Biografia Vinciane Despret
Eu nasci em Bruxelas, no dia 12 de novembro de 1959. Fui a segunda de uma família de cinco crianças, entre elas quatro meninas. Nós nos mudamos para Liège (Bélgica), onde eu cresci e sempre vivi. Após meus estudos de filosofia, eu encontrei aquele que viria a se tornar meu marido, Jean-Marie Lemaire, um psiquiatra que hoje trabalha uma boa parte de seu tempo na Italia, em Turin. Ele me ensinou algumas coisas importantes: o fato de renunciar o querer responder a todas as questões, o fato que a pesquisa por solução era, por vezes, mais importante e mais interessante que a solução dela mesma. Sua prática, a clínica da concertação, me parece exemplar quanto a fecundidade deste processo. Nós tivemos um filho, Jules-Vincent, que logo terá 18 anos, e que é mencionado no livro, já que foi ele que me ensinou a prática dos mal-entendidos / a incompreensão das práticas (?). Meus estudos de filosofia me levaram ao desemprego, o que é frequente na Bélgica, onde a filosofia somente é ensinada no nível universitário. À partir disto eu retomei os estudo de psicologia. Eu descobri a etologia e me apaixonei pelos humanos que trabalham com os animais. Este segundo diploma me levaria, paradoxalmente, de volta à minha primeira formação, já que o departamento de filosofia da universidade de Liège me contratou a partir da obtenção do meu diploma de psicóloga. E não queria abandonar minha paixão pelos homens – e pelas mulheres – que estudavam os animais: como conciliar os dois campos? A filosofia das ciências podia me permitiria (a conciliação): podia empreender uma filosofia ou uma antropologia das ciências consagradas a da etologia. Isabelle Stenger e Bruno Latour abririam o caminho a uma prática apaixonante: seguir os cientistas na sua prática, compreender como eles tornavam seus objetos interessantes, levar em conta o paciente trabalho de invenção e de tradução colocado em prática. Este duplo re-encontro e a amizade que nos liga desde então é muito importante para mim. Eu realizei meu primeiro ensaio de antropologia da etologia seguindo um etólogo Israeliano sobre os vestígios de um pássaro extraordinário: aquele que os anglo-saxãos chamam “babbler”. Uma questão me parecia importante: como, no início da observação, os cientistas chegavam a construir uma teoria? Como dar conta das múltiplas influências que participam na sua elaboração: a influência política, a questão do gênero do observador, a qualidade dos dispositivos, as condições do campo e do próprio animal, como ator desta criação do saber. Minha tese prologou este trabalho tentando compreender como as teorias das emoções podem elas mesmas ser o objeto de uma análise deste tipo . A parte consagrada às emoções para os humanos foi o objeto de um livro, já publicado pela Editora Eleuthera. Esta pesquisa me fez conhecer o que viria se tornar muito importante para mim, tanto no campo da etnopsicologia quanto na etologia: as pesquisas feministas. A desconstrução engajada que elas propõem, e que renuncia a separação do campo científico e do campo político produz uma epistemologia inventiva e frequentemente cheia de humor. Eu tento ser uma digna hereditária. Hoje eu trabalho entre os dois campos, aquele da psicologia humana e da etologia, numa perspectiva que me leva a me interessar mais às consequências políticas de nossas escolhas teóricas: o que me conduz a me interessar ainda mais, de um lado, a questão de “como viver com o animal”, e de outro lado às questões políticas que nos colocam hoje as práticas psicoterápicas com o humano.
buscado em: http://www6.ufrgs.br/ppgpsi/?q=node/429
A Profª. Neuza Maria de Fátima Guareschi, com o propósito de discutir os textos produzidos pela psicóloga belga Vinciane Despret, desenvolve no PPGPSI da UFRGS, a discilplina "Leituras em Vinciane Despret I". E é da proposta de trabalho da disciplina que suguei essa "pequena biografia da autora, traduzida por Aline Accorsi".
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