Há uma semana ouvia Thiago Rodrigues e Guilherme Correa falando sobre a questão das Drogas, Educação e Política, e Thiago, que estuda sobre o narcotráfico e seus desdobramentos políticos, sociais e humanos, trazia muitos elementos importantes para pensarmos o assunto. No desdobramento dos dias, vemos o cenário carioca também se desdobrar!
Hoje, em meio ao verde da tarde leituras e escritas, recebo um email dum ex-colega do curso de mestrado, que traz o seguinte dito: "Quem tem que perdoar ou não os traficantes do Alemão é Deus; a turma do Bope tem apenas que antecipar o encontro deles", de Rodrigo Constantino.
Estupefata por ver que tanto estudo pode levar uma pessoa a pensar essas coisas, fui novamente dar uma olhada num texto de grande valia para o momento.
Aí vai:Cuidados e segurança
No Brasil, certos candidatos às eleições de 2010 lançam mão da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) como “sinônimo de ação que pode dar certo”.
Na América do Norte e na Europa fortalecem-se, desde 2008, as “Unidades Territoriais de Bairro (UTB)”, atualmente denominadas “Brigadas Especializadas de Terreno (BET)”, adaptações francesas da community policing, executadas em Chicago e Londres.
Autoridades governamentais, à direita e à esquerda, proclamam: “queremos uma sociedade respeitosa e não uma sociedade rígida, violenta, brutal e egoísta”!
Reconhecem que o cidadão deixa de ser uma ficção, quando o sujeito de direito caminha para se tornar o “indivíduo portador de direitos de uma igualdade formal, rumo à igualdade real”, ou seja, quando se dispõe a cuidar de si e dos outros.
Este cidadão “evoluiu” no interior das lutas de minorias, e reinscreveu o universal na pluralidade e na multiplicidade das demandas identitárias, relacionadas umas às outras. Ele reconhece suas vulnerabilidades específicas e a interdependência das necessidades.
A expansão do pluralismo político em cada indivíduo ampliou o leque de escolhas racionais em variadas organizações da sociedade civil, para além das arregimentações partidárias.
É uma realidade neoliberal em função da cooperação e do bem comum, não apenas como sistema de governo de Estado e dos indivíduos. Todos devem cuidar de si e dos demais, porque todos dependem de algo, e para obtê-lo, de modo seguro, devem pautar suas condutas por meio da tolerância e da confiança de uns nos outros pela difusão da transparência.
A educação de cada um como capital humano, apesar da crise que eclodiu no sistema financeiro em 2008, não teve sua racionalidade abalada.
Os chamados países emergentes, como o Brasil, almejam despontar como potências do século XXI. Orientam-se com base na política participativa, na economia sustentável com responsabilidade sócio-ambiental, na variedade de direitos e em segurança modulada por cada cidadão e pelas tecnologias de informação e comunicação.
A expansão do pluralismo político propiciou o pluralismo policial, projetando o sujeito cosmopolita real.
Em poucas palavras: o súdito passou a ser cidadão e este a sujeito portador de direitos; em suma, permanece amando a sua condição e aspirando a uma “evolução” dentro da ordem.
Ele, ou ela, não se rebela contra a sujeição e amplia suas condutas como assujeitado, um amante das melhorias, na sua condição inquestionável de vida. Sobrevive como força reativa, exercitando a apatia ativa e conformando-se como um policial de si e dos outros.
É um zelador, ou melhor, um gestor que aspira conjugar o empreendedorismo de si com o empreendedorismo social, almejando a felicidade.
Chama-se isso de política de pacificação ou polícia da paz!
A UPP funciona como uma modulação da prática ditatorial contra a subversão em nome da profilaxia do meio ambiente.
A UPP incide sobre territórios devastados pela empresa-tráfico que acossa e encarcera a população local ao seu regime de governo.
A UPP combate seu inimigo preferencial e produz, por meio de uma intervenção violenta, o assombro na população acossada.
Esta responde, surpreendentemente, de maneira favorável à ação repressiva como população libertada e disponível à revitalização cuidadosa do seu território.
Agora, uma criança pode ir a uma padaria sem se assustar mais com o policial, e descrer da proteção efêmera proporcionada pelas organizações do tráfico ou das milícias.
Em pouco tempo e de maneira gradual, uma prática de governo ditatorial realiza-se como um programa democrático.
Possibilita a cooperação como restauração do amor à comunidade, fortalece a ação das ONGs, favorece o investimento de empresas e bancos, e reafirma a crença na segurança por meio da polícia do Estado, que permanecerá no local integrada à comunidade emancipada à condição de polícia de si
Quando o sujeito portador de direitos se sentir fortalecido em sua família, apto ao trabalho regulamentado, dependente e solidário aos cuidados, mais uma vez, os lucros econômicos, políticos e policiais serão maiores.
A polícia repressiva transforma-se em fomentadora da polícia comunitária composta pela totalidade dos cidadãos e dos futuros cidadãos.
É essa prática totalitária pelo seu avesso que faz da UPP, não uma metáfora, e sim o programa mais efetivo e eficiente de segurança na atualidade.
A UPP habita desde os territórios devastados até o discurso político partidário, redesenhando as práticas punitivas, a moral do castigo e a sociabilidade autoritária.
Para viver é preciso aderir ao não pode! Eis o cuidado.
Atenção: há outro perigo na esquina; querem nos fazer crer que o manto do cuidado nos protege do potencial perigo que está em cada um de nós.
Nessa sociedade, para haver segurança, todos devem ser monitorados.
Somos todos virtuais terroristas!
Isto não é só neoliberalismo, é a maneira pela qual somos educados para nos governar e governar os outros.
Configura-se uma nova subjetividade do capital humano em que cada um deve se sentir seguro de si, por depender do outro!
Porque as pessoas não cuidam de si para serem livres?
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