sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Cultura: Sonhos e mentiras de García Márquez povoam o cinema latino-americano

Homenageado do 6º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, o colombiano Gabriel García Márquez, que antes de virar escritor queria ser cineasta, teve parte de sua obra transformada em roteiros e filmes
Por Gabriela Moncau
Erêndira, uma atraente adolescente vive em uma grande casa com sua avó, no meio do deserto. Uma forte e incessante ventania que percorre a casa deixa a dúvida se ela consiste em uma possível fantasia ou visão mística por parte da jovem, ao passo em que se mostra real quando provoca um incêndio ao ventilar a cortina até o castiçal que a menina havia deixado em cima da mesa. A casa inteira pega fogo. A velha, preocupada em restituir o que perdeu, obriga a neta, agora tremendamente endividada, a se prostituir.
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Durante anos, um coronel aguarda uma pensão que lhe foi prometida depois da participação em uma guerra. Quando seu filho Agustín morre, deixa para a família um galo chamado Giro. Com o agravamento da asma de sua mulher, o coronel é convencido a se desfazer de Giro, animal que cuidou pacientemente por muito tempo. Suas esperanças de receber a tal pensão vão se esvaindo junto com o galo vendido.
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Pelayo e Elisenda moram juntos em um rancho, numa pequena vila a beira-mar. Uma noite, durante uma forte tempestade, cai próximo ao rancho um homem muito velho com umas asas enormes.
A semelhança entre as três histórias? São filmes, dirigidos respectivamente pelo brasileiro de origem moçambicana Ruy Guerra em 1982, o mexicano Arturo Ripstein em 1999 e o argentino Fernando Birri, em 1988. São três dos muitos filmes que foram baseados em obras literárias do consagrado escritor colombiano Gabriel García Márquez, que por sua vez roteirizou a maioria dos longas-metragens inspirados em seus escritos. A incrível e triste história da cândida Erêndira e sua avó desalmada, Ninguém escreve ao coronel e Um senhor muito velho com umas asas enormes são os títulos originais dos livros que deram luz a essas produções cinematográficas.
Não por acaso, García Márquez foi escolhido como o grande homenageado do 6º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo, realizado durante o mês de julho. Gabo, como é carinhosamente apelidado pelos amigos, quis ser cineasta antes de se tornar escritor. Nasceu na manhã do dia 6 de março de 1928 na aldeia de Aracataca – a aldeia Macondo de seus livros. Iniciou um curso de Direito em Bogotá em 1947, época em que publicou seu primeiro conto, mas logo desistiu e optou pelo jornalismo. Sua atividade na imprensa começou justamente com reportagens e críticas sobre cinema, quando trabalhou em Cartagena, Barranquilla e depois no jornal El Espectador, de Bogotá. Na metade da década de 1950, estudou no Centro Sperimentale di Cinematografia di Roma, uma das poucas escolas de cinema existentes no período, onde estruturou laços de amizade com importantes cineastas, entre os quais o citado acima Fernando Birri – considerado um dos pais do cinema novo latinoamericano – com quem fundaria, anos mais tarde, a Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antonio de Los Baños, em Cuba, no ano de 1986, a qual preside até os dias de hoje.
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