ontem anotei em minha agenda de hoje, "resgatar trabalho com usuário XXXXXX". estava em atendimento comigo e uma médica o encaminhou, autoritariamente, para o caps, numa ocasião em que eu estava em atividade fora do local de trabalho... supunha que ele havia evadido... soube, algum tempo depois, o que se passara! usuário abusivo de cachaça, muito perspicaz, perdeu-se dentro de si mesmo. muito parecido, praticamente idêntico, com um amigo em situação idêntica. hoje, cedo, pensei: ligo cedo ou espero um pouco? resolvi esperar, pois as manhãs dele eram dedicadas ao sono etílico. antes de começar a labuta efetiva do dia, corro o olho pelo jornal da cidade e deparo-me com o convite para sua missa de sétimo dia. então, sentei e pensei muito!
para trabalhar com gente, é necessário paciência. para trabalhar com as plantas, também. dia desses, pensando nas coisas de "lidar com a terra", dei uma visada numa lorota que todo mundo usa: "mexo na terra pra me desestressar... é uma terapia!"... cheguei nesse ponto de pensamento, observando as plantas que plantei pra me "desestressar" e aquelas que plantei em dias calmos e tranquilos... as primeiras, raramente sobreviveram, enquanto as outras, vicejam como a minha alegria! quando percebi isso, nunca mais lidei com as plantas em dia de tempestade subjetiva e faço tudo que seja possível, para não ter que produzir essas tempestades... evito incômodos desnecessários, ignoro o que não me interessa, tento resolver o que não vai bem, pego distância de gente encrenqueira, enfim, trabalho com gente todos os dias e, além do mais, gosto de vida e de alegria! e para trabalhar com gente, é necessário vida e alegria!
estou nesses ponteios de pensamentos porque os últimos tempos têm me trazido essas questões de carreto! estou revisando minha leitura e minha prática sobre a psicologia clínica, a psicologia social, comunitária e institucional, e revendo coisas do século passado (acho tão bonito, isso de transitar entre dois séculos!) e tecendo outras tramas, que não as que aprendi antanho! ligadas nas noções vindas desses campos e da esquizoanálise, vou descaroçando a vida e o trabalho... a minha vida e o meu trabalho... a vida dos outros e o trabalho dos outros!
trabalho sempre enredada na ampliação da clínica... a clínica ampliada nos colocas sempre em conexão com outros lugares e trabalhos, e isso permite olhar o nosso trabalho e sua relação com o trabalho de todos os outros colegas (do mesmo campo e de outros campos)... isso me coloca em alguns volteios do cotidiano de trabalho. ao assumir algumas atividades novas de trabalho, tenho deparado-me, cara a cara, com os condicionantes dos "instituídos" e dos "instituintes" no campo do trabalho em políticas públicas! isso dá pano pra manga! e pros casacos também!
já atuei e transitei em todas as políticas públicas, para voltar ao campo da saúde mental e trabalhar melhor. voltei para o campo da saúde mental ao mesmo tempo em que resgatava a minha saúde mental. isso é muito bom, pois desenha outras -bem outras- possibilidades de trabalho!
como muitos outros trabalhadores no campo da psicologia, venho de uma formação teórica e acadêmica proibicionista, que preconizava tudo o que não se poderia ou deveria pensar e fazer... demorei a aprender que a vida -A VIDA- é feita, não do que NÃO se pode fazer, mas do que se PODE fazer. talvez as pessoas que estejam em acompanhamento de curto prazo comigo, não saibam o que isso significa em suas vidas, mas os que estão em acompanhamento de longa data, sabem exatamente o que isso signifique, pois é um efeito que repercurte em suas vidas! ah! também venho desse tempo em que o PROFISSIONAL IDEAL era aquele que não mostrava nada de si... era como se fosse um ser perfeito, desprovido de gentidade e de humanidade! isso ficou na esquina adulterada da existência PERFEITA!
no mais, estou em atalhos tentanto achar o caminho para lidar com minha intolerância com muitas coisas, para lidar com as diferenças e singularidades... e vejo como é difícil olhar o outro em sua singularidade e, principalmente, em sua projeção identitária! como é difícil lidar com quem parou no tempo de vinte anos atrás! como é difícil lidar com quem vive da intriga, da amargura e da desvitalização! como é difícil lidar com quem insiste em reproduzir o velho! como é difícil lidar com quem ve perseguição em qualquer movimento que o faça se desacomodar das coisas cristalizadas! como é difícil lidar com quem nunca andou! como é difícil lidar com quem vive do individualismo estéril e esterilizante! como é difícil lidar com quem usurpa da dignidade do outro! como é difícil tanta coisa! e eu não sei virar as costas, simplesmente, mesmo vendo que a turbulência destrutiva seja mais forte do que a vitalidade producente!
às vezes não há como simplesmente seguir e andar, pois, por questões institucionais temos que voltar na correnteza e tentar levar quem se agarrou em algum arbusto da margem... às vezes não há como levar... às vezes, a muito custo, conseguimos levar alguém conosco... às vezes, alguns simplesmente se afogam!
quem me encontra em suas andanças sabe que vamos, simplesmente, indo. sem ranços. com volteios. sem amarguras. com muitos risos e alegrias. sem futricos. com muitas conversações. sem atropelos. com muita paciência. com medos, mas também, com muitas coragens! vamos e vamos!
já fui de ficar e ficar! já fui de parar! já fui de desistir! mas isso se dava nos tempos em que era guiada por impossibilidades! hoje só olho para os possíveis!
não se trata de alimentar dicotomias. não se trata de preservar interesses. se trata, apenas, de ver quem quer olhar para frente e seguir. quem quer ir, vai. quem não quer, primeiro tenta abortar a caminhada, depois desiste -do boicote ou da própria impossível andança!
hoje, em conversa rápida com meu amigo roger, falando da recém constituída confraria da cachaça (é cachaça mesmo, não qualquer bebidinha de 5º de TA), discutindo o estatuto da referida entidade, ele me larga uma do paulo freire: "Proposta de lema para confraria: 'Aos esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e, assim descobrindo-se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam'". Paulo Freire
dada a proposta de lema, retruco que ando revendo minhas leituras de paulo freire e acho que há muita coisa que devemos ultrapassar... não estou com a crítica formulada, ainda, mas um dia a coisa vai! não vamos mais ficar falando de sofredores e explorados... temos que começar a fazer o discurso dos vivedores e dos vitalizados! lema de cachaceiro deve ser lema de vida!
enfim, produzir coisas diferentes das habituais, num dado campo de trabalho, requer muita paciência! talvez com o lema dos cachaceiros que não abusam da dita, a vida fica bem melhor, e o trabalho também!
ia versejar uns versos, para concluir, mas achei que seria muita redundância para um dia só!
para trabalhar com gente, é necessário paciência. para trabalhar com as plantas, também. dia desses, pensando nas coisas de "lidar com a terra", dei uma visada numa lorota que todo mundo usa: "mexo na terra pra me desestressar... é uma terapia!"... cheguei nesse ponto de pensamento, observando as plantas que plantei pra me "desestressar" e aquelas que plantei em dias calmos e tranquilos... as primeiras, raramente sobreviveram, enquanto as outras, vicejam como a minha alegria! quando percebi isso, nunca mais lidei com as plantas em dia de tempestade subjetiva e faço tudo que seja possível, para não ter que produzir essas tempestades... evito incômodos desnecessários, ignoro o que não me interessa, tento resolver o que não vai bem, pego distância de gente encrenqueira, enfim, trabalho com gente todos os dias e, além do mais, gosto de vida e de alegria! e para trabalhar com gente, é necessário vida e alegria!
estou nesses ponteios de pensamentos porque os últimos tempos têm me trazido essas questões de carreto! estou revisando minha leitura e minha prática sobre a psicologia clínica, a psicologia social, comunitária e institucional, e revendo coisas do século passado (acho tão bonito, isso de transitar entre dois séculos!) e tecendo outras tramas, que não as que aprendi antanho! ligadas nas noções vindas desses campos e da esquizoanálise, vou descaroçando a vida e o trabalho... a minha vida e o meu trabalho... a vida dos outros e o trabalho dos outros!
trabalho sempre enredada na ampliação da clínica... a clínica ampliada nos colocas sempre em conexão com outros lugares e trabalhos, e isso permite olhar o nosso trabalho e sua relação com o trabalho de todos os outros colegas (do mesmo campo e de outros campos)... isso me coloca em alguns volteios do cotidiano de trabalho. ao assumir algumas atividades novas de trabalho, tenho deparado-me, cara a cara, com os condicionantes dos "instituídos" e dos "instituintes" no campo do trabalho em políticas públicas! isso dá pano pra manga! e pros casacos também!
já atuei e transitei em todas as políticas públicas, para voltar ao campo da saúde mental e trabalhar melhor. voltei para o campo da saúde mental ao mesmo tempo em que resgatava a minha saúde mental. isso é muito bom, pois desenha outras -bem outras- possibilidades de trabalho!
como muitos outros trabalhadores no campo da psicologia, venho de uma formação teórica e acadêmica proibicionista, que preconizava tudo o que não se poderia ou deveria pensar e fazer... demorei a aprender que a vida -A VIDA- é feita, não do que NÃO se pode fazer, mas do que se PODE fazer. talvez as pessoas que estejam em acompanhamento de curto prazo comigo, não saibam o que isso significa em suas vidas, mas os que estão em acompanhamento de longa data, sabem exatamente o que isso signifique, pois é um efeito que repercurte em suas vidas! ah! também venho desse tempo em que o PROFISSIONAL IDEAL era aquele que não mostrava nada de si... era como se fosse um ser perfeito, desprovido de gentidade e de humanidade! isso ficou na esquina adulterada da existência PERFEITA!
no mais, estou em atalhos tentanto achar o caminho para lidar com minha intolerância com muitas coisas, para lidar com as diferenças e singularidades... e vejo como é difícil olhar o outro em sua singularidade e, principalmente, em sua projeção identitária! como é difícil lidar com quem parou no tempo de vinte anos atrás! como é difícil lidar com quem vive da intriga, da amargura e da desvitalização! como é difícil lidar com quem insiste em reproduzir o velho! como é difícil lidar com quem ve perseguição em qualquer movimento que o faça se desacomodar das coisas cristalizadas! como é difícil lidar com quem nunca andou! como é difícil lidar com quem vive do individualismo estéril e esterilizante! como é difícil lidar com quem usurpa da dignidade do outro! como é difícil tanta coisa! e eu não sei virar as costas, simplesmente, mesmo vendo que a turbulência destrutiva seja mais forte do que a vitalidade producente!
às vezes não há como simplesmente seguir e andar, pois, por questões institucionais temos que voltar na correnteza e tentar levar quem se agarrou em algum arbusto da margem... às vezes não há como levar... às vezes, a muito custo, conseguimos levar alguém conosco... às vezes, alguns simplesmente se afogam!
quem me encontra em suas andanças sabe que vamos, simplesmente, indo. sem ranços. com volteios. sem amarguras. com muitos risos e alegrias. sem futricos. com muitas conversações. sem atropelos. com muita paciência. com medos, mas também, com muitas coragens! vamos e vamos!
já fui de ficar e ficar! já fui de parar! já fui de desistir! mas isso se dava nos tempos em que era guiada por impossibilidades! hoje só olho para os possíveis!
não se trata de alimentar dicotomias. não se trata de preservar interesses. se trata, apenas, de ver quem quer olhar para frente e seguir. quem quer ir, vai. quem não quer, primeiro tenta abortar a caminhada, depois desiste -do boicote ou da própria impossível andança!
hoje, em conversa rápida com meu amigo roger, falando da recém constituída confraria da cachaça (é cachaça mesmo, não qualquer bebidinha de 5º de TA), discutindo o estatuto da referida entidade, ele me larga uma do paulo freire: "Proposta de lema para confraria: 'Aos esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e, assim descobrindo-se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam'". Paulo Freire
dada a proposta de lema, retruco que ando revendo minhas leituras de paulo freire e acho que há muita coisa que devemos ultrapassar... não estou com a crítica formulada, ainda, mas um dia a coisa vai! não vamos mais ficar falando de sofredores e explorados... temos que começar a fazer o discurso dos vivedores e dos vitalizados! lema de cachaceiro deve ser lema de vida!
enfim, produzir coisas diferentes das habituais, num dado campo de trabalho, requer muita paciência! talvez com o lema dos cachaceiros que não abusam da dita, a vida fica bem melhor, e o trabalho também!
ia versejar uns versos, para concluir, mas achei que seria muita redundância para um dia só!
Eu...
ResponderExcluirEu ando cismado, pois percebo me, hoje, em um processo de transformação, como diria o saudoso Raul Seixas, uma metamorfose ambulante. Esta condição é claro
torna natural algumas incertezas, faz parte do aprendizado rever opiniões, valores, em fim, abrir mão do senso comum, isto a luz da teoria!
Teve um professor que brilhantemente nos dizia que seria preciso para um devido aprendizado esvaziar o cesto, retirando dele, todas as laranjas, pois segundo ele ali estavam misturadas as boas e as mas. Seguia nos dizendo que num segundo momento depois de nos abrirmos para o novo, poderíamos e deveríamos repor ao cesto as laranjas boas antes retiradas. Hoje percebo que valorizava o conhecimento empírico, não descartava, o professor, os valores vindos da conjuntura social vivida por cada um de seus alunos.
A cisma a que refiro me, no entanto, diz respeito ao oposto da metáfora, e, a contradição que percebo oriunda de quem não esvazia o cesto. Mais do que isto, parece mesmo, não haver espaço para mais nada. As contradições surgem o tempo todo, e a cisma resulta da impossibilidade de se perceber nas falas, alguma coisa acadêmica que tenha superado o senso comum. Algumas questões surgem daí. Este ser humano em desenvolvimento busca respostas! As questões que parecem simples tornam se complexas ao não reconhecer o companheiro de estrada. Alguns exemplos para ilustrar as falas sobre os casos atendidos costumam girar em torno dos valores do técnico ( sua história de vida). Normalmente começam assim! Eu quando era pequeno... É aqui que a cisma aparece, e ponho me a pensar: “mas e aquela aula onde se falou que o ser humano é fruto de sua história de vida’’.
São inúmeros os exemplos que poderia citar, que ilustram esta dificuldade de entender o outro, e desta forma minha cisma, mas vamos adiante. Eu durante boa parte de minha vida trabalhei em obras (instalação elétrica...), e hoje, a pesar de um dia ter sonhado em estar entre intelectuais, colocando minhas idéias e mais do que isso aprendendo, sinto me um tanto quanto decepcionado, pois mesmo diante destas incertezas uma definição já tenho, venho de um mundo mais verdadeiro, mais honesto, um mundo onde o coletivo ainda esta a frente do individual. Em obras da construção civil alguns podem não acreditar, mas trabalham juntos, ateus, evangélicos candomblé etc. Nestas obras quando falta, na marmita de um, sempre, e, é sempre mesmo, este acaba comendo uma quantidade maior, tamanho as ofertas. O “eu’’ nas obras tem seu valor exato, nunca, e, é nunca mesmo, vale mais do que o “nós”.
Um trabalho que exija um dispêndio de força física maior sempre terá um número maior do que o necessário, de pessoas a sua volta. As brigas com o empregador, a passada no bar tudo é decidido em conjunto.
E a cisma permanece:Estou melhor hoje?Estou aprendendo ou desaprendendo? Hoje não tenho respostas, no entanto, sei que nem tudo é o caus. Se existe o certo, a também o errado e com ambos ei de apreender, não sou eu que direi que no meu tempo era assim ou assado, melhor ou pior etc. mas que muitas pessoas decepcionam a decepcionam e são muitas mesmo. Outras deixaram saudades, pela clareza das idéias. Vou procura las!
claudio, tenho uma anotação em aberto, comentando outro comentário seu e, com o de hoje, isso merece um texto! no aguardar, a coisa chega!
ResponderExcluirabraço carinhoso, com alegria por nossos caminhos terem se transversalizado!