terça-feira, 22 de março de 2011

a vida pede passagem!

Dia desses, o colega e amigo Cláudio comentou (em: http://marialuizadiellooutrascompotas.blogspot.com/2011/03/os-concurseiros.html): “O concurso necessário para ingressar no serviço público é sem duvida a forma democrática, que vem fazer frente ao apadrinhamento historicamente utilizado no Brasil para beneficiar parentes e demais parasitas que vivem na órbita dos políticos de carreira. Estes parasitas, é claro, são crias dos próprios políticos que encontraram, e ainda, em muitos casos encontram, nisto a forma de se perpetuarem no poder.
A condição de funcionário efetivo, que deveria livrar o trabalhador dos mandos e desmandos eleitoreiros vem, contraditoriamente, a acomodar as pessoas. Desta forma percebe se, em muitos casos, funcionários descompromissados com o resultado de seus trabalhos. Percebe se aqui, até mesmo uma inversão da lógica, são os gestores que estão agora refem dos funcionários públicos.
O concursado hoje esta acima do resultado do trabalho, pode ele tudo, não existe limites para sua autonomia, numa verdadeira inversão de valores determina sua forma de atuar, quando atuar, e com quem atuar. Impõe se, assim, uma verdadeira dança das cadeiras, pois quando iniciasse as cobranças, iniciam se também os pedidos de remoção, as queixas quanto a esstres , os laudos médicos etc.
Este funcionário aqui, não tem a pretensão de ser melhor em relação a outros, pois sabe, que tem grandes profissionais como colegas, pessoas que admira pela capacidade e pelo respeito com que tratam a coisa pública,no entanto, tem vivenciado estas contradições.
Tendo sido aprovado no ultimo concurso, na prefeitura de Cruz Alta, para o cargo de monitor de abrigo temporário. Nunca, no entanto, atuei em um abrigo, passando logo a trabalhar em um CRAS. Neste período dediquei-me aos estudos, tanto acadêmicos, quanto no campo de trabalho. Quem acompanhou me neste percurso, sabe, que modéstia a parte, eu não vacilei. Aproveitei cada momento dedicando me a apreender a metodologia para melhor desenvolver meu trabalho.
Por competência minha, e por estar entre pessoas que acreditam nas políticas públicas, hoje sou coordenador da instituição. O problema é que sou concursado de nível ensino médio tendo assim que conviver com rumores vindos de muitos, e também com alguns poucos comentários diretos dizendo que tenho que fazer concurso para Assistente Social, para, ai então, “entrar pela porta da frente”. Procurei, também, por questões pessoais ( melhorar o orçamento etc.), realizar alguns trabalhos necessários a população e assim a prefeitura, fora de horário, o que também esta sendo considerado uma afronta ao concurso.
Minha formação, percebo, é ressaltada quando não há o interesse de outros no trabalho. Quando necessário lembram-me que sou Assistente Social, quando não, lembram-me que não sou concursado. Assim formação acadêmica, dedicação etc. ficam em segundo plano. Para inverter esta lógica, defende se aqui a implantação de um plano de carreiras, que reconheça o esforço de quem leva a sério o serviço público.
Mas é vida que segue, penso que a grande maioria dos funcionários, é feita de gente séria. Eu to na estrada, na tranqüilidade, às vezes é preciso apenas parar e refletir um pouco. Esta condição de “meio concursado”, por exemplo, faz me ver que tenho colegas “CCs” que trabalham muito, que comprometidos com seus ideais dedicam se as políticas publicas como muito poucos efetivos fariam.
Por fim só deixo meu entendimento! Digo que é a competência de cada um, e esta é resultado do quanto cada um se deixe envolver pelo que faz que vai determinar o alcance de objetivos, sejam eles quais forem.
Diello e demais companheiros, sei que mais que algum comentário acabo escrevendo um texto, não te preocupe com respostas, quando puderes, no entanto, será um prazer te ouvir. Parece-me que as respostas estão no cotidiano, basta pararmos, vez por outra para uma reflexão, isso é claro após uma boa leitura, e, teu blog, nos trás isto”.
Claudio, quando os comentários são enviados por email, acabam acontecendo conversas mais restritas e, no público, sempre tenho a preocupação em comentar o que seja comentado, principalmente vindo de você, que é um colega e amigo de grande valor, pois, entre poucos outros, me ajudou a retomar a crença na possibilidade de se produzir o novo nas políticas públicas! Reconheço que tanto eu quanto você, temos muitos equívocos e posições a revisar, mas isso a caminhada nos ajuda a fazer, pois sem isso, não há nem caminhada e nem como revisar! Mas entre tantos equívocos, temos o mérito precioso do trabalho bacana que fazemos e das coisas que ajudamos a mudar no mundo em que vivemos e nos campos em que atuamos!
Vejo que esse preconceito que se desenha com relação à especificidade de seu concurso (monitor de abrigo), seja somente uma das fontes dos maiores equívocos no campo do trabalho público, principalmente se considerarmos o fato de que muitos trabalhadores que atuam em seu campo de formação acadêmica – serviço social-, o façam de forma absolutamente precária e equivocada! O trabalho público, que é, para alguns, a possibilidade de poderem atuar de forma mais incisiva junto ao coletivo, para outros, é somente a possibilidade de simplesmente desconhecer o coletivo!
O que não podemos aceitar –e com muita razão- é o fato de que muitos gestores, em desrespeito aos trabalhadores concursados, acabem não confiando a condução das políticas públicas aos trabalhadores nomeados, relegando a função aos CC’s e outros quetais. É claro que o trabalho do CC seja absolutamente importante quando esse seja chamado a atuar no campo público em função da solidez em sua caminhada humana e profissional, vindo a contribuir técnica e teoricamente para o trabalho a que é chamado, principalmente quando não há um concursado que dê conta daquilo que se necessita! Não podemos pensar que todos os CCs sejam da estirpe que se aproveita dos joguetes políticos partidários para terem um emprego e uma remuneração. São exatamente os CCs que, muitas vezes, acabem trazendo ares novos para o meio do nosso trabalho... o que nós, aqui em nossas plagas, é claro, conhecemos muito pouco!
Há posições distintas entre a condição de servidor e a de trabalhador público... e essa é uma denominação (mera denominação) que já era motivo de pendengas quando começamos a discutir a reforma administrativa –nos idos de 2005- e um colega retrógrado e conservador defendia a denominação de “servidor público”, em “respeito à Constituição”. Veja-se que a Constituição seja algo a se respeitar no tocante à garantia dos direitos individuais e coletivos dos cidadãos, mas no mais, deve ser problematizada e revisada. Assim, se voltarmos às atribuições de Hércules, veremos que o que nosso legado cultural seja o do trabalho e não do mero serviço! Trabalho é algo a ser produzido, mas com o contrato de que essa produção convoca a presença da pessoa e de sua subjetividade! Não basta servir, é necessário estar ao dispor de! Não se trata de colocar meramente o corpo ao dispor, mas também a existência! Ou seja, aquilo que pensamos e fazemos da vida, da ética, da existência e da vida, é absolutamente importante para o que operamos em nosso trabalho! E não se trata de sermos modelo de qualquer coisa (como quer o ideário dominante), mas sim, protagonistas e cientes da coisa que fazemos! Nosso trabalho com a coisa pública é para o coletivo!
No que se refere especificamente aos comentários do Cláudio, sou tentada a redizer, em primeiro lugar, que o trabalho é uma invenção do homem e, além disso, que: o âmbito público, a instituição pública é feita de gente (o que, é óbvio, não é exclusividade do âmbito público, mas aqui, quero me deter nessa dimensão) e, sendo feita de gente, é feita desses desencontros (muito mais do que de encontros). E, com certeza, a estrutura de trabalho público está engessada por trabalhadores –ou melhor, pseudo-trabalhadores- públicos que seguem somente os seus próprios interesses. Reconheço que seja desesperador, para um gestor público, pensar na operacionalização das políticas públicas, olhar para o quadro de trabalhadores e ver a imensa maioria desses, inoperantes, preocupados somente com o retorno financeiro (que, se vivemos no mundo capitalístico, é óbvio que necessitamos disso, mas não pode ser somente para isso!), sequer pensa naquilo que se constitui como sua atividade de trabalho e, muito menos, na dimensão da política pública em que atua!
Sabemos que as políticas públicas são pródigas na perpetuação da condição de cabide emprego! Lembro das primeiras “lições” que muitos colegas veteranos tentavam me ensinar, quando assumi meu primeiro trabalho público e era orientada a regular meu sangue novo, pois seu fervor dá e passa na medida em que vamos nos deparando com o engessamento, a burocracia e o emperramento do trabalho público (e para me animar, quando lembro disso, olho para o fato de que o meu sangue fica cada vez mais quente e não é necessário muita coisa para fazê-lo ferver!)! Outros tentavam me mostrar como passar o mais despercebida possível! E outras coisas!
Para ficarmos só no campo das políticas sociais, podemos ver que se olharmos para o campo da saúde, vemos os corporativismos; os jogos interesseiros; os desrespeitos para com o usuário; o absoluto desconhecimento, por grande parte dos trabalhadores e da população, sobre o que seja o SUS; entre muitas outras coisas! Se olharmos para o campo da educação, não é muito diferente! Se olharmos para o campo da assistência social –que é uma política mais jovem-, ainda podemos desenhar mais esperanças, pois vem num galope bonito, descascando os vícios do assistencialismo e produzindo uma coisa mais bonita na construção da política e na operação de sua prática!
Sabemos que são esses trabalhadores e essas práticas nefastas que acabam se consolidando, perpetuando e tomando conta das políticas públicas, e acaba sendo assim, exatamente pelo fato dessas gentes formarem a maior parte do contingente de trabalhadores públicos, sendo que, aqueles que fazem parte da minoria atuante e ciente de sua responsabilidade para com o coletivo, vão desbravando os terrenos, mas quando se deparam com tantas dificuldades, vão, aos poucos, recuando!
Tenho falado muito mais das dificuldades do trabalho público, do que das facilidades. Temos nos deparado e olhado para as paralisias que nos fazem empacar! Reconheço isso. Ocorre que é o que mais encontramos: as dificuldades! E o que mais vejo, são recuos e falta de coragem para fazer enfrentamentos absolutamente necessários!
Mas há algo muito bonito que temos visto no campo das políticas sociais em Cruz Alta, que é o encontro que vem acontecendo, exatamente desse contingente de trabalhadores que formam a minoria dos trabalhadores... e é isso que nos mostra muito mais do que as dificuldades... é isso que nos mostra os possíveis e aquilo que podemos produzir com a comunidade! Isso é o que se faz com o contágio... portanto, é tempo de olhar para as paralisias, mas muito mais, de produzir contágios de movimentos! A vida pede passagem!

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