de G. D. (Gigi Damiani)
(em: Contos Anarquistas, ed. martins fontes)
Pelo calvário da vida novos Cristos sobem a montanha, dominados por uma mística esperança, deixando partes de sua carne nos espinheiros que bloqueiam o caminho; morrem sob o peso da cruz.
MAs as piedosas virgens de Jerusalém não acorrem para derramar lágrimas por esses pioneiros da justiça, como o faziam para os rabis da Galileia, e quando, exaustos, caem sob a cruz, nenhum Cireneu se dá ao trabalho de ajudá-los.
O povo os olha silencioso, imbecilizado pela secular escravidão, sem chegar a compreendê-los. As pessoas cultas os chamam de maníacos, a multidão de mercenários acusa-os de malfeitores. E eles sorriem para os carrascos e a tortura, para os caluniadores e as acusações; sorriem e caminham, caminham...
"Para o nada!", gritam os novos doutores de Salamanca.
"Para o futuro", respondem os mártires da liberdade.
E caminham...
Eis que chegaram ao cume.
Esperam ver nascer o sol dos novos tempos; inútil esperança...
Sob o céu cinzento, se adensa a tempestade, o horizonte está escuro...
Olham ao seu redor... buscando...
Mas os poucos que se disseram seus companheiros, que na luta juraram segui-los, já estão longe, derrotados pelas torturas, mortos pelo sofrimento, dispersos pela tormenta... E agora?!
O carrasco, porém, está próximo: os fariseus exultantes de alegria estão lá perto... E agora?!
Agora o mártir se transforma em rebelde, desvencilha-se da cruz, levanta a cabeça e fixa orgulhoso os carrascos... e...
E investe sozinho contra todos.
***
Lá, onde esperaram encontrar conforto, descanso, foi elevado o patíbulo.
Assustados, os carrascos por um instante temeram que a massa tomasse o partido desses audaciosos rebeldes, mas a massa não se manifestou, embrutecida pelo hábito de servir. E depois Judas descera no meio da multidão e, debaixo das colunas do Pretório, gritara: "Calma, calma, não se deixem entusiasmar pelo ato desses românticos..."
Mas os românticos sorriram, na intuição de novos tempos, e quando a estrela-d'alva surgiu, prenunciando o alvorecer, com um sorriso ofereceram a cabeça ao carrasco.
***
GERMINAL!
Quem lançou este fatídico grito à multidão, quem lhe deu tanta força sonora a ponto de fazê-lo ecoar por todo o mundo?
Foi concebido por um homem, inspirado por um partido? Não!
É precisamente ele a fórmula da hora de sangue iminente; é a palavra que encerra todo conceito da filosofia inovadora; é o grito da esperança, o hino da liberdade, o grito da batalha.
Germinal!
Por que os tiranos empalideceram, por que as plebes levantam a cabeça?... Todavia, é apena um grito!
Mas no ar, nas coisas, em tudo, passa o frêmito das horas que correm e, irrigada pelo sangue rebelde, a flor da justiça já está germinando.
***
Podes gritar o quanto quiseres, Iscariotes:
"Calma, calma: não deem atenção aos românticos..."
A multidão já não te escuta, levanta-se e presta ouvidos à exclamação suprema do homem que morre pela Ideia:
GERMINAL!
Il Risveglio (SP), ano I, nº. 3, 23 jan. 1898.
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