terça-feira, 16 de agosto de 2011

flecheira.libertária.214

n. 214, 16 de agosto de 2011. Ano V.
protestos...
Vivemos um ano de eclosão de protestos, em vários cantos, convocados pelos instrumentos eletrônicos compartilhados.
Analistas descrevem esses instantes considerando a insatisfação sazonal dos jovens, o fracasso da educação familiar, o desgosto com as democracias ou as ditaduras, como efeitos da globalização e das crises do capitalismo, cada vez mais próximas umas das outras. Os protestos sinalizam um esgotamento simultâneo de ditaduras e democracias, ainda sem saídas, para a enrascada capitalista em cada regime.
e o desejo de estado.
As crises dos monopólios, no século XX, levaram as massas desesperadas a oscilarem entre a revolução e o fascismo.
Hoje, argumenta-se que as classes médias estão atônitas ou imobilizadas diante do financiamento estatal aos bancos que governam o planeta com uma concentração de riquezas jamais vista. Os protestos expressariam o incômodo a esta situação. Organizados por meio de convocações eletrônicas eles estariam substituindo os antigos condutores de massa?
Os protestos de 2011 querem mais Estado, controlando a atual concentração de riquezas e distribuindo-a em um tanto em seguros, moradias, empregos, escolarização, enfim, em cuidados com cada um. Estaríamos diante de uma nova solução para a crise pela institucionalização de um outro fascismo?
hipótese:
O mundo dos protestos e das chamadas redes sociais está sob o controle superior dos proprietários dos equipamentos eletrônicos, seus financistas e os próprios usuários. O Facebook e seus correlatos compartilhados não estão em crise! As convocações para protestos são mapeadas e os governos acionam a identificação de cada um, convocando a população a delatar, ou simplesmente censuram, interceptam. As fascistas palavras de ordem são comunicadas, simultaneamente, provocando imediatas reações, voltadas a um querer mais Estado para a conservação da ordem. Não há uma revolução em andamento, somente o vaivém de protestos que dão tempo ao tempo aos reajustes de um capitalismo sideral.
testes de tecnologias 1
Velocidade, coordenação, sincronização, simultaneidade, visibilidade, autoridade. Foi-se o tempo em que a educação política para ordem era responsabilidade de comandos hierárquicos. Hoje, a chamada descentralização dos governos, institucionais e ordinários, alimenta-se dos usos espetaculares que se faz das tecnologias de informação e comunicação que vai alterando o ambiente eletrônico e das cidades. Com velocidade, as ações coordenadas com reflexos globais, colocam jovens em ação sincronizada, a partir de temas específicos, onde simultaneamente todos ganham visibilidade em nome do controle do que acreditam estar descontrolado e em risco.
testes de tecnologias 2
Essas ações expressam, democraticamente, a necessidade de todos participarem para que se produza uma vida melhor e sob a autoridade do que espera o conjunto da sociedade civil, cada vez mais globalmente articulada. Testam os limites e possibilidades das novas tecnologias, sempre apresentando uma nova utilidade para essas máquinas e programas criados pelas únicas empresas que crescem, vertiginosamente, mesmo diante da temida crise econômica global, expressando a autoridade crescente da sociedade civil, a importância dos programas e poder dos programadores, sejam eles de computadores, seja do empreendedorismo social.
sistema aberto
No final do século XX foram as mensagens via e-mail e os sites de mídia alternativa. Vieram os programas de mensagem instantânea, como ICQ, e os celulares, possibilitando maior velocidade e resposta mais rápida à convocação. Seguiram-se as redes sociais digitais, agrupando no ambiente da web. Agora são os celulares de comunicação de rádio ponto a ponto, que dificulta a interceptação de mensagens, usados em Londres. De teste em teste, os fluxos nos circuitos dos sistemas abertos fortalecem a variação e a variedade dos governos.
hackers.org
Na Barra Funda, São Paulo, jovens que denominam-se hackers, encontram-se num lugar chamado “hackerspace”.
Contudo, tratam de apresentar o trabalho que realizam como algo distinto das invasões de sites ou vírus espalhados pela rede. Financiados por colaborações via internet, estes jovens, que recentemente adquiriram um ônibus para rodar as periferias do país visando desenvolver oficinas sobre o uso das tecnologias informáticas, declaram que a fundação do “hackerspace” foi estimulada pelo desejo de reivindicar governos transparentes. A reputação conquistada por estes hackers organizados, segundo matéria publicada em jornal de grande circulação nacional, encontra compensação por meio do interesse de empresas na contratação de seus serviços. O que antes poderia ser apontado como um problema, isto é, a denominação hacker, hoje, é reclamada como solução para a conquista da chamada transparência democrática.
autoridade e punição
O governo do Reino Unido quer silenciar com uma palavra o protesto que eclodiu em bairros periféricos de Londres e outras cidades britânicas: crime. Mais de 1.600 pessoas foram detidas, levadas à Justiça e acusadas de depredar, incendiar e saquear comércios, bancos e residências. A rapidez com que o Estado localizou e identificou os criminosos mostra sua capilaridade na sociedade britânica, herança dos tempos em que o Welfare-state era utilizado para domar as periferias. Silenciar o protesto com crime é uma estratégia que visa distribuir punições, como o primeiro e derradeiro passo para curar uma sociedade, segundo o primeiro ministro inglês, reforçando a autoridade do poder público e da família.
as pestinhas
São cerca de 15 crianças, a grande maioria garotas. No bairro da Vila Mariana, em São Paulo, elas entram em lojas, farmácias, bombonieres, pizzarias, papelarias e se fartam, sem pedir licença. Praticam traquinagens como quaisquer outras crianças. As sentinelas da ordem (promotores, polícias, professorinhas, conselheiros tutelares, delegados, líderes comunitários, a mídia...) berram: ISSO É CRIME. Enquanto ladram, seus filinhos, diante da tela, assistem O pestinha na sessão da tarde e exercitam, com jogos eletrônicos: atropelamentos de velinhas, matanças lúdicas, bombardeios, espionam, caçam, assaltam... enfim, praticam ações educativas.

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