domingo, 11 de setembro de 2011

Volta, Ismália!

Oh, Ismália,
saias daí do fundo do mar,
pra onde Alphonsus te jogou,
amarrada à pena precisa da poesia.

Afundaste, Ismália,
para virdes a saber que não é mais dado
aos loucos e aos poetas, querer,
nem a lua do céu, nem a lua do mar.

Volte à superfície, Ismália,
e traga em teu alforje,
a lua do céu que fostes buscar no fundo do mar.
Traga-a, Ismália,
que é para saberdes da força da morte a que estás condenada.

Volte à superfície, Ismália,
pois Hércules te precisa e te chama.

Desavisado da incompletude de seus doze trabalhos,
chama-te para, ainda,
dares conta, por ele,
de uma décima terceira tarefa
(veja, que é uma tarefa diversa da grandeza das demais,
mas foi-lhe exigido que a cumprisse).

Volte Ismália, com tua lua,
para cumprir esta última tarefa a que, honrosamente,
Hércules te chama
(ele mesmo não conseguirá forças para cumpri-la!).

É uma tarefa de muita grandeza, mas simples.

Haverá de manter-te calada para todo o sempre.
É o silêncio que te exigem,
para que cumpras por todos os demais,
a condenação a não dizer mais uma palavra!

Calada deverá ficar.
Sem pensar, sem desejar, sem falar, sem pronunciar o humano.
E, para não te jogardes ao penhasco, segura a lua em teu alforje,
assim, quando teu silêncio for por demais insuportável,
abra um cantinho do fecho,
e busca a poesia guardada junto com tua lua.

Um lembrete, ainda, Ismália!
Tu não terás como escolher.
Se cumprires a tarefa, te será dado viver (mesmo que morta em vida).
Se não cumprirdes, restar-te-á a morte.
Vinde Ismália,
mas não esquece da lua que foste buscar.
_________________________
(da série oh, poesia con(m)texto)

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