sexta-feira, 4 de junho de 2010

HOMENAGEM A UMA MULHER QUE ME APARECEU NUM SONHO

Dia desses eu tive um sonho. Há tempos que não tinha um sonho assim e com uma mulher que não fosse a minha companheira. Estava de costas para algum lugar que não consegui ver qual era e num repente senti um toque gostoso num gesto que me foi da nuca à cintura. Fiquei quieta por algum tempo para sentir melhor aquilo. Era uma mulher diferente de todas as outras que estiveram em minha vida. Pequena, miúda, suave, meiga, doce e forte, com cara e cheiro de laranjeira-em-flor, como que me fazendo a primavera aparecer com suas cores e cheiros em pleno verão. Veio fora de tempo, mas me pareceu que foi na hora exata! O que me ofuscou de ver as coisas do sonho foi a luz de seu olhar de fome... não de fome-desespero... não de fome-miséria, mas de fome-vida/ fome-de-vida!
Durante todo o tempo eu não via. Eu não conseguia olhar para o que estava acontecendo. Foi como um sonho cheio de impressões. Foi como um sonho molécula-revolução, que mexe com algum pontinho qualquer da existência e transforma todo o resto. Sonhei assim, do nada, que poderia ser do tudo.
Num movimento a-temporal, que marcam os sonhos que nos colocam na literária condição de gente, aquela mulher tomou forma de cheiro e ficou circulando no ar da minha noite, até que num dado momento tomou forma de carne pulsante novamente... adentrou meu quarto e se esgueirou em minha cama, feito uma gata ciosa de cio, se agarrando nos fios de minha existência com suas unhas leves e quentes... acordou-me num acordar sem despertar e se juntou inteira ao meu corpo quente, mexeu em cada poro, dando a impressão de que já conhecia todos os meus quereres... tocou meus peitos com a fome desesperada de quem nunca comera algo assim... adentrou meu desejo como quem esqueceu o caminho da saída... me fez tremer um tremor de quem descarrega um raio em pleno dia de sol... e foi me deixando atender seu desespero como quem atende uma frágil flor em meio ao temporal... até que se acalmou do vento, se aconchegou na calmaria e pediu que fosse apenas um sonho em que ela tivesse entrado... pensou, no sonho, que seria demais para sua vida... foi saindo devagarzinho, se confundindo com o meu despertar!
Acordei com saudade daquela mulher que me passara há pouco pelos sonhos, mas que já parecia uma eternidade, porque não pude vê-la melhor, não pude tocar seu toque, não deu tempo de juntar seu abraço em meus braços, não vi o endereço de seus passos... apenas sei que ela passou por aqui, feito uma flor-bonita que dura o tempo da preparação do fruto... fruto que não sei se virá... sei apenas que às vezes consigo ser apenas literária... e assim passei o dia alucinando e cantarolando para a mulher do meu sonho a cantoria de Zé Geraldo “Minha meiga senhorita eu nunca pude lhe dizer/ Você jamais me perguntou/ de onde eu venho e pra onde vou/ De onde eu venho não importa, já passou/ O que importa é saber pra onde vou/ Minha meiga senhorita o que eu tenho é quase nada/ Mas tenho o sol como amigo/ Traz o que é seu e vem morar comigo/ Uma palhoça no canto da serra será nosso abrigo/ Traz o que é seu e vem correndo, vem morar comigo/ Aqui é pequeno mas dá pra nós dois/ E se for preciso a gente aumenta depois/ Tem um violão que é pra noites de lua/ Tem uma varanda que é minha e que é sua/ Vem morar comigo meiga senhorita/ Doce meiga senhorita/ Vem morar comigo...”.

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