sábado, 31 de dezembro de 2011

prenúncios para 2012!

2011 chega ao fim e me vejo tentada a falar umas coisinhas. sempre digo que não gosto dessa coisa de encerrar o ano e fechar pra balanço, principalmente porque essa coisa de terminar um ano e começar outro, seja apenas simbólico e ritualístico, pois independente disso e dos estertores de chronos, a vida segue nos movimentos que lhe são próprios!
e, além disso, essa lorota de fechar pra balanço me faz lembrar da tarefa que em minha infância me era delegada por meu pai (e também para minha irmã), de fazer a escrita do balanço das mercadorias do bolicho... passávamos dias-e-dias nessa árdua jornada de contar e registar tudo o que havia em estoque... restou que desgostei de fechar pra balanço.
mas o bom dessa história de findar ano, é que podemos resolver em nosso imaginário, essas coisas que só precisam de um empurrãozinho pra serem liquidadas... e, assim, como que usando um linimento, conseguimos deixar para trás, coisas que, de outra forma, carregaríamos feito pedra, durante anos! é como o que fazíamos no balanço do bolicho... o que já estava com a validade vencida, recebia baixa no estoque e ia pro saco!
assimassim, termino 2011 sintonizada com minha despedida de 2010, quando dava meus primeiros passos depois de um longo e tortuoso período de desterritorialização e reterritorialização em minha existência... lá, estava andando, porque amparada por coisas e pessoas muito especiais com quem tive a oportunidade de produzir encontros e encontramentos... e isso se deu porque minha vida estava se tornando fertilizada e muito aberta para esses acontecimentos!
2011 foi um ano muito bonito, de muitos outros encontramentos e abertura de novas estradas... já não precisei tanto do amparo afetuoso daqueles que me ajudaram a firmar meus passos depois das andanças pelas íngremes estradas em que andarilhava... foi um ano de agenciamentos, de acontecimentos, de experimentações, de desvencilhamentos, de decisões fundamentais, de rupturas radicais, de rizomáticas produções... foi um ano lindo!
e termino 2011 feliz como há muito não me sentia... 2011 foi um ano pra fincar pé na vida... foi um ano de fincar pé em minha vida e fazer a diferença na vida de outras pessoas... foi um ano de bordar o relevo nas dobras da existência de todas as pessoas com quem cruzei (de uma ou de outra forma!)... foi um ano de sair do cômodo lugar do meu banco de três pernas e me movimentar/ de produzir movimentos/de provocar acontecimentos... foi um ano de chutar canelas, mas também, de abraçar quereres... foi um ano de andar junto com quem gosta de andar... foi um ano de encontrar quem esteja aberto a encontrar... foi um ano para acontecer com quem esteja aberto a acontecer!
e, já nos últimos fulgores do ano, ainda pude desenhar o bonito acontecimento de um encontro com coisas e pessoas especiais... ainda não sabemos o que será desses encontros, mas já sabemos do que está sendo... inscrevo esses encontros na (des)ordem das coisas mais bonitas que já me aconteceram...bonitas, porque simples... bonitas, porque rizomáticas! bonitas, porque bonitas!
enfim, nada sei e nada projeto para 2012... mas sei que começa com o esboço claro das nascenças vindas das semeaduras de 2011... é um ano para acontecer... é um ano que entra vitalizado, potente e bonito! entra com minha mudança de idade e segue com a vida acontecendo, lindamente acontecendo!
e, para o traçado final, trago duas poetagens do manoel de barros, que dizem um pouco de mim e dos que comigo andam, e que foi lembrado pela amiga silvana, por conta de minha passagem de idade, neste um do um do 2012... veja-se:


Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.
E

A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.

Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Cantando à toa

Toa -eu já expliquei numa ocasião- é uma entidade que me escuta sempre que o ser que me habita se perde de si... então fico à toa, ando à toa, falo à toa, cantarolo à toa, rio à toa... entre tantos outros quetais... a crase explica a essência desse sentimento à toa... e nessa toada, seguro a mão dos que deambulam ao andar, firmando, com eles, também o meu deambular... nessa toada, borbulho em lágrimas e mostro o olho que chora... nessa toada, se preciso for, faço esgrima com canivete... nessa toada, vou indo, esperando o exato momento em que sei que verei brilhar o sorriso bonito de cada um que chorou, ou a poesia copiosa de cada um que outrora definhou, ou a alegria incontida de cada um que murchou, ou o grito estridente de cada um que calou... vou indo, nessa toada, produzindo a vida, plantando sementes que um dia hão de nascer! Vou indo! Vou indo nessa toada! Melhor: vamos indo nessa toada!
Tem dias que pareço um manual de auto-ajuda... tem dias que o sol me atravessa, esquenta as tripas e incendeia a merda... tem dias que algumas aparições me atravessam os olhos e fazem saltar sangue de minhas retinas... tem dias que ouço vozes que atravessam minha surdez e estouram o resto de tímpanos que tenho! Tem dias que é mesmo assim, sem calmaria, intensos ao contrário... intensos ao contrário do que gosto!
Mas há dias em que o sol me atravessa no amanhecer, atravessa minha existência e faz incendiar o poeta que me habita. Dia desses, por exemplo, acordei cantando à toa... me borbotava dos miolos uma canção cá dos nossos pagos... quando é tempo de tosquia já clareia o dia com outro sabor e as tesouras cortam, em um só compasso, enrijecendo o braço do esquilador... e por aí vai... saí pra rua com minha camisa estampada com a imagem de índios que viveram e morreram na luta por aquilo que compunha a vida e a existência de seus povos. É uma camisa oferenda. É uma camisa em homenagem aos índios, pretos e loucos que habitam meu existir!
Falo dessas coisas para lembrar que meu canto é um canto cheio de implicação... é um canto que só canta quem está implicado... não é, portanto, um canto qualquer!
Assimassim, trago o relato de uma colega que ouviu um comentário atrás da porta, em que uma pessoa (em cargo de gestão na prefeitura de nossa comunidade), falando com outra, dizia que nesse furdunço de manifestações dos trabalhadores públicos em relação ao assédio moral sofrido e às condições de trabalho então vigentes numa dada Secretaria de Governo, ela nunca teria acessado às postagens aqui no Blog e que, inclusive seria favorável ao bloqueio do acesso ao Blog, nos computadores da Prefeitura.
Ao mesmo tempo em que rimos muito disso, achamos de uma precariedade tamanha, que não deveria ser pronunciado por nenhum gestor público que tenha apreço pelo protagonismo, pela democracia, pela participação, pelo conhecimento, pela discussão e por outros quetais afeitos a essas searas! Reconhecemos, é claro, que há gestores que, além de acessarem ao material publicado e divulgado no Blog, também colaboram com sugestões de compartilhamento, reconhecendo e usufruindo da riqueza e da fecundidade deste espaço, assim como, as já faladas: democracia, protagonismo e participação, sem esquecermos das implicações éticas e políticas das pessoas que aqui estão, permanentemente compartilhando idéias, pensamentos, problematizações, discussões, elaborações, sistematizações e outros quetais! Digo isso tudo, sem alardes para o meu assado, porque nesse furdunço, não há um “meu assado”! Por questões formais sou eu que administro e reservo os direitos sobre o Blog, mas o seu fazer e o seu acontecer são coletivos, e de uma grandeza que todos que atravessam este espaço ou que são atravessados por ele, muito prezam! Aqui não é um espaço qualquer para que alguém cujos pensamentos mal conhecemos, possa se encher de gazes para arrotar nunca ter acessado.
É claro que, com isso, não estamos defendendo a ditadura de que todos possam ou tenham que encontrar por aqui coisas que lhes interesse... aqui é um campo de vieses teóricos, éticos, humanos, políticos, etc, muito precisos e  é claro que muita gente passa os olhos por aqui e não encontra nada que lhes desperte o interesse... é claro que muita gente nem acessa o espaço por ter a vista curta... é claro que muita gente não acessa o espaço por ter a vista longa... é claro que muita gente não acessa o espaço por não ter vista nenhuma... mas apesar disso, tem muita gente que acessa o espaço e que o compõe! Porque por aqui, estamos o tempo todo nos compondo, fazendo ritornelos, repercutindo (do latim repercutere: propagar o som) poesia, provocando vida, produzindo potências, ativando máquinas de guerra, inventando máquinas de vida!
Reconhecemos que seja próprio dos tiranos e alucinados por espaços de poder, tomar como molecagem ou afronta gratuita, toda e qualquer ação ou manifestação contrária ou problematizadora das instituições e dos instituídos... esses mesmos tiranos e alucinados que acham que o rei e as monarquias habitam os reinos fétidos de suas próprias buchadas e tripas... esquecem que o ato de uma simples cagada lhes joga rabo a fora, todo o reino que acreditavam habitar suas flácidas barrigas... esquecem que as vermífugas solitárias devoram o mundo de dentro de suas tripas, mas não lhes dão de comer... esquecem que o mundo é feito de gente de verdade... esquecem e passam seus dias a montar máquinas-de-ódio, fazendo o que há de pior com os trabalhadores públicos municipais e com a comunidade!
Talvez, se esses gestores que, com ênfase alardeiam não acessar ao Blog, pudessem se curvar por um instante e olhar para este espaço que é de produção coletiva do compartilhamento, da alegria, da vida, da musicalidade, da intensidade, da transversalidade, da inersetorialidade, do conhecimento, poderiam também se abrir ao pensamento da diferença, à problematização das coisas do mundo, das noções e práticas de poder, de ética, de estética, entre outros... poderiam se abrir e usufruir disso tudo que muita gente está usufruindo! Usufruir e se fazer gente, talvez!
Sempre digo que até não me importo tanto com esses que se crêem portadores de reinos em suas barrigas que só fazem em roubar o dinheiro público... mas me importo às pencas, com os que roubam a dignidade das gentes; com os que fazem retaliações; com os que fazem remoção de trabalhador público como quem arranja num canto, uma cadeira com a perna quebrada; com os que tratam os trabalhadores públicos como inimigos; com os que conseguem desvitalizar os trabalhadores e logo depois exigir-lhes todo o sangue pulsando em todos os lugares em que estiverem; com os que fazem tudo isso e muito mais e não percebem que isso é jogar a vida fora e junto o dinheiro público... esses são mais ladrões do que todos os outros, porque o dinheiro, de um jeito ou de outro se pode fazer de novo, mas a nossa energia, a nossa força, a nossa potência, o nosso contentamento, a nossa alegria, a nossa música que anima nossos passos em nossas andanças, isso não se faz de novo da noite para o dia! Não se faz não!
Dito isso tudo, quero sublinhar que nas postagens específicas que provocaram o lúcido comentário da já referida gestora, os trabalhadores seguem postando comentários vindos do período pós afastamento da antiga Gestora da Secretaria em questão, pois ao que colocam, a coisa vai de mal a pior! Portanto, para facilitar o acesso, linquei os escritos específicos ou relacionados à situação (é só clicar sobre o título ou tema lincado): das patas dos patifesescrito do vladia terceira margemo desacontecimento das coisaso rabo do pavãovolta ismáliapara ver se tem alma!a revolta dos cupins (sobre o não-súbito desaparecimento dos móveis antigos)aqui não é espaço pra isso! (sobre o controle social)para fazer morrerporque a poesia é nossa!uma roda de pretas!
Para dar um alinhavo, quero dizer que para pensar o contemporâneo, para pensar o mundo hoje, para pensar   a nossa atualidade é necessário ter um olhar oblíquo, é necessário ter um olhar esquizo, porque o mundo e as coisas do mundo se extraviaram em desterritorializações e reterritorializações... felizmente se extraviaram... o nomadismo (des)ordena o que ordenado estava... a normalização perde o vigor prostrada diante a força, o vitalismo e potência da diferença... e trazer, ainda, as palavras de Foucault, quando diz que "O trabalho de um intelectual não é moldar a vontade política dos outros; é, através das análises que faz nos campos que são seus, o de interrogar novamente as evidências e os postulados, sacudir os hábitos, as maneiras de fazer e de pensar, dissipar as familiaridades aceitas, retomar a avaliação das regras e das instituições e, a partir dessa nova problematização, participar da formação de uma vontade política"! Acho que por hoje é isso! Sigo cantando meu canto... toa é a nossa melhor companheira que nos (des)governa nas mais belas toadas!

flecheira.libertária.232

ocupação e palavras que circulam nos novos movimentos
A versão dos ocupados em São Paulo abandonou as ruas mais rápido que em outros lugares do planeta. Segundo seu site oficial, no momento, dedicam-se à  promoção de oficinas de “Táticas, Estratégias e Segurança”. Chamam isso de “Oficinas de Ação Direta”. Esses e outros encontros estão acontecendo em diversos locais da cidade como forma de reagrupar para uma nova ocupação anunciada. O curioso é notar que mais e mais o léxico dos ocupados se vale de palavras que pertencem às práticas históricas dos libertários sem se dizerem anarquistas ou contra o Estado, posicionando-se apenas como apartidários. Além do efeito espetacular o que mais essas ocupações que marcaram esse ano são capazes de mostrar? 
sobre a ação direta e ocupados

flecheira.libertária.231

maria upp
Desde as vésperas da instalação da UPP, inúmeras boutiques foram inauguradas nas vielas da Rocinha, a maior favela do Rio de Janeiro. O objetivo dos novos negócios, segundo uma ex-modelo loira e atual proprietária de loja de roupas descoladas, é levar ao morro um tipo de roupa encontrada nos shoppings da zona sul carioca. Visando atrair os moradores da Rocinha para o que chamou de “um outro tipo de ambiente”ela revela que além de proibir a execução de funks no interior de seu estabelecimento “joga essência para ter um cheirinho”. Orgulhosa do empreendimento, a ex-modelo loira, bronzeada pelo sol, e atual proprietária de loja de roupas descoladas assegura que “vai explodir de tanto ganhar dinheiro”. Sorridente ela diz que até recebe cantadas dos policiais da ocupação. Subir o morro  virou tendência no Rio de Janeiro. Quem celebra o sucesso da política de segurança carioca não é somente o Governo, a polícia e os moradores das comunidades. As  Marias UPPs também brindam a nova oportunidade de dar certo na vida.
o lucro do lixo

hypomnemata 139

 Boletim eletrônico mensal
 do Nu-Sol - Núcleo de Sociabilidade Libertária 

do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP
no. 139, novembro de 2011

a origem do mundo
2011, um artista dinamarquês é censurado no facebook sob a acusação de ter infringido normas de segurança prescritas pela rede social. A infração detectada pelofacebook foi a exposição na página do artista de um quadro pintado há exatos 145 anos, por Gustav Courbet, na França.
Intitulado A origem do mundo, a pintura expõe o corpo de uma mulher deitada com o sexo liberado da moral e de incomodas vestes. Em 1844, antes da origem — quadro que teve inúmeros proprietários, incluindo o psicanalista Jacques Lacan, que o deixou escondido em sua casa de campo sob as telas pintadas por seu cunhado —,Courbet já havia sido repreendido acerca do conteúdo de seus quadros pela administração do renomado Salão de Paris.
Em vez de ceder às exigências do Salão, o pintor intensificou sua produção e apresentou em outro espaço o que havia sido admoestado pelos especialistas franceses.
Para além de afirmar o sexo com liberdade, Courbet saboreou a anarquia. Em 1871, tomou parte dos acontecimentos da Comuna de Paris. No calor da batalhaescreveu que era preciso abolir os privilégios, as falsas distinções que estabelecem entre nós hierarquias perniciosas e ilusórias.
A censura a esse corajoso pintor libertário do século XIX explicita que o conservadorismo velhustro relacionado ao sexo sobrevive ainda hoje.  Entretanto, talpresunção cinzenta — definição inventada por D.H. Lawrence — é estimulada agora pelos cliques nas telas das ditas democráticas redes sociais.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Crianças africanas colhem o algodão da Victoria’s Secret


O pesadelo de Clarisse Kambire quase nunca muda. É de dia. Em um campo de algodão que explode em flores cor púrpura e branca, um homem se inclina sobre ela brandindo um pau sobre sua cabeça. Então retumba uma voz, que acorda a Clarisse do sonho e faz com que seu coração dê um pulo: “Levanta-te!” O homem que lhe ordena levantar-se é o mesmo que aparece no sonho da adolescente de 13 anos: Victorien Kamboule, o agricultor para o qual trabalha em um campo de algodão na África ocidental. Clarisse ajudou a cavar mais de 500 sulcos, munida apenas dos seus músculos e de uma enxada, que substituem o boi e o arado que o produtor não consegue comprar. Se ela for lenta,Kamboule a chicoteia com uma vara.

A reportagem é de Cam Simpson e está publicada no jornal espanhol El País, 17-12-2011. A tradução é do Cepat.

A arte de ouvir



Muitas palavras acabarão em jazigos digitais, mas o contador de estórias seguirá até que o último ser deixe de escutá-lo
Por Henning Mankell* | Tradução: Paulo Cezar de Mello
Cheguei à África com um objetivo: queria ver o mundo do lado de fora da perspectiva egocentrista europeia. Podia ter escolhido a Ásia ou a América do Sul. Acabei na África porque a passagem aérea para lá era mais barata.
Vim e fiquei. Durante quase 25 anos, vivi em Moçambique em períodos alternados. O tempo passou e eu não sou mais jovem. Na realidade, estou chegando à velhice. Mas a minha razão de levar essa existência escarranchada, com um pé na areia africana e outro na neve europeia— na melancólica região de Norrland, Suécia, onde cresci —, tem a ver com a vontade de ver com clareza, de compreender.
O modo mais simples de explicar o que aprendi com minha vida na África é recorrer à parábola sobre a razão de os seres humanos possuírem duas orelhas mas só uma língua. Por que isso? Provavelmente porque precisamos ouvir duas vezes mais do que falar.
Na África, ouvir é um princípio orientador.

''Eu sei que muitos pensam que sou louco, mas o humanismo está no fim''. Entrevista com Pier Paolo Pasolini


Uma entrevista inédita com o escritor italiano Pier Paolo Pasolini, gravada em Estocolmo, na Suécia, no dia 30 de outubro de 1975, pouco antes da sua morte. "Não há mais católicos e marxistas no meu país. Venceu a revolução consumista". O texto completo está publicado no novo número da revistaEspresso.

A reportagem é do jornal La Repubblica, 16-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

Não é hora de sair do Facebook



É preciso assumir nosso tempo em todos seus paradoxos, contradições e perplexidades. Ao capitalismo cognitivo, corresponde um movimento em enxame
Por Bruno Cava
Houve época em que a blogosfera era um território bárbaro. Na década de 90, começando com os BBS (Bulletin Board System), as newsletters (principalmente do UOL) e os chats do mIrc, tudo era novo. Vigia uma liberdade radical. As pessoas se encontravam e no caos debatiam, brigavam, se abraçavam e se amavam. O acesso, ainda limitado às subculturas geek e hacker, começava a ampliar-se para a classe média. Tempos em que as redes sociais participavam de um processo contracivilizatório — embora minúsculo, quase guetificado. Éramos felizes e não sabíamos.

As doenças que mais venderão em 2012


“Se há um remédio capaz de gerar lucros, deve haver consumidores”. O que as corporações querem que você compre agora

Por AlterNet | Tradução: Daniela Frabasile
Como a indústria farmacêutica conseguiu que um terço da população dos Estados Unidos tome antidepressivos, estatinas, e estimulantes? Vendendo doenças como depressão, colesterol alto e refluxo gastrointestinal. Marketing impulsionado pela oferta, também conhecido como “existe um medicamento – precisa-se de uma doença e de pacientes”. Não apenas povoa a sociedade de hipocondríacos viciados em remédios, mas desvia os laboratórios do que deveria ser seu pepel essencial: desenvolver remédios reais para problemas médicos reais.

''O direito de morrer não existe''. Entrevista com Gustavo Zagrebelsky



Com esta entrevista com o constitucionalista Gustavo Zagrebelsky e o artigo de Maurizio Mori (que receberá uma réplica de Marco Travaglio), continuamos o debate iniciado no dia 2 de dezembro depois da morte de Lucio Magri.

A reportagem é de Silvia Truzzi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 14-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O direito pode ser "uma corrupção do sentir comum ou um instrumento através do qual é possível perscrutar um horizonte mais profundo". Assim começa a conversa comGustavo Zagrebelsky, autor de um livro que, não por acaso, está intitulado Il diritto mite [O direito manso] (Ed. Einaudi, 1992). Falamos sobre a decisão de Lucio Magri (que morreu em uma clínica suíça onde o ajudaram a tirar sua própria vida) e, em geral, da escolha de morrer.

Com uma premissa: "O que estou para dizer é em perspectiva secular. Gostaria de usar argumentos não digo compartilháveis, mas pelo menos compreensíveis para qualquer um. Se partimos de uma perspectiva religiosa, excluem-se, a priori, todos aqueles que não a aceitam".

Eis a entrevista.

Boaventura: Esquerdas precisam superar indisponibilidade para reflexão


"A mobilização contra a escandalosa desigualdade social (semelhante à de 1848) é pacífica e tem um forte pendor moralista denunciador. Não mete medo ao sistema financeiro-democrático. Quem pode garantir que assim continue? A direita está preparada para a resposta repressiva a qualquer alteração que se torne ameaçadora. Quais são os planos das esquerdas? Vão voltar a dividir-se como no passado, umas tomando a posição da repressão e outras, a da luta contra a repressão?", escreve Boaventura de Sousa Santos, sociólogo, em artigo publicado no blog RS Urgente, 14-12-2011.
Segundo ele, "o movimento dos indignados e do occupy recusam a expropriação da democracia e optam por tomar decisões por consenso nas sua assembleias. São loucos ou são um sinal das exigências que vêm aí? As esquerdas já terão pensado que se não se sentirem confortáveis com formas de democracia de alta intensidade (no interior dos partidos e na república) esse será o sinal de que devem retirar-se ou refundar-se?"
Eis o artigo.

disposição subjetiva - deleuze

"Os escritores de maior beleza têm condições de percepção singulares que que lhes permitem extrair ou talhar perceptos estéticos como verdadeiras visões, mesmo às custas de regressarem com os olhos vermelhos. O oceano impregna de dentro as percepções de Melville, a ponto de o navio parecer irreal em contraste com o mar vazio e se impor à vista como 'miragem surgida das profundezas'. Mas bastará invocar a objetividade de um meio que torce as coisas e faz tremer ou cintilar a percepção? Não serão antes condições subjetivas que, sem dúvida, convocam tal ou qual meio objetivo favorável, nele se desdobram, podendo coincidir com ele, mas que conservam, não obstante, uma diferença irresistível, incompreensível? É em virtude de uma disposição subjetiva que Proust encontra seus perceptos numa corrente de ar que passa debaixo da porta e permanece fria diante das belezas que lhe assinalam. Melville possui um oceano íntimo desconhecido dos marinheiros, ainda que eles o pressintam: é nele que nada Moby Dick, e é ele que se projeta no oceano lá de fora, mas para transmutar-lhe a percepção e dele 'abstrair' uma Visão. Lawrence possui um deserto íntimo que o impele para os desertos da Arábia, entre os árabes, e que coincide em muitos pontos com as percepções e concepções destes, mas conserva a indomável diferença que as introduz numa Figura secreta inteiramente outra. Lawrence fala árabe, veste-se e vive como árabe, mesmo sob tortura grita em árabe, mas não imita os árabes, jamais abdica de sua diferença que ele já sente como uma traição. Sob seu traje de recém-casado, 'suspeita seda imaculada', não pára de trair a Esposa. Essa diferença de Lawrence não se deve apenas ao fato de continuar sendo inglês, a serviço da Inglaterra, pois ele trai tanto a Inglaterra quanto a Arábia, num sonho-pesadelo de tudo trair ao mesmo tempo. Mas tampouco se trata de sua diferença pessoal, tanto a empreitada de Lawrence é uma fria e projetada destruição do eu, levada até o fim. Cada mina que coloca explode também dentro dele, ele próprio é a bomba que ele faz estourar. Trata-se de uma disposição subjetiva infinitamente secreta, que não se confunde com um caráter nacional ou pessoal e que leva para longe de seu país, sob as ruínas do seu eu devastado" (em: A Honra e a Glória: T. E. Lawrence - Crítica e Clínica - Gilles Deleuze).

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

atravessamento


para uma-linda-onça-marruá
(agora, uma-linda-bruxa).

entrei naquela mata, pé por pé,
como que temendo e, ao mesmo tempo,
querendo o encontro com a onça.
com a temida onça.
(onça é um bicho que me pega pelas ventas das narinas.
onça é um bicho que me pega pelas pegadas.
onça é um bicho que me pega pela pele.
onça é um bicho feito gente, que me pega pelo cheiro,
sussurrando seus passos em meus surdos-ouvidos).

busquei refúgio na segurança de um forte cercado
que me protegesse de seu faro, de suas garras, de suas patas, de sua chegada.

andava lépida pela mata, protegida por meu seguro cercado.
senti suas pegadas me cercando, mas me fiz de árvore.
me fiz de ente.
me fiz de impermeável (dentro de meu cercado).

por um breve instante vi a onça feito gente.
por um breve instante, percebi sua presença
por um breve instante, senti sua presença.

e, olhando bem, era gente.
então, naquele exato momento, vi-lhe!
movimentei-me de lado, o tempo todo, tentando evitar o seu movimento.
enquanto me presentificava naquele instante,
enquanto ouvia,
enquanto conversava,
enquanto pensava,
enquanto me intensificava,
enquanto falava,
enquanto lia um breve texto,
percebia que a onça estava quieta,
mas não estava se defendendo. E nem atacando.
era apenas uma onça-gente-mulher.

sibilei todas as minhas palavras,
para ter certeza, naquele momento,
de que havia provocado um encontro,
um encontro-atravessamento.
um encontro-transversalizamento.

fiz uma forte curvatura para entrar-lhe.
fui tocando as palavras e os afetos com as mãos.
registrei em minha pacata memória,
o exato instante em que cruzei seu imaginário e
atravessei sua existência.
fiquei ali parada,
para voltar depois.

fugi. assumo. fugi.
protegi-me em meu cercado.
vi-lhe apenas como a onça,
atravessando meu-mundo,
meu-pequeno-mundo.

estava atravessada.
rizomaticamente atravessada.

depois disso tudo,
a vida seguiu.
seguiu por um curto espaço de tempo.
até que a onça voltou materializada em si.

voltou e tocou meu olhar com sua presença.
voltou e entoou sua voz em meu ouvido.
voltou e provocou minha pele com sua pele.
voltou e brandiu seu toque em minha existência.

rodopiei, voei, aterrissei, saltitei e olhei pra trás.
olhei e vi que você estava lá no horizonte,
parada, olhando meu deambular.
firmei as pernas e, num salto,
assustei-lhe.

vi-lhe apenas uma onça.
mostrou-se, ainda, marruá.
entretida em meu devaneio-fuga,
demorei a perceber que seria uma bruxa.

bruxa.
simplesmente, bruxa.

ouviu meus passos incertos.
leu minha cadência.
perscrutou meus pensamentos,
traduziu minhas andanças.
percebeu meus desatinos.
alcançou meus desvarios.
avisou de meu desabalo.

viu isso tudo e avisou pra andar devagar...
... é preciso muito tino pra sair dessa mata fechada!
(é de se olhar que ainda são as bruxas que sabem das coisas!)
mas se há de sair!

para manoel de barros!

hoje o poeta faz anos e eu, que tanto lhe evoco, não sei o que dizer!
enfim, o quê dizer para um poeta que cruza os 95?
e pra não dizer que não lhe rendi uma homenagem, fui lá no pantanal e provoquei uma onça-marruá, só pra poder poetar que nem ele... agora, que a onça tá provocada, mal sei usar as palavras... mas o poeta há de me ajudar... afinal, o tempo de suas poetagens tem muito mais do que o dobro da minha existência.
acho que essa é a melhor coisa que tenho dele... ser de vida ainda tão curta e encontrar nele quase tudo o que preciso pra (des)pensar as coisas!
é isso: com o poeta, aprendi a (des)pensar as coisas!
não há nada melhor do que isso!

sábado, 17 de dezembro de 2011

a guerra da cocaína


Droga rotulada por alguns como reflexo do neoliberalismo, cocaína tem papel central no proibicionismo vigente
Entre as décadas de 1920 e 1960 o consumo de cocaína era pequeno em escala mundial. Segundo o Federal Bureau of Narcotics, em 1939 havia mais usuários desta substância em Paris do que nos Estados Unidos. Na Inglaterra sua popularidade teria aumentado a partir dos anos 1950, quando era utilizada juntamente com heroína, mas o historiador Richard Davenport-Hines identifica o crescimento de sua utilização com o começo das restrições feitas às anfetaminas a partir do final dos 1960, proibições consolidadas internacionalmente em 1971.

Publicidade infantil invade a TV


A maior parte das propagandas diz respeito a produtos com baixos valores nutricionais, com grandes quantidades de açúcar, sódio ou refrigerantes. Além disso, a publicidade pode incentivar a erotização precoce
Por Clara RomanCarta Capital

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

eu vos digo

"Eu vos digo: é preciso ter ainda caos dentro de si, para poder dar à luz uma estrela dançarina. Eu vos digo: ainda há caos dentro de nós" (Nietzsche)

“Não se perguntará o que os princípios são, mas o que eles fazem” (Deleuze)

A judicialização como forma da governamentalidade contemporânea confiscar, controlar, capitalizar e gerir as forças intensivas do homem

aí vai a fala de luis fuganti, "A judicialização como forma da governamentalidade contemporânea confiscar, controlar, capitalizar e gerir as forças intensivas do homem", feita no PRIMEIRO COLÓQUIO INTERNACIONAL MICHEL FOUCAULT : A JUDICIALIZAÇÃO DA VIDA - Rio de Janeiro, UERJ, 5, 6 e 7 de outubro de 2011

A judicialização como forma da governamentalidade contemporânea confiscar, controlar, capitalizar e gerir as forças intensiv from Escola Nômade de Filosofia on Vimeo.
buscado em: http://vimeo.com/30399587

corpo sem órgãos - luiz fuganti

aí vai a fala CORPO SEM ORGÃOS, feita por Luiz Fuganti no Festival Contemporâneo de Dança 2011.

Palestra Corpo sem Orgaos from Escola Nômade de Filosofia on Vimeo.
buscado em: http://vimeo.com/31932592

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

porque a poesia é nossa!

essa vem do manoel de barros:

"Onde eu não estou, as palavras me acham"!

OLHA AÍ GENTE!

PORQUE A POESIA É NOSSA!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

flecheira.libertária.230


mercado de monitoramentos 
Essa semana, o WikiLeaks vazou o mapa da indústria  da inteligência no planeta que conecta empresas de tecnologia e governos na “espionagem” das populações. O chamado projeto Spy Files traz a relação de 160 empresas em 25 países que, após o 11 de setembro, transformaram o monitoramento em um setor lucrativo de produtos e serviços de grampos, escutas, identificação de voz e rastreamento de telefones, celulares, computadores, e-mails e redes sociais na Internet. Para o representante de uma empresa brasileira, o WikiLeaks se equivocou ao incluí-la na lista. A empresa alega que só trabalha com autorização da Justiça e não com “monitoramento de massa”. Tanto faz a autorização da Justiça quando o interesse é o de acoplar a vigilância dos espaços fechados aos monitoramentos a céu aberto.
identificação em fluxo 
Se antes as agências de informação de governos conseguiam grampear uma ou duas pessoas, hoje, com o monitoramento em larga escala, se controla em qualquer lugar do planeta. Empresas prestam serviços aos governos, democráticos ou autoritários, para identificar desde militantes, até “saqueadores” de lojas e o cidadão comum.  aplicativos de autogoverno  As sociedades de controle não funcionam apenas por monitoramentos imperceptíveis de empresas espiãs, mas também pelas pequenas “adesões” e “participações” mais simples, ínfimas e cotidianas. Com a proliferação de tablets e smartphones entramos na era de governos por aplicativos ou os app.Os dispositivos móveis, que podem ser levados a qualquer lugar, produzem controles cada vez mais “inteligentes” e “úteis” para o indivíduo eficiente. O “Sai desse Banho”, lançado pelo SWU, é um aplicativo para  iPhone que permite programar a duração do banho. Ultrapassado o tempo determinado toca uma música e game over. Para incentivar o uso “consciente” da água, o aplicativo calcula os litros economizados. A expansão dos app fortalece o autocontrole policial de cada um.
enredados 
Apresentada por alguns tecnólogos como rede pré-social, o Jyotish – sistema de comunicação criado por pesquisadores da Boeing para mapear os deslocamentos dos funcionários no interior dos edifícios e espaços da empresa – foi saudado por alguns devotos do facebook, twitter e similares, como o futuro das redes sociais. O Jyotish funciona pelo monitoramento num raio de cem metros das conexões de portadores de smartphones, distância suficiente, segundo um de seus criadores, para marcar exatamente a localização de usuários e das pessoas que eles encontrarem. O resultado de tal mapeamento é a formação de uma rede que previna ou  estimule com antecedência os lugares e instantes seguros para a realização de um evento. Não é de se espantar que uma tecnologia que irrompeu como modo de policiamento de funcionários seja, hoje, saudada com entusiasmo por certos jovens modorrentos que, conectados  fulltime às redes, sustentam novas tecnologias de controle sobre a vida. 
limpando a casa 
Hoje, em São Paulo, a prefeitura implementa um programa para devolver os  crackeiros às suas cidades natal. Segundo a prefeita em exercício, o retorno depende da vontade destes indivíduos e de suas famílias. A iniciativa existe ao lado de outros programas da prefeitura que buscam limpar a cidade de São Paulo. Em tempos de disseminação de valores sócio-ambientais, torna-se necessário um tratamento e destino aos resíduos abjetos das grandes cidades. São restos produzidos pela própria maneira de se conduzir a vida em uma sociedade liberal-capitalista. Os resíduos desta sociedade não cessam. A higienização também não. O  racismo se configura em novos valores morais. No limite todos nós sabemos o que se faz com o resto que não pode ser reaproveitado: queima-se.

flecheira.libertária.229


milicos no nilo...  
No Egito, a ditadura de Hosni Mubarak foi substituída por uma ditadura militar. Apenas para conduzir a transição, disseram os militares e subscreveram europeus e estadunidenses. Logo de cara, os militares adiaram para algum lugar em 2012 a promulgação de uma nova constituição e, mais para o futuro ainda, eleições presidenciais. Na semana retrasada, avisaram que na tal nova constituição, o papel de guardiães do Estado continuaria reservado a eles. Foi a senha para que a Praça Tahir, no Cairo, fosse reocupada por milhares de manifestantes gritando Militares fora já!
negócios e o que mais?
No ocidente, continua-se a saudar o ímpeto dos egípcios em lutar pela  democracia. Continua-se apostando que o Egito está no caminho para a democracia, entendida, claro, na sua versão liberal e ocidental. Isso se espera e para isso as articulações diplomático-militares-capitalistas entre ocidentais e árabes trabalham. Há muita grana em jogo e necessidade de controlar a geopolítica da região. Isso dá para perceber. Mas e o que se levanta na Praça Tahir? O que querem esses homens, a maioria jovens, gritando contra os militares?
cana 
Zona leste de São Paulo. Algumas crianças e jovens  aproveitam o dia nos parques da região, jogando bola, fumando  um, conversando, namorando... Sem mais, uma força-tarefa, formada por funcionários da prefeitura, policiais militares, guardas-civis e conselheiros tutelares, fecha as saídas dos parques, revista a todos e os colocam em fila,  com as mãos para trás, para serem fichados e enfiados em uma Kombi com destino às escolas públicas onde se supõe que deveriam estar. Para o coordenador do núcleo da infância e da juventude a ação foi ilegal, pois tais medidas só podem ser empregadas quando o adolescente comete ato infracional. Para estas crianças e jovens restam as punições em casa, na escola e o encaminhamento para os conselhos tutelares. A medida de exceção confirma-se cada vez mais como regra. Para os uniformizados é insuportável a leveza desobediente da vida.
acossando a moçada 
Proteção e vigilância são tecnologias que se combinam para o governo de crianças, incidindo sobre desvios, fugas e indisciplinas. Hoje, monitoramentos e participação ampliam e se diversificam a ponto de, entre jovens definidos como infratores, o governo ser uma atividade corriqueira entre os próprios governados que se policiam entre si. A flexibilizada e expandida vida polícia na sociedade de controle não prescinde, ainda, dos suplícios familiares e da perseguição policial institucional. Entre as crianças e jovens interceptadas pela força-tarefa, em São Paulo, por cabular aula, um menino de 9 anos, ao saber pelo policial que seria entregue a sua mãe, começou a tremer e chorar, antecipando a dor da surra que receberia.