ontem (sábado) passei pela estação rodoviária de ijuí/rs. já tem quase trinta anos que por ela transito regularmente. desde a primeira vez de que lembro ter colocado meus pés em seu chão, recordo de uma senhora que trabalhava na limpeza da estação. em meu imaginário literário, nomeei-a chiquinha... para ser mais exata, dona chiquinha... na verdade nunca soube seu nome... para se mais exata ainda, nunca tive coragem de conversar com ela e muito menos de perguntar seu nome!
dona chiquinha era uma criatura miúda, mas de muito rompante. aprumada em sua obsessividade por limpeza, determinava o que cada um poderia fazer e por onde poderia transitar na estação rodoviária.
fazia a limpeza por partes (o que eu, em minhas obsessões também sempre operei)... usava longos cordões que amarrava nos pilares no saguão em frente aos guichês de venda de passagens... dentro dos liames circundados pelos cordões, era terminantemente proibido circular, pois se estavam os cordões esticados, significava que dona chiquinha estava limpando aquele território... e ninguém era besta de querer invadir tão importante área!
assisti dona chiquinha sendo educadora das criaturas que vieram a auxiliar na limpeza e depois as que viriam a substituir sua atuação... o ritual sempre era o mesmo, com o esticamento de cordões e a colocação de papelões que servem à limpeza dos pés dos circulantes que não são feitos desse timbre obsessivo... ontem, tive que aguardar 30 minutos para uma baldeação, tempo em que tomei de um jornal e me concentrei na leitura... lá pelas tantas uma voz feminina avisou: "senhora, estamos limpando, pode mudar de lugar?"... focada na leitura, não percebi a operação de limpeza e, quando vi que a coisa acontecia, fiquei absolutamente constrangida por não ter visto a operação acontecendo ao meu redor! olhei ao redor e eu estava solita, sitiada dentro dos liames dos cordões.
depois que me retirei do território a ser trucidado pelas neo-obsessivas-da-limpeza-da-estação, observei que elas só parecem ser marionetes de dona chiquinha... cumprem e pregam os mesmos rituais, fazem do mesmo jeito e forma, encarnam os mesmos semblantes sérios e compenetrados... dona chiquinha, acredito, está aposentada... não a vejo mais... mas deixou sua obsessão traçada na forma de limpar a estação rodoviária de ijuí.
mas, para dar fecho aqui, trago a lembrança de uma senhora (de quem agora não lembro o nome... tenho que pesquisar... mas era com terminação inha, também) que muito contribuiu para desenhar em minha subjetividade essa coisa de mania por limpeza... minha família morava (como ainda mora) no campo e eu frequentei a escola do vilarejo mais próximo (que hoje é a sede do município de bom progresso)... saia de casa e andava uns 150 metros, para embarcar na kombi que nos levava para a escola... nesse trajeto até o embarque, se estivesse chovendo, o calçado enlameava... em meus primeiros dias de aula na escola, desatenta e desavisada desse cuidado que deveria tomar com a lama do calçado, lá estava eu, sentadita e tentando entender alguma coisa daquilo tudo que era coisa demais para minha cabecinha de seis anos e eis que me aparece a dona chiquinha lá da escola... levei tamanha carraspana por minha porquice involuntária, que nunca mais desfiz essa marca!
pensava nisso, ontem, depois da minha vergonha por não ter visto que os clones de dona chiquinha demarcavam o território da limpeza na estação rodoviária... afinal, nunca sabemos de onde vem as marcas que nos atravessam a existência e a subjetividade, e nunca sabemos em que pode dar as marcas que fazemos atravessar nas subjetividades alheias ou na vida das instituições!
dona chiquinha era uma criatura miúda, mas de muito rompante. aprumada em sua obsessividade por limpeza, determinava o que cada um poderia fazer e por onde poderia transitar na estação rodoviária.
fazia a limpeza por partes (o que eu, em minhas obsessões também sempre operei)... usava longos cordões que amarrava nos pilares no saguão em frente aos guichês de venda de passagens... dentro dos liames circundados pelos cordões, era terminantemente proibido circular, pois se estavam os cordões esticados, significava que dona chiquinha estava limpando aquele território... e ninguém era besta de querer invadir tão importante área!
assisti dona chiquinha sendo educadora das criaturas que vieram a auxiliar na limpeza e depois as que viriam a substituir sua atuação... o ritual sempre era o mesmo, com o esticamento de cordões e a colocação de papelões que servem à limpeza dos pés dos circulantes que não são feitos desse timbre obsessivo... ontem, tive que aguardar 30 minutos para uma baldeação, tempo em que tomei de um jornal e me concentrei na leitura... lá pelas tantas uma voz feminina avisou: "senhora, estamos limpando, pode mudar de lugar?"... focada na leitura, não percebi a operação de limpeza e, quando vi que a coisa acontecia, fiquei absolutamente constrangida por não ter visto a operação acontecendo ao meu redor! olhei ao redor e eu estava solita, sitiada dentro dos liames dos cordões.
depois que me retirei do território a ser trucidado pelas neo-obsessivas-da-limpeza-da-estação, observei que elas só parecem ser marionetes de dona chiquinha... cumprem e pregam os mesmos rituais, fazem do mesmo jeito e forma, encarnam os mesmos semblantes sérios e compenetrados... dona chiquinha, acredito, está aposentada... não a vejo mais... mas deixou sua obsessão traçada na forma de limpar a estação rodoviária de ijuí.
mas, para dar fecho aqui, trago a lembrança de uma senhora (de quem agora não lembro o nome... tenho que pesquisar... mas era com terminação inha, também) que muito contribuiu para desenhar em minha subjetividade essa coisa de mania por limpeza... minha família morava (como ainda mora) no campo e eu frequentei a escola do vilarejo mais próximo (que hoje é a sede do município de bom progresso)... saia de casa e andava uns 150 metros, para embarcar na kombi que nos levava para a escola... nesse trajeto até o embarque, se estivesse chovendo, o calçado enlameava... em meus primeiros dias de aula na escola, desatenta e desavisada desse cuidado que deveria tomar com a lama do calçado, lá estava eu, sentadita e tentando entender alguma coisa daquilo tudo que era coisa demais para minha cabecinha de seis anos e eis que me aparece a dona chiquinha lá da escola... levei tamanha carraspana por minha porquice involuntária, que nunca mais desfiz essa marca!
pensava nisso, ontem, depois da minha vergonha por não ter visto que os clones de dona chiquinha demarcavam o território da limpeza na estação rodoviária... afinal, nunca sabemos de onde vem as marcas que nos atravessam a existência e a subjetividade, e nunca sabemos em que pode dar as marcas que fazemos atravessar nas subjetividades alheias ou na vida das instituições!
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