Ando escrevendo pouco, não por falta de papel, mas por falta de tempo físico... mas sigo com o projeto de ir largando aos poucos do trabalho... isso não significa que não gosto do que faço, mas meu ofício me exige e me toma... poderia me tomar bem menos!
Quando vejo até as paredes escorrendo a saudade da mulher amada... quando vejo seu retrato querendo falar, querendo me dizer alguma coisa... quando seu travesseiro me enlaça e me conforta... olho os raios de sua luz que atravessa minha existência e saio quieta no escuro, pra enxergar melhor a lua-rainha de uma monarquia que só a poesia preserva!
Ando lendo Clarice. Leio desde a adolescência, as suas letras, mas nunca prestei atenção na pessoa de Clarice. Agora que estou lendo uma Biografia sua, escrita por Benjamin Moser (norte-americano!!!), intitulada CLARICE, tenho retomado umas coisas suas e dessas, arranco de uma seleta feita por Pedro Karp Vasquez, um extrato de A descoberta do amor - “[...] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.
Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. [...] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez.
Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. [...] Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino. Pois juro que a vida é bonita.”
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