quarta-feira, 5 de maio de 2010

Para 2010!

AINDA EM 2010 - Este foi o meu desejo para o incerto e estranho ano de 2010: Dia desses a poesia bateu em minha porta e feito uma vizinha tagarela, se pôs a me dizer coisas que há tempos meus ouvidos não viam. Convidei-a a sentar e ela, irreverente, retrucou-me que não queria só sentar e tirar um dedo de prosa e sim, descarregar suas coisas e aqui fazer morada. Feito terra dada à função social da existência, arredei meus bancos, limpei a poeira pesada daqueles dias de sizo e abri as portas para que ela voltasse para a casa que sempre fora sua. Resignei-me aos seus encantos. Pedi-lhe provas de que estivesse mesmo vindo pra ficar. Ela, apesar de tagarela, não se fez de rogada e fez uma roda de conversa com aqueles que vieram com ela. Primeiro me veio no meio da noite, no amanhecer de outros dias, me veio o cheiro de laranjeira em flor –esse me entrava pelos vãos das portas e me esfregava no nariz a sua alegria-. E ainda me vieram as rosas em meio ao limoeiro arredio e espinhento –pensei: cruzaram bem!-. Para maior convencimento me vieram os pássaros para fazer morada nas casinhas postiças do jardim –sem contratos, ocuparam as casas e disseram que vieram para ficar-. Pra fechar a apresentação, me vieram as borboletas... primeiro a amarela e depois as outras... nesse dia, sentei e chorei... a vida, enfim, fez as pazes comigo! A vida é isso. Afora a poesia, talvez não nos reste nada.
Hoje, já se vai o maio do ano e olho pra traz, pra ver pra frente e, sorrindo o sorriso da alegria incerta que murmura em minha porta, fico aqui pensando que não sofremos do mal do destino, mas sim da destinação a que somos arremetidos. Tem diferença? Vejo destino como a aposta num rumo absoluto do qual somos reféns e não seres livres, e, em destinação como aquilo a que somos arremessados pelos condicionantes de nossa história pessoal e com relação a que podemos fazer, através da prática da liberadade, a escolha de nossa existência, segundo a via que nos é dada, ou outra que queiramos construir. Acho isso uma poesia bonita que recito todos os dias, feito mantra que me anima e assim, me faz viver, enquanto o mundo gira mais rápido e de um jeito que não sei entender!

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