRS Gestão 2007/2010, Presidente da Comissão de Ética e da Comissão da Psicoterapia do CRPRS.
Simone da Silva Machado - Psicóloga, Doutora em Psicologia do Desenvolvimento pela UFRGS, Diretora do Núcleo de Estudos e Atendimentos em Psicoterapias Cognitivas (NEAPC), Membro Fundador da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC), Professora e supervisora clinica do Curso de Psicologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), integrante da Comissão de Psicoterapia do CRPRS.
Coordenação da mesa: Sandra Rute Silva Martins - Psicóloga. Psicoterapeuta com Formação em Terapia Reichiana, Especialização em Terapia de Casal e de Família, Especialização em Psicologia Social e Institucional.Integrante da Comissão da Psicoterapia.
15h às 16h Debate e registro da produção do grupo
16h Encerramento

Poetagens Alheias

O MURO - Manoel de Barros
Não possuia mais a pintura de outros tempos.
Era um muro ancião e tinha alma de gente.
Muito alto e firme, de uma mudez sombria.
Certas flores no chão subiam de suas bases
Procurando deitar raízes no seu corpo entregue ao tempo.
Nunca pude saber o que se escondia por detrás dele.
Dos meus amigos de infância, um dizia ter violado tal
segredo,
e nos contava de um enorme pomar misterioso.

Mas eu, eu sempre acreditei que o terreno que ficava atrás
do muro era um terreno abandonado!
(Em: MANOEL DE BARROS - poesia completa. Ed. LeYa. 2010, p. 40-1).

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Projeto Ítaca: Iconoclastas, avante!

Olá, gentes! Aí vai um escrito para partilharmos!
“História, materialismo, monismo, positivismo e todos os ‘ismos’ desse mundo são ferramentas velhas e enferrujadas que já não preciso ou com as quais eu não me preocupo mais. Meu princípio é a vida, meu fim é a morte. Gostaria de viver a minha vida intensamente para poder abraçar minha morte tragicamente.
Você está esperando pela revolução? A minha começou muito tempo atrás! Quando você estará preparado? (Meu Deus, que espera sem fim!) Não me importo em acompanhá-lo por um tempo. Mas quando você parar, eu prosseguirei em meu caminho insano e triunfal em direção à grande e sublime conquista do nada!
Qualquer sociedade que você construir terá seus limites. E para além dos limites de qualquer sociedade os desregrados e heróicos vagabundos vagarão, com seus pensamentos selvagens e virgens – aqueles que não podem viver sem constantemente planejar novas e terríveis rebeliões!
Quero estar entre eles!
E atrás de mim, como à minha frente, estarão aqueles dizendo a seus companheiros: ‘Voltem-se a si mesmos em vez de aos seus deuses e ídolos. Descubra o que existe em vocês; traga-o à luz; mostrem-se!’
Porque toda pessoa que, procurando por sua própria interioridade, descobre o que estava misteriosamente escondido dentro de si, é uma sombra eclipsando qualquer forma de sociedade que possa existir sob o sol!
Todas as sociedades tremem quando a desdenhosa aristocracia dos vagabundos, dos inacessíveis, dos únicos, dos que governam sobre o ideal, e dos conquistadores do nada, avança resolutamente.
Iconoclastas, avante!
‘O céu em pressentimento já torna-se escuro e silencioso!’”
(Renzo Novatore, Arcola, janeiro de 1920, apud: BEY, Hakim. TAZ – Zona Autônoma Temporária, p. 82-3, Conrad Editora, 2001)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Poetagens Alheias - De Constantino Kavafis

No sol poente do dia de amanhã, hei de partir para Ítaca... não sei se a viagem é de ida, simplesmente, ou de regresso... só tenho certeza de que seja uma Odisséia... Odisseu ou Penélope, ou mesmo a ilha... mal sei... sei do rumo!:
ÍTACA
Se partires um dia rumo à Ítaca
Faz votos de que o caminho seja longo
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem lestrigões, nem ciclopes,
nem o colérico Posidon te intimidem!
Eles no teu caminho jamais encontrarás
Se altivo for teu pensamento
Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito. tocar
Nem lestrigões, nem ciclopes
Nem o bravio Posidon hás de ver
Se tu mesmo não os levares dentro da alma
Se tua alma não os puser dentro de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
Nas quais com que prazer, com que alegria
Tu hás de entrar pela primeira vez um porto
Para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir.
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos
E perfumes sensuais de toda espécie
Quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrinas
Para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas, não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
E fundeares na ilha velho enfim.
Rico de quanto ganhaste no caminho
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu
Se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.
E, agora, sabes o que significam Ítacas.

Constantino Kabvafis (1863-1933)
Em: O Quarteto de Alexandria - trad. José Paulo Paz.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

DIVULGAÇÃO: Entrevista Frei Betto

Entrevista Frei Betto: "O Brasil se tornou o paraíso do capital especulativo" - 26/07/2010
Participaram: Gabriela Moncau, Hamilton Octavio de Souza, Lúcia Rodrigues e Tatiana Merlino.
Frade dominicano, jornalista, escritor, autor de 52 livros, Carlos Alberto Libânio Christo, mais conhecido como Frei Betto, foi militante contra a ditadura civil-militar, ajudou na fundação da CUT e do PT. Foi assessor da Presidência da República para assuntos sociais, onde coordenou o programa Fome Zero. Nesta entrevista, Betto fala sobre o período em que trabalhou como jornalista, a chegada do PT ao poder, os rumos da esquerda do país e sobre o governo Lula. Para ele, embora o governo atual seja “o melhor da história republicana do Brasil”, o PT e um grupo hegemônico que o comanda “trocaram um projeto de Brasil por um projeto de poder”. Entre as lições que aprendeu no período em que esteve no Planalto, uma delas é que “o governo é que nem feijão, só funciona na panela de pressão”.
Caros Amigos - Hamilton Octavio de Souza - Fale sobre você, onde nasceu, onde estudou, como começou a ter militância?
Frei Betto - Sou mineiro, e como diz o Drummond, a gente sai de Minas, mas Minas não sai da gente. Meu pai era advogado e terminou a sua vida profissional como juiz. Era homem de extrema direita e terminou de extrema esquerda. A única vez que saiu do Brasil foi para ir a Cuba. A minha mãe é uma especialista em culinária, tem oito livros de culinária, entre eles o “Fogão de Lenha, trezentos anos de cozinha mineira”. É considerada a maior especialista nesse tema no Brasil. Éramos oito irmãos; um já faleceu, o mais novo.
Hamilton Octavio de Souza - De que cidade de Minas?
Todos de Belo Horizonte. É um caso raro em uma cidade que tem pouco mais de 100 anos. Meus pais também nasceram em Belo Horizonte. Mais raro ainda: os dois e os oito filhos estudaram no mesmo grupo escolar Barão do Rio Branco, que há pouco fez 90 anos. Tive uma infância extremamente feliz, de moleque de rua, não havia a psicose televisiva. Brincava-se muito na rua, havia muita leitura, porque meu pai tinha duas manias: padaria e livraria. E ele comprava muito mais livros do que tinha tempo para ler, e não havia cômodo na casa para servir exclusivamente de biblioteca. Todos os cômodos, menos o banheiro e a cozinha por razões óbvias, tinham livros. Creio que minha vocação literária tenha a ver com isso. Meus pais escreviam, minha mãe na culinária e ele cronista dos principais jornais de Belo Horizonte durante mais de quarenta anos. Bem, depois, com treze anos, entrei na militância estudantil através da Juventude Estudantil Católica, a JEC.
Tatiana Merlino - Em que ano foi isso?
Em 1959. Na mesma época entrou o Henriquinho, que o Brasil conhece como Henfil. Nós dois éramos considerados muito crianças para pertencer à JEC. E esse desafio nos levou a nos firmar como militantes. Claro que o Henfil entrou por influência do Betinho, um dos fundadores da JEC de Belo Horizonte e depois foi para a Juventude Universitária Católica (JUC). E através da JEC é que eu comecei precocemente a ler muito filosofia, teologia e literatura. A primeira vez que eu enfrentei a repressão foi no dia 25 de agosto de 61, quando o Jânio Quadros renunciou à presidência. Depois, com 17 anos, fui indicado para a presidência da JEC. Então, me mudei para o Rio, onde fiquei de 62 a 64 numa república de estudantes, onde moravam doze rapazes e recebíamos mais uns 20 por mês que vinham de outros Estados para a UNE, ntre eles o Betinho e o Zé Serra. Nesses três anos eu percorri o Brasil todo duas vezes, articulando o movimento. Em 64 entrei na faculdade de jornalismo. Vocês vão morrer de inveja: meus professores eram o Tristão de Ataíde, Hermes Lima, Barbosa Lima Sobrinho, Danton Jobim.
Hamilton Octavio de Souza - Qual a faculdade?
Chamava Universidade do Brasil, depois acabou. Tinha grandes figuras da história do jornalismo brasileiro. Para contrabalançar, tinha o Hélio Viana, de extrema direita e cunhado do general Castelo Branco. Em junho de 64 eu estava na faculdade lá no Rio e fui preso pela primeira vez quando houve o arrastão da Ação Popular. Fiquei 15 dias preso, confundido com o Betinho, por conta dessa coisa de Beto, de JEC e JUC de Belo Horizonte. Eles estavam atrás do Betinho, que foi o grande fundador, a grande figura da Ação Popular, que depois conseguiu sair do país. Daí surgiu aquela dúvida: será que Deus quer que eu seja religioso? Crise vocacional forte. E convencido de que eu não tinha vocação, decidi entrar nos dominicanos em 65, porque não queria chegar aos 40 anos, olhar para trás e falar: “Ih! Acho que eu errei de caminho”... Mas eu queria tirar a limpo, ver no que vai dar. Entrei e isso já são quarenta e cinco anos.
Hamilton Octavio de Souza - Era um seminário?
Não, porque eu já tinha vinte anos. Os dominicanos no Brasil não têm seminário. Só aceitam quem terminou o ensino médio completo ou está na universidade. Que é melhor porque a pessoa é mais lúcida, essa ideia de seminário eu acho muito antipedagógico, é até desumano você colocar uma criança de 13, 14 anos no seminário. Eu acho que é por isso que tem tanto problema de pedofilia, de violência sexual. O cara vive naquela redoma patriarcal, machista e onde a sexualidade é sempre considerada pecado, enfim... Mas aí entrei nos dominicanos em Belo Horizonte. Em 66, eu vim para São Paulo para fazer filosofia, fiquei aqui de 66 a 69, aí aconteceram muitas coisas.
Hamilton Octavio de Souza - Você trabalhou na Folha, não é?
Trabalhei primeiro na revista Realidade. De lá, fui para a Folha da Tarde, que foi refundada com Jorge de Miranda Jordão. E lá fiz de tudo, desde geral até editoria de polícia. Cobri muito movimento estudantil e depois fui chefe de reportagem, e fui assistente do Zé Celso na montagem do Rei da Vela. Fui colega do Merlino, na Folha da Tarde. Além disso, eu estudava Filosofia de manhã e à noite fazia o curso de antropologia na Maria Antonia. Em 69 houve o AI-5, eu já estava bastante pressionado pela repressão. No início de 69, eu decido ir para o Rio Grande do Sul, porque o cerco estava se fechando, meu projeto era passar um tempo fora do Brasil, iria para a Alemanha estudar teologia. Fui para São Leopoldo, onde tinha um seminário de jesuítas, muito bom, e aí o Marighella me pediu para montar um esquema de fazer sair gente pela fronteira Sul com a Argentina e Uruguai. Um mês antes de eu ir para a Alemanha, os dominicanos, aqui em São Paulo são presos. Afinal, sou cercado no Rio Grande do Sul, consigo fugir uma semana, fui preso, caí numa cilada. Fiquei quatro anos preso, em São Paulo, só fiquei um mês preso em Porto Alegre, depois vim para cá. Foram dois anos como preso político e dois anos como preso comum, caso raro.
Hamilton Octavio de Souza - Foi na Tiradentes?
Foram oito prisões diferentes, a Tiradentes foi uma. Descrevo em detalhes num livro lançado no ano passado, que ficou quarenta anos guardado, chama Diário de Fernando, da Rocco. É um diário que foi do Fernando, um amigo meu, e a gente levou quarenta anos para publicar.
Lúcia Rodrigues - Por que levou todo esse tempo?
Primeiro, o Fernando não é jornalista nem historiador, mas teve o cuidado de anotar em papel celofane que saía dentro de canetas na visita. O frade levava uma caneta exatamente igual à que ele tinha e no meio da conversa trocava a caneta. Dentro vinha um celofane, depois se desmontava. Então, nos papéis, tinha coisas assim: “Paulinho foi para o Doi-Codi”. Ora, que Paulinho? Que data? Que aconteceu? O Fernando queria fazer o diário, mas não era do ramo, nem historiador e nem jornalista; depois de muitos nos ele falou: “Não Betto, você faz”. Aí teve toda uma pesquisa para decifrar cada papelzinho daquele, foi tudo computadorizado, teve até que ler com lente, porque ele mesmo às vezes não entendia, não lembrava a anotação. Nos últimos anos, de 2006 a 2009 me dediquei quase que exclusivamente a esse livro. Ele descreve os que a gente ficou como, primeiro, preso político, depois comum. Fomos condenados a quatro anos, e o recurso osso no Supremo Tribunal Federal foi julgado, e reduziram a nossa pena de quatro para dois anos quando nós completávamos os quatro anos. Eu brinco que a gente tem um crédito com a liberdade de dois anos.
Tatiana Merlino - O senhor pediu indenização para o Estado brasileiro?
Respeito muito quem pediu, mas nunca pedi. Primeiro porque não quero transformar uma questão política em uma questão financeira. Acho que não há dinheiro que pague o que sofri. Depois, porque embora tenha muita gente que eu respeite e por quem até lutei para que merecessem a indenização, acho que tem muita gente que foi com sede no pote de ouro, gente que recebeu indenizações milionárias e foi interrogado, esteve uma semana preso, enfim. Acho que virou uma certa farra esse negócio, então preferi não pedir. Em terceiro, porque eu não preciso do dinheiro do governo, eu consigo sobreviver do meu trabalho. Isso é dinheiro público, se fosse do bolso dos generais eu até aceitaria, iria reivindicar, mas não, e não quero usar em benefício pessoal.
Tatiana Merlino - Essa não foi uma maneira do Estado brasileiro reconhecer que essas pessoas foram realmente presas e torturadas?
Haveria outras maneiras. Por exemplo, o Estado até hoje não pediu perdão à nação pelo erro que ele cometeu. Essa é uma das dívidas, inclusive o governo Lula, que devia pedir perdão, em nome do Estado, assim como o papa pediu perdão à humanidade pela condenação de Galileu e agora de Copérnico.
Lúcia Rodrigues - Mas no governo Lula, nesse caso recente do STF e da OAB, mais uma vez manteve a impunidade aos torturadores.
Eu gostaria inclusive que abrissem os arquivos das Forças Armadas, continuo lutando por isso. Fiquei perplexo e horrorizado com a decisão do STF, porque não só é uma forma de absolvição legal de crimes hediondos, de lesa-humanidade, imprescritíveis, inclusive pela legislação dos tratados internacionais firmados pelo Brasil. Também é uma forma de abonar a tortura que continua nas delegacias praticada pelos policiais civis e militares Brasil afora. Enquanto eu viver lutarei para reverter essa situação. Tenho dedicado minha obra literária à memória desses anos de chumbo. São vários livros, o Cartas da Prisão, Batismo de Sangue, Dia de Anjo, Canto na Fogueira, que fiz com Frei Fernando e Frei Ivo, e agora o Diário de Fernando. Esqueci algum? Acho que não. As Catapuntas, que é o Cartas na Prisão, enfim. Assim como 60 anos depois a memória do sofrimento dos judeus por causa do nazismo continua viva, daqui a duzentos anos a memória do sofrimento das vítimas da ditadura militar também estará. Quer dizer, é um equívoco do STF, do governo, dos militares pensar que essa memória se apaga.
Hamilton Octavio de Souza - Quando você saiu da prisão, o que fez?
Saí no fim de 73.
Tatiana Merlino - Poderia falar sobre o período que ficou em São Paulo militando e trabalhando como jornalista?
Congresso da UNE é um bom exemplo. Quem conseguiu o local do Congresso foi o Frei Tito, lá em Ibiúna, um sítio, por isso que ele foi tão barbarizado na tortura a ponto de ser levado à morte. Eu conhecia o local e armei um esquema com o pessoal da ALN e com o Frei Tito de que qualquer sinal que a repressão tivesse notícia do local do Congresso, esse sinal viria através dos setoristas do jornal. Naquela época nós já tínhamos os setoristas no Dops, no exército e etc. Eu daria um aviso para que eles pudessem se safar. E, de fato, o setorista do Dops chegou na redação e disse: “tão falando lá no Dops que tem um pessoal que estaria reunido lá pelo lado de Ibiúna e tão querendo investigar e tal.” Aí eu chamei o repórter Rogério e disse: “Você vai agora avisar a direção que a polícia está indo para lá”. O Rogério foi, mas cometi um grande equívoco. Não me passou pela cabeça que o carro da Folha, com a sua logomarca na lataria, iria ser hostilizado pela segurança do Congresso. Resultado: o Zé Dirceu me disse depois que a notícia chegou à direção do Congresso, que eles podiam ter se safado, mas surgiu um problema de consciência: “e esses mil companheiros e companheiras que estão aqui?” Aí decidiram esperar, e deu no que deu, foram todos presos. Muitas vezes eu sabia de ações revolucionárias antecipadamente e armava o jornal para isso, por isso que a Folha da Tarde era quem melhor cobria a esquerda na época. Bem, voltando ao período da saída da prisão, no fim de 73, e com muita pressão da família, da Igreja e da repressão para ir para fora do Brasil, me veio uma questão de consciência: “quando vou voltar? Quero lutar no Brasil, não se muda um país estando fora dele”. Por outro lado, “esses caras já me fizeram ficar preso o dobro do que eu merecia segundo eles. Não vou embora não, vou ficar aqui”. Então decidi ir para Vitória, que naquela época era uma cidade politicamente mais calma. Fui morar na favela de Santa Maria. Comprei um barraco lá, que está tombado, física e emocionalmente tombado. Lá mora uma amiga, a quem eu “vendi” por 50 reais com o acerto de que o dia que ela sair de lá eu tenho que ser a primeira pessoa a quem ela vai oferecer o barraco.
Para ler a entrevista completa e outras matérias confira a edição de julho da revista Caros Amigos, nas bancas, ou compre a versão digital da Caros Amigos.

domingo, 8 de agosto de 2010

sábado, 7 de agosto de 2010

Deserto

No meio do caminho,
Numa en-cruz-ilhada qualquer,
ilhei-me numa cruz
para carregar seu peso.
Corri léguas na imensidão de
seu deserto.
Terra árida,
de tempo em tempo, me trazia
uma lufada de vento.
No meio do dia,
quando o sol a pino fazia ferver
a existência,
eu via e sentia miragens
que cobriam meu olhar.
No meio da noite,
eu via e sentia fantasmas
que descortinavam minha existência.
Um dia, num amanhecer preciso e reto,
acordei do pesadelo.
Vi, com exatidão.
Uma estrada deserta também nos leva a
outros caminhos e
a outros lugares.
Então larguei o peso de sua cruz e
andei.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

DIVULGAÇÃO - PINTURA: POIESIS DE SI E DE MUNDOS

INSTITUTO DE PSICOLOGIA SOCIAL PICHON-RIVIÈRE
Convida para o encontro
PINTURA: POIESIS DE SI E DE MUNDOS
Dia 9 de agosto das 19 h às 21 h
Será apresentada a dissertação de Mestrado em Psicologia Social e Institucional "Vida e obra em imagem-tempo" (abril / 2010). Na Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro a autora desenvolveu uma pesquisa cartográfica buscando as forças que são capazes de atravessar um corpo, o corpo de Luiz Guides. Procurou visibilizar a potência do tempo, de sua cisão, de outras temporalizações possíveis. A Oficina de Criatividade possibilitou a sustentação para a poiesis de si e de mundos. A pintura como um território existencial possível em meio à adversidade do Hospital Psiquiátrico. Pintura-dobra que nos faz ver a potência de um corpo.
A palestrante é Andresa Ribeiro Thomazoni, Psicóloga, Mestre em Psicologia Social e Institucional - UFRGS, integrante do grupo de pesquisa Corpo, Arte e Clínica nos Modos de Trabalhar e Subjetivar - UFRGS, integrante da Equipe do Acervo da Oficina de Criatividade do HPSP.
Inscrições gratuitas: 3331 7467 e mailto:contato@pichonpoa.com.br

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Cartografagens Alheias: de Francisca Rodriguez

"Nós - sementes e gente da terra - nos necessitamos mutuamente, nós nos criamos e nos alimentamos mutuamente, dando origem a diversas culturas, a diversas cosmovisões acompanhadas da lua e do sol, seguindo os ciclos da natureza, conversando com a chuva e as estrelas, fazendo carinhos nas águas e convivendo com as árvores. Somos as agricultoras do mundo, as guardiãs da terra e das sementes. Sem sementes não há agricultura, sem agricultura não há alimentação e sem alimentação não há povos".
Francisca Rodriguez

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Poetagens Alheias - De Thiago de Mello

FIO DE VIDA - Thiago de Mello
Já fiz mais do que podia
Nem sei como foi que fiz.
Muita vez nem quis a vida
a vida foi quem me quis.

Para me ter como servo?
Para acender um tição
na frágua da indiferença?
Para abrir um coração

no fosso da inteligência?
Não sei, nunca vou saber.
Sei que de tanto me ter,
acabei amando a vida.

Vida que anda por um fio,
diz quem sabe. Pode andar,
contanto (vida é milagre)
que bem cumprido o meu fio.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Poetagens Alheias - De Frei Betto

RECEITA PARA MATAR UM SEM-TERRA - Frei Betto
Tome um agricultor
Desplantado de sua terra,
Desfolhe-o de seus direitos,
Misture-o à poeira da estrada
E deixe-o secar ao sol.
Deposite-o, em seguida,
No fundo do descaso público.
Adicione a injúria da baderna.
Derrame o pote de horror ao pobre
Até obter a consistência do terror.
Acrescente uma dose de mau presságio
E salpique, com a mão do ágio,
Denunciosas fatias de pedágio.
Deixe repousar no silêncio
A ganância grileira,
As áreas devolutas,
A saga assassina
De quem semeia guerras
Para amealhar terras.
Ferva a mentira
No caldeirão oficial
Até adquirir densidade
Em rede nacional.
Sirva à repressão
Impunemente
Na bandeja do latifúndio.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Cartografagens Alheias: O Tempo

"O Tempo - Um pássaro pousa numa nuvem. O céu balança. As folhas das árvores olham surpresas o efeito que o repouso da ave provocou. Quase ninguém sente tal acontecimento. Os homens correm como se soubessem onde querem chegar. Quando o dia apaga suas luzes e ascende sua enorme escuridão os faróis dos carros parecem olhos de demônios. Faço uma prece. A reza é um sonho perverso e promíscuo de uma bruxa que implora pelo caos e na velocidade da loucura diz que a noite é outro dia, nada mais". Agosto, 1999 - Autor Conhecido

domingo, 1 de agosto de 2010

Cartografagens Alheias: Como fazer gente

"Como Fazer Gente - Num canto qualquer de um quarto vazio amontoam-se livros, cestos, tapeçarias diversas, tudo em tons suaves e nas mais diferentes formas e tramas. Juntos compõem uma biblioteca. Nas prateleiras livros antigos misturam-se a novos. Um rapaz auxilia na busca do informe, do indefinido. Uma coleção de livros com capa dura branca desataca-se dos demais. São livros que ensinam como fazer algo. Não são manuais nem receituários. São saberes. Apanho um livro que diz “como fazer cereal”. Na capa tem um quadrado composto por grãos de arroz e pedaços de macarrão tipo espaguete. São cereais industrializados que representam o produto adquirido a partir dos ensinamentos do livro. Mas me interessa um único livro. O livro que possa falar sobre “como fazer gente”. No entanto, o livro está faltando. Foi emprestado a outra pessoa. Desanimo. Era o livro que eu queria. Bastava abri-lo e então teria acesso àquilo que ninguém sabia. Dou às costas à biblioteca e no mesmo instante mergulho num lodo. O barro sobe agarrando-se as minhas pernas. Sob a água suja pedras soltas, falsas, instáveis. Basta que eu pise numa pedra “errada” para sufocar em meio ao barro pesado. Observo imobilizada. Olho meus pés calçados com sapatos de madeira e ando dentro do barro por trás de um ônibus que está dando ré. Dou volta e entro num trailer. É uma sala de aula, um lugar mágico e envolvente, cheio de gente. Todas as almas centram suas atenções em um homem. Um homem negro, sorridente e falante que conta suas experiências para um público envolvido e embriagado pelas histórias. Ele vai contando suas aventuras como se estivesse retirando-as com as mãos de lugar algum. Conta com as mãos. Seu corpo todo sincronizado no que diz e, assim, até o que não é dizível é possível ser visto no seu corpo/sorriso. Seu filho, sentado entre os ouvintes, confirma sorrindo as ilusões do pai".  - 26.07.99 - Autor Conhecido