quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

flecheira.libertária.232

ocupação e palavras que circulam nos novos movimentos
A versão dos ocupados em São Paulo abandonou as ruas mais rápido que em outros lugares do planeta. Segundo seu site oficial, no momento, dedicam-se à  promoção de oficinas de “Táticas, Estratégias e Segurança”. Chamam isso de “Oficinas de Ação Direta”. Esses e outros encontros estão acontecendo em diversos locais da cidade como forma de reagrupar para uma nova ocupação anunciada. O curioso é notar que mais e mais o léxico dos ocupados se vale de palavras que pertencem às práticas históricas dos libertários sem se dizerem anarquistas ou contra o Estado, posicionando-se apenas como apartidários. Além do efeito espetacular o que mais essas ocupações que marcaram esse ano são capazes de mostrar? 
sobre a ação direta e ocupados
A história das lutas anarquistas noticia que ação direta, violenta ou não, se antecipa à lei e ao fato revolucionário [ver  hypomnemata 124 em www.nu-sol.org]. Sua especificidade não está no uso da violência, mas na capacidade de abrir conversações e fazer soar a revolta diante do intolerável. Ainda que possa ser tomada como uma tática ou uma estratégia de ação, ela não se ocupa de segurança ou proposições. Os “indignados” e “ocupados” parecem querer renovar a política do liberalismo a partir de práticas que são próprias dos libertários, quando falam de ação direta e associada à segurança. A ação direta está ligada a anti-representação e  à autogestão como jeito de fazer que favoreça a expansão da liberdade, impossível vinculá-la à necessidade de segurança.  
hackers e legalidades 
Essa semana alguns sites publicaram uma carta em repúdio à lei antipirataria que tramita no congresso estadunidense. Trata-se do projeto SOPA (Stop Online Piracy Act – Lei para parar com a Pirataria Online) que, caso seja aprovado, prevê aos provedores além da suspensão de sites, sem a necessidade de ordem judicial, a criação de uma lista negra para bloquear IPs. A carta assinada por sites como Twitter, Ebay, Google e Wikipédia teme a aprovação do projeto que desconsidera, segundo eles, o ambiente regulador da internet. Esses sites, criados a partir de práticas hackers, intervém na discussão defendendo a flexibilidade da regulação dos fluxos de legalidades-ilegalidades computo-informacionais. Se hoje o Google e o Facebook são os maiores bancos dedados com informações pessoais, isso só foi possível por uma ação hacker. As discussões dos que se opõem ao SOPA não se opõem ao controle da internet, mas preocupam-se em como regulamentar a rede sem reduzir os fluxos de informação, comunicação e controle.
mulheres alheias a um ataque de nervos 
Uma pesquisa inédita no Brasil, realizada a partir  de dados do Censo, e recentemente divulgada pela mídia, conclui: mulheres casadas são mais valorizadas pelo mercado de trabalho no país. De acordo com as pesquisadoras do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper, antigo IBMEC), a explicação provável é que as mulheres casadas transmitem mais responsabilidade e estabilidade. A orientadora da pesquisa, PhD por uma Universidade estadunidense, e sua orientanda, mostram-se surpresas com o resultado uma vez que, no caso da América, o tempo livre das mulheres que não precisam se preocupar em preparar o jantar da família resulta em mais tempo para o trabalho e salários maiores. Surpresa ou não, a ampla divulgação da pesquisa em matérias de jornal ilustradas por mulheres bem humoradas e bem sucedidas exibindo suas alianças douradas serve para lembrar-nos do ranço machista que ganha outros contornos. Se as mulheres têm lugar agora não só em casa, mas também no mercado de trabalho, espera-se delas produtividade com layout de empreendedora delicada, como o que cai bem a uma senhora.  
inverno russo 
A nova esperança dos descontentes com o governo russo de Putin-Medvedev não participou dos comícios do último fim-de-semana contra o “Partido dos Embusteiros e Ladrões”. Navalny, o jovem que, por twitter, conseguiu arregimentar em várias cidades da Rússia  milhares de manifestantes em oposição ao governo, encontra-se preso em Moscou sob acusação de resistência a uma ordem policial. Enquanto um eufórico articulista o aponta como o único homem do país capaz de articular “pessoas antenadas e modernas e levá-las às ruas”, outro compara as movimentações ocorridas no inverno russo com as de Wall Street, visto que, tanto no leste da Europa quanto nos Estados Unidos, os jovens lançaram mão de ferramentas disponíveis nas redes sociais e prescindiram da organização das reivindicações em partidos. O que pouco se escreve, no caso russo, é que o mesmo Navalny, aclamado hoje por jovens e liberais, democratas e esquerdistas, há menos de cinco anos, comparava estrangeiros a baratas e defendia publicamente ações neonazistas. O desespero, ou melhor, a esperança fervorosa de alguns analistas e militantes de que irrompa algo de novo na política russa provoca mais falta de memoria do que um porre de vodka.  
para lembrar 
Nova lei para regulamentar o uso da força sobre crianças, para além e aquém de maus-tratos e lesão corporal, está conhecida como lei da palmada. Mais uma vez, a lei se apresenta como remoduladora de condutas. Não se trata de abolir o castigo, mas simplesmente discutir qual a tabela de cálculo de efeitos de agressões mais adequada a ser usada para enquadrar as dores suportadas fisicamente por uma criança. Especialistas babam citações a respeito do sofrimento, juristas sobre a dificuldade de quantificar a força da punição... Concluem, aos poucos, que cada caso é um caso. Os abolicionistas penais, há muito tempo, propõem o fim das internações a partir deste critério abordando uma situação-problema e possíveis respostas-percurso. O circo legalista apenas rouba a expressão de uma prática libertária para transformá-la em índice de castigo suportável.  

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