n. 200, 19 de abril de 2011. Ano V.
nomes próprios
nomes próprios
O monstro de Realengo é a expressão de um novo mártir no mercado moral. Ele não morre pelos parceiros, por uma ideia ou causa, para salvar a humanidade. Mata e morre em nome de uma irmandade etérea que faz justiça contra assujeitados como ele. Estamos na época dos pequenos assassinatos dos ignorados para sempre. Em Fukushima, a radiação atinge os obedientes habitantes que aguardarão a morte na porta dos fundos da humanidade. Gadaffi, na Líbia, permanece em sua negociação de guerra lucrativa contra as forças de paz, protegido por amantes serviçais contra servis soldados de empresários e políticos democratas, criadores de mais uma guerra justa. Era da justiça com banho de sangue, definhamentos gradativos e localizadas guerras. E hoje é dia do índio!
sobre o uso e abuso da palavra liberação
Um deputado provocou polêmica ao pronunciar-se a favor do que denominaram como a liberação do plantio de maconha no Brasil. O argumento utilizado por ele era o de que a política em relação à cannabis — ao investir na prisão de pessoas identificadas como pequenos traficantes —, fortalece as “organizações criminosas”. Contudo, sua proposta não abre mão do controle do Estado, visto que a este caberia não somente legalizar o plantio e arrecadar impostos, mas também alertar a população dos riscos à saúde supostamente causados pelo uso da erva. O pronunciamento do parlamentar reafirma a prisão, porém, agora como depósito e lugar exclusivo para os considerados traficantes perigosos de médio ou grande porte. A proposta está longe de uma liberação, palavra usada e abusada hoje em dia. A proposta nada mais é do que sujeição a uma decisão de governo. E isto não é uma questão privada.
showroom
O governo brasileiro poderá avaliar o desempenho de três marcas concorrentes de importante item de suas compras internacionais para modernização da Força Aérea Brasileira: o caça! O showroom localiza-se na área de exclusão aérea na Líbia e as demonstrações fazem parte da guerra aprovada internacionalmente. Os aviões franceses Rafale, os norte-americanos F-18 e os suecos Gripen demonstram suas qualidades, reforçadas aqui no Brasil pela lábia dos vendedores dessas três indústrias. Guerras expandem bilionários negócios. Batalhas são demonstrações e testes de produtos. E as mortes? Sim! A eficácia de tais itens de consumo mede-se pela economia de mortes, pela eliminação de alvos certeiros, capazes de mudar a correlação de forças em luta, e que são reconhecidos, localizados e atingidos pela eficiência técnica dos produtos bélicos em concorrência.
tribunal de carniça
Em uma viela qualquer, de um bairro qualquer em São Paulo, um corpo qualquer, amarrado pelos pés e mãos e perfurado por balas é deixado próximo ao local de circulação da família. As pessoas curiosas se amontoam para ver a desgraça do cadáver. Logo as explicações começam a surgir: o rapaz, suspeito de ter estuprado uma mulher da comunidade, teria sido julgado, condenado, torturado e executado pelo PCC. Elucubrações ou não, acerca dos motivos e detalhes ‘técnicos’, o corpo não desmente o julgamento, a tortura e a execução. Acontecimento demasiadamente comum em bairros onde abunda a polícia. Reprodução ad infinitum da submissão de um corpo em desvantagem: lógica do estuprador e da polícia. Acostumados com a prática policial, infiltrada em cada poro de suas peles, a comunidade às vezes aplaude, às vezes se faz indignada, mas jamais abre mão do tribunal cotidiano que tritura cada osso da sua existência. Diante da carniça inerte, os cidadãos param e admiram.
um corpo que cai
Um morador de rua, dois, mais de três morrem às portas dos prontos socorros de São Paulo. Os cidadãos passam e olham. Os vizinhos observam de suas janelas. Os carros não diminuem a velocidade. Os funcionários da Saúde dizem que não recolhem ninguém do lado de fora. Um homem passa 10 horas na calçada morrendo aos poucos. Todos estão ocupados com suas funções, empregos, tarefas e normas a serem cumpridas. Estes cidadãos não se importam com quem perambula por ruas e avenidas. Eles os temem. Os mortos-vivos que atravessam dias e noites vagando no nada são os indesejáveis que para a maioria da população deve morrer. Eis a saúde por procedimentos.
capturado em: http://www.nu-sol.org/
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