Já faz aniversário que combinei com os pássaros, as canções que deveriam entoar para sua chegada e, com as plantas, as pétalas que deveriam cultivar para jogarem ao solo, quando você viesse.
Os pássaros e as plantas, não sei se de propósito ou se pelo treino diário, surpreendem-me todos os dias, com as canções e com as pétalas que lhes pedi.
A vizinha rusguenta alça vôo em sua vassoura feroz, todos os dias, para varrer as pétalas que cobrem o chão e, de tempo em tempo, grita de sua alcova, que não suporta mais tanto barulho de passarinho e nem tanta sujeira jogada pelas árvores. Eu, fazendo-me de desentendida, olho para as plantas e, elas, divertidas, balançam seus ramos e jogam mais pétalas ao chão; olho para os pássaros e eles, espertos, pousam num lugar qualquer, tomam fôlego e num repente saem numa cantoria sem fim.
Tudo isso já faz aniversário e é ensaiado todos os dias. Hoje, o alvorecer do dia me surpreendeu com os pássaros na cantoria mais animada que já ouvi. Adormeci novamente, pensando que estivessem na farra de sempre. Depois, senti seu rosto encostando-se ao meu, seu pescoço roçando meus lábios, seu abraço se aninhando no meu, seu cheiro abrindo meu sorriso, sua presença animando minha vida. Fiquei bem quieta, de olhos fechados, temendo que fosse só um sonho.
Quando a manhã já anunciava o sol bonito, acordei com o cheiro de café passado, com o barulhinho bom da sua presença pela casa e o assoalho tomado pelas pétalas das flores da rua. Chamei-lhe e não veio resposta. Saí pela casa à sua procura e não lhe encontrei. Pensei que tivesse saído pra fazer a feira, como sempre. Servi o café e fui para a luz esverdeada nos fundos de casa. Foi então que fui percebendo que ninguém estivera fisicamente dentro de casa. As portas estavam tão trancadas quanto as deixara antes de dormir. Bebi o café como algo sagrado. Recolhi as pétalas como algo profano. Mas o seu cheiro, não tive como pegar... está espalhado pela casa e eu não sei como ele entrou aqui.
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