Hoje foi dia de lutas no jardim. As chuvas que tem molhado todos os dias por aqui, dão viço às gramas e aos inços da época. Numa parte do jardim, coloquei em combate com a grama, o poderoso boldo (que não serve só pra ajudar o "figo" a se livrar de si) que tem a capacidade de vencê-la... o boldo venceu e liberou um eito de terra pra plantar as coisas que não tem forças pra lutar com a grama.
Quando estou dedicada à essa tarefa que se dá rente à rua, é tempo, também, das conversas com a vizinhança. Todos param pra conversar alguma coisa, enquanto me ergo do chão e alivio um pouco as costas e as pernas.
Dia desses uma vizinha perguntou se eu não teria cavalinha "nos fundos" da casa. Não tenho, mas consegui a cavalinha noutra vizinha que a cedeu com todo gosto, dizendo que "isso é uma praga que depois que pega, toma conta do terreno".
Estava eu nessa labuta braçal e literária, quando parou um moço que perguntou "qual é mesmo sua graça?"... pensei rápido em responder que minha graça pode estar em qualquer coisa que me faça inventar alguma coisa ou pensar à toa... mas o moço era tão sério e impressionante que respondi com urgência, sem pestanejar "minha graça é maria luiza", com vontade de rir por reconhecer que minha graça pudesse ser eu mesma... há muito tempo que ninguém me perguntava por "minha graça"... e o moço prosseguiu: "só queria me desculpar com a senhora, porque antes de ontem roubei um girassol aí do seu jardim... é que minha mulher estava de aniversário e quis fazer um agrado pra ela e quando vi a flor não me assegurei e levei"... perguntei: "e ela gostou?"... seus olhos brilharam e ele respondeu: "ela ficou demais de contente, porque nunca tinha ganhado um girassol e achou tão bonito!"... então disse-lhe que por causa tão bonita, não havia porque se desculpar e pedi que esperasse um pouco... entrei em casa e busquei um punhado de sementes de girassol... disse-lhe que, se ele tivera a idéia e se a companheira gostara tanto da flor, poderiam plantar em seu próprio jardim e teriam as flores todos os dias possíveis... ele marejou os olhos e disse que não tinham jardim, pois tinham pouco tempo e dinheiro... disse, ainda, que ele trabalha "de biscate e ela de faxina"... falei que não seria necessário muito tempo e nem dinheiro, basta querer, ter uma terrinha, mudas e sementes, e tá feito o jardim... ele pegou meu embrulho com as sementes e perguntou se não seria desaforo me dar um abraço... abracei-lhe como resposta e prometi que noutro dia providenciaria as mudas de algumas plantas para que ele possa ir ampliando o jardim!
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