A dor mais cortante que já vi alguém sentir é a dor de uma perda de alguém querido, a qual não se consegue elaborar. “Trata-se de esperar por alguém que você sabe que não voltará”. “Trata-se do tempo que passamos esperando e das pessoas que encontramos na sala de espera”. “Sei exatamente como é quando um novo dia começa e alguém que esperamos não aparece” (Falas de algum filme que não lembro o nome).
São partidas inesperadas e que deixam a sensação de que a vida ficou pela metade. É a conversa que não se teve. É o abraço que não se teve tempo de dar. São os projetos que ficaram pela metade ou por acontecer. São os filhos que se queria ter, mas que não se teve tempo para tê-los. São as coisas bonitas que se estava vivendo e, num repente, tornam-se cinza. É tudo o que ficou pela metade, sem explicação.
Coisas que antes eram intensas, com a partida, tornam-se absurdamente mais fortes. É o cheiro da pessoa. É olhar do retrato que nos segue por onde se for. É o molho de chaves que se ouve tilintar ou a porta se abrir. É a roupa no cabide. É o calçado largado sem jeito. É a escova de dentes que está ali, estupidamente imóvel. É o lugar em que a pessoa sentava. É o estúpido silêncio de suas manias e de seus barulhos.
Coisas que só a vida é capaz de produzir. Um abraço quente e apertado nos momentos certos e também simplesmente por dá-lo. Um beijo carinhoso. Um apoio nos instantes de fragilidade. Uma conversa. Um olhar de cumplicidade. Uma surpresa qualquer. Uma canção desafinada, cantarolada ao acaso. A mão segurando a sua mão. A certeza do encontro. A existência partilhada.
Pra quem vai, não faz diferença, mas pra quem fica, faz toda a diferença. Ouve-se os passos da ausência da presença, com mais intensidade do que se ouvia os passos da própria presença. Esses são os passos mais doloridos que alguém pode ouvir, pois nunca chegam e nunca nos deixam partir!
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