quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

o capital vomita os nômades!


que-cosa! essas coisas de foda mexem com muitas coisas! Essas coisas da vida, mexem com muitos pensamentos!
já lembrei em outros lugares que o blog surgiu exatamente da necessidade que tínhamos (e temos), de um espaço público, para o compartilhamento das letras, das artes, dos sons, das escritas, das invencionices, das literaturas, das ideias e de outros quetais... aqui ninguém segue ninguém... há, sim, um espaço configurado para quem queira seguir o blog publicamente ou de forma oculta, mas quem está aí, segue o blog enquanto acompanhamento das publicações (de letras minhas e de outros) e não a mim... gosto que o transverso da transversalidade apresente sempre suas letras, seus tons, seus sons, seus acordes, suas dissonâncias, suas concordâncias e seus extravios (no sentido de espalhamento... ou como diria olívio dutra: de espraiamento!)... gosto das conversações e, também, das discussões, mas muito mais das primeiras... fui desenhando, ao longo da vida, um modo de ver e pensar o mundo em que pude ir quebrando as molduras que haviam afixado em meu imaginário e, aos poucos, fui aprendendo a produzir movimentos, vida e potência... por isso, também, ando por onde andam as gentes... ando pelas ruas... transito pelas praças... paro pra conversar com os vizinhos e com as pessoas que encontro na rua, que param para um dedo de prosa... sempre que consigo, registro o nome das pessoas em minha memória... geralmente registro em minha memória a expressão do rosto e do sentimento presente na expressão das pessoas... um olhar que me atravessa, jamais esqueço... um olhar que me transita, jamais sai de mim... um olhar com que meu olhar possa conversar, nunca haverá de deixar de falar... uma pessoa que simplesmente vive, vive do jeito que quer e que gosta, sem hipocrisias e sem máscaras postiças, terá sempre o meu respeito!
Eu não sei, não, de nenhum bêbado ou mendigo em nossas praças... eu não sei, não... eu não gosto dessa idéia de praças públicas assépticas e higienizadas, enfeitadas com seus jardins-pré-moldados, harmonizadas com as tintas frescas feitas para as bundas limpas que jamais saberão o que é a vida feita de um dizer e de um fazer verdadeiro! Não gosto desses que ficam espiando as fodas casuais acontecidas nos estertores noturnos ou nas clareiras diurnas das livres praças, mas que não cuidam das próprias fodas! Tenho medo desses que preconizam praças limpas, que pregam “revitalizações das praças”, mas o fazem, escondendo que a revitalização de que falam, corta fora exatamente a vitalidade, o livre fluir, as potências e outros quetais... querem uma revitalização mortífera, higienizada, emburguesada... querem uma praça em que não há lugar para o pobres e para as gentes feitas de um viver nômade!
Eu não sei, não, de nenhum bêbado ou mendigo em nossas praças... eu não sei, não... para mim, todos os que ali transitam me figuram com cara de gente... exceto aqueles que fazem caras e bocas de nojo, ou que nem cruzam as praças para não ter que se deparar com o fluir da vida que por ali pulsa... se alguns bebem abusivamente, se outros se excedem em algumas coisas... bueno, se olharmos para dentro das casas dos pobres e dos ricos, talvez a única coisa que muda, seja a marca, qualidade e a procedência das bebidas, das drogas, dos medicamentos e de outros quetais... no mais, talvez não mude muita coisa... inclusive no que se refere ao ócio... há muitos burgueses que se vangloriam de suas posses e riquezas financeiras e materiais, mas esquecem de dizer que, quem paga o seu ócio, sejam os trabalhadores que são explorados cotidianamente na livre apropriação da mais-valia que produzem! Sentar no banco da praça e ficar horas a fio viajando, conversando, rindo e inventando a vida, certamente seja infinitamente mais digno do que quem viaja literalmente, sentado sobre o suor de empregados-explorados!
Não gosto dessa noção que já foi tão comum na boca de muitos, em outros tempos, que é de marginalização... não conheço ninguém que tenha caído fora do mundo... exceto os astronautas, que vão para a lua e para outras plagas fora da órbita terrestre e que depois voltam sabendo que somos um nada, que somos muito pouco e que, perto de toda a besteira que o ideário capitalístico criou nas nossas ocas cabeças, basta a natureza se apresentar em fúria, com a força do vento, com o poder das águas, com a intensidade da terra, com o calor do fogo, para sabermos o quão minúsculo, inútil, precário e miserável seja o capitalismo e suas idéias prepotentes!
Não aprecio e não compartilho essa ideia que contempla o usuário abusivo de qualquer coisa, como uma pessoa doente... a pessoa até pode adoecer por conta disso, mas a coisa em si, que é usada abusivamente, não se constitui na doença!
Quero lembrar só início o de um escrito do Guilherme Corrêa, em que problematiza a noção de drogas (e quem quiser ler o escrito na íntegra basta clicar AQUI... já faz um tempão que está postado aqui no blog... trago esse texto, mas poderíamos estar lemrando muitos outros que já foram postados aqui)... vejamos:
“A identidade de drogado é uma das barreiras mais fortes que se coloca entre os profissionais das áreas da saúde, da educação ou da justiça e pessoas que fazem uso de substâncias ilegais. É muito raro um desses profissionais ultrapassar tal barreira e ver, para além da ameaça representada pela figura plana e sem espessura do drogado, alguém se movendo. Alguém com sonhos, vontades, tristezas, experiências, preferências, limites próprios de suportabilidade, amor, desafetos... Assim, a maioria dos contatos com identificados como usuários de drogas se dão, quase que exclusivamente, com os atributos que identificam a figura do drogado. Pouco ou nada parece haver para além de uma ameaça.
Desse modo temos vivido e, por décadas, estamos sendo formados nos cursos universitários. Há uma perspectiva que une todas essas formações e, conseqüentemente, as atuações profissionais correspondentes. Essa perspectiva é a da guerra às drogas. Dentro dessa perspectiva é que têm coerência percepções de usuários como doentes, o que pede tratamento e pessoal especializado nos campos da saúde, psi, assistência social e educação; como bandidos, o que pede penalização, punição e, além do pessoal mencionado anteriormente, pessoal do campo da justiça: como advogados, juízes, policiais; finalmente, pode se perceber usuários de drogas como perdidos, aqueles que não têm mais jeito, – seja por um grau de debilitação extremo ou de periculosidade – esses nos convidam a pensar em eliminação por meio de internamentos perpétuos em asilos, manicômios e hospícios e, ainda, por meio de homicídios e chacinas. A figura do drogado, que anima todas essas ações, está indissociavelmente ligada à noção que temos de droga.
O que é droga? Do que falamos quando dizemos droga? (...)"

Trago o escrito do Guilherme para nos ajudar a pensar, olhar e fazer a vida acontecer a partir de outros referenciais e de outras noções, que não esses tão emoldurados, estereotipados e discriminatórios que o ideário capitalístico tão bem nos ensinou... para pensar de outra forma, que não essa, não basta erguer bandeirinhas de papel que se derretem com a chuva... não basta achar que nos inquietando com o que o nosso preconceito nos faz regurgitar, estaremos mudando o mundo... não basta brincar de sermos de esquerda... talvez tenhamos que querer outras coisas, fazer outras coisas... talvez tenhamos que produzir outras possibilidades de vida... talvez tenhamos que aprender a inventar o mundo e a vida... talvez tenhamos que aprender a problematizar a vida e a produzir experimentações que provoquem vitalismos e potências a partir das possibilidades que cada um tem... cada um em seus nomadismos e em suas errâncias... mas nessa toada, com certeza, não cabe mais o Estado de mercado, policialesco, instrumental, higienista, judicializado, controlador, vigilante e salvador das almas penadas que foram cagadas para fora de sua órbita, feito merda-mole-de-diarréia-de-si... no mais, as gentes e a vida podem estar em qualquer lugar... cada um pode fazer de si o que bem entende... e se não me encontrarem na praça, sentada conversando, bebendo ou não, fumando o meu palheiro ou não, podem saber que estarei aqui por casa fazendo isso, com a casa cheia de gente ou não! Estarei sempre onde e com aqueles com quem tenho o que compartilhar... acredito e existencio isso: a vida como movimento! já não aceito mais ser um mero vômito do capital... quero é devorar suas entranhas e definhá-lo até a morte! 
PS: este escrito completa meu comentário iniciado AQUI.

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