segunda-feira, 28 de junho de 2010

Devastação no Nordeste

Li em algum lugar que Lula diz que as cidades que forram afetadas pelas chuvas na região nordeste do Brasil, serão reconstruídas em outro lugar, pois não se pode gastar em dinheiro em reconstrução. Não fui conferir se seja isso ou não seja. Basta-me o gancho que enroscou em meus pensamentos, trazendo de antanho, algumas coisas anotadas em meus papéis de embrulho.
Relembro, com isso, as discussões sobre os efeitos ambientais decorrentes das construções de barragens para contenção de água destinada à geração de energia elétrica. E tomo, aqui, os efeitos sobre as subjetividades e, por assim dizer, sobre as gentes.
Tanto numa condição, quanto noutra, seja num evento resultante dos movimentos da natureza em resposta à degradação ambiental, seja num evento decorrente da ação humana planejada, a alteração, a afetação causada não é apenas de ordem material, nunca será apenas de ordem material.
A vida das pessoas e suas condições de subjetivação se dão a partir de elementos práticos-materiais e, principalmente, a partir dos elementos humanos; portanto, a história de vida das gentes, se dá nas teias e nas relações que são construídas, seja no plano imaginário, seja no plano físico.
Assim, não se trata de meramente reconstruir as condições físicas e materiais dessas comunidades que foram, literalmente, arrastadas pelas águas, resgatando o que é possível resgatar materialmente e passando o rolo compressor sobre o que passa ao estatuto de entulho.
A vida não é entulho – por mais estranha que seja aos olhos dos burocratas, dos técnicos e do olhar dominante -; a existência não se reterritorializa a partir dessas condições; a história de vida não é uma planta baixa que pode ser refeita em qualquer outro lugar; os elementos subjetivos e existenciais que são ancorados em elementos ambientais, não se reacomodam na medida da reorganização material.
Os acidentes, as tragédias, as devastações não dissolvem as singularidades e as singularizações. A vida não fecha as cortinas, para depois apresentar um novo ato. Como nos mostra Guattari*, é necessário tecer uma articulação ético-política que contemple os fios do meio ambiente, das relações sociais e da subjetividade humana, contemplando assim, a questão de como se viver daí em diante. Aqui, duas questões que se juntam, uma relacionada à devastação ambiental e outra, à devastação de cidades.
* Ver: GUATTARI, F. As três ecologias. Campinas, SP: Papirus, 1990.

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