domingo, 25 de abril de 2010

A Vida dos Homens Infames

Trago essas palavras e logo mais as de Foucault, para pincelar o tom de algumas questões que vem ocupando meus pensamentos, sobre o que, falarei mais noutra postagem.
Começo, então, com palavras de Jünger, citadas por Sabato para capinar a entrada de seu livro A Resistência: “São os expulsos, os proscritos, os ultrajados, os despojados de sua pátria e de seu torrão, os empurrados com brutalidade aos mais profundos abismos. É entre eles que se encontram os catecúmenos de hoje”.
Para quem se interessa pelo pensamento de Foucault, trago um recorte de A Vida dos Homens Infames, que é um artigo publicado em 1977, a partir da exumação dos arquivos do Hospital Geral e da Bastilha, quando começa a tecer a curvatura da dobra em seu pensamento, no liame entre a questão do poder e os primeiros feixes de luz sobre a subjetivação. É um de seus textos mais belos, em que diz: “Este não é um livro de história (...). É uma antologia de existências. Vidas de algumas linhas ou de algumas páginas, desventuras e aventuras sem nome, juntadas em um punhado de palavras. Vidas breves, encontradas por acaso em livros e documentos (...) Vidas singulares, tornadas, por não sei quais acasos, estranhos poemas, eis o que eu quis juntar em uma espécie de herbário (...). Se eu o fiz então é sem dúvida por causa dessa vibração que sinto ainda hoje, quando me ocorre encontrar essas vidas ínfimas que se tornaram cinzas nas poucas frases que as abateram (...). Não é uma compilação de retratos (...): são armadilhas, armas, gritos, gestos, atitudes, astúcias, intrigas cujas palavras foram os instrumentos. Vidas reais foram ‘desempenhadas’ nestas poucas frases; não quero dizer com isso que elas ali foram figuradas, mas que, de fato, sua liberdade, sua infelicidade, com freqüência sua morte, em todo caso seu destino foram, ali, ao menos em parte, decididos. Esses discursos realmente atravessaram vidas; essas existências foram efetivamente riscadas e perdidas nessas palavras (...). Para que alguma coisa delas chegue até nós, foi preciso, no entanto, que um feixe de luz, ao menos por um instante, viesse iluminá-las. Luz que vem de outro lugar”. O escrito, na íntegra, pode ser encontrado no Volume IV, de Ditos e Escritos (Edição brasileira - Pgs. 203-222).

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