terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

flecheira.libertária.233


um alvo,  
O ano começou com a espetacular ação policial que anunciou como objetivo acabar com a cracolândia. Governo, prefeitura, ONGs, religiosos e o conjunto da chamada sociedade civil organizada se mobilizou em torno  de soluções e opiniões que de início se apresentaram como divergentes. No entanto, o consenso se fez com  a identificação de um contingente de doentes indesejáveis que devem ser varridos das ruas ou terem a circulação controlada em abrigos, consultórios, alguma forma de confinamento. As medidas apresentadas alternaram defensores do tratamento ou repressão. Contudo, todos externaram sua compaixão aos desafortunados craqueiros do centro da cidade: voluntários ou não, devem ser confinados!.
a continuidade dos negócios 
A cracolândia é um produto imediato do proibicionismo. A utopia que se alimenta é a de que é possível acabar com o tráfico e com os usuários a médio ou longo prazo. Enquanto isso, policiais, ongueiros, especialistas, militantes, políticos, especuladores imobiliários,  seguem com um alvo comum para articular seus negócios e variados interesses. Os zumbis que vagam pelas ruas são apáticos o suficiente para se oferecerem seja  ao traficante, ao policial, ao tratador, enfim, ao primeiro condutor que ofereça a sua compaixão. Assim, se faz e se refaz um negócio com potencial quase infinito.
sobre a pele 
Há certo tempo que o olhar de vidro e polegar chamuscado característico das pessoas mortificadas pelo  crack ultrapassou as fronteiras da cracolândia. Em Itapetinga, cidade do estado da Bahia distante cerca de quinhentos quilômetros de Salvador, o rebanho que se entrega aos efeitos da pedra apresenta uma novidade. Parte dos denominados  craqueiros de Itapetinga são sustentados por um suplente de vereador que oferece uma nota de vinte reais para quem tatuar na pele o nome da loja da qual é proprietário. Recrutados para promoverem a loja de sela para cavalos e artigos para presentes, os  craqueiros de Itapetinga perambulam feito gado marcado para morrer.
basta de internações 
Um jornal de grande circulação publica pesquisa na qual propala que 90% dos entrevistados no país aprovam a internação involuntária de usuários de crack. Os psiquiatras corroboram, como era de se esperar. Cada um que concorda consente com uma faxina lucrativa dos restos, para restaurações conservadoras, para extermínios e investimentos bancados por grã-finos e madames. Internação é internação. E perto dela o crack, um dos atuais lixos rentáveis do tráfico capitalista, situa seu sinônimo correlato: internação=crack=quebra. Uma das principais eficácias políticas da internação, sob que pretexto for, é a de que ela é capaz de quebrar definitivamente uma pessoa, tornando-a um zumbi ou o solícito energizado disposto à mortificação assujeitada, em nome da segurança e qualidade de vida. A internação reafirma o mortificado pró-ativo, seja nos espaços destinados a “tratamentos”, seja nas cracolândias urbanas, seja nos campos de cortadores de cana submetidos ao trabalho escravo, seja nos cárceres para crianças e jovens.
terrorismos 
Além dos inúmeros relatórios e programas que anunciam soluções ou paliativos à crise europeia, a chamada comunidade internacional, por meio da ONU, externa suas preocupações com o crescimento dos extremismos e dos terrorismos no velho continente. Os porta-vozes da comunidade internacional dizem se empenhar em ações contra os grupos de extrema direita, em especial os neonazistas que perseguem e matam ciganos, judeus  e árabes, e de extrema esquerda, com destaque aos grupos anarquistas na Grécia. É preciso lembrar que antes de analistas e políticos falarem em crise, os jovens libertários gregos já alertavam para o desastre que  o livre mercado produzira na Europa. Há uma diferença considerável em atacar bancos, empresas e instituições do governo e atacar violentamente pessoas na rua.
os donos das soluções 
O justo meio liberal que tende a aproximar pelas pontas o radicalismo de esquerda e de direita reitera sua hipocrisia em achar que está sempre com ele a solução para os problemas. Enquanto isso, o justo meio liberal quer igualar como alvo de sua repressão o que está  em diametral oposição, ou seja, os fascistas que visam exterminar com sua covardia pútrida parte da população que identificam como principais culpadas de seu infortúnio e libertários que corajosamente não se calam diante da investida do Estado e afirmam por ações que a liberdade é mais importante do que segurança e pão.
SOPA/PIPA 
Em janeiro, por uma semana, as redes sociais ficaram mais agitadas. Pipocaram links sobre o SOPA/PIPA (proposta de lei antipirataria e de regulação de direito autoral) e as reclamações contrárias. O que a Wikipédia, o Google, o Facebook e a Fundação Mozilla reclamam é por uma regulação mais flexível de circulação de dados na internet. Da mesma maneira que, sob a ditadura chinesa, as grandes marcas da NASDAQ pretendem o controle exclusivo do mercado, em nome da "liberdade de expressão" e do "conhecimento livre". Disputam o compartilhamento pelo controle político da propriedade da informação.
devidamente localizados 
Na velocidade das redes sociais, o  feed  de notícias não para de ser atualizado. Enquanto isso, os efeitos do SOPA/PIPA repercutem no funcionamento de grandes sites. O Google já bloqueia alguns termos de busca e o Facebook  começa a reformular sua política de privacidade, como já ocorre na China, na Índia e no Paquistão. Com ou sem SOPA/PIPA, importa a continuidade do controle e estimular a troca de bits entre usuários localizáveis, por meio da seletividade dos termos de busca. Não existe palavra livre.
dois ou mais de três em um 
Há os zumbis do crack. Serão tantos quanto os hikikomoris, designação que no Japão se dá aos que vivem colados ao computador? Serão tantos quanto os falastrões do Facebook? Serão menos que os serviçais inovadores de programas a fomentar a racionalidade neoliberal? Serão o que é ou o que será? 

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