sábado, 4 de setembro de 2010

Pano para qual bandeira?

Desavisada. Desatenta. Desconectada. Saio para as andanças do dia e, logo na esquina, deparo-me com um ou outro carro que cruza e que porta um adesivo: “Nossa bandeira é Cruz Alta”. Pensei: espocou algum movimento de que não estou sabendo?
Lembrei, com isso, de algumas coisas que sempre marcam um certo bairrismo ou uma tentativa de dicotomização entre o local e o exterior. Há alguns anos, era comum os atores do cenário político formal, utilizarem o argumento de que fulano ou beltrano não poderia almejar espaços de poder na comunidade, se nem sequer havia nascido aqui. Circulava nesse discurso, um certo xenofobismo ao forasteiro, ao estranho, ao nômade, ao sujeito que não prende, necessariamente, as suas raízes, no solo conhecido da razão triunfante da tradição-conservadora-ultrapassada.
Lembrei, também, de algumas tentativas de fazer aflorar no discurso, alguns movimentos que devem, antes de qualquer coisa, aflorar nos desejos. Por exemplo: um concurso que escolheu a frase que deveria conduzir essa máquina de fazer movimento... “quem faz Cruz Alta, somos nós”. É uma frase que ainda circula em documentos oficiais e em outros quetais. Se ela produziu o movimento que se esperava, mal sabemos e não quero me deter nisso, aqui.
O que gostaria de falar, um pouco mais, é sobre esse movimento – que vim a saber mais tarde, tratar-se de um movimento – que propõe que se vote em candidatos provenientes do município, que buscam vaga na Assembléia Legislativa e na Câmara dos Deputados.
Fica-nos a impressão de que se trata de uma eleição para escolha de vereadores, pois prega o voto em candidatos locais para que os mesmos representem os interesses locais... e a condição universal da representatividade? Um candidato eleito representa os eleitores em sua totalidade e não apenas aqueles de suas comunidades de origem ou que os elegeram.
Essas concepções impedem, exatamente, que se promova o local, visto que prega que o que interessa, seja a representatividade e não importa de que campo ela venha. Cria-se, assim, um clientelismo vulgar e miserável, sem capacidade crítica.
Doutra banda, não podemos esquecer que há uma avaliação muito criteriosa que devemos fazer e que, afora a crítica aos rumos que os campos ideológicos tomaram, aponta exatamente para os aspectos ideológicos, visto que não se trata de eleger um representante local ou regional, mas sim, aquele que atue a partir de uma visão de mundo compatível com nossos ideais e com as coisas que acreditamos ser melhor para a coletividade... por exemplo: candidatos do campo de direita, comumente representam os interesses monopolizantes, excludentes, capitalísticos, etc, das elites dominantes; já, os candidatos do campo de esquerda, apesar de atravessados pela cultura dominante do capitalismo, deveriam representar os interesses dos explorados, excluídos, oprimidos e que queiram e busquem um mundo diferente desse que o capitalismo fundeou no mundo. Cabe sublinhar que os interesses de um campo não casam com os de outro, ao contrário, se excluem.
Soe dizer, também, que não se trata de mantermos a escolha de representantes focada no clientelismo eleitoreiro das emendas parlamentares que propiciam recursos para os municípios e para os estados. Inclusive se aventou, há algum tempo, buscar viabilizar aqui na comunidade de Cruz Alta, essa prática nefasta de decisão sobre as finalidades dos recursos orçamentários públicos. Se há alguém que pode decidir sobre o orçamento público, é exatamente o povo que pode fazê-lo.
Enfim, parece-me que quem olha somente para a própria bandeira, não hasteia a bandeira do coletivo... para esta, é necessário muito mais pano!

2 comentários:

  1. É isto ai Diéllo, e o cumulo do absurdo, como diz minha mãe, é o cara faser este discurso inconsequente da representatividade eleger-se e virar "pit bull" da governadora la em Porto Alegre, retornando só para buscar votos.

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  2. É, Cláudio... sempre fico com minhas duas patas pra trás quando ouço as falas eleitoreiras sobre representatividades.
    Reconheço que nosso sistema político formal dá palco para a representatividade e apaga as luzes para a participação popular.
    Reconheço, também, que os representantes da direita e das elites dominantes usurpem com competência, a dignidade daqueles de quem eles necessitam de votos (é de se reconhecer que, além de explorar economicamente a patuléia, eles necessitam de seus votos para poderem continuar sendo latifundiários de vastos espaços políticos)... mas colocar tudo no mesmo saco aqueles que são de direita, mais os que se dizem de esquerda e ainda, alguns representantes de algumas categorias profissionais, e sair dizendo que isso representa a comunidade toda... isso é demais!
    É difícil acreditar que em pleno século XXI, algumas pessoas ainda tentem nos engambelar, como se não soubéssemos quais sejam as bandeiras em que pretendem usar nossos puídos panos!

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