LOUCURA - O registro do último lampejo de lucidez vem do dia em que viajava em um ônibus e sentiu o que poderia chamar de grau máximo de intimidade com alguém, quando, ao dormir atravessado nos bancos, seus pés atrapalharam a passagem no corredor. Alguns ficaram irritados, mas outros afastaram delicadamente as suas pernas. Acordou exaltado por essa alegria incontrolável. Depois disso, só lembra-se de seus olhos terem sido cegados pela luz da ambulância. Assim, extenuado, ficou preso, ainda, a uma única lembrança que o jogara definitivamente para o fora da vida. Ela vem do momento em chega em um velho prédio descascado, cujos ladrilhos encantaram seu olhar que só se ergueu para encontrar outro olhar. Era o olhar de uma mulher que correspondia exatamente ao daquela descrita por sua avó paterna como sendo sua mãe: A LOUCA. Desde então, nunca mais quis ver nada, nem sentir ninguém. Mas o olhar daquela mulher o perseguia todos os dias. Incomodava, mas mesmo assim causava um certo grau de intimidade, aconchego e conforto.
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