segunda-feira, 29 de agosto de 2011

flecheira.libertária.n. 215

por nu-sol
23 de agosto de 2011. Ano V.
os outros 120 dias de sodoma
Não é de hoje que pais, mães, tios, tias, avôs, avós, padrastos, madrastas, primos, irmãos, irmãs, dispões dos corpos de jovens e crianças, vendendo seu sexo para sedentas autoridades. Em Nuporanga, interior de SP, uma mulher vendeu a virgindade de sua filha, tida como deficiente mental, para o ex-prefeito da cidade: o canalha noticiado do momento. Neste mercado ilegal, que reproduz a mesma lógica de consumo de sexos e corpos no mercado legal, cretinos e mau-caráteres da ocasião usam e desusam e trituram e mastigam e cospem os corpos daqueles que, sob a tutela da família ou do Estado, são disponibilizados como carnes de açougue.
a baba do bem-estar
Perante o escândalo, estas crianças e jovens continuam circulando de mãos em mãos de assistentes sociais, conselheiros tutelares, polícia, professores, pedagogos, psicólogos, médicos, psiquiatras. São moídas, dissecadas, exprimidas, até que se conformem em restos. Tidos como vulneráveis, estão à mercê de toda a sociedade para qualquer tipo de uso. É inaceitável que alguém, sob qualquer circunstância, seja encarcerado ou que seu sexo seja disponibilizado para o comércio ou para a “boa saúde” do Estado e da sociedade.
participação eletrônica
Está em alta, na cidade de São Paulo, um novo aplicativo para aparelhos celulares que consiste em fazer reclamações e denúncias. Por exemplo: ao passar por um farol quebrado ou uma rua esburacada o “cidadão” aciona o aplicativo informando o local e o problema. O objetivo é criar mais um banco de dados para a prefeitura. Isso explicita o funcionamento da sociedade de controle que, além da formação de inúmeros bancos de dados, estimula a participação de todos por meio de novos aparatos tecnológicos e de forma instantânea. E depois, o babaca vai para casa e toma quatro comprimidos – em média – para dormir em paz.
tecnologia para policiamento
Três mil viaturas da Polícia Militar do Estado de São Paulo já rodam pela cidade equipadas com tablets. Substituindo a comunicação antes feita por rádio, os tablets permitem aos policiais pesquisarem placas de carros e documentos de identidade, o recebimento de mapas fixos, consultar dados sobre ocorrências e funcionam como rastreadores das viaturas. No próximo ano, com a implantação da tecnologia 4G, também poderão acessar bancos de dados fotográficos e imagens online de câmeras fixas e móveis. Expande-se o policiamento em que fluxos computo-informacionais colocam os efetivos em comunicação instantânea e disponibilizam a “ficha” e informações de cada cidadão ao toque de um dedo. Próximo passo: utilize seu dedo para experimentar a paz do sono eterno.
abissal
Nos cadernos de jornais de domingo, uma socióloga catita argumenta que as ruas do planeta tornaram-se palco para a política e compara a chamada Primavera Árabe, a movimentação dos denominados Indignados na Espanha, os protestos nos subúrbios de Londres e as reivindicações por reformas advindas de jovens no Chile, com os acontecimentos de 1968. Porém, segundo a pop star do abre aspas do momento, os reclames escutados atualmente pelas ruas são mais amplos do que as afirmações do final da década de 1960, pois agora visam educação e emprego de qualidade, uma sociedade mais razoável. Certas ruas de 1968 tornaram-se espaços de lutas contra ditaduras, guerras, polícias, os governos e suas razões. Atualizar 1968 é retomar o ânimo desse fogo. Entre a chama nas ruas e o coro das marchas atuais há uma diferença abissal.

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