quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Poetagens Alheias

O MURO - Manoel de Barros
Não possuia mais a pintura de outros tempos.
Era um muro ancião e tinha alma de gente.
Muito alto e firme, de uma mudez sombria.
Certas flores no chão subiam de suas bases
Procurando deitar raízes no seu corpo entregue ao tempo.
Nunca pude saber o que se escondia por detrás dele.
Dos meus amigos de infância, um dizia ter violado tal
segredo,
e nos contava de um enorme pomar misterioso.

Mas eu, eu sempre acreditei que o terreno que ficava atrás
do muro era um terreno abandonado!
(Em: MANOEL DE BARROS - poesia completa. Ed. LeYa. 2010, p. 40-1).

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