sábado, 3 de dezembro de 2011

Menina-mulher-objeto


Fotos erotizadas de modelo de 10 anos para revista de moda expõem relações entre sexualidade e juventude que pautam adultos de hoje. Foto: Reprodução
Fotos erotizadas de modelo de 10 anos para revista de moda expõem relações entre sexualidade e juventude que pautam adultos de hoje. Foto: Reprodução
A sexualidade antecipada da modelo de 10 anos em ensaio para revista de moda é postiça e natural, sem dúvida precoce, como uma fruta colhida cedo demais
Por Carta Na Escola, Carta Capital
Por Indicação de Pedro Pereira
Andar pela casa com os sapatos de salto alto da mãe, colocar seus brincos e pulseiras, batom e perfume… Que menina nunca fez isso? Que menina não quis vestir os signos da mulher adulta e imitá-la? É assim que crescemos, nos espelhando nos outros; buscando, por meio dos gestos copiados, um modelo a seguir, uma orientação para ser. A mola mestra da vida está em seguir exemplos. Fazemos isso com pais e mães, mas também com artistas, professores, enfim, com aqueles que chamam a nossa atenção e provocam o nosso interesse.

Mesmo já adultos, são os outros que nos inspiram e que imitamos: nos vestimos como se vestem os profissionais da nossa área, por exemplo. Agimos e falamos como eles, frequentamos os mesmos lugares e adotamos para nós os fins e valores que eles têm.
Portanto, brincar de ser adulto, sob essa ótica, não só é algo corriqueiro para as crianças como também esperado. Não nos causa estranhamento desde que, nesse terreno, não adentre nenhum toque de sexualidade, como no caso das fotos da menina de 10 anos, Thylane Blondeau, para o mundo da moda. Ensaio de modelo e de que mais?
A mim, particularmente, as fotos incomodaram por terem um toque bizarro. A sexualidade antecipada de Thylane é uma fantasia que ela enverga como se fosse sua mais original realidade. Uma sexualidade, ao mesmo tempo, postiça e natural.  Sem dúvidas, precoce. Fruta verde colhida cedo demais.
Fiquei me perguntando, ao olhar as fotos, o que tudo aquilo significaria para a própria Thylane. E se ela entenderia os olhares que certamente a contemplariam. Compreenderia o desejo sexual? Saberia decodificar e lidar com a pedofilia? Saberia o significado de ser criança-mulher-objeto? Puro produto de consumo?
E a anorexia? Saberia que é uma doença e não um padrão estético? Nas fotos, seus bracinhos compridos parecem modelados por ela. Seu corpo todo controlado pelos critérios do mundo da moda: a escassez.
Penso que não só o corpo, mas toda sua vida deve ser parametrada pelas necessidades e ritmos da carreira escolhida (não -certamente por ela): horários de dormir e acordar, alimentos que consumir, férias, tempo para a escola, brincadeiras, companhias, interesses, objetivos, sentido da vida, enfim.
Temo que Thylane construa sua identidade a partir de uma circunstância de trabalho. E de uma circunstância que a condiciona a ser corpo em serventia, principalmente para os interesses anônimos do consumo. Seria uma identidade recolhida da sua condição prematura de mercadoria: sem vontade própria nem destino pessoal. Uma identidade a serviço do desejo (do outro), dos interesses (do outro), da admiração (do outro), da cobiça (do outro)…
As “Thylanes” da moda são meras imagens vestidas de erotismo e vendidas como tal.  Mas, se o mercado da moda chega a tanto, é porque recebe da sociedade seu consentimento. Nessas pequenas modelos se apresentam as duas consignações mais presentes em nossa sociedade: sexualidade e juventude. A elas, de um modo ou de outro, todos nos curvamos e por elas somos atingidos.
Juventude estendida
A sexualidade tem sido a exigência capital para quase todas as situações. Ela substitui o amor, a honra, a inteligência, a honestidade, o interesse pelo bem comum… E é requisito para a conquista de empregos, namoros e casamentos, autoestima, posição social etc. No dia a dia, são essas convocações da sexualidade que nos fazem frequentar academias, fazer dietas, nos equilibrar em saltos desconfortáveis e danosos, escolher o estilo das roupas. O insuportável é não ser (sexualmente) desejável.
A juventude tem sido o que rege a busca desenfreada pelas plásticas.  Aos 30 anos já são muitos os que recorrem a ela, não para corrigir imperfeições, mas para esconder os primeiros sinais da idade. O estilo do vestuário é todo determinado pelo gosto juvenil e os tamanhos pautados por essa faixa etária.
A juventude, porém, tem de ser cada vez mais extensa. Ela não é vista como um estiramento para a longevidade, mas em direção à infância. E quanto mais jovem aparentarmos ser, mais desejáveis seremos. Ser desejável é ser jovem, quase uma criança – assim é que sexualidade e juventude se conciliam.
Vestindo a criança com a moda adulta, podemos ter a ilusão de que é a vida adulta que impõe padrões à infância e a obscurece. Mas, se olharmos de perto, e com calma, compreenderemos que é da infância que a vida adulta tem retirado os padrões de seu comportamento e aparência.
Não é apenas a criança que se torna, através da sexualização precoce, adulta mais rapidamente. São os adultos que sonham em não crescer. E, inadvertidamente, acabam por construir.

2 comentários:

  1. maria luiza, na web há varias opotunidades de "degustar" fotos de "meninas modelos objetos" infelizmente basta clicar "nn modeles" e la estão milhares de possibilidades e o pior...muitas destas paginas levam a paginas pedófilas...infelizmente tive o desprazer de "ver" isto...muitos são trabalhos serios portfólios de agencias internacionais que as utilizam em publicidade, mas com toda esta erotização que este nosso mundo pós moderno quer,digamos assim, "normal". choca ver meninas e meninos de 6,7,8,9,10 anos serem usados pela midia como objetos de consumo por olhos "não" tão bons assim. oque poderia ser algo inocente "poluem " mentes pervertidas. Choca saber que muitas crianças são sequestradas, vendidas e usadas principalmente pela máfia russa...perigoso entrar neste campo...mas é verdade. Vai meu protesto, criança tem que brincar sim de se vestir como a mãe, ou o menino usar o "paleto" do pai, a infancia não pode ser perdida. Te deixo o direito de ao divulgar meu comentario de APAGAR os sites que postei ai em cima...as vezes queremos o bem e atiçamos a curiosidade dos lobos mauu. abraços. ah, nem uma linha sobre a "toda poderosa" ...voce sabe, e todos tambem de quem estou falando...cai ou não cai .

    ResponderExcluir
  2. olá, anônimo! o foco dessas coisas sempre fica centrado nas crianças pobres e nunca se olha para essas situações que acabam, tb, por produzirem um ideal consumista e mercadológico com relação ao corpo e à vida de crianças e adolescentes!
    sobre "uma linha", pelo menos, com relação à dita "toda poderosa", estou postando um breve escrito.
    abraço grande

    ResponderExcluir