flecheira.libertária.222

pensando alto sobre criação

Steve Jobs morreu. Tornou-se, de repente, uma espécie de Dalai Lama, com mensagens edificantes e “lições de vida”. Jobs pertence a mesma série cuja procedência estadunidense remonta a Thomas Edison, ou seja, o “grande inventor” é um “criador de soluções vendáveis”. Não se separa o discurso moral de criar “facilidades para a humanidade” da venda de necessidades para todos. É o mundo da criação e da recombinação: fica famoso (e rico) aquele que dá uso comercial para uma "criação". Foi o que fez Edison com a lâmpada ou o gramofone. Não seria esse o lance do Jobs? Estou pensando alto sobre isso. 

pensando rock’n’roll  

Steve Jobs encheu a cara de ácido e produziu muita  riqueza, entretenimento e redes. Criou o macintoshico. Morreu aos 56 anos. Albert Hoffman, inventor e consumidor contumaz de ácido viveu 104 anos. Tomar ácido como atitude anticapitalista propicia a longevidade. 

wall street 

Publicada na revista canadense Adbusters, a imagem de uma bailarina dançando sobre um touro – símbolo do maior centro financeiro dos Estados Unidos – era seguida da convocação, com hashtag, para o twitter “Ocupem Wall Street”. Centenas de jovens acamparam na Praça Zucotti, próximo ao prédio da bolsa de Nova Iorque. Duas semanas depois do acampamento erguido, 700 manifestantes foram detidos acusados de atrapalhar o trânsito na ponte do Brooklin. A ação policial, amplamente divulgada pelas mídias e redes sociais, arregimentou um número ainda maior de pessoas simpáticas ao ocuppy wall street. Artistas de Hollywood, cineastas militantes, rappers, entre outros engajados do showbusiness estadunidense prestaram seu apoio às reivindicações estampadas pelos cartazes erguidos por sorumbáticos indignados. A velha América mostra a durabilidade da mumificação democrática. 

um poeta 

Entre as principais reivindicações dos jovens acampados em Wall Street estão uma “outra” democracia, uma “outra” economia, a garantia de emprego, de um contrato seguro para o futuro, o julgamento dos responsáveis pelas crises de 2008 e a atual. O editor da revista Adbusters, contente com o sucesso da manifestação planeja, para breve, uma nova marcha que se estenderá do Brasil a Austrália. Segundo o relato de um dos  ocupados, um jovem desolado circulou durante cinco dias entre as barracas perguntando se ali ocorreria uma  assembléia de poetas. Conta-se que o jovem perambulou e foi embora desolado. Por certo, a multidão do ocuppy wall street não era a multidão de martelo, de violino ou de nuvem, que o poeta Federico Garcia Lorca escreveu em sua passagem por Nova Iorque, no início da década de 1930. Multidão que gritaria até que lhe rebentassem os miolos contra o muro, ante as cúpulas, louca de fogo.  

buscado em: http://www.nu-sol.org/flecheira/pdf/flecheira222.pdf