quinta-feira, 10 de março de 2011

prenúncio aos temas polêmicos

começo dizendo que tenho pensado muito sobre o que sejam os temas “polêmicos”... os temas são polêmicos para quem? Os temas são polêmicos para quem não os aceita de forma diversa do que esteja habituado a pensar, sentir e dizer! Os temas são polêmicos para quem só olha pela luneta limitada e conservadora da “tradição” ordeira! No mais, para quem vive as coisas que, para o ideário dominante sejam “polêmicas”, as coisas não são polêmicas, mas vitais! Eu, por minha vez, tenho sentimentos de honra quando me chamam de “polêmica”... não suportaria se me chamassem de “queridinha dos quetais”, ou “a centrada”, ou outras coisas do gênero! Tenho o maior orgulho por vier num tempo de transição entre o que era dado como absoluto e o que vem das entranhas das gentes” Não me interessa o consenso! Sou o dissenso! O consenso só me interessa quando reúne a maior parte dos coletivos! postas essas coisas em postas, as quais retomarei, com certeza, em outros momentos, apanho no ar algo que circulou nas ventanias midiáticas do dia de hoje. A mídia dominante gosta da desgraça. Vive disso. Vive de suas bem escolhidas e pensadas publicidades milionárias. Mídia que vende segurança, vende amor, vende relacionamentos, vende fama, vende ardores, vende temores, vende estertores, vende enlatados feitos para alimentar a fome de quem tem fome das coisas servidas nos enlatados, vende roupa, vende nudez, vende banalização, vende cartão de crédito, vende fantasia, vende esterco de fantasma pra adubar existências vazias, vende coitos interrompidos feitos para completar os pontinhos, vende fama feita para mostrar cascas que não tem o que mostrar por dentro, vende coisas!
cá pelas plagas de Érico (o Veríssimo), dentre muitas coisas que se pega um recorte e se faz o retrato, muitos apressados correm às condenações civis e criminais de duas colegas, trabalhadoras do campo da saúde pública, que por conta do erro extremo, certeiro e fatal de uma delas (estendido à ação da outra), provocou o óbito de um usuário do SUS que buscou ajuda numa situação de emergência. Uma errou pelo despreparo e outra, pelo temor hierárquico numa relação de trabalho verticalizada. Ninguém tem motivos para defender qualquer tipo de erro nesse campo, mas sempre anoto algo que é muito preciso nas práticas profissionais (principalmente nas públicas) e que se perpetua fazendo um mundo cheio de desvitalização.
Penso que não se trata de tomarmos uma situação específica e pintarmos o quadro da desgraça. Há inúmeras atividades que permitem o exercício da morte cotidiana, lenta, vagarosa, imperceptível, corrompida, postulada, intencionada, cruel. O campo da saúde é pródigo nisso e o da educação, não menos. O da Assistência Social, agora que abre caminhos diversos do assistencialismo, tem sido um pouco mais humanizado.
no campo da educação, o “professor” professador da dor, mata primeiro a si mesmo e depois, sai em batalha, caçando caçados (não penso que todos os “professores” sejam dessa estirpe)! No campo da saúde, cometemos erros muito mais precisos e certeiros, diferentemente dos “professores” que o fazem de forma mais lenta. Na saúde, ou melhor, na doença, erramos no “diagnóstico”, no medicamento, no tratamento, na mistura de drogas químicas, no alvo da mistura das drogas químicas, ou em qualquer ação desconecta, tipo a medicamentalização da vida, ou o atendimento relâmpago, ou a (des)atenção contumaz e: bimba! Se foi a vida do cidadão! Não só a vida-vital ou as potências de vida, mas a vida que mantém o corpo em movimento sob a cabeça que nem sempre está em movimento! Há trabalhadores que nem ligam pra isso... pra esses, a morte de um “paciente” é como na situação de um mecânico que, quando for o caso, troca as peças e se isso não mais bastar, condena a carcaça!
a mesma mídia dominante que veste suas roupas de urubu e aguarda uma carne fresca para se alimentar (diga-se de passagem: carne humana!), é a mídia que condenou a “consciência” daquele famoso fotógrafo (do qual não lembro o nome) que fez o retrato de um menino etíope que, de cócoras, sonolento, amortecido, em meio ao deserto, aguardava a morte (da qual ele nem sabia, pois não teve tempo de saber dessas coisas)... condenavam ao fotógrafo por não ter fotografado, como se ele não pudesse testemunhar, com seu retrato, o escárnio de toda a dita humanidade, à precariedade de um povo que nem comida tinha para poder espantar o corvo!
não é isso que deve nos interessar, mas sim, as redes de solidariedade que se formam em torno da vida e da alegria. Não uma alegria forçada, medida ou planejada num sorriso medido e planejado, mas a alegria que vem de dentro e que contagia. A alegria daqueles que pedem passagem para as suas vidas e para as vidas dos outros! Isso é algo que me contorce as entranhas e que me faz ser cada vez mais intensa! E precisa!

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