Estou meio boba. No dia 11.01.11 nasceu a mais nova pescadora da família Diello e passei os últimos dias lambendo a cria. Rafaela veio depois de 13 anos sem novas crianças em nosso núcleo familiar.
Sou a herdeira, por escolha, de muitas coisas bonitas que meu pai trouxe em sua história pessoal, familiar e coletiva. Tenho seu mesmo olhar, atravessado, às vezes, por um silêncio ensurdecedor. Ando num tranco igual ao seu. Desalinho somente das coisas que não lhe foram boas. Sou pescadora muito mais pelas histórias que ouvi vindas dele e de meus tios, do que propriamente pelo exemplo da pesca. E é isso que mais me interessa na pescaria: as histórias!
Não pude acompanhar o desenvolvimento de vários dos meus sobrinhos, por motivos de ordem prática, mas o Daniel, que deixou de ser o mais jovem com a vinda da Rafaela, acompanha meu tranco desde bem pequeno. Sempre dizia-lhe que para ser um pescador era necessário pescar mais do que sete peixes numa só pescaria... no dia em que alcançou tal tento, fui obrigada a conceder-lhe o diploma... no mais, temos alguns rituais em nossas andanças de pescarias... aprontamos o material para a pesca... temos um feixe grande de caniços e uma bolsa com as linhas para espera... nossa questão é esperar... quem não sabe da literatura dessas coisas, acha um exagero tanto caniço, mas há os mais diversos tipos de composição de linhas, chumbadas e anzóis... para cada interesse de pesca há um caniço preciso!
Há, ainda, uma pequena que hoje tem oito anos e que desde muito pequena me acompanha nas lides com os caniços... é a Giovana, que faz parte de meu bando afetivo e que segue, também, o tranco de sua mãe e de seu pai nas pescarias.
Percorremos vários lugares cartografados ao longo de nossas andanças... pescamos na lagoa do meu pai, no bueiro perto de sua casa, no riacho que cruza nos fundos da casa, nas lagoas dos vizinhos e noutros lugares que vamos inventando... sempre vamos recriando a história das águas, das pedras, das plantas e das margens... cada enxurada muda os cursos e percursos... cada andança provoca a lembrança de histórias que levam a outras histórias... às vezes pescamos muito pouco... mais andamos, esperamos, conversamos, contamos coisas e inventamos outras... os afetos passam por essas coisas... por isso, além de algumas das coisas básicas de que a criança necessita para seus primeiros tempos fora da barriga da mãe, levei para Rafaela as coisas essenciais: seu primeiro, do que espero que sejam muitos livros... "Exercícios de ser criança", do Manoel de Barros... e, também, seu primeiro, do que espero que sejam seus muitos caniços... um pequeno caniço, com uma curta linha, um pequeno anzol e uma pequena chumbada!
Penso que essas sejam as coisas mais bonitas que podemos mostrar para nossas crianças... as histórias, as imaginações, os desavergonhamentos das palavras e das idéias, as descomplicaduras da existência, as bonitezas do existir... assimassim... a vida... e aí vai um retrato da pequena Rafaela com a tia boba!
oi maria luiza...
ResponderExcluiruma pescadora?
uma linda criança....cre ança...criação da natureza HUMANA.
qUE ELA possa ser isso... HUMANA!!!!
CARINHO e lambidas na Bb...
claudinhaV
Mas que belezura de pescadora, que seja muito bem vinda, felicidades a toda familia.
ResponderExcluirOi Maria Luiza!! Parabéns pela filha, ela é linda!!!
ResponderExcluirSou de Santo Ângelo mas tenho amigas, aí em Cruz Alta.
Boa pesca para você!!
E ensina sua filha também a pescar, e cultivar as coisas simples, pois isso que é importante na vida!!!!
Abraço!
Maria Luiza, a Rafaela já nasceu sortuda. Quem dera se todos os sobrinhos tivessem uma tia como você! Curta isso, pois não é sempre que podemos estar perto dos nossos pequenos.
ResponderExcluirAbração para essa tia boba e pra Rafaela.
Izabel