Não conheço muito de José Mindlin. Vi várias entrevistas suas e muitos escritos sobre o seu ofício: BIBLIÓFILO – o amigo dos livros. Foi advogado e empresário, e depois foi só cuidar de livros que começara a colher ainda na adolescência. Colecionava livros raros e os não tão raros. Morreu em 28.02.2010, aos 95 anos. Era uma das pessoas que eu gostaria de ter conhecido pessoalmente.
Foi um homem que construiu a simplicidade, a generosidade e uma vida para o mundo. Não acumulava livros. Colecionava para melhor dispô-los ao mundo.
E aqui, em homenagem à vida que Mindlin nos deixou acoierada em palavras, segue um poema do Borges cego.
JUNHO, 1968 - Jorge Luis Borges
Na tarde de ouro
ou numa serenidade cujo símbolo
poderia ser a tarde de ouro,
o homem dispõe os livros
nas prateleiras que aguardam
e sente o pergaminho, o couro, a tela
e o agrado que dão
a previsão de um hábito
e o estabelecimento de uma ordem.
Stevenson e outro escocês, Andrew Lang,
reatarão aqui, magicamente,
a lenta discussão que interromperam
os mares e a morte
e a Reyes não lhe desagradará decerto
a vizinhança de Virgílio.
(Ordenar bibliotecas é exercer,
de um modo silencioso e modesto,
a arte da crítica.)
O homem que está cego
sabe que já não poderá deslindar
os famosos volumes que manuseia
e que não lhe ajudarão a escrever
o livro que o justificará ante os outros,
mas na tarde que é casualmente de ouro
sorri perante o curioso destino
e sente essa felicidade peculiar
das velhas coisas amadas.
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