quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

flecheira.libertária.228


cena ubíqua 
Novembro, 2011, Mato Grosso do Sul. Um líder Guarani Kaiowá é surpreendido por homens encapuzados a bordo de caminhonetes. Foi baleado na cabeça e teve seu corpo arrastado para a caçamba de um dos veículos. Alguns índios conseguiram refugiar-se a tempo no mato ou atirando-se num barranco próximo. Há menos de uma década, em 2003, outro líder Guarani Kaiowá fora assassinado e torturado com uma dezena de homens e  mulheres pertencentes ao seu povo. Na ocasião, um jovem sobreviveu depois de ter o corpo todo incendiado. Não cessam as histórias de mortes de índios no Mato Grosso do Sul. Tais histórias terríveis evidenciam o modo ubíquo como certos índios são violentados no Brasil. 
para se tocar! 
Há mais de uma década os Guarani Kaiowá são sistematicamente assassinados por jagunços e capatazes de proprietários da região ou pela rivalidade da terra com povos vizinhos. Quando não perdem a vida desse modo são enviados para mofar nas prisões (o Mato Grosso do Sul é o líder em encarceramentos de índios no país). Vez ou outra a morte de um Guarani Kaiowá ganha nota no jornal. O que pouco se escreve, no entanto, é sobre a dizimação sistemática a qual são constantemente submetidos e a ladainha sobre os direitos humanos e os deveres do Estado com segurança. Será que ninguém se toca que essas ações contra indígenas são obras da segurança, legal ou ilegal, que o Estado dá aos proprietários?
boca banguela 
Com a invasão e ocupação da polícia, anuncia-se a valorização instantânea dos imóveis na favela da Rocinha. Além da boa localização, a proximidade dos eventos olímpicos deve agilizar a implantação de serviços ao seu redor. Com a presença da polícia a favela sobe em seu status social. Se a gente pobre sempre foi sinônimo de perigo, ainda que com  o nome de “vulneráveis”, explicita-se com a pacificação que a polícia está aí para servir e proteger os mais afortunados. Os sorrisos desdentados, cheios de esperança, devem se adaptar à nova realidade ou se tornarão, mais uma vez, os indesejáveis. A polícia serve para proteger e garantir a propriedade, e só.
podres 
Não é de hoje que o conservadorismo tem se fortalecido pelos  campi de certas universidades [ver flecheira libertária n. 185]. Contudo, cartazes estampados em pontos de ônibus da USP explicitaram durante essa semana o que há de mais ignóbil e asqueroso na política fascista. Um deles anuncia que se o embate dos estudantes para impedir a efetuação do convênio da universidade com a Polícia Militar avançar, a patrulha da chamada Cidade Universitária será realizada por grupos de skinheads. 
Outro apresenta a foto de Vladimir Herzog ― jornalista torturado e assassinado pela ditadura militar em 1975 ― com uma pútrida questão acerca das circunstâncias de sua morte. A exibição dos cartazes não deve ser admitida. É preciso arrancar  os cartazes das paredes, de qualquer canto, qualquer lugar. Mas não só. É vital também impedir que outros sejam produzidos e que se expanda a patrulha boazinha dos boçais e reacionários skinheads. Quem se cala diante de um desses reclames se cala ou finge não os ver colabora para a proliferação dessa podre, abjeta e ignara expressão.
breve nota de um presente insuportável: os assassinos da democracia 
Em Porto Velho, Rondônia, a universidade federal está em greve. Os estudantes e os professores grevistas sofrem sistemáticas ameaças de mortes e suas manifestações são reprimidas por policiais a paisana e capangas com ligações no governo estadual e federal. Um funcionário do ministério da educação declara aos professores, e a imprensa livre divulga, que a denúncia não surtirá efeito, porque esta universidade faz parte da base governista. Nesta mesma flecheira, anotamos os assassinatos sistemáticos de indígenas e a disposição de jovens fascistas em fazer o papel da polícia no campus da USP. A violência assassina de conservadores e democratas juramentados está se tornando incontrolável, seus mortos já ultrapassam, em muito, os reconhecidos pela atual Comissão da Verdade aprovada pelo governo federal. Até quando essas ações insuportáveis serão respondidas apenas com retórica? É preciso ir além do que o presente nos oferece. 
inteligência compartilhada  
Estímulos para fazer falar, produzir saberes e publicar inteligência não cessam na internet. Agora se somam às iniciativas de produção colaborativa de conhecimento o site estadunidense  Quora e o brasileiro Ledface. Diferentemente do modelo enciclopédico da Wikipédia, estes sites adotam a forma “pergunta e resposta”, como no  How Stuff Works ou como facilmente encontramos em listas de discussão. Enquanto o Quora é uma plataforma só para convidados, repleta de figuras do Vale do Silício, o Ledface prefere o anonimato para a produção de conhecimento. Segundo o fundador do site brasileiro, o ambiente anônimo deixa as pessoas bem dispostas ao relacionamento conectado. Nas sociedades de controle, os investimentos dirigem-se para a exploração da inteligência que não está mais em uma enciclopédia, em um especialista, em um nome. Estes são apenas partes de um novo jeito de produzir saberes que devem ser, antes de tudo, compartilhados.

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