quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O SABOR DA VIDA

Filhos saídos da minha própria barriga ainda não os tenho... talvez nunca os terei... talvez os tenha por adoção... mas quando falo de filhos, não é só disso que falo, porém, de tudo aquilo que depende de nossa ações para existir e viver!
Nós, pais de muitas crias, também apanhamos de nossos pais, que por sua vez apanharam de seus pais e, assim por diante, sucessivamente. Nós também fumamos. Nós também bebemos. Nós também sabemos que fazemos parte desse mundo cheio de drogas. Mas também fazemos parte de um mundo cheio de alegrias e de vida.
Aprendemos que seja a família que dá o rumo das vidas das gentes. Hoje já não é basicamente a família que dá esses rumos. Nossas crias aprendem de tudo, o tempo todo, com todos e com o mundo.
Do meu tempo de criança, lembro que banhava na pipa em que passava a serpentina que destilava a cachaça produzida no alambique de meu avô italiano. O meu avô alemão, não conheci, visto que morreu “cozido da cachaça”, antes do meu nascimento.
Enquanto uns fazem as cachaças e as drogas, outros as consomem (os que fazem também consomem)... há os que fazem, os que vendem e os que usam as cachaças (todas as bebidas alcoolicas), as cocaínas, as maconhas, as merlas, os cracks, etc, assim como se usa e consome todas as outras coisas. E, ainda, para que todo mundo fique sabendo das cachaças, de drogas e de outras coisas, há os que fazem a propaganda enganosa, e há os que vendem na televisão, no rádio, no jornal, na revista e em outros lugares, essa propaganda que nos leva a querer usar as cachaças e outras drogas, sem avaliarmos o que, como e quando pode nos dar prazer ou, também, prejudicar. Por exemplo: nos dizem que o álcool e o cigarro matam, mas também nos incentivam, em propagandas, a beber a cerveja que o Zeca Pagodinho, o Ronaldinho e outros bebem.
Do meu tempo de infância trago boas lembranças, mas também profundas e doloridas marcas. Trabalhei duramente desde os seis anos de idade, porque isso é uma prática comum no campo (como se as crianças do campo não tivessem o direito de só brincar e estudar). Minha mãe, que vem de uma família absolutamente pobre, teve que trabalhar em casas de outras famílias desde os seus sete anos. Ela só conheceu isso em sua infância e adolescência: o alcoolismo de seu pai, a luta incessante de sua mãe pela sobrevivência e a violência física e psicológica. E ela reproduziu isso!
Eu experimentei muitas cachaças, mas não me tornei dependente de nenhuma delas. Em outros tempos fui conhecedora delas. Sabia, num só gole, dizer a madeira da pipa em que a cachaça fora armazenada. Gostava de produzir licores... nem sempre os bebia... licores de pitanga, de butiá, de guabiroba, de uva, de jabuticaba, de cereja, de abacaxi, de menta, etc. Experimentei maconha, mas não fez minha cabeça... a maconha me deixa mais lerda do que já sou... nunca experimentei drogas mais potentes, pois meu corpo não agüenta muita coisa... às vezes fumo um cachimbo ou um palheiro preparado com fumo para cachimbo... outras drogas, nunca usei ou experimentei... mas conheço muitas pessoas que usam... e trabalho com pessoas e famílias que as usam! Hoje, a cachaça é, para mim, quase somente literatura.
Demorei em me tornar gente. Gente solidária, humana, generosa, séria, comprometida com as questões de todos e não só com as minhas. Há muitas coisas que ainda devo aprender. Há outras coisas que talvez nunca consiga aprender.
Quero dizer que nossas escolhas são atravessadas pelas coisas que vivenciamos em nossa relação com a família, com os que nos são mais caros e próximos, e com o mundo; mas podemos, cada um, escolher o rumo e os passos de nossa existência... falo essas coisas, também, para tentar dizer que podemos mostrar e ensinar aos nossos filhos, outros sabores que não o dos medicamentos, do individualismo, da ganância, do consumo, da exploração, do desrespeito, da prepotência, da enganação... para tentar dizer que podemos mostrar e ensinar aos nossos filhos o SABOR DA VIDA, acima de tudo! A vida como nosso bem maior... não só a nossa curta existência física... isso é muito pouco... penso na vida que temos agora, assim como, nas possibilidades de vida que garantimos para o planeta e para as próximas gerações... é esse o sabor que tento garantir para a minha vida e que quero para a vida dos meus filhos e dos filhos de todas as gentes... luto, sempre, para que possamos aprender a sentir e a experimentar muitos sabores para a vida... para que possamos mostrar isso aos nossos filhos e ajudá-los a ter um sabor especial na vida e que saibam colocar a vida acima de tudo!

2 comentários:

  1. É, a cachaça e o vinho já agregaram sabores a vida. Isto em outros tempos. Hoje são refugios momentaneos (ao qual eu recorro às vezes), muitas vezes unicos momentos longe do desemprego, e da concequente miséria, do racismo,e da vergonha de participar de uma sociedade que tras no consumo seu ideal ao tempo em que inviabiliza o acesso a o minimo necessario a garantia da subsistencia a maioria da população mundial.Os sabores da vida hoje para milhões de Brasileiros tem o gosto do alcool da maconha e do pó. Estes Brasileiros vivem o momento é sempre uma alternativa,ate o dia em que todos terão acesso a lazer esporte e cultura,tambem, tempo e oportunidade para o desenvolvimento intelectual.

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  2. Cláudio, penso que o sabor da cachaça, da maconha e do pó, quando os usamos, seja um sabor bom/ um sabor que dá algum barato... penso que o sabor dessas coisas seja o de menos... é claro que há pessoas que não conseguem beber um trago ou usar uma ou outra coisa, vez ou outra, e, assim, se começam, não param enquanto a peteca não estourar!
    Acredito que todas essas outras coisas que tem um sabor amargo e que estouram com nosso fígado existencial, sejam efetivamente danosas... o capitalismo é a pior droga que existe, pois planta no imaginário das pessoas, a idéia de que não haja opção além de ter e ser o que a sua grande buchada exige que tenhamos e que sejamos... além disso, essa droga deixa pouco espaço para que possamos ter algum barato!

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