terça-feira, 31 de dezembro de 2013

de 2013 para 2014

a vida acontece e desacontece... e eu sigo não gostando de balanços pontuais... a vida não tem balanços pontuais... a vida está em permanente balanço... a vida, quando acontece, perde o contorno de exatidão das existências prontas e acabadas!
viver, para mim, é ter coragem de experimentar aquilo que nos desacomoda... é, um dia compor poesia com a alegria e, noutro, lidar com as tristezas que nos fazem (des)acontecer... é, ora rir, ora chorar, ou mesmo fazer tudo ao mesmo tempo... é saber se desfazer das velhas certezas e produzir novas (in)certezas... é cair, andar, tropeçar, rastejar, deitar um pouco, voar, levitar... é cansar, parar um pouco e seguir em frente, para os lados, para baixo, para cima e em muitas direções descardealizadas... é andar e desandar... é sorrir de canto e também gargalhar... é dar de ombros às efemeridades que sustentam vaidades... é inventar a paz e desinventar a guerra... é pisar um passo leve, pra não espantar as coisas poucas que nos alimentam... é compor silêncios... é fazer a coisa do seu jeito, sem seguir ou inventar receitas... vida tem disso... tem fissuras e sulcos, dobras e irregularidades, continuidades e descontinuidades... tem conexões que fazem fluir a existência e inventar movimentos... a vida é também outras coisas... talvez rir de bobagens e de não bobagens... puxar o facão para as ameaças que nos batem à porta... reconhecer quando vale e quando não vale a pena uma peleia... cantarolar no meio de protocolos... sorrir para a hipocrisia... pegar pela mão e ajudar a andar, a quem cambaleia das pernas e dos quereres... é pedir a mão quando cambaleamos...
enfim, 2013 trouxe-me muitas coisas... nada pequeno... nenhuma coisa pouca... desterritorializou-me por completo... trouxe-me empreitadas nunca dantes vividas, das quais tenho o maior orgulho... trouxe-me a desterritorialização de 2012 e exige-me que em 2014 eu re-cartografe a vida... trouxe-me os teares do cuidado de uma forma absolutamente ampliada... ensinou-me a cuidar e proteger com muito mais carinho e amorosidade... me fez outra, que não a que por tanto tempo conheci... ainda, neste instante, me faz outra!
hoje recolho as baterias, porque já faz um tempo que pedem recarga... porque em 2013, além de lidar com a vida, lidei também -e bastante- com a morte... com a morte provocada nos viveres alheios por gente hipócrita, pequena e rasa... por gente arrogante... por gente desvairada pelo alucinatório poder (efêmero poder)... por gente putrefata... mas, enquanto isso, também lidei com muita gente linda... gente feito gente... gente que inventa a vida a cada desacontecer... gente que se alegra com alegrias... gente que não se importa com efêmeros poderes... gente que produz bons encontros e boas intensidades... gente que luta e rala pra viver, e que não rouba os viveres dos outros... gente que faz poesia em cada dobra da existência... gente que desiste e gente que segue andando... gente que vacila... gente que não se assusta com fragilidades... gente que se encoraja, fica pelado de si e inventa um outro para viver...
assimassim, entro 2014 de idade e de energia nova... porque a vida me precisa... porque a poesia é nossa... porque a minha toada não é só minha... porque vida que reverbera não para de acontecer... e faço isso porque reverbera em mim, também a vida das pessoas lindas da minha vida, dos amigos lindos e de todas as pessoas lindas com quem transverso minha existência... nomais, nomais, que venham também aqueles que, daninhos, nos ajudam a nos tornarmos melhores e mais gente!
um abraço grande a todos aqueles que transversam a minha vida e em cujas existências também transverso meus versos... porque a vida segue... e a alegria é uma invenção permanente...