sábado, 1 de outubro de 2011

flecheira.libertária.219



torturas de jovens que crescem como mato grosso
Complexo do Pomeri. Centro de internação para jovens infratores, situado no bairro miserável do Corumbé, em Cuiabá, Mato Grosso.  Complexo Pomeri, também intitulado de  Centro Educativo. No mês de agosto, mais uma comissão de avaliação do funcionamento de cárceres para jovens havia passado por lá e preenchido os quesitos de fiscalização, denúncias, apontamentos, recomendações, metas, reformas, projeções... Noticia-se que o complexo será desativado gradualmente. Um menino de quinze anos acuado é estuprado, regularmente, lá. Eis que um dia ele se volta para um dos jovens, internado como ele, violentado como ele, e vocifera: “Você é um estuprador”. Faz uma semana que aquele jovem acuado foi estrangulado e estocado, com um chuço, 48 vezes por outros jovens colegas de internação.
aos bem intencionados
Que informem a todos aqueles que consideram, sobre qualquer pretexto, a necessidade da continuidade da existência da prisão, ou aqueles que pretendem aprimorá-la para dentro ou para fora de seus muros. A tortura não é exceção. É a regra. A tortura é muito mais do que regra. É rotina inerente. É mais do que rotina. É a conduta eficaz e esperada na miséria infindável que a prisão produz. A prisão, seja ela qual for. A fétida ou a asséptica. O odor miserável é o mesmo. O mesmo odor pútredo, o da prisão e o de quem a quer.
máquinas inteligentes para a obediência
Para um executivo da empresa estadunidense Narrative Science, dentro de cinco anos um programa de computador levará o Prêmio Pulitzer. A empresa trabalha no aperfeiçoamento de um software que já é empregado para computadores escreverem notícias. Nos Estados Unidos, redes de jornais utilizam o software que coleta dados de estatísticas esportivas, relatórios financeiros e de vendas de empreendimentos imobiliários para transformá-los em artigos. Por meio da inteligência artificial, máquinas computadorizadas reproduzem a linguagem, que até então se acreditava ser uma faculdade exclusivamente humana. O investimento da sociedade de controle também envolve a construção de máquinas inteligentes. Não há controle sem informação. A notícia e os comunicados são palavras de ordem às quais todos devem se comportar acreditando nelas. Pouco importa se são produzidas por humanos ou robôs. O que interessa é expandir programas de obediência. 
inclusão vegetal
Um acordo entre uma empresa de reflorestamento e uma penitenciária paulista arregimenta algumas dezenas de presos, obviamente com bom comportamento, para cumprir jornada de oito horas nos cuidados com mudas destinadas à recuperação de áreas degradadas e compensação ambiental. Uma empresa decidiu dar oportunidades de inclusão social a um dos mais excluídos segmentos da população: os presidiários. Ao serem contratados serão chamados de reeducandos... Estão incluídos demais em suas caixinhas, indo de lá para cá, sem os próprios pés, tal qual os vegetais que cultivam. 
arregos
Na semana passada, os oficiais da PM que comandavam a Unidade da Polícia Pacificadora (UPP) de Santa Tereza, no centro do Rio, foram afastados após denúncia de que recebiam uma mesada de traficantes para que o negócio seguisse mesmo com a ocupação policial das favelas. Ora, qual novidade? Os arregos, ou acertos, entre polícias e traficantes são dos acordos mais frequentes e corriqueiros para que o mercado ilegal das drogas funcione, com lucratividades para ambos. Por que com a UPP seria diferente?
governos e negócios
Para muitos no Rio (governo, certos intelectuais, artistas, gente no asfalto e na favela) as UPPs são diferentes: a retomada das “comunidades”, a reconquista dos territórios – e outras imagens militares – viriam para “integrar” os “dois mundos”, levando o Estado onde antes reinava o tal “poder paralelo”. No entanto, o governo dos traficantes sobre as favelas nunca foi “paralelo” – mas sempre em simbiose com o Estado, com arregos e outros tratos –, e os novos governos que se procuram fixar sobre favelados não prescindem dos ilegalismos, como tampouco se faz no “asfalto”. As UPPs anunciam novos negócios, mais sofisticados, talvez, que as disputas a bala entre comandos, e que – pacificamente – dão continuidade a antigas e preparam o terreno para novas lucratividades.
o filósofo fardado
Se na antiguidade colocou-se o dilema entre o rei-filósofo  ou o filósofo-rei, ele está resolvido: já existe o filósofofardado. Animado pelo trabalho do sertanista Orlando Villas-Boas, um policial militar da zona norte de São Paulo, agora lança mão da experiência do Quarup, dos indígenas do Xingu, para incorporar o huka-huka à corporação. Diz o policial que essa é uma maneira de levar a diversidade no trabalho de policiamento e mostrar que “os imigrantes ilegais, moradores de rua, profissionais do sexo, crianças, adolescentes e idosos em situação de risco ou vulnerabilidade, são pessoas que devem ser incluídas pelo trabalho da PM”. E mais, segundo ele, a polícia não tem inimigos, mas pessoas fora da ordem que precisam de apaziguamento. Na polícia, o huka-huka deixa de ser luta e transforma-se em política pública de canalhas fardados!

Nenhum comentário:

Postar um comentário