Surgistes em meio
às palavras rotas do apocalipse
(rotas e atuais).
Corcunda,
entrevada pela não-vida,
rastejavas.
Incólume à qualquer sinal de vida
que se aproximasse de teu opaco existir,
flutuavas em torno da órbita estéril
de tua própria loucura.
Adornada de morte,
dançavas a dança paralisada
dos não-quereres, dos não-desejos.
Rasa, putrefata, incolor, inodora, estéril,
transitavas entre-a-morte-e-o-fazer-morrer.
Recitavas poesias
que copiavas dos poetas
e colavas em tua lápide.
Carregavas flores e as distribuías.
Não sabias tu,
que as flores que portavas,
eram as mesmas que enfeitavam teu túmulo.
(Eram de plástico) as flores que nos entregavas.
Do mesmo plástico cravado em teu coração
necrosado por tua existência sem oxigênio.
Calamo-nos, em respeito às flores (de plástico)
Quando até elas, em tua mão, murcharam.
Então fomos ver que,
antes de serem plástico,
elas foram vivas.
Fugimos,
diante da revelação apocalíptica,
do que tuas mãos podem fazer
com os corpos e com as gentes,
visto que assim
também o fazes com as flores.
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