segunda-feira, 7 de março de 2011

divulgação: Uma em 4 mulheres relata maus-tratos durante parto

dia desses, recebi para atendimento, uma senhora que perdeu a filha depois de receber o descaso como atendimento na rede pública. seu quadro de gestação já apontava para a possibilidade de nascimento do bebê. feto pronto. dores. e outros sinais. a médica do SUS que a atendeu, mandou-a para casa, pois, segundo ela, ainda demoraria alguns dias para que o bebê nascesse. e a médica teve que sair, às pressas, para atender o parto de outra senhora, num hospital privado que não atende pelo SUS. a senhora atendida pelo SUS foi para casa, com suas dores, com seu bebê, com sua simplicidade, com sua falta de dinheiro e de convênios com planos de saúde. foi para casa e na madrugada, com dores insuportáveis, seu bebê sucumbiu. no amanhecer, levada ao hospital, restou-lhe somente a retirada de um feto sem vida!
essa situação me fez lembrar de outra pessoa que, há vários anos, recebi em atendimento. era uma trabalhadora da saúde que auxiliava na realização dos partos atendidos pelo SUS num determinado hospital. essa pessoa não suportou mais trabalhar nessa função e nesse lugar, pois não soube como conduzir e nem como lidar com o descaso e o descuido da maioria dos profissionais daquela instituição para com as gestantes e para com os partos realizados pelo SUS, principalmente porque os mesmos profissionais e o mesmo hospital atendiam de forma absolutamente diversa, as gestantes e os partos realizados com cobertura de planos de saúde privados ou mediante pagamento particular.
enquanto nossas instituições públicas de ensino continuarem formando trabalhadores em saúde com olhar privatista e desinteressados pela coletividade, certamente o SUS e as gentes continuarão recebendo esse tipo de atendimento.
faço essa introdução, para postar ainda uma matéria da Folha de São Paulo sobre os maus-tratos recebidos durante o parto.
Uma em 4 mulheres relata maus-tratos durante parto
Queixa é mais frequente em hospital público, mas ocorre também em particular
Agressões vão de exames dolorosos a xingamentos e gritos; secretário diz que situação é intolerável
por LAURA CAPRIGLIONE - DE SÃO PAULO
Chorando em um hospital, agulhada pelas dores das contrações do parto, mulheres brasileiras ainda têm de ouvir maus-tratos verbais como: "Na hora de fazer não chorou, não chamou a mamãe. Por que tá chorando agora?"; ou "Não chora não que no ano que vem você está aqui de novo"; ou ainda "Se gritar, eu paro agora o que estou fazendo e não te atendo mais".
Uma em cada quatro mulheres que deram à luz em hospitais públicos ou privados relatou algum tipo de agressão no parto, perpretada por profissionais de saúde que deveriam acolhê-la e zelar por seu bem-estar.
São agressões que vão da recusa em oferecer algum alívio para a dor, xingamentos, realização de exames dolorosos e contraindicados até ironias, gritos e tratamentos grosseiros com viés discriminatório quanto a classe social ou cor da pele.
Os dados integram o estudo "Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado", realizado em agosto de 2010 pela Fundação Perseu Abramo e pelo Sesc e divulgado agora.
A Folha obteve com exclusividade o capítulo "Violência no Parto", que pela primeira vez quantificou à escala nacional, a partir de entrevistas em 25 unidades da Federação e em 176 municípios, a incidência dos maus-tratos contra parturientes.
Coordenado pelo sociólogo Gustavo Venturi, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, o estudo constatou uma situação que Janaina Marques de Aguiar, doutora pela Faculdade de Medicina da USP, já tinha captado em estudos qualitativos. "Quanto mais jovem, mais escura, mais pobre, maior a violência no parto."
O estudo mostra, por exemplo, que as queixas são mais frequentes no caso de o local do parto ser a rede pública, com 27% das mulheres reportando alguma forma de violência. Em 2009, foram quase 2 milhões de partos feitos nas unidades do Sistema Único de Saúde. Quando a mulher dá à luz em um serviço privado, as queixas caem a 17%.
Ressalta no estudo a diferença de tratamento em municípios pequenos, médios e grandes. Quanto maior o município, maior a incidência de queixas.
Segundo Sonia Nussenzweig Hotimsky, docente da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a diferença pode ser atribuída à "industrialização" do parto nos grandes hospitais. "Em uma cidade pequena, as pessoas acabam se conhecendo e o tratamento tende a ser mais humanizado".
Desde 2004, o Ministério da Saúde tem entre suas prioridades a humanização do parto. Mesmo assim, até hoje não conseguiu nem sequer universalizar o direito das parturientes a um acompanhante de sua confiança, conforme lei de 2005.
Segundo Helvécio Magalhães Jr., secretário de Atenção à Saúde do ministério, a situação "é intolerável". Segundo ele, "a humanização do parto está no centro da política de saúde do governo". Sobre a lei do acompanhante, o secretário diz que é essencial seu cumprimento até para "coibir os abusos".

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