sexta-feira, 24 de junho de 2011

entrevista com voina – coletivo anarca-artístico na rússia

No passado mês de Dezembro, Bansky declarou que o lucro proveniente da venda dos seus posters seria doado ao Voina – Colectivo de Anarquistas Russos. Voina ficou conhecido actualmente por desenhar um caralho gigante numa ponte do outro lado da rua dos antigos escritórios da KGB e por instigarem um bacanal dentro de um museu (imagem acima). A Don’t Panic falou com o grupo (metade deles ainda a partir da prisão).
Voina (ou Guerra) é um coletivo de artistas que desafia constantemente o governo Russo no que concerne algumas questões políticas relacionadas com atitudes governamentais pró-homofobia, racismo e totalitarismo. Fazem-no através de arte provocatória na Rússia.
Dois membros do Voina, Oleg Vorotnikov e Leonid Nikolayev estão detidos à mais de um mês na Prisão de São Petesburgo sob falsas alegações e aguardam julgamento sob acusações de vandalismo por uma intervenção passada.
A Don’t Panic foi falar com eles mas os outros dois artistas Alex Plutser-Sarno e Natalia Sokol enviaram as suas declarações a partir de um apartamento secreto onde se escondem da polícia.
DP - Podem se apresentar e falar-nos um pouco da estrutura por trás do vosso colectivo?
Alex Plutser-Sarno: Neste momento o centro da estrutura Voina é uma parede altamente impenetrável na prisão de St. Petesburgo, por trás das quais dois artistas, Oleg Vorotnikov e Leonid Nikolayev, desvanecem lentamente... Como devem calcular uma prisão russa é um inferno!
Ainda em fuga, Natalia Sokol continua a coordenar o grupo e eu continuo a fazer trabalhos de media, escrevo concepções e textos e as acções são publicadas no meu blog. Há outros activistas do grupo que fazem trabalho importante, mas os seus nomes serão mantidos em segredo, de outro modo a louca ala-direita do governo russo e as suas autoridades irão prendê-los.
Natalia Sokol: A base do grupo Voina e a sua estrutura está em completa sintonia com os direitos dos activistas e estamos abertos à entrada de novos activistas. O nosso colectivo é um grupo “artistico-punk-anarca”.
DP - Qual é a filosofia intrínseca ao vosso colectivo?
AP-S: Cada activista do grupo tem a sua filosofia. No aspecto político nós simpatizamos com os anarcas, com socialistas e em geral com todos os activistas da ala esquerda. Mas acima de tudo somos artistas – não somos políticos ou filósofos.
Através da nossa arte e métodos artísticos destruimos as ideologias e simbolismos repressivos de outrora.
Oleg Vorotnikov: Na Rússia criámos uma frente de ala esquerda artística e queremos reactivar a arte de protesto político.
Leonid Nikolayev: O nosso colectivo artístico está a combater a reacção do obscurantismo sócio-político da ala direita.
DP - O que é para vocês a anarquia e como pode ela tornar a Rússia um melhor local para se viver?
N.S.: Com todos os seus ideais utópicos a Anarquia é a única forma de poder honesta e destemida que pode existir.
A.P-S: Exactamente! Respeito aos anarquistas.
Mas a Rússia não será um melhor local para se viver enquanto o petróleo e o dinheiro da gasolina estiver a entrar. Nos próximos anos será um local de pilhagem de recursos naturais comprometido por grupos de burocratas traidores e desonestos acompanhados de outros lobos vestidos de cordeiro.
DP - Onde é que o Voina se situa nas tendências actuais da arte contemporânea e no contexto da ciência política e de direitos humanos?
A.P-S: Acima de tudo a arte é... uma forma de pensar e ter a capacidade de olhar para este mundo louco a partir de um novo ponto de vista. Para não falar dos direitos humanos que são violados e crucificados por todo o mundo. Assim sendo continuaremos a espalhar a nossa mensagem.
O.V.: Hoje em dia a linguagem artística é o único instrumento para entender o disparate xenófobo e caótico que nos rodeia. Através das nossas acções nós pintamos o retrato deste mundo louco. E claro, queremos fazer com que o mundo receba e entenda a nossa mensagem... nem que para isso fiquem chocados.
Por exemplo, o nosso Fuck for the heir – Medved`s little Bear! na noite da eleição de Medvedev – foi o retrato da pré-eleição russa onde, metaforicamente, todos se fodem uns aos outros.
L.N.: A linguagem da nossa arte é, de facto, capaz de resistir à onda da ala direita. Quando o nosso Caralho na ponte – com 65 metros de altura por 26 de largura com 4 toneladas – de Liteyniy rompeu pelas janelas dos escritórios do FSB-KGB as autoridades russas não tiveram resposta a não ser prenderem-nos sob acusações falsas.
DP - Podes caracterizar as ideias por detrás de algumas das vossas concepções?
L.N.: O principal para o artista é ser honesto e não se comprometer. Na Rússia torturam pessoas e executam-nas – as prisões estão cheias de dissidentes. A xenofobia e a homofobia reinam. Uma nova sociedade esclavagista impera. Os polícias batem e matam pessoas. E cá estamos nós a aguentar a pressão e em acção com o Palace Revolution virando carros da polícia de rodas para o ar. Essa foi a nossa reforma artística do Ministro dos Assuntos Internos.
O.V.: Ou por exemplo, no Dia da Cidade de Moscovo, o colectivo Voina entrou no maior supermercado da cidade, Auchan, e como forma de protesto simulou o enforcamento de 3 trabalhadores asiáticos, 1 judeu e 1 homossexual. A intervenção foi um presente para o corrupto Mayor de Moscovo que pretende uma política de misantropia e violação dos direitos humanos. Realizámos esta intervenção em honra e comemoração dos 5 Revolucionários Russos enforcados em 1826.
Daí o facto da intervenção ser intítulada “Comemoração dos Dezembristas”. Queríamos que os Russos recordassem os ideais de liberdade que moveram os primeiros revolucionários do país.
A.P-S: Quando o o curador Andrei Yerofeyev foi acusado de fomentar o ódio religioso e étnico, de insultar a dignidade humana ao organizar uma exposição e foi levado a tribunal, o colectivo Voina entrou pelo tribunal interpretando um novo tema All Cops are Bastards do álbum Fuck the Police Those Motherfucking Bosses. A ideia era simples, uma intervenção honesta e descomprometida.
DP - O que pensas de um comentário acerca do activismo ou arte radical na Rússia?
N.S.: Arte contemporânea é acima de tudo, para nós, uma arte de activismo e não a arte de “treta” guardada nas galerias. Hoje em dia o activismo é a única forma de arte de esquerda, que é o que queremos re-activar na Rússia. É importante perceber que não há arte radical na Rússia a não ser a que está representada por uma dúzia de artistas.
A.P-S: Arte-anarco-activista é a única actividade artística viva na Rússia. Hoje em dia, quando a esperança pela chegada da democracia à Rússia está arruinada, desenhar flores e gatinhos ou outro tipo de arte puritana sem qualquer tipo de mensagem socio-política é estar a apoiar a ala de direita.
Está claro que o símbolo do anarcismo – tíbias e caveira – tem que ser pintado no prédio do parlamento Russo. Foi o que fizémos. A nossa projecção laser com quase 50 metros de altura a cobrir quase toda Casa Branca de Moscovo.
DP - Qual é a sensação de se ser preso por um polícia Anti-Extremista Russo?
O.V.: Pode-se dizer sem qualquer hesitação que a retaliação da ala direita Russa está a fundo.
L.N.: O VOINA fez um teste ácido às autoridades e eles fraquejaram.
DP - De que são acusados Oleg Vorotnikov e Leonid Nikolayev?
N.S.: Oleg Vorotnikov e Leonid Nikolayev foram presos ilegalmente. As pessoas que entraram pelos seus apartamentos não tinham mandato de captura. Tudo foi feito ao estilo Estalinista de 1937.
Depois os artistas foram algemados e levados com sacos de plástico na cabeça e levados no chão de um mini-bus numa viagem de 10 horas entre Moscovo e São Petesburgo.
Os prisioneiros (artistas) foram então agredidos com cadeiras. Oleg Vorotnikov tem hematomas dentro e à volta da cabeça e rins. Estes acontecimentos estão registados pelos advogados dos direitos humanos, que visitaram os artistas presos na ala de isolamento duas semanas após a detenção. As nódoas negras e feridas foram tão intensas e graves que não desapareceram após as duas semanas de isolamento.
A.P-S: Agora Olega e Leonid são acusados de “fomentar o ódio e repúdio junto de um grupo social” nomeadamente a polícia. Eu, enquanto artista principal do colectivo, sou acusado de organizar e liderar uma comunidade criminosa – o Voina, colectivo artístico. Esta acusação acarreta prisão de 12 a 20 anos.
Ambos os meus avôs estiveram detidos em campos de concentração por 22 anos durante o regime de Estaline. Dúzias dos meus parentes morreram nos campos de concentração em Auschwitz e no Gueto de Varsóvia. Cumprir 20 anos de prisão por activismo artístico sob o regime de Putin é demais para a minha família.
DP - O que é o Free Voina e o que podem as pessoas fazer para ajudar a libertar os dois artistas Oleg Vorotnikov e Leonid Nikolayev?
N.S.: Free Voina é um grupo de artistas Russos independentes e honestos que começaram a desenvolver acções de apoio para Voina. Encetam acções de protesto e qualquer pessoa pode juntar-se ao site que criaram para apoiar a causa dos artistas oprimidos.
O diário dos acontecimentos pode ser seguido aqui: http://plucer.livejournal.com/266853.html
Para ajudar os Voina visita – http://en.free-voina.org/
Fonte: Revista Eletrônica Don’t Panic
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