domingo, 5 de junho de 2011

divulgação: flecheira libertária. 206

mais praças, mais emprego, mais democracia, mais ...
No centro de Barcelona e de Madri, em suas praças principais concentram-se centenas de jovens que lá acampavam para protestar contra a crise e pedir mais emprego e “democracia real”. O governo catalão decidiu “higienizar” a praça com uma ação truculenta da polícia com o objetivo de deixar o local “limpo” para a celebração da vitória da Copa dos Campeões pelo Barcelona. Além de ferir pessoas e destruir barracas, a polícia tomou equipamentos de comunicação e informática, utilizados pelos indignados para dar visibilidade ao movimento por meio de redes sociais, blogs e o YouTube. Os manifestantes não deixaram a praça e mobilizaram-se para protestar em outras praças da Espanha e de outros países. Apressados articulistas já comparam o que ocorre na praça da Catalunha com o Maio de 68. Esquecem-se que aquela juventude queria tudo e mais que emprego e democracia.
a mesma praça?
As primeiras reivindicações assinadas em manifesto pelo 15M são: alteração da lei eleitoral; atenção aos direitos básicos reconhecidos pela Constituição tais como direito à habitação e a uma saúde pública de qualidade; reforma fiscal favorável aos rendimentos mais baixos... Jovens portugueses, franceses e gregos também saíram às ruas para protestar em solidariedade. A Porta do Sol, em Madri, tornou-se, segundo um dos acampados, a Praça da Solução. Mas quem quer solução luta amparado pela tristeza de uma falta, aguarda um desfecho para preencher o vazio, uma alternativa. A algaravia dos indignados espanhóis quer fazer da praça um outro espaço, ou somente mais um balcão de permutas?
89, 99. século XXI?
O que mais é elogiado e comemorado por comentaristas de jornal é que o 15M possui uma pauta clara de reivindicações e faz uso da internet, celular e redes sociais digitais como efeito de um movimento novo, não atrelado a partidos e sindicatos. Alguns falam da chegada das revoluções árabes na Europa. Diante de uma  pauta que pede emprego, separação de poderes e democratização das instituições do Estado, não há o que buscar em 1968. Chamar isso de revolução é fazer eco ao argumento liberal das chamadas revoluções de veludo, na época, para designar o esgotamento do mundo socialista.
continua
Movimentos apartidários e espontâneos foram a marca dos movimentos antiglobalização no final da década de 1990, que culminaram na morte de um jovem anarquista na Itália e na acomodação “propositiva” do Fórum Social Mundial. Mas a história não se repete, não opera por comparações. O traço a ser notado desse movimento dos jovens espanhóis é sua moderação política e suas preocupações sustentáveis, que dão forma à política entendida como atividade de Estado, para garantia de direitos, criação de empregos e preservação do planeta. Assim, aplicam o programa democrático contemporâneo com espetáculo na praça, transmissões digitais e aplacam o susto que a Europa tomou com os jovens anarquistas gregos em 2006. E ao mesmo tempo, proclamam o justo na democracia: o 15M descrê dos partidos políticos. Em época de moderação isso anuncia a vida fascista.
tribunal penal internacional
Desaparecido por 16 anos, o general militar Mladic é descoberto em um pequeno vilarejo na Sérvia e levado ao Tribunal Penal Internacional como responsável pelo massacre de 7,5 mil homens e meninos muçulmanos durante a Guerra da Bósnia, na década de 1990. O atual presidente da sérvia Boris Tadic, comemorou a prisão e principalmente as vantagens políticas e militares que a cabeça do general poderá proporcionar: a entrada definitiva da Sérvia na OTAN e na União Europeia. Enquanto isso, o presidente da Comissão Europeia, durante a cúpula do G8, enaltece o feito sérvio para enfatizar que segurança e justiça são as características de verdadeiros Estados idôneos. Não é apenas a maximização dos dispositivos de segurança que assombra o que é vivo, mas a evocação da justiça, esta prática seletiva, que negocia de tempos em tempos qual será o melhor comparsa, na consolidação do Estado.
slobodan milosevic , radovan karadzic, ratko mladic, ... todos foram levados vivos ao Tribunal Penal Internacional como responsáveis pela tentativa de limpeza étnica e crimes contra a humanidade. Enquanto a caça continua nos países balcânicos, à procura de seus criminosos de guerra, a serem julgados e penalizados para o regozijo dos que pedem justiça, em outras partes do globo, o terrorismo de Estado afirma-se pelo assassinato declarado de seus inimigos. Na balança dos indesejáveis, vivos ou mortos, prevalece o poder soberano em abater o que afronta os interesses políticos e militares do momento, legitimando sua autoridade com muita democracia e polícia.
enquanto isso...
No Brasil passou o novo código florestal na câmara dos deputados e segue para apreciação e voto dos senadores. A decisão foi favorável aos ruralistas, aos latifundiários e aos madeireiros, abençoados por um relator comunista preocupado com a pauta das exportações do país. Pouco importa o texto derrotado ou o barulho de cientistas e ambientalistas; pouco importa que esta tenha sido a primeira derrota do governo que segue com um apoio jamais visto do legislativo e na contenção de seus escândalos internos.
isso
Os senhores da terra e seus capangas continuam a mandar e a matar. Ganham no congresso e matam nos locais onde vozes se levantam contra eles. Mataram um casal de extrativistas, uma pessoa que teria testemunhado o assassinato, como os de Chico Mendes e Dorothy Stang. Diante da retórica ambientalista e das preocupações partidárias, de ongueiros e de jornalistas especializados, é preciso lembrar que a política mata com a polícia do governo ou com as milícias sustentadas pelos proprietários.

Nenhum comentário:

Postar um comentário