sábado, 12 de fevereiro de 2011

divulgação: HOMEOPATIA E CETICISMO

por: Marcus Zulian Teixeira
No início do ano passado (30/01/2010), com o propósito de endossar um movimento que propunha a suspensão do financiamento público para a prática homeopática no Reino Unido (Parlamento Britânico - Comitê de Ciência e Tecnologia), um grupo de céticos britânicos organizou uma manifestação midiática, na qual os seus integrantes experimentaram, em praça pública, frascos inteiros de medicamentos homeopáticos (escolhidos ao acaso), com o intuito de mostrar que eles não sentiriam quaisquer efeitos adversos, o que indicaria que os medicamentos homeopáticos são substâncias inócuas (placebo). Sem utilizar um modelo de acompanhamento dos experimentadores para uma possível avaliação dos resultados (metodologia científica), esse “teatro ao ar livre” foi reproduzido por outros grupos de céticos no Canadá e na Austrália. No último sábado (05/02/2011), essa manifestação foi repetida por céticos em diversos países, inclusive no Brasil. No artigo transcrito abaixo, Marcus Zulian Teixeira questiona os resultados apresentados pelos céticos (que alegam não terem sentido qualquer efeito nas referidas experimentações dos medicamentos homeopáticos), embasando sua conclusão nos resultados positivos de prática semelhante que realiza com estudantes de medicina da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) desde 2003.
Resultados da overdose maciça de remédios homeopáticos no Reino Unido: ceticismo ou preconceito?
(Tradução de “Results of mass overdose of homeopathic medicines in United Kingdom: scepticism or prejudice?”, publicado em 2010 no periódico “International Journal of High Dilution Research” em resposta à manifestação de 30/01/2010, semelhante a que ocorreu em 05/02/2011). [1]
Marcus Zulian Teixeira*
Como foram relatadas em diversas manchetes [2], em 30 de janeiro de 2010, às 10:23 horas, centenas de céticos tomaram uma overdose de remédios homeopáticos em frente às “Farmácias Boots” na Grã Bretanha (Birmingham, Bristol, Brighton, Edinburgh, Glasgow, Hampshire, Leeds, Leicester, Londres, Liverpool, Manchester, Oxford e Sheffield) para protestar contra a venda de remédios homeopáticos por essa rede, e também para provar que esses remédios não teriam nenhuma base científica. O mesmo foi realizado no Canadá e na Austrália.
Coordenados pela “Sociedade Merseyside de Céticos”, uma organização dedicada a “desenvolver e sustentar a comunidade cética”, os manifestantes engoliram o conteúdo de frascos inteiros de medicamentos homeopáticos para ilustrar sua idéia de que “são apenas glóbulos de açúcar”.
Baseados na suposição de que nenhum dos manifestantes apresentou quaisquer efeitos adversos depois deste “experimento maciço dos efeitos dos medicamentos homeopáticos”, concluíram que esses não têm atividade alguma no corpo humano, mas funcionam como placebo [3].
A experimentação de medicamentos (experimentação patogenética homeopática) é, de fato, um método excelente para comprovar os fundamentos homeopáticos, sempre que os experimentadores concordem em observar e registrar, sem preconceitos, as mudanças desencadeadas pelas substâncias preparadas segundo o método homeopático (diluídas e agitadas) em seus estados de saúde.
Por esse motivo, em relação ao episódio anteriormente relatado e seus supostos resultados, eu não posso deixar de questionar se tais “céticos” estariam, realmente, dispostos a mencionar qualquer mudança em seu estado de saúde observada depois da auto-experimentação.
Como o mais provável é que a resposta seja “não”, então proponho que ao invés de “céticos” sejam chamados de “preconceituosos”, porque lhes falta o verdadeiro “espírito científico”, ou seja, aquela postura que exige dos pesquisadores deixarem de lado as opiniões e idéias pessoais e preconcebidas quando se procuram respostas para as perguntas feitas na pesquisa.
Minha conclusão se baseia nos resultados obtidos no projeto “Experimentação patogenética homeopática como método didático”, que vem sendo realizado desde 2003 com estudantes da disciplina eletiva “Fundamentos da Homeopatia” [4] da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Trata-se de um protocolo científico (aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da FMUSP), onde são testados medicamentos homeopáticos na diluição 30cH – através de ensaios randomizados, placebos-controlados e duplos-cegos. Os estudantes de medicina experimentam esses medicamentos voluntariamente, observando os efeitos despertados pelos mesmos em seus estados de saúde. Com essa prática vivencial puderam ser confirmados vários sintomas descritos em experimentações patogenéticas prévias das mesmas substâncias, corroborando a premissa de que a “informação” contida nos medicamentos homeopáticos ultradiluídos pode produzir efeitos patogenéticos em seres humanos. Esse aspecto é um dos grandes obstáculos para que mentalidades que só admitem medidas quantitativas possam aceitar a homeopatia.
A experiência quali-quantitativa recém mencionada está descrita, em detalhes, no artigo “Experimentação patogenética homeopática breve: uma singular ferramenta educativa no Brasil”, publicado no periódico “Evidence-based Complementary and Alternative Medicine” (eCAM). [5]
No entanto, devo insistir que o requisito mínimo para que os fenômenos homeopáticos sejam constatados está na mente aberta dos observadores (como se posicionaram os estudantes de medicina da FMUSP), sem preconceitos, tanto na pesquisa quanto na terapêutica. Caso contrário, são “pérolas jogadas aos porcos”.
Referências
[1] Teixeira MZ. Results of mass overdose of homeopathic medicines in United Kingdom: scepticism or prejudice? [Letter to the Editor]. Int J High Dilution Res. 2010; 9(30): 3-4. Disponível em: http://www.feg.unesp.br/~ojs/index.php/ijhdr/article/view/374/412.
[2] Jones S. Homeopathy protesters to take 'mass overdose' outside Boots. Guardian.co.uk, London, 29 January 2010, Life & Style. Disponível em:http://www.guardian.co.uk/lifeandstyle/2010/jan/29/sceptics-homeopathy-mass-overdose-boots.
[3] Freeman H. Me and my homeopathic overdose. The Guardian, London, 3 February 2010. Disponível em: http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2010/feb/03/homeopathy-overdose-hadley-freeman.
[4] Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Disciplina eletiva “Fundamentos da Homeopatia” (MCM0773). Disponível em: http://sistemas2.usp.br/jupiterweb/obterDisciplina?sgldis=mcm0773&nomdis.
[5] Teixeira MZ. Brief homeopathic pathogenetic experimentation: a unique educational tool in Brazil. Evid Based Complement Alternat Med. 2009; 6(3): 407-414. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2722208/.
*Médico homeopata, PhD, professor e pesquisador da FMUSP,www.homeozulian.med.br.

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