sábado, 28 de janeiro de 2012

um sonho

pego tua mão ainda rota,
do tempo que juntas a calejamos,
e levo-a até os bicos entumecidos
dos seios que todos os dias cortejavas.

alcanço tuas sensações
do mesmo jeito que se deu
no primeiro dia
em que ultrapassaste
o umbral de tua existência.

curvo-me ao teu sabor,
curvo-me ao teu suave odor,
curvo-me à tua voz tão minha,
curvo-me à intensidade do teu toque,
curvo-me à tua presença.

acordo quando te levantas da cama
e sai nua pela casa.
apalpo o lençol ainda quente,
espero que voltes a te deitar,
sem saber que partistes para sempre.

adormeço novamente,
sem saber em que cama estou,
em que corpo transito,
em que vida habito.

te busco
nas palavras
cravadas
em minha memória.

cintilantes,
deixam a superfície radiosa,
enquanto escuto pouco
o que quiseram dizer.

sei que morta estás,
mas, então,
quem foi que arrumou tão bem,
o rumo das plantas
que sempre cuidastes?

onde estás,
que ainda vem
cuidar das plantas?

pego tua mão,
ainda,
antes de acordar,
e vejo tuas impressões
deixadas numa semente que nasceu,
noutro dia,
e que não fui eu que plantei.

beijo tua mão
e
acordo.
com o olho cravado
numa estranha flor
que nasceu.

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