domingo, 11 de setembro de 2011

O rabo do pavão

Oh, pavão, pensas que não sabemos que esse teu imenso rabo seja falso?
(não sei se pavão tem rabo ou cauda, mas isso não importa,
pois também não sei se te fazes de ave ou se te fazes de gente).

Oh, pavão,
pensas que não sabemos que a maioria dessas tuas penas lindas
sejam falsas?
pensas que não sabemos que as rouba daqueles que abateste
somente para lhes furtar as penas mais lindas e
implantar em teu falso rabo?

Oh, pavão,
inflas teu peito e abra teu imenso rabo,
somente para impressionar todos os outros bichos,
corres pelos terreiros de perto e pelos de longe,
mas pensas que não sabemos que viveis à custa dos suados ovos das galinhas?

Oh, pavão,
necessitas tanto desse teu brilho falso,
que esqueces que as penas que arrancastes
daqueles que assassinastes covardemente,
hão de, elas próprias, rejeitar teu corpo.

Oh, pavão,
recolha-te e retira todas essas penas que não são tuas,
oferecendo-as em honra à dignidade dos mortos,
depois, assuma teu rabo tosco e tua falta de jeito com tua espécie.

Ah, pavão,
antes, ainda, de apagar a luz que mandaste ligar focada em teu rabo imenso,
entre no galinheiro e se desculpe com as galinhas
por teres desfeito da tarefa diária de por ovos,
por ter-lhes roubado os mesmos ovos de que desfazias!


Faça isso, pavão,
porque ainda haverás de pronunciar tua própria conduta,
diante dos tribunais dos humanos,
pois teu disfarce, grande demais,
deixou a descoberto o fato de serdes gente!
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(da série oh, poesia con(m)texto)

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