Wanderley J. Ferreira Jr. participará, no dia 26 -02- 2012, as 17h, do café filosófico no Bolshoi Pub, conversando/dialogando sobre Nietzsche e Heidegger, pensadores fundamentais para uma época que já não pensa, mas apenas planifica e calcula e na qual o homem é reduzido à condição de mero usuário-consumidor-mercadoria - aí vai um pequeno texto de 7 páginas no qual apresenta Nietzsche.
Wanderley J. Ferreira Jr.
Filosofia – FE-UFG
wanderleyjr@fe.ufg.br
“... todas as minhas obras assemelham-se a anzóis: tenho a pretensão de entender melhor que qualquer outro dessas coisas relativas a caniços... Se a isca não foi abocanhada, a culpa não é minha. Não havia peixe...
[Nietzsche, Além de Bem e Mau. ]
A tentativa de apreender algum aspecto do pensamento de Nietzsche, através da eleição de noções ou temas supostamente fundamentais, corre o sério risco de se tornar estéril diante de sua forma de expressão fragmentária, aforismática e metafórica. Que sentido teria todas essas marteladas contra a moral, a religião, a metafísica, a cultura e as ciências? Existiria um alvo privilegiado para os dardos de nosso filósofo? Sim, os valores supremos de nossa civilização. Nietzsche coloca sob suspeita tudo que até hoje se venerou e amou como o Bem, o Belo e a Verdade, desmascarando esses grandes ideais como sintomas de decadência, fraqueza e aviltamento do que há de nobre e forte no homem. A filosofia teria, para Nietzsche, uma tarefa especial - a educação superior da Humanidade, o que exigiria uma transvaloração de todos os valores até então consagrados. Essa paidéia nietzschiana não visa a melhoria das massas, mas o aperfeiçoamento de um tipo novo de homem. Um homem que está para além de Bem e de Mal.
Como todo grande filósofo, Nietzsche pode ser considerado extemporâneo, inatual - aquele que, segundo ele mesmo, nasceu cedo de um futuro ainda indemonstrado. Nietzsche sabia que seus contemporâneos não tinham olhos nem ouvidos para verem e ouvirem a boa nova trazida por Zaratustra. Em meio a essa solidão, ele esperava a vinda de seus futuros leitores, que deveriam ter o dom da ruminação, além de aceitarem uma relação de cumplicidade com o filósofo no âmbito da grande suspeita que ele levanta. O próprio Nietzsche reconhecia que seus escritos eram uma escola de suspeita contra tudo que até então se venerou e idolatrou. Nosso filósofo gostava de comparar seus escritos com o ar rarefeito das grandes altitudes, um ar fatal para os pulmões frágeis do homem de natureza bovina acostumado a viver na planície.
Todo pensamento, dizia Nietzsche, traz em si uma certa dose de crueldade para consigo mesmo. E um pensamento que afirma a vida, que rompe os limites impostos pela própria vida, será gerado somente naquele que foi longamente martirizado pela dor e pelo sofrimento de uma grande enfermidade. A doença aguça nossa lucidez. Ela nos transporta para aquela solidão profunda e para aquela liberdade diante de todos os deveres e hábitos. Sempre nos tornamos mais fortes quando afirmamos a vida diante do tirano que é a dor, ensina-nos Nietzsche (Cf. HH. Prefácio). A dor para muitos espíritos débeis é um testemunho contra a vida, contra as paixões e os sentidos. Contudo, a vida deve ser afirmada mesmo nos momentos de maior dor e sofrimento - Amor fati.. A existência não é algo culpado e responsável, e que, como tal, deveria ser justificada, redimida e condenada em favor de um outro mundo. O homem não é um ser culpado e decaído que deve ser redimido pela ascese, pelo sacrifício e pela mortificação das paixões e dos desejos. A existência é inocente no jogo alegre do devir que tudo destrói e tudo cria.
Mas enfim, é a obra de Nietzsche um testemunho a favor do homem e da vida, ou essa obra é apenas a expressão de uma mente doentia? Nietzsche talvez nos respondesse com outra questão: “De quanta falsidade ainda preciso para dar-me o luxo de minha veracidade? A vida quer engano, erro” (GM). Contudo, para o homem livre, para o Além-do-Homem, não importa se a vida é engano, dor e sofrimento, o homem livre quer vivê-la como alegre conviva de um banquete que ergue a taça dizendo - uma vez mai....
NIETZSCHE POR ELE MESMO
Na antevisão de que dentro em breve terei de me apresentar à humanidade como a mais difícil exigência que jamais lhe foi feita, parece-me indispensável dizer quem sou. No fundo se poderia sabê-lo, pis não me deixei sem testemunho. A desproporção, porém, entre a grandeza de minha tarefa e a pequenez de meus contemporâneos, alcançou sua expressão no fato de que nem ouviram, nem sequer me viram... Ouçam, pois, eu sou tal e tal. Não me confundam, sobretudo....
Não sou, por exemplo, nenhum bicho papão, nenhum monstro de moral - sou atém mesmo uma natureza oposta à espécie de homem que até agora se venerou como virtuosa.
Entre nós parece-me que precisamente isto faz parte de meu orgulho. Sou um discípulo do deus Dioníso, preferia antes ser um, sátiro do que um santo...
A última coisa que me proporia seria melhorar a humanidade. Por mim, não são erigidos novos ídolos; os velhos ídolos é que aprendam o que é ter pernas de argila. Derrubar ídolos, isto sim, já faz parte de meu ofício. Privou-se a realidade de seu valor, de seu sentido, de sua veracidade, no mesmo grau em que se mentiu um mundo ideal... o mundo-verdade que se opõe ao mundo aparente...
A Mentira do ideal foi até agora a maldição sobre a realidade, com ela a humanidade mesma se tornou, até em seus mais profundos instintos, mentirosa e falsa...
Quem sabe respirar o ar de meus escritos sabe que é um ar de altitude, um ar forte. É preciso ser feito para ele... O gelo está perto, a solidão é descomunal - mas com que traquilidade estão postas todas as coisas à luz! Com que liberdade se respira! quando se sente abaixo de si!...
Filosofia, tal como até agora a entendi e vivi, é a vida voluntária em gelo e altas montanhas - a procura por tudo que é estrangeiro e problemático na existência, por tudo aquilo que até agora foi exilado pela moral...
De uma longa experiência que me foi dada por tal andança pelo proibido, aprendi a considerar as causas pelas quais até agora se moralizou e idealizou... A história escondida dos filósofos, a psicologia dos seus grandes nomes(conceitos), veio à luz para mim - Quando de verdade suporta, quanto de verdade ousa um espírito...
(Referindo-se ao seu Assim falou Zaratustra) Aqui não fala nenhum profeta, nenhum daqueles arrepiantes híbridos de doença e vontade de potência que são chamados fundadores de religiões. É preciso mais que tudo saber ouvir corretamente o tom que vem dessa boca... As palavras mais quietas são as que trazem a tempestade, pensamentos que vêm com pés de pomba dirigem o mundo...
Aqui não fala nenhum fanático, aqui não se prega, aqui não se exige crença: de uma infinita plenitude de luz e profundeza de felicidade cai gota por gota, palavra por palavra - uma delicada lentidão é a cadência desse falar. Algo assim só chega aos mais seletos...
Nietzsche, o grande sedutor? O Sábio? o Mestre? o Guru? o Santo? o Louco? Ouçamos o nos aconselha Zaratrustra:
"Sozinho vou agora, meus discípulos!
Também vós ide embora, e sozinhos!
Assim quero eu... Afastai-vos de mim, defendei-vos de mim!
E, melhor ainda, envergonhai-vos de mim ! Talvez vos tenha enganado.
O homem do conhecimento não precisa somente amar seus inimigos, precisa também odiar seus amigos.
Paga-se se mal a um mestre, quando se continua sempre a ser apenas o aluno.
Vois me venerais, mas, e se um dia sua veneração desmoronar? Guardai-vos para que não vos esmague uma estátua...Sois meus crentes, mas que importa toda crença.!
Ainda não vos havíeis procurado, então me encontrastes.
Assim fazem todos os crentes. Agora vos mando me perderdes e vos encontrardes, e somente quando me tiverdes todos renegado, eu retornarei a vós...
Com outros olhos eu procurarei os meus perdidos....
Com um outro amor, eu vos amarei então...
Quem tem ouvidos, que ouça...
Friedrich Nietzsche
Para uma Nova Saúde e uma Nova Filosofia.
A forma de expressão aforismática e metafórica, além do conteúdo de seu pensamento, tornam estéril qualquer tentativa de apreender o vigor e o estilo do pensamento nietzscheano através da eleição de noções ou temas supostamente fundamentais. Nada mais difícil, em se tratando de NIETZSCHE, do que tentar apreender um projeto em meio a fragmentação de seus aforismos. A genialidade literária não impede a sensação de desconforto diante de uma sobreposição de opiniões onde não se vislumbra nenhuma unidade. Qual seria o objetivo de todas essas marteladas sobre a moral, a religião, a metafísica, a cultura e as ciências?
Contudo, essa primeira impressão em relação a NIETZSCHE é enganosa. Existe sim um alvo privilegiado para os dardos de nosso filósofo - os valores supremos de nossa civilização. NIETZSCHE coloca sob suspeita tudo que até hoje se venerou e amou como o Bem, o Belo e a Verdade. E ele sabia que quem levanta uma tal suspeita corre o sério risco de ficar louco.
A filosofia tem uma tarefa especial - a educação superior da Humanidade. Uma educação que não visa a melhoria das massas, mas o aperfeiçoamento do tipo.
Mas talvez, o que menos importa, ao se tentar compreender NIETZSCHE , é o encadeamento lógico das idéias ou uma hermenêutica da pluralidade de sentidos de seus aforismos. No caso específico de NIETZSCHE , o pesquisador deve desvelar as complexas relações entre doença e pensamento que determinam as recusas e adesões de um pensador que se consumia em seus escritos, tornando inseparáveis a obra e a pessoa.
Não se pode dizer que NIETZSCHE seja um filósofo moderno ou contemporâneo. Como todo grande filósofo, NIETZSCHE é extemporâneo, inatual - aquele que, segundo ele mesmo, nasceu cedo de um futuro indemonstrado. NIETZSCHE sabia que seus contemporâneos não tinham olhos nem ouvidos para verem e ouvirem a boa nova trazida por Zaratustra. Em meio a essa solidão, ele esperava a vinda de seus futuros leitores, os espíritos livres.
Esses futuros leitores deveriam ter o dom da ruminação, além e aceitarem uma relação de cumplicidade com o filósofo no âmbito da grande suspeita que este levanta diante dos valores supremos de nossa civilização ocidental. O Próprio NIETZSCHE reconhecia que seus escritos eram uma escola de suspeita contra tudo que até então se venerou e idolatrou. Nosso filósofo gostava de comparar seus escritos com o ar rarefeito das grandes altitudes, um ar fatal para os pulmões frágeis do homem-ovelha acostumado a viver na planície.
Todo pensamento, dizia NIETZSCHE, traz em si uma certa dose de crueldade para consigo mesmo. Um pensamento que afirma a vida, que rompe os limites impostos pela própria vida, será gerado somente naquele que foi longamente martirizado pela dor e o sofrimento de uma grande enfermidade. A doença aguça nossa lucidez. Ela nos transporta para aquela solidão profunda e liberdade diante de todos os deveres e hábitos.
Tornamo-nos mais fortes quando afirmamos a vida diante do tirano que é a dor. A dor para muitos espíritos débeis é um testemunho contra a vida, contra as paixões, os sentidos, etc. Contudo, a vida deve ser afirmada mesmo nos momentos de maior dor e sofrimento - Amor fati.
Apesar de ter sido uma pessoa extremamente doente e sensível, NIETZSCHE nunca sucumbiu a tentação do niilismo. Ele nunca condenou a vida a partir de sua dor e sofrimento. Nunca acreditou que a existência fosse algo culpado e , muito menos, responsável, e que, como tal, deveria ser justificada, redimida e condenada em favor de um outro mundo.
NIETZSCHE não vê no homem um ser culpado e decaído que deve ser desculpado pela ascese, pelo sacrifício e pela mortificação das paixões e desejos. A existência é inocente no jogo alegre do devir que tudo destrói e tudo cria.
NIETZSCHE coloca-se como o profeta do super-homem, que certamente possuiria uma nova saúde. Para esses espíritos livres, para esses homens que buscam um novo fim, precisa-se também de um novo meio, uma nova saúde - uma saúde mais forte, mais engenhosa, mais temeraz, mais tenaz e mais alegre. Esse super homem será o portador de uma saúde que estará acima de todas as saúdes que houveram até agora e que não passaram de sintomas de decadência. Esta espécie de saúde digna do Super-homem, é uma espécie de saúde, que não somente se tem, mas que se tem de conquistá-la.
Diante desse super-homem, recém saído da convalescência, abre-se um novo horizonte sem limites, uma terra ainda inexplorada, um além de todas as verdades, terras e ideais conhecidos até agora. Este homem vive numa paisagem abundante de coisas belas, terríveis, estranhas, problemáticas e divinas. Certamente, esse homem que contemplou e experienciou esse além mar inexplorado, não poderá contentar- se com o homem do presente - esse aviltante animal de rebanho que se compraz no sofrer junto e no egoísmo mesquinho e vulgar da vida burguesa. Esse homem de uma nova saúde mal contém o riso e o desdém diante das virtudes e valores supremos desse homenzinho do presente. Zaratrusta nos ensina: o que deve ser amado no homem é que ele é uma transição, uma corda sobre o abismo...(AFZ)
NIETZSCHE não pretende persuadir ninguém a seguir os seus passos, ele não quer conceder a ninguém o direito ao seu ideal, que pressupõe a destruição de tudo o que se venerou até hoje como bom, justo e verdadeiro.
Para um trabalho que tematiza a questão do Além homem, torna-se necessário elucidar o sentido não-dialético do que NIETZSCHE chama de superação do homem. Essa superação assume um sentido trágico na medida em que prepara a afirmação da existência pelo dizer-sim de um além-homem.. A superação do homem do presente é uma exigência de um nova forma de pensar e agir, que inocenta a existência, trazendo para o homem e para a terra tudo aquilo que a Metafísica, a moral e as religiões exilaram no outro-mundo e projetaram numa potência estranha ao próprio devir. O homem deve querer sua própria superação para que nasça o além-do-homem, que pensa, sente e avalia para além de bem e de mal.
Procurou-se, ainda, distinguir alguns momentos fundamentais do niilismo, tais como: o niilismo negativo - que nega a vida opondo-lhe a ficção do outro mundo, o mundo verdade dos valores superiores; o niilismo reativo - que nega o outro-mundo e destrói os valores superiores, é o niilismo reativo que mata Deus, ocupando-lhe o lugar. O homem reativo ao deificar-se, torna-se o homem superior, o pastor de rebanhos. Por fim, temos o niilismo passivo - a vontade que não quer mais. O niilista passivo é o homem da grande lassidão representado pelo Advinho(AFZ) - ... o solo quer fender-se, mas o abismo não nos quer tragar... na verdade estamos cansados demais para morrer...
Tentou-se traçar um perfil do homem superior, sublinhando o que o diferencia do além-homem. Zaratustra diz que não foram os homens superiores que falharam no objetivo de melhorar a humanidade, são eles mesmos que são objetivos falhos. Esse homem que ocupa o lugar de Deus é também um objetivo falho e, portanto, deverá ser superado para o advento do além-homem.
Não podemos confundir o além-homem com a divinização do humano. O homem divinizado é o homem superior. O além-homem não quer ser pastor de nenhum rebanho, desgarrar muitos do rebanho e quebrar velhas tábuas de valores, eis seu ofício como aniquilador-criador.
Esforçamos ainda por elucidar o sentido das três metamorfoses do espírito: como de Camelo o espírito torna-se Leão, e como o Leão torna-se Criança. Em cada uma dessas figuras desvela-se um grau maior de liberdade humana, que da respeitosa resignação do camelo ao Tu deves, passando pelo não sagrado do Leão, consuma-se na inocência da criança, que diz sim ao eterno retorno do devir.
Como Camelo, o espírito quer o mais pesado, quer ter carga para carregar. Submete-se ao Tu deves, cria um Deus e um mundo metafísico de valores superiores, nos quais pendura sua existência banal de bom cidadão respeitador das leis.
O camelo foge para o deserto e transmuta-se em Leão. Se a ágora é o local de nascimento da metafísica e do exercício da cidadania, o deserto é o não lugar, é a terra estéril e hostil aos homens, onde ecoa o não sagrado do Leão a todos os valores superiores, a tudo que antes venerava. O Leão diz um não a toda forma de transcendência que suspende um tu deves sobre uma existência miserável e culpada. No deserto, terra de ninguém, o Leão quer conquistar sua liberdade, ele quer ser senhor de seu próprio deserto - é o homem reativo que mata Deus. O Leão quer aniquilar o seu último Deus e senhor - o tu deves, ao qual opõe o seu eu quero. O Leão ainda não cria novos valores, mas seu não sagrado engendra a iberade que permite o dizer sim da criança.
Contudo, a liberdade conquistada com o não sagrado do Leão é um livre de quê, ou seja, a liberdade do leão pressupõe uma prisão anterior. Daí, o dizer não do leão deve consumar-se no dizer sim da criança, que é inocência, esquecimento, jogo e eterno começar de novo.
Na criança, o espírito encontra-se sua própria libertação. Agora falamos de um livre para quê. Livre para criar, e criar é avaliar a partir do elemento afirmativo, do que é nobre e forte.
Eis o sentido da transmutação e da liberdade para criar novos valores que deverá possui o super-homem: mudar a qualidade da vontade de potência, ou seja, o elemento diferencial(vil/nobre) que confere valor aos valores, de negativo para afirmativo. Mas como conciliar a idéia de criar novos valores com a teoria do eterno retorno cíclico de todas as coisas? Ora, a idéia do Eterno Retorno do mesmo pode conduzir-nos a um pessimismo e a um fatio diante de um tudo é vão.
Aqui devemos elucidar as dimensões ética, cosmológica e seletivas do eterno retorno, procurando mostrar que o grande algoz é o Foi- o que já está feito. A libertação da vontade está em afirmar o que foi, dizendo assim eu quis e quero mais uma vez, e bendizer o futuro dizendo: assim eu quero mais uma vez.
Para suportar esse mais pesado dos pesos - o eterno retorno cíclico de todas as coisas no jogo da diferença, que se repete numa eternidade que se estende para frente e para trás, necessita-se de uma nova saúde, de um novo tipo de homem, que saiba dançar, rir e jogar. Mas o que significa esse dizer sim dionisíaco a vida, mesmo em seu momentos mais terríveis? O que seria o homem livre em NIETZSCHE?
O homem livre, o além homem, não é o homem burguês ou um revolucionário que luta por uma sociedade justa, igualitária e livre. NIETZSCHE não se interessa pela melhoria das massas, mas pelo aperfeiçoamento do tipo. Ele desdenha todas as tentativas feitas pelas religiões, pelos estados, pelos partidos e instituições, de amansar a besta humana, de domesticar o homem até gerar esse aviltante animal de rebanho - o homem moderno. NIETZSCHE propõe o amor fati - afirmação incondicional da existência, mesmo na dor e no sofrimento. Condena-se, ao mesmo tempo, toda a concepção de felicidade como sendo filha da negação da vontade, da negação do desejo, do sacrifício e da dor.
Mas enfim, é a obra de NIETZSCHE um testemunho a favor do homem e da vida, ou essa obra é apenas a expressão de uma mente doentia? NIETZSCHE talvez respondesse tais questões com outra questão: De quanta falsidade ainda preciso para dar-me o luxo de minha veracidade? A vida quer engano, erro. Contudo, para o homem livre, para o além-homem, não importa se a vida é engano, dor e sofrimento, o homem livre quer vivê-la como alegre conviva de um banquete, que ergue sua taça dizendo a vida - uma vez mais...
"Nós, os filósofos, não temos a liberdade de separar entre corpo e alam, como o povo separa... Não somos rãs pensantes, nem aparelhos de objetivação. Temos constantemente de parir nossos pensamentos de nossa dor e maternalmente transmitir-lhes tudo que temos em nós de sangue, de coração, de fogo, de prazer, paixão, destino, tormento, fatalidade. Viver assim se chama para nós, transmudar tudo que somos emluzechama".
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